Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

25 abril 2008

A irrealidade da imagem

No alto do morro
Cercado pela neblina
De braços abertos
Jaz um Cristo de
Cimento iluminado
À espera de um homem
Que seja real.

Ao pé do morro
Cercado pela rotina
De braços fechados
Jaz um homem
De mente petrificada
De tanto esperar por um Cristo
De seu ideal.

Constatações

No barulho da cidade
Ou na calmaria do campo
A realidade interna do que é
Permanece feito
Esperança saudosa
De tempos idos
Onde fragmentos
Não haviam.


22 abril 2008

Rumo à Monte Alegre do Sul

As várias tonalidades de verde são cortadas ora aqui, ora acolá, por estreitos riscos vermelhos de terra batida, bem como pelas solitárias torres de alta tensão que com seu zunido levam energia para várias regiões.
No imenso terreno ondulado pode-se ver cupinzais e, lá longe, o gado no pasto em repouso, feito pequeninos pontos brancos e pretos, confundem-se com as poucas rochas expostas da região.
No serpentiforme asfalto da estrada, com cautela nosso ônibus ganha espaço, em boa parte do tempo coberto pelas folhagens das árvores, as quais trazem sombra sobre a brancura do papel, dificultando ainda mais a já difícil escrita.
A atmosfera rural só não é completa devido aos vídeos estrangeiros dos anos 80, apresentados por duas TVs internas do ônibus. Já estamos com quase duas horas de viagem, deixando para traz as cidades de Jundiaí, Itatiba e Morungaba e os vídeos de língua estrangeira continuam a passar. Não se trata aqui de um nacionalismo barato. A questão é que não creio que 10% dos passageiros do coletivo tenham entendimento da língua inglesa. Fiquei me questionando se músicas brasileiras não tornariam a viagem muito mais típica e agradável. Ocorreu-me também, que talvez fosse interessante a apresentação de vídeos ressaltando as opções turísticas das cidades pertinentes ao itinerário em questão (se é que com tão bela paisagem seja necessário o uso de imagens numa viagem de duas ou três horas). Creio que seria muito mais interessante para todos os envolvidos, direta ou indiretamente: passageiros, cidades e a própria empresa de transporte. Isso também me fez meditar na facilidade com que o povo brasileiro se deixa massificar por uma cultura enlatada americana, que feito vírus contagiante, a cada dia que passa toma mais e mais o espaço de nossas mentes e corpos, afastando-nos cada vez mais do conhecimento de nossas raízes culturais.
Olhando para a paisagem verde do campo, no peito um só sentimento: quanta falta meus olhos sentiam da beleza deste panorama.





Libente libélula

A pequenina e bela libélula
Com suas transparentes asas
Baila em seu vôo plano
Sobre o límpido palco das águas.
De um lado para o outro
De outras, defende só para si,
A placidez azul da piscina.
Com seu movimento silencioso
Agrega ainda mais beleza
Ao olhar dos que desfrutam
Da riqueza do tempo ocioso.
A pequenina e bela libélula
Com suas asas brilhantemente coloridas
Por nós graciosamente passa
E de graça, enriquece nossas vidas.
Olhando a pequenina e bela libélula
Deitado à beira da azul piscina
Sinto-me como ansioso jovem liberando
Pleiteando o livramento da minha sina.


20 abril 2008

Entropia Humana

A busca atual do homem pela pseuda-segurança num futuro com fartura, à custa do esgotamento do presente, mostra-se como um dos principais sinais de uma deturpada escala de valores, a qual vem se tornando fonte das mais variadas espécies de insanidade, bem como do distanciamento da qualidade de suas relações. Despercebido, o homem, feito Titanic no imenso e escuro oceano do inconsequente consumo desenfreado, segue por uma mortal rota de colisão que aponta para a aniquilação da raça humana. Quem, a não ser ele mesmo, será capaz de salvar o homem do naufrágio de sua própria vontade?



19 abril 2008

Sobre o autor



Nascido em São Paulo, feito criança perdida, cresceu - sobrevivendo entre outros sobreviventes - no seio de uma família e sociedade disfuncional.

Como possível criança índigo, incompreendida pela falta de psicologia de um arcaico sistema pedagógico, recusou-se a se adaptar ao absurdo acúmulo de conhecimentos que não prepara um ser humano para o desfrute da vida em sua totalidade, preferindo desde cedo passar pelo rótulo de "criança problema", ao invés de ter sua liberdade e originalidade totalmente abafada.

Terminou o ensino médio num supletivo qualquer, do qual nunca chegou a receber o certificado de conclusão, conseguindo mesmo assim ingressar numa diFaculdade paga e sofrer por longos seis meses da frieza e automatismo do curso de administração de empresas, somente para se ver livre das pressões exercidas por parentes, conhecidos e pela instituição bancária na qual até então era empregado.

Iniciou seu curso superior de formação em serhumanologia, depois de dolorosa, porém abençoada crise de identidade. Pós graduou-se com mais duas crises agudas de depressão e hoje, no exterior de si mesmo cursa bacharelado da negligenciada arte de cuidar do ser, onde questiona todo sistema de crença e condicionamentos que limitam a potencialização dos lentos talentos da raça humana.

Recentemente passou a ser mal quisto nas instituições da qual fazia parte, por ousar exercer sua individualidade e transmitir idéias totalmente contrárias ao condicionamento do coletivo inobservante.
Hoje, por ter recusado a se submeter a deformação socialmente aceita, de quatro ou cinco anos num curso de especialização e afastar-se por completo da própria vocação só para poder desfrutar da pseudo-segurança e prestígio de um impresso colorido adornado com uma estampilha dourada, pendurada numa sala alugada na impessoalidade de um edifício comercial qualquer, desfruta do mundo do anonimato divulgando seus pensamentos, sentimentos, tédios e insatisfações em seu Blogg e site Cuidar do Ser.


18 abril 2008

Sobre incensos

- Bom dia, Jr! Dê-me cá um beijinho só prá eu começar bem o dia!

- Se for por isso, então, leve logo dois!

- Ande logo, ajude-me aqui. Quero incenso de camomila, você tem?

- Sim!

- Me disseram que é bom para relaxamento. Vou logo acender uma caixa inteirinha para garantir que eu consiga dormir um pouco está noite. Já se vão duas noites sem pregar os olhos.

- Que bicho está te pegando?

- Se tivesse tempo te contaria, mas estou atrasada que só! Será que esse incenso relaxa mesmo?

- Pelo menos é o que o povo diz... Sem bem que é preciso desconfiar em muito da opinião do público... Pelo nosso atual governo dá para se ter uma idéia... Está aqui a sua caixinha de camomila.

- Vou levar também este brinquinho. Tem desconto prá gente velha?

- Prá gente velha tem sim, mas, como este não é o seu caso...

