Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

04 abril 2007

Nosso pecado original

Depois de uma noite bastante abafada, o dia se apresentou com várias nuvens cinzentas e um tímido sol por detrás da serra litorânea. Hoje, o fluxo de pessoas pela praia era bastante resumido, talvez pelo retorno das aulas. Os comerciantes locais iniciavam seus preparativos em suas barracas na expectativa de um ótimo dia de vendas. A cadeira do Salva-Vidas encontrava-se ainda no mesmo local, com seus instrumentos, enquanto ele, de pé, na beira d’água observava os poucos turistas que se atreviam a entrar apesar da temperatura fria da mesma. Um senhor, por volta dos cinqüenta anos de idade, pele bastante avermelhada, avental branco, com um grande facão de cabo escuro, partia em pedaços a grande barra de gelo que refrescaria a bebida. Alguns ajudantes limpavam a areia próxima a barraca, repleta de pontas de cigarros, canudinhos, garrafas e copos plásticos deixados pelos turistas do dia anterior. Incrivelmente, apesar de todo avanço tecnológico, o homem ainda não aprendeu a lidar com as coisas básicas como o cuidado com a natureza. Do mesmo modo como um adicto busca pelo prazer imediato, estes turistas não pensam nas conseqüências de seus atos. No momento, o assunto da moda exposto pela mídia é o efeito estufa, o buraco na camada de ozônio e o superaquecimento. É comum ver pessoas responsabilizando os grandes países quanto a estes problemas. Como será possível ao homem solucionar algo que se encontra tão distante, se nem ao menos consegue manter limpo o local por onde passa num pequeno fim de semana? Caminhando pelo calçadão da praia, podem-se ver várias placas instaladas pela prefeitura local incentivando aos transeuntes para que “não tenham vergonha de recolher as fezes de seus cães”.
Cinco metros a nossa frente, uma senhora de pele extremamente clara, acompanhava seu pequeno filho de pouco mais de um ano e meio. É contagiante ver a energia, a alegria e a inocência da criança. Para ela, não existe a limitação do tempo, não existe o ontem e nem o amanhã. Existe tão somente essa energia do agora na qual vive com toda intensidade. Para ela, não existe a preocupação com a vaidade, com a moda, com a beleza do corpo, com a exaltação da sexualidade. Ela é livre, depurada, espontânea e original. Ela se diverte na simplicidade. E sua beleza inocente enche de graça os olhos daqueles que são sensíveis a essa beleza original. A criança ainda não se encontra condicionada por todos os tipos de medos psicológicos criados pela sociedade. Talvez seja esse o nosso pecado original: não saber se defender dessa insana e disfuncional educação parental/social. É o adulto que corrompe a inocência da criança com seus medos irreais e com a criação de uma série de desnecessárias necessidades! É bem provável que muito em breve, este pequena e inocente criança seja mais uma vitima do medo, da vergonha tóxica, da culpa, da moda e do consumo inconseqüente, que contaminam toda uma existência, expulsando a originalidade e a espontaneidade. A criança, em sua inocência, só tem o medo de não ter diante de seus olhinhos cheios de brilho, a presença das pessoas que lhe são significativas. Para mim, sem dúvida alguma, a educação é a grande responsável pela formação ou deformação da auto-estima pessoal. A família e a escola podem criar o ambiente necessário para o desenvolvimento da inteligência da criança ou então, ser um agente perpetuador da disfunção oriunda da crença e da tradição.O céu agora estava de um tom de azul maravilhoso e não havia se quer a presença de uma pequenina nuvem branca. Uma senhora, com um largo quadril caminhava pela praia puxando consigo vários pipas coloridos numa única linha branca enquanto que a pequena criança divertia-se com um pequeno amontoado de areia.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!