- Então, pelo menos tem daquelas balinhas de iogurte para adocicar um pouco a vida?

- Olha só, a balinha aqui não falta, só que a vida não precisa de modo algum ser adoçada.

- Você que pensa!

- A única coisa que talvez precise ser adocicada é a amargura de uma existência sem vida em abundância, a qual muitos insistem em se permitir. E, pelo que tenho visto, para algumas dessas pessoas nem mesmo uma dose cavalar de glicose na veia pode causar algum efeito.

- Ai menino! Nem me fale! Se eu pensar muito nisso, nem mesmo uma mistureba daquelas com vários desses incensos terão o poder de me fazer dormir. A mãe está bem?

- Sim!

- Diz logo que deixei uma beijoca prá ela e outro prá Deca.

- Pode deixar!

- Me deixe ir que ainda tenho que queimar uns incensos de sal grosso e sete ervas pra ver se melhora o astral na oficina.

- Sei!... Será que o problema está no astral da oficina ou na mente de quem lá oficia?... Não precisa responder não! Fica aí com você! Tome logo mais umas cinco balinhas para garantir um dia açucarado!

- Menino! Você não tem jeito mesmo!...


Sobre pecados

Se existe essa coisa chamada pecado, com certeza, um deles deve ser encontrar-se no momento da morte sem trazer consigo a inocência perdida em algum lugar da infância.


FILOSOFIA DE BALCÃO

14:00 horas. Troca de turno.

Enquanto saboreio meu café pós-almoço, observo diante da padaria, a timidez da jovem que se revela, agora distante do impecável uniforme da manhã.

No balcão, entre sorrisos debochados, um senhor de meia idade e barriga avantajada, virando-se para um dos funcionários pergunta:

- Eu traçava ela, e você?

- Eu não, gosto de sustança! Pouca carne não é comigo! Quem gosta de osso é cachorro!

Boa parte dos homens está doente do olhar.

Assim como estes, possuem olhos de consumir, menos os de comungar.

Durante o último gole me pergunto: com essa doença da visão, eles riem do que?

Tiradas de um fim de tarde

Eu estava agachado diante do beiral da loja, destravando os pinos dos cadeados para poder fechá-la quando Sergião, ajeitando o cinto da calça, surgiu com os fones pretos de um aparelho de mp3 aos ouvidos.

- Que é isso aí nos ouvidos, meu amigo? Não está querendo ouvir o que se passa em sua mente?

- Que nada! Estou ouvindo as últimas noticias do dia... É preciso se manter bem informado!

- Bem, merda por merda, ainda prefiro a que se passa em minha mente. Pelo menos esta, apesar de também ser repetitiva, posso afirmar que conheço a fonte.



Fantoches e Marionetes

Comecei o dia de forma bastante agradável, com a visita de meu amigo Franco, que há poucos dias vive o ócio forçoso do desemprego. Franco, ao interpelar o responsável pelo RH da empresa, ouviu a mesma ladainha que em situações anteriores, tivera que contar para vários dos seus subordinados; pela primeira vez em sua vida estava conhecendo o lado sem brilho de uma moeda de uma única face: os desumanos interesses empresariais.
Confesso que fiquei bastante surpreso, quando a noitinha me procurou dizendo que havia sido mandado embora, inclusive sendo dispensado do aviso prévio, não por ter sido despedido, mas pela maneira calma com que apresentava o ocorrido. Como há longos anos mantemos conversas nutritivas, sabia que não estava bancando o sujeito equilibrado. O fato de ter sido mandado embora não foi surpresa alguma para nenhum de nós, uma vez que há dias vínhamos conversando a respeito de seu descontentamento e sobre a questão da vocação e de um modo de servir dotado de real sentido. O interessante foi que os fatos foram ocorrendo de tal modo como se Franco já tivesse sendo preparado para este momento, visto que há dois meses uma porta já estava se abrindo, a porta do mundo da arte dos fantoches e marionetes feitos em papel marche.
Franco tinha profunda consciência de que, naquela empresa, assim como nas demais que havia passado até então, nunca havia sido mais que uma peça a ser substituída a qualquer momento. Das outras vezes, ao contrário do que agora se apresentava, deixou-se levar por medos irracionais quase que paralizantes. Em conversas anteriores, já havia manifestado o seu descontentamento com a empresa, uma vez que a mesma não demonstrava o mínimo interesse de investir no desenvolvimento de seus profissionais, além do que, em suas atividades, não conseguia se reconhecer...
- Cara, quer saber? Estou cansado. Durante todos estes anos, sempre trabalhei na área de exatas. Tudo bem que foi através dela que consegui tudo aquilo que conquistei até aqui. Se não fosse por esses trabalhos, não teria conseguido quitar meu apartamento, que como você sempre diz, de forma bastante precoce. Apesar de tudo, sinto-me profundamente carente de relações mais humanas.
- Pois é, não conheço muitos jovens que na sua idade conseguiram ter seu apartamento quitado, quase que no pé desta serra maravilhosa, que aos poucos, seus vários tons de verde vem sendo substituídos pelos tons das casas de tijolos a vista, com suas antenas repletas de rabiolas embaraçadas.
- Sinto falta de relacionamentos significativos, de pessoas que queiram saber, um pouco que seja, daquilo que sou e que não se relacionem comigo apenas pela função que consigo desempenhar na empresa. Quero uma relação profissional onde eu possa crescer como pessoa e, através do meu crescimento, de certa forma colaborar com o crescimento do outro. Não sei se isso é utopia, mas sinto que é possível. Você acha que isso é querer demais?
- Se eu seguisse a visão que corre por aí, diria que sim. Começaria a dizer das dificuldades do mercado de trabalho, do quanto que está difícil conseguir uma carteira assinada, uma estabilidade numa empresa e toda aquela lenga lenga característica dos mais antigos. Mas, como você já convive comigo há muito tempo, sabe bem as mudanças pelas quais optei durante estes últimos anos... Sou um amante da rebeldia inteligente. Se quer saber, não creio que isso que você almeja seja utópico, na real, acho que é o mínimo que uma pessoa dotada de um pouco de sanidade mental possa querer para si mesma, afinal de contas estamos falando de uma escolha que vai direcionar a qualidade do tempo dedicado a quase que a metade de seus dias.
- Pois é, JR!
- Bem que o dito popular já diz: tome cuidado com as suas orações... Elas podem acontecer antes mesmo que você pense estar preparado para elas... Você não estava à procura de algo melhor? O momento é agora. Até parece que você já estava prevendo a rota dos acontecimentos. Ainda bem que você estava aberto para o universo e os fantoches e as marionetes apareceram...
- Você não sabe de nada... Não tinha nem dez minutos que eu havia saído da sala do RH, quando em minha sala tocou o telefone.
- E aí?
- Cara, era de uma empresa concorrente, onde eu havia deixado um currículo há quase dois anos atrás. Confesso que por frações de segundos cheguei a bambear com a proposta dos caras... Ofereceram-me R$300,00 a mais do que ganhava nesta empresa, só que teria que trabalhar aos sábados e domingos... Só que me lembrei de tudo que temos conversado durante os últimos meses e aí, não teve como virar os ouvidos para a fala mansa do coração... Acabei dispensando o emprego.
- Sério? Sinto isso como uma espécie de teste enviado pela Grande Vida para ver se você é ou não fiel com relação ao que profere em suas orações. Tem muita gente por ai que é só bafo e, como sempre digo: bafo de boca não cozinha ovo.
- Sim, sério, só que ninguém mais sabe sobre isso, só você! Não contei em casa por que senão ia ser o maior pé no saco.
- Pois é, quando se trata de família, todos sabem disparar os seus palpites, mesmo quando a vida deles esta visivelmente naquela situação de dar dó! Quer saber, na real, acho mesmo que você não dispensou uma proposta de emprego...
- Como assim?
- Acho que você inteligentemente dispensou uma proposta a mais para ser ver novamente "pregado". Não sei se você parou para notar, mas, as pessoas quando estão muito cansadas não acabam se referindo como estando "pregadas"?
- É mesmo! Eu mesmo já me vi dizendo estar "num prego só"...
- Sim é verdade!
- Cara, apesar do medo, tive que ousar fazer diferente... Sinto que através da arte poderei entrar em contato com o mundo mágico das crianças...
- Mágico e incontaminado!
- Sim! Apesar do medo do desconhecido, decidi entrar de cabeça.
- Ousar: esse é o preço do sucesso! Gosto muito desta frase de Victor Hugo que em momentos difíceis da minha vida me serviram de inspiração... Acho que você fez bem em seguir seu coração... Deixar a máscara do fantoche profissional encaminhado, mera marionete do sistema e mergulhar de vez no mundo da arte, da ousadia, da autonomia e da criatividade... Deixar de ser um fantoche para se divertir divertindo aos outros através da arte dos fantoches... Isso me parece uma ótima virada de mesa, você não acha?
- Meu coração diz que sim, mas a cabeça... Bem, você sabe como é, fica aporrinhando o tempo todo que não. Fica dizendo que essa história de eu querer viver da venda da arte de bonecos feitos de papel marche vai acabar mesmo dando num futuro escuro embaixo de alguma ponte qualquer, acompanhado por vira-latas a catar papel amassado.
- É natural! Faz parte do processo da mente, afinal de contas, vivemos no país do sonho maravilha da carteira assinada. Para a grande maioria, mais vale a escravidão branca de uma carteira assinada do que a ousadia libertária do ócio criativo.
- Cara, não é possível que eu não vá conseguir por um modo de me sustentar sem ter que novamente me ajoelhar para as chicotadas do cartão de ponto ou por causa de uma bóia quente paga com um ticket restaurante qualquer.
- Franco, sendo franco com você, claro que as dificuldades vão sempre existir... No entanto, minha experiência tem demonstrado que elas se tornam muito mais suaves quando não contrariamos os dizeres do nosso coração. Digo isso com muita propriedade, pois não troco o pior dia de hoje, pelos mais gloriosos dias do meu passado. Hoje, em vista do ontem, tenho pouco, mas no pouco que tenho, existe qualidade. Sinto-me livre e isso meu caro, não tem holerite que pague. Não tenho 13°, férias previamente marcadas, muito menos fundo de garantia... A única garantia que tenho é a de que hoje vivo a minha vida e as pessoas que dela participam com muito mais intensidade. Desfruto de tempo durante o ano todo e não apenas num mês determinado por terceiros, onde quase sempre, a maioria, se encontra profundamente estressada. Hoje, posso de verdade "estar" com as pessoas, sem manter interesses ocultos. Hoje, tenho amigos de verdade e não como antes, meros conhecidos de negócios momentâneos. A cada dia sou brindado de uma maneira nova e não preciso me esconder atrás dos vidros de um carro brindado. A simplicidade do meu modo de vida é o meu grande seguro de vida. Os infartados tem me alertado para estes fatos. Não troco isto por nada.
- Confesso que por muitas vezes, já senti inveja do seu modo de vida.
- Franco, sua recente experiência veio confirmar ainda mais o sentimento que tenho de que hoje, mais do que nunca, aquele que não for vocacionado terá que se ver em constante estado de angústia, gerado pelo medo do desemprego galopante, mascarado pela mídia... Está vendo aquele carteiro vindo em nossa direção?
- Sim, o que tem ele?
- Está vendo aquele pacote branco em suas mãos?... Espere só para ver...
- Bom dia Jr, beleza?
- Na boa e você?
- Fora o sol, tudo nos conformes! Deveria ter vindo de bermuda! Hoje tem um pacote recheado para você!
- Acho que já sei o que é. Obrigado!
- Deixa ir que estou na correria!
- Vai nessa e bom serviço!
- Até amanhã!
- Vamos ver... Ao escritor Jonas Ramos de Oliveira... São livros de um escritor de Goiânia com quem tenho mantido contato através do site da Cuidar do Ser.
- Olha só, este aqui tem uma dedicatória para você!
- Este também... Está vendo? Percebe os sinais que a vida nos apresenta?... Como lhe disse antes, todos os dias tenho sido brindado. Antigamente, as únicas dedicatórias que eu recebia eram as que vinhas ao final das folhas dos talonários de pedidos e em suas faturas posteriores, que chegavam aos montes pelas mãos de outros carteiros. Foi só deixar de ser fantoche que a arte começou a se apresentar por todos os lados e esses que se diziam meus amigos, sumiram de vez... O que acreditava ser amigos, na realidade, eram verdadeiros sanguessugas. Fique tranqüilo, irmãozinho! Está tudo certo! Creio que tudo que você precisa fazer agora é segurar com firmeza os fios que movimentam seu coração... Caso contrário, pode ter certeza que alguém tomará o controle do mesmo. Neste império consumista, o que mais existe são pessoas ávidas por transformar você num fantoche a mais para proveito próprio, até que você venha a ter o que eles insanamente chamam de um "súbito" ataque cardíaco, que na realidade, foi surgindo ao longo dos anos de uma vida de escravidão.
- Pode crer! Bem, vou nessa, pois me estomago já está reclamando. Final de semana passo por aqui. Dê uma beijoca na Deca.
- Vê se relaxa!
Dito isto, meteu as mãos nos bolsos sacudindo sua bermuda de kanvas cinza. Depois, ajeitou os cabelos e a camiseta preta estampada com imagens de um grupo de rock. Olhou para os lados, abaixou-se e deu-me no rosto um beijo fraterno. Depois, seguiu sua caminhada com seu par de tênis alaranjado, feito criança ansiosa na espere de um presente. Enquanto isso, como nos dizeres de meu recente amigo Felício, em seu livro Memorial do Medo, "a grande maioria segue como agitados fantoches de andar tragicômico, neste imenso palco de tolos"... E assim caminha o que se diz ser a humanidade.

14 abril 2008

Coincidências não existem!

Dizem que coincidências não existem. A cada dia que passa, mais e mais me dou conta que essa é uma das grandes verdades da vida. Estou há dois dias organizando um texto, resultante de um estudo de anos atrás sobre o filme TITANIC. Durante a tarde, enquanto eu trabalhava nos textos, Deca, deitada no sofá, assistia novamente ao filme. Agora a noitinha, logo após colocar os últimos capítulos do estudo no site da Cuidar do Ser, abri minha caixa de e-mails e, para minha surpresa, deparei com uma mensagem daquele escritor e jornalista Goiano, Brasigóes Felicio, que citei num dos últimos textos aqui neste blog. Sua mensagem, enviada as 21:12 min. (atente para o horário):
Nelson, coincidência ou sincronicidade, revi hoje o Titanic - em 14 de abril - mesma data em que Jack pintou Rose com o diamante. Na verdade, foi como ver pela primeira vez. Depois de sua leitura do significado profundo do Titanic, a primeira vez a gente esquece...
Se quiser conferir o material de estudo é só clicar aqui!
Sem comentários!



11 abril 2008

Tudo Passa

Hoje eu acordei
Com saudades de você
Olhei aquela foto
Cujo tempo amarelou
De olhar enclausurado
E com botinhas a me dizer
Que ali que começou
A nossa dor...
Senti que ao menininho
Adultos lhe aborreciam
E poucos percebiam
Sobre sua solidão
De olhar longe e tristonho
Emudecido por saber
Que ali abafariam sua canção...

A mesma casa, os mesmos trancos
As mesmas crenças jogadas sem fim
Fez tanto mal, mas não estou triste
Porque hoje tenho você
Junto de mim...


Beijei aquela foto
Tão antiga quanto eu
E seu terno moleque
O coração reconheceu
A jura que fizera de estar ao lado seu
Ser seu protetor
Foi que jurei...

Eu trago ainda o sonho
Que você um dia sonhou
De ter um mundo novo colorido
Prá viver
Ainda com encanto
Com doçura e muito amor
Crianças que não tenham
Que sofrer...

Da mesma casa, dos mesmos trancos
das mesmas crenças jogadas sem fim
Fez tanto mal, mas não estou triste
Porque hoje tenho você
Junto de mim...

O bancário alcoolizado
Com certeza não ouviu
Quando envergonhado
Sobre sexo perguntei
Já não é o mesmo
Pois do álcool desistiu
Mas até hoje dele
Nada sei...

A gente foi crescendo
Foi crescendo
E o tempo passa
Não esqueço da promessa
Que um dia nos ligou
Sempre vou lembrar
Desse cantinho lá de casa
Foi lá que começou
O nosso amor...

A mesma casa, os mesmos trancos
As mesmas crenças jogadas sem fim
Fez tanto mal, mas não estou triste
Porque hoje tenho você
Junto de mim...

*Para a criança interior que habita a imensa praça que somos nós


Mesmerizadores Anônimos

Eu mesmerizo
Tu mesmerizas
Ele mesmeriza
Nós mesmerizamos
Vós mesmerizais
Eles mesmerizam...
E ainda tem gente
Querendo que a vida
Se apresente
De maneira
Diferente!

Sobre a crise dos 40

Ontem à noite, durante conversa com alguns amigos e conhecidos, um deles afirmou estar atravessando um momento de grande crise existencial. Aos 51 anos de idade, depois de vários fracassos "amorosos", gesticulando com a mão direita que segurava um daqueles empestiantes cigarros de cravo, dizia-se esperançoso de ainda encontrar sua "outra metade" e, ainda por cima, "virgem". Ao ouvir sua colocação, ao contrário da grande maioria que imediatamente colocou-se a rir, em minha mente deu-se um forte estalo...

Do mesmo modo que este conhecido, também atravesso uma crise existencial, cujo motivo é o de ainda não ter sido encontrado pela minha "outra metade virgem"...

(...)

...Refiro-me a outra metade de minha mente, aquela que é e sempre será virgem, imaculada de toda e qualquer forma de condicionamento humano.

Quando esta que escreve por ela for encontrada, com certeza, minha mente estará casada!




10 abril 2008

Lampejos

Durante o escuro da madrugada, em nosso quarto, pisca num espaço de sete segundos a pequenina luz verde do aparelho de celular, iluminando tudo em sua ínfima fração de tempo.

O verde lampejo é rapidíssimo, mas, traz consigo a total percepção do espaço.

Só quem já viveu momentos de escuridão que inibem a visão do tempo, sabe que basta um lampejo, por menor que este seja, para que se tenha a percepção clara dos obstáculos e o rumo certo que traz a ação do passo seguinte.

Luz do Sol

Luz dos Olhos

Numa manhã de abril

A beleza do céu azul.

O toque da luz solar.

O som dos pássaros e das rodas do carrinho de feira da obesa senhora negra, de lenço bege a cobrir o branco cabelo pixaim.

O pequeno cão a fazer algazarra diante do movimento de cada passante distraído.

A calçada quebrada pela força da natureza expressa nas densas raízes da florida árvore de imensa copa.

A sinfonia da construção do conjunto de prédios com suas longas e verdes redes de proteção.

O solitário trabalho de um técnico em telefonia apoiado sobre longa escada encostada ao centro do poste.

Num prédio vizinho, cuja calçada se apresenta impecavelmente limpa, em sua soleira, arranjos com marias-sem-vergonha de várias colorações.

Ao longe, vê-se a imensidão e a impessoalidade da cidade grande, coberta por uma densa camada cinza que sobrepõe em muito a altura de seus edifícios comerciais.

Por detrás dos imensos vidros esverdeados e temperados da academia de ginástica, nas esteiras eletrônicas, sobre o olhar disfarçado dos seguranças, cinco senhoras pagam para fazer caminhada, com seus coloridos uniformes em lycra e os aparelhos de mp3 aos ouvidos.

Enquanto isso, caminho livre e gratuitamente pelas calçadas deste bairro, apreciando a brisa suave que de forma natural traz a graça de sua melodia aos meus ouvidos.

O vento
Palavras ao Vento

Utilidade Pública contra Dengue

INDIQUE URGENTEMENTE - FAÇA SUA PARTE

07 abril 2008

Tempestuosa sincronicidade

Depois de uma noite mal dormida, acordei com uma enorme ressaca. O corpo se mostra letárgico e principalmente as pálpebras, insistem por urgente descanso. Quando me encontro nesse estado, não há a mínima possibilidade de expressar bom-humor, ainda mais quando o assunto das primeiras conversas matinais versam sobre os "importantes" resultados esportivos de um domingo chuvoso.

Não fosse o delicioso e divertido almoço com grandes amigos, poderia afirmar que o domingo foi literalmente tempestuoso. O motivo da ressaca está bem claro para mim, visto que passei algumas horas do domingo fazendo aquilo que mais faço durante a semana toda: me contrariar silenciosamente. Minha vontade era a de sair logo após o almoço – que teve seu inicio por volta das 15h30min. – para prosear com os amigos em alguma casa de café, uma vez que a tarde chuvosa se mostrava bastante propicia para tanto. Mas, o que de fato ocorreu é que não consegui ser assertivo com os amigos e acabei me permitindo ficar por quase quatro horas assistindo um filme que já nos seus cinco minutos iniciais dava nítidos sinais de ser extremamente maçante e de um suspense altamente previsível. Penso que, num fim de tarde de domingo chuvoso assistir a "Tempestade do Século", de Stephen King, não há quem mereça.

Como anfitrião, foi uma sensação bastante constrangedora perceber logo no início do filme indicado por um dos amigos presentes, que teríamos pela frente quatro horas de cenas vampirescas e de assassinatos em série seguidos da repetição da frase "Dê-me o que quero e eu irei embora"... O fato é que, foram necessários apenas 15 minutos de filme, para que fosse eu aquele a querer ir embora. A cada minuto que passava, minha mente se tornava mais e mais tempestuosa, a ponto da intolerância começar a se manifestar por cada célula do meu corpo. Mantive a compostura de anfitrião até os 10 minutos iniciais da segunda parte do filme, depois, não deu mais: entreguei-me ao computador, procurando pelo site da Cuidar do Ser, alguma frase capaz de acalmar um pouco a tempestade. Posso afirmar que assistia simultaneamente a dois filmes: o que passava na TV e o outro que se passava em minha mente e, este último, com certeza estava bem mais violento. Nem de perto o coro de vozes que surgia quando o diabo se apossava da mente de um dos personagens, era mais alto que as vozes do inferno causado em minha mente pelo diabo daquele filme. Sem dúvida, tive que dar a mão a palmatória quanto a uma das poucas frases interessantes do filme: o inferno é a repetição.

Creio que uma frase do escritor e palestrante Luciano Pires, cai muito bem para explicar o meu sentimento diante daquelas quatro horas de filme: "Nosso valor não está apenas onde gastamos o nosso dinheiro, mas onde colocamos o nosso tempo. Tempo é algo inerente à vida, só que ele nos dá múltiplas oportunidades de usá-lo". Fiquei emputecido comigo mesmo por ter me permitido pagar esse mico, quando o que na verdade queria era estar desfrutando de conversas nutritivas com amigos e não do sorriso babaca de um vampiro, o qual, literalmente, como a ressaca indica, conseguiu sugar o melhor do meu sangue.

O pior de tudo foi o inferno causado pela sincronicidade do acontecimento ocorrido no momento em que eu escrevia este texto desabafo. Estava lá, como sempre, diante da loja, embaixo da Pitangueira, quando fui interrompido por um novo carteiro:

- Com licença, por acaso o senhor sabe me dizer se aqui mora algum Josias Ramos de Oliveira?

- Não seria Jonas o nome certo?

- Sim, desculpe-me, o Sr. Tem razão, o nome correto é Jonas.

- Sou eu mesmo, obrigado!

Ele trazia um pequeno envelope que, pelo peso, pude logo perceber que se tratava de um livro para apreciação, enviado por alguma editora. Como fui contatado por um autor de um livro a ser lançado pela editora Petit, cujo assunto retrata a questão da morte, fiquei bastante ansioso para abri-lo. Para minha surpresa, o remetente se referiu a minha pessoa com os seguintes dizeres: "Ao escritor Jonas Ramos de Oliveira". Achei "chique" e confesso que por frações de segundos o cabeção aqui se sentiu importante... Tratei de abrir o envelope e me deparei com um livro cujo título é "A Dança da Vida", escrito por Brasigóis Felício Carneiro. Mais que depressa, comecei a ler o texto da orelha do mesmo, o qual me pareceu bastante convidativo. Passei a tarde toda fazendo uma leitura relâmpago, costume que tenho para ver se vale ou não dedicar meu tempo e atenção sobre as letrinhas impressas no papel, uma vez que o que mais se encontra hoje no mercado são livros de auto-ajuda que em nada ajudam o ser humano a se ver livre de seu embotamento mental, fato este que me faz lembrar um trecho do livro "A Arte de Insultar" de Arthur Schopenhauer, o qual penso ser interessante citar:

"Essas mentes medíocres simplesmente não se conseguem decidir a escrever como pensam, pois acham que depois o resultado poderia adquirir uma aparência muito simplória. [...] Desse modo, apresentam o que têm a dizer com construções forçadas e difíceis, neologismos e períodos extensos, que circundam o pensamento e acabam por o ocultar. Oscilam entre o esforço de o comunicar e o esforço de o esconder. Querem guarnecer o texto de modo que ele adquira uma aparência erudita ou profunda, para que as pessoas pensem que ele contém mais do que se consegue perceber no momento da leitura. Sendo assim, esboçam partes do seu pensamento em expressões curtas, ambíguas e paradoxais, que parecem significar muito mais do que dizem; logo voltam a apresentar os seus pensamentos com uma torrente de palavras e uma verbosidade insuportável, como se fossem necessárias sabe-se lá que medidas para tornar compreensível o seu sentido profundo, enquanto, na verdade, se trata de uma ideia bastante simples, para não dizer até trivial."

Enquanto corria rapidamente os olhos pelo texto, fui percebendo a sincronicidade da influência literária do autor, a qual era profundamente parecida com o percurso que eu também fizera durante todos estes anos: "Curso em Milagres, Herman Hesse, Henry Miller, Carlos Cardoso Aveline, Nieztsche, Mabel Collins, Teilhard de Chardin, Joseph Campbell, Eva Pierrakos, Leonardo Boff, Roberto Crema, Clarice Lispector e por ai vai. A sensação era como se tivéssemos sido estudantes da mesma sala, freqüentando as mesmas matérias, sendo que as últimas, os textos de Osho, Eckhart Tolle e finalmente a clareza de Jiddu Krishnamurti - no meu caso - acabaram jogando por terra o conteúdo de todas as anteriores. Mas a sincronicidade maior que fez meu corpo arrepiar deu-se quando cheguei nas últimas quatro páginas do livro e me deparei com o seguinte texto:

"O escritor norte-americano Stephen King, mestre da ficção do horror, escreveu: "Neste mundo você paga um preço todo dia. E às vezes gasta o que tem". Escreveu também que o inferno é a repetição. Mais infernal e devastador ainda torna-se o lugar da expiação quando se sabe que somos nós quem inventamos o horror e o absurdo, para retro-alimentar nossa agonia e sofrimento."

Ao ler este texto, meu sentimento foi de total perplexidade. Sentia como se algo maior, estivesse próximo de mim, divertindo-se com o mesmo sorriso do personagem satânico do filme. Imediatamente fechei o livro e, colocando as mãos na cintura exclamei em voz alta, sem a menor preocupação com que poderia alguém pensar a meu respeito caso me visse ali:

- Dê-me aquilo que quer de mim então, poderei ir embora!

Dito isto, virei minhas costas, subi as escadas e, na companhia de meu cachorro, tratei de descansar um pouco enquanto esperava por Deca que retornava de uma consulta médica para o aconchego do lar.



03 abril 2008

Buraco negro de um tempo

No presente instante
Em luto convalesço
Da morte da nebulosa estrela
Que há tempos distantes
Fizeram-me acreditar ser.
Deste precioso processo de cura
Dolorosamente iniciado
Nas imprevisíveis e afiadas
Garras da desilusão
Formou-se insondável buraco negro
Desconhecida passagem
Rumo à realidade do ser que sou.
Esta momentânea vivência
Apesar de dolorosa
É mais significativa e gloriosa
Do que os ritos externos de passagem.
E, em meio de solitários gritos internos
Fecundam-se as inapreciáveis sementes
Da impessoal e intransferível mensagem
Que transcende todo espaço e tempo.

Deep Peace - Bill Douglas


02 abril 2008

Um jeito Polyana de ser

A tarde já estava chegando ao seu fim quando me lembrei do vencimento do aluguel de nossa casa. Apressado, dirigi-me para a imobiliária que por sorte, ainda encontrava-se aberta, com sua proprietária e uma das corretoras conversando à beira da calçada diante da mesma.

- Boa noite, Eunice! Desculpe-me o atraso, mas só agora me lembrei que hoje é o dia do vencimento do meu aluguel.

- Tudo bem! Ainda está em tempo! Você deu sorte de estarmos a espera de um cliente, caso contrário, já não estaríamos mais aqui.

- Tudo bem com vocês?

- Por aqui tudo bem!... Tenho lido seus textos...

- Fico contente! O que tem achado?

- Alguns são bastante difíceis, só mesmo com um bom dicionário ao lado. Tem palavras que você usa que nunca tinha lido muito menos ouvido falar.

- Sério?

- Sim!

- Pois não é minha intenção torná-los difíceis. Mas deixando de lado o uso das palavras, o que tem sentido quanto ao espírito que as movimenta? Tem gerado boas reflexões?

- Às vezes... Sabe, eu não costumo ver a vida pelo mesmo ponto de vista que você.

- Isso é muito bom, afinal de contas, um ponto de vista é apenas um ponto.

- Se me permite, acho que o modo como você vê a vida é muito dolorosa. É preciso ver o lado belo das coisas, senão a vida se torna insuportável. Pensando bem, na real, acho que não tenho problemas, sou uma pessoa de bem com a vida. O único problema que tenho são os outros...

- Sei!... Você é mais uma daquelas pessoas que sofre de "outrose"?

- Que diacho é isso?

- A patologia de achar que os problemas estão sempre no comportamento dos outros...

- Não é bem assim, deixe de ser oito ou oitenta, também sou um ser humano em construção. Caminho do meio, JR, caminho do meio!... Falando em caminho do meio, já ouviu falar do "Caminho da Luz"?

- Já!

- Acho que agora nas minhas férias vou fazê-lo sozinha! Penso que será muito bom caminhar vários e vários dias para refrescar as idéias, reciclar muita coisa e colocá-las em seus devidos lugares. O que acha?

- Acho uma idéia excelente... Excelente para quem a inventou, bem como para os comerciantes do percurso. Com certeza, eles devem ter refrescado bem as próprias contas... Creio que nada disso seja necessário para meditar no modo em que estamos levando a nossa vida. Faço isso todos os dias durante uma hora, bem em frente de casa, sentado à sombra da pequena pitangueira. Se quer saber o que penso a respeito do modismo desses caminhos, de uma procurada num dos textos que escrevi sobre os mesmos.

- Sério?

- Sim. Procure lá pelo Blog, com certeza irá encontrar.

- Pode ter certeza de que vou procurar. Aqui está o seu recibo...

- Etá IPTU salgado! Quase quarenta reais por aquele espaço é um verdadeiro assalto.

- Fazer o que? É imposto, né?

- Estou cheio dessas imposições governamentais, bem como as sociais. Destas últimas estou conseguindo me livrar, agora, quanto as primeiras, não tem como.

- Sabe, li seu texto de ontem.

- Qual deles?

- Sobre a Benfazeja Presença.

- E o que achou?

- Você realmente estava sentindo aquilo que está escrito lá?

- Sim!.. Sentimentos do presente instante que já se fez passado... Por que essa pergunta? Se assustou?

- Não!

- É que, aqui entre nós, ouve períodos em minha vida em que também me sentia assim, só que nunca soube descrever do modo como você o fez... Mas isso já é passado! Como disse, hoje estou de bem com a vida!

- Sei!... Está tão de bem que pretende entregar seu corpo ao martírio de caminhar 45 dias para procurar por luz... Tudo bem, deixa prá lá, não quero ser invasivo. Quanto ao texto, quem já provou a doçura do mel não tem como se contentar somente com pão azimo...

- Você é muito sério! Apesar disso, indiquei seu blog para um amigo do interior de Minas que está tendo sérios problemas com questões relativas ao passado e ao presente.

- De que região ele é?

- Não sei ao certo, só sei que é uma região próxima da cidade de São Thomé das Letras.

- Conheço bem essa região... Ouve um tempo em que acreditei que certos lugares são carregados de uma energia especial, capaz de facilitar a alteração dos estados de consciência... Algo parecido com o que se busca nesses "caminhos de luz". Mas, sou como a cobra: deixo para traz as peles que já não me servem mais! Sabe, perguntei o que achava dos textos por que tenho constatado um fato interessante: algumas pessoas ao lerem os meus textos acabam fazendo uma imagem minha, como uma pessoa altamente depressiva, amargurada e insensível, o que para mim não é verdade. Vejo também que as palavras, tédio, insatisfação e vazio, para a grande maioria destas pessoas, estão altamente ligadas a depressão, o que não tem nada a ver. Para mim, constatar a falta de sentido das várias situações que nos cercam é uma atitude dotada de inteligência e não depressão. Já tentei explicar isso para algumas dessas pessoas, mas, as mesmas não conseguem acessar isso.

- Entendo.

- Tenho percebido que muitas dessas pessoas adotam uma postura diante dos acontecimentos do tipo Polyana. A "negação" tem um forte poder dentro da sociedade e a meu ver ela é um dos maiores fatores desencadeantes de um modo de vida medíocre.

- Explique-se melhor!

- Percebo que as pessoas não querem se deparar com "o que é", com a realidade nua e crua dos acontecimentos em que estão envolvidas, pois isso implicaria em escolhas responsáveis, em mudanças, em quebras de zonas de conforto. Então, torna-se muito mais fácil e convidativo, procurar decorar a própria prisão. Todos temos um forte impulso para nos mantermos na normose e a melhor desculpa para isso está naquela frase de "otimismo em gotas": "procure ver o lado bom das coisas". Isso para mim é o mesmo que dizer: "conforme-se, fique quieto e não encha o saco!" É preciso ter muito cuidado porque a epidemia de conformose, com certeza mata muito mais e de forma mais silenciosa que os atuais surtos de dengue espalhados pelo país. Com certeza, logo logo teremos cura para a dengue, mas não creio que o mesmo ocorra com o conformismo e a normose.

- Nesse ponto você tem razão: as pessoas não estão nem um pouco a fim de pensar! Tem gente que se parar para pensar, com certeza, acaba enlouquecendo.

- Vejo que são essas mesmas pessoas que, ao se depararem com alguém aberto para "o que é", em busca do real, acabam por rotular essa alguém como depressivo, amargo, rancoroso, invejoso, frustrado e por ai vai... Já ouvi cada absurdo que não tem tamanho! No entanto, não creio que esse tipo de atitude Polyana possa levar a pessoa a ter uma experiência direta da verdade, a ter verdadeiros, autênticos e genuínos relacionamentos e uma vida dotada de real sentido.

- Mas penso que esta atitude não pode ser chamada de Polyana.

- O mundo do faz de conta que está tudo bem... O mundo do faz de conta que somos felizes... O mundo do faz de conta que sabemos o que é o amor... O mundo do faz de contas de que agora seremos felizes para sempre... Não!... Não está tudo bem, não estou feliz e não sei o que é o amor. Penso que partir deste ponto é um grande começo! Creio ser muito mais maduro e saudável do que ficar com esse mentalismo barato que em nada tem melhorado a qualidade de vida da raça humana. O que mais vejo são as pessoas vivendo uma infeliz felicidade dentro de suas prisões decoradas compradas em várias prestações. Penso que todo mundo tem direito de passar a vida contando historinhas para si mesmo. Confesso que eu mesmo já fiz isso por muito tempo. Só que quando chega a hora da verdade... Tudo vai pelo chão feito castelo na areia. A verdade é infinitamente mais poderosa do que um tsunami.

- Está vendo? Isso que eu acho difícil em você: a seriedade com que você olha as coisas. Tem que ser mais leve!

- Sabe, gosto muito de uma frase de Gandhi: "A verdade é dura e cortante como um diamante... Mas também é doce como a flor de pessegueiro". Penso ser mais coerente manter um olhar duro, cortante, afiado como um poderoso bisturi capaz de extirpar de vez as grossas camadas de condicionamentos que nos mantém presos nessa mesmice. Bem, nossa prosa está muito boa, mas, vejo que você ainda tem outro cliente para atender. Quem sabe, terminarei esta nossa conversa num dos meus textos. Você se importa?

- Claro que não!

- Então, muito bem! Tenha uma ótima noite e muito obrigado pela sua resposta franca à minha pergunta.

- Não por isso. Foi um prazer. Dê um abraço na senhora sua mãe.

- Será dado! Até mais!

Eram quase 19:00 horas quando deixei a imobiliária e segui meu caminho iluminado pelas luzes de mercúrio e os faróis dos carros dos motoristas estressados.

A ESTRADA

01 abril 2008

Benfazeja Presença

Sentado silenciosamente diante da loja
Observo a lentidão de um transito barulhento.
Entediado com aquilo que o peito aloja
Observo a movimentação do tráfego de pensamentos.
Há a confessa espera daquele sublime momento
Capaz de por fim ao constante tormento
De uma existência desprovida
De vida e real contentamento.
A mente não para um só instante,
Permanece em frenético movimento...
Onde está a bem-aventurança inebriante
Capaz de dissipar a mesmice e o isolamento?
Onde está aquela doce e benfazeja Presença
Imaculada de qualquer dogma ou crença
Testemunhada por mim em tempos idos
Que por breves momentos trouxe vida aos sentidos?
Sentimentos do presente instante que já se fez passado...

Olhar solar

Olhar para baixo,
Apesar da vertigem,
É muito mais fácil
Do que olhar para cima.
Quem tiver olhos de águia
Que veja!

Face à face

Não me lembro
De um dia sequer
Ter sido treinado
Para ao acordar
Abrir as portas e janelas do meu ser
E apreciar a beleza única de manhã.
Talvez, por isso
Ainda seja um ser multifacetado
Em busca de um olhar
De única face.

Optando pelo Amor


Por ter nascido numa família disfuncional, onde o clima emocional era permeado pelo medo, raiva, vergonha e culpa, cresci alimentando um mecanismo de sobrevivência que me impedia de manter uma autêntica intimidade com outro ser humano, uma vez que não pude desenvolver a capacidade de confiar.
Os constantes e variados tipos de abusos que sofri por parte das pessoas significativas na mais tenra idade fizeram com que eu vivesse num constante medo de ser exposto a situações vexatórias e dolorosas e que acabou formando na adolescência uma personalidade extremamente ansiosa.
A busca por relacionamentos e situações sexuais foi o mecanismo que se apresentou e com o qual me identifiquei para sobreviver e poder dar vazão ao acumulo de emoções negativas de tantos anos (sensação de vazio, inadequação, vergonha, medo, ansiedade, raiva e outras mais). A sensação de desligamento que encontrava em cada situação romântica e/ou sexual foi o elixir do prazer imediato que me possibilitou por momentos, me afastar de minha própria realidade interna.
Não me lembro de em nenhum momento da minha vida ter sido passada a informação de que eu sou um ser único, um representante individualizado de uma Inteligência Amorosa, deste Ser que me faz ser.
A constante exposição a este ambiente disfuncional, com toda sua carga emocional negativa, fez com que eu me afastasse gradativamente desta Inteligência Amorosa e Criativa. Hoje sei que inconscientemente, o que eu buscava em cada relacionamento ou situação sexual, era o preenchimento da minha "sede de plenitude", que só poderia ser saciada através de uma experiência direta, pessoal e intransferível com essa Inteligência. Durante anos, insiste de várias maneiras, na busca dessa conexão através de mecanismos externos, onde muitos deles, acabaram por se tornar verdadeiras prisões.
Hoje, consigo ver que a busca pelos relacionamentos e situações sexuais, me levaram sempre ao deserto do isolamento. Na busca do prazer imediato, acabava por me afastar cada vez mais da minha realidade interna e também das pessoas. Lembro-me que durante essa fase da minha vida, tinha a vontade de "me fundir" junto ao corpo das minhas "amadas", o que mostra bem, o inconsciente anseio de UNICIDADE, de totalidade expressa tão somente através da experiência direta com essa Inteligência.
Meu processo inicial de maturação deu-se através do isolamento dos objetos anestesiantes, das pessoas da ativa e também ao isolamento que qualifico como sendo um dos mais importantes de toda a minha vida: a morte de deus. Não teria como iniciar uma nova maneira de viver sem o descartar do pré-conceito religioso de um deus masculino, punitivo, castrador, uma espécie de homem superior não amoroso (a visão que eu tinha de deus era a mesma que se apresenta na pintura de Michelangelo, creio que na capela de Sistina - não sei bem se é esse o nome).
Vivi por muitos anos, de modo inconsciente, aceitando as "doações de fora" provenientes duma sociedade que me bombardeava maciçamente com mensagens que me prometiam a satisfação das minhas mais profundas necessidades, por meio de situações externas (transbordantes de conotações sensuais e amorosas). Essas mensagens apelavam não apenas para a minha vaidade ou desejos emocionais/sensuais, mas também pelo anseio da conexão com o Inefável. Passei por longos anos, acreditando que o relacionamento perfeito, o tipo de "transa perfeita", a "profissão perfeita" e outros tipos de "finitos absolutos", poderiam resolver minha divina inquietude interna. Acreditei no absurdo contido em frases do tipo: "a metade da minha laranja", "a tampa da minha panela", "minha outra metade", "minha alma gêmea", que se tornaram uma verdadeira obsessão, alimentadas sempre, pelas constantes mensagens e imagens visuais e sonoras de cunho romântico e/ou erótico. Quanto mais bebia dessa água, mais sede sentia; verdadeiras miragens no deserto. Foi preciso questionar e descartar totalmente os velhos, arcaicos e disfuncionais sistemas de crenças que me mantiveram enclausurado na masmorra do modo de viver disfuncional do meu passado, que me impediu por anos de vasculhar o interior do castelo e encontrar a "bem-aventurança".
Hoje, não é mais possível falar sobre o amor, através do mito romântico. Minha compreensão de amor se ampliou, através da ampliação de minha consciência. Para mim, o amor esta na vontade de me empenhar ao máximo para nutrir o crescimento de minha consciência que resulta na ética de compartilhar o crescimento da mesma com outros que como eu, não se entregam mais ao "conformismo social, à normóse operante da horizontalidade. Hoje, para mim, amor é verticalidade. Amor é a eterna procura pela transcendência dos próprios limites impostos pela conformidade aos ditames sociais e familiares, para um estágio de maior consciência. Optar pelo amor é dedicar-me ao desenvolvimento da capacidade de amar; é dedicar-me à raça da qual faço parte. Não posso ser uma fonte de amor, ao menos que tenha uma "autêntica experiência interna do amor" e que procure manter o meu próprio bem-estar e unidade interna, através de momentos de silêncio e solitude.
Optar pelo amor é optar pela busca constante de um maior contato consciente com a Verdade, com a Realidade, uma busca pelo relacionamento do meu ser com o Ser que me faz ser - uma união mística, a qual só pode ser realizada por meio da renúncia da falsidade de seguir aos ditames do meu egocêntrico eu compulsivo.
Optar pelo amor implica em atenção, dedicação, compromisso, fidelidade e exercício constante de "confiança na mansa voz da intuição". É a dedicação constante na busca de uma maior ampliação de consciência através de um verdadeiro exercício de escuta amorosa de meus pensamentos condicionados.
Optar pelo amor significa "correr os riscos" necessários para se diferenciar da normóse operante; é dizer não a um ambiente social que não satisfaz minhas necessidades mais profundas; é não mais me permitir "empurrar a vida com a barriga". É o eterno compromisso de me recusar a tolerar relacionamentos limitantes e castradores que impedem a livre expressão do Ser que me faz ser.
Optar pelo amor é me permitir pelo corajoso questionamento de meu sistema de crenças. É me permitir dar um salto qualitativo em busca do desconhecido; é me permitir passar por louco, não temendo mais a desaprovação social e familiar - estar livre dos ditames do tipo "você tem que", "você deve", resultantes de um comportamental social limitante.
Optar pelo amor significa um comprometimento profundo e fidedigno para com a "voz interior" que se encontra no espaço onde o pensamento não pode entrar. O verdadeiro amor não pode existir sem o compromisso e sem este, a vida e seus relacionamentos não tem qualidade.
Optar pelo amor é me permitir ao erro, uma vez que eu esteja disposto a usar este erro como uma espécie de trampolim para um estágio maior de consciência amorosa. É se permitir à verdadeira intimidade - abrir meu "intimus" para o "intimus" do outro, sem o qual não pode ocorrer uma verdadeira relação. É assumir o compromisso do autoconfronto, da percepção e da mudança comportamental necessária. Optar pelo amor é não mais querer assumir o papel dessa Inteligência Amorosa e Criativa e ser somente um servidor de confiança. É expressar um sentimento de reverência no lugar do abuso.
Optar pelo amor é contrariar a minha "preguiça espiritual", minha tendência relutante contra novos paradigmas que possam ampliar a minha consciência e a minha responsabilidade frente à mesma. É não mais me permitir ser indulgente com minhas próprias racionalizações que me forçam a continuar em minhas "zonas de conforto".
Optar pelo amor é estar consciente de mim mesmo enquanto me movo através da vida. Isso exige que eu preste atenção não só as minhas ações externas, mas também que eu esteja atento à irrealidade de meus condicionamentos que tornam a vida tão complicada. É viver e agir de maneira determinada, consciente e em simplicidade. È questionar minha atual relação com aquilo que eu consumo, com o tipo de trabalho que exerço, com as pessoas com as quais me relaciono e a minha ligação e responsabilidade para com a natureza e o cosmos.
Optar pelo amor significa encarar a vida de frente, sem distrações desnecessárias e ver em cada sincronicidade do dia a dia uma manifestação dessa Inteligência Amorosa e Criativa. É a aceitação do compromisso da busca de um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico, de forma tal que possa ser uma livre expressão do meu verdadeiro eu.
Optar pelo amor é a capacidade de transferir quantidades cada vez maiores de energia e atenção antes dadas ao materialismo horizontal para o aspecto não-material e, assim, evoluir em consciência, em compaixão e em sentido de comunidade em unidade.
Optar pelo amor é optar pela eliminação do que é desnecessário; é optar pelo simples e enxergar através da simplicidade, o Inefável que preside todas as coisas. É buscar pela religião "dentro de mim mesmo"; é buscar pela Graça capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem mais graça.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!