Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

01 abril 2008

Optando pelo Amor


Por ter nascido numa família disfuncional, onde o clima emocional era permeado pelo medo, raiva, vergonha e culpa, cresci alimentando um mecanismo de sobrevivência que me impedia de manter uma autêntica intimidade com outro ser humano, uma vez que não pude desenvolver a capacidade de confiar.
Os constantes e variados tipos de abusos que sofri por parte das pessoas significativas na mais tenra idade fizeram com que eu vivesse num constante medo de ser exposto a situações vexatórias e dolorosas e que acabou formando na adolescência uma personalidade extremamente ansiosa.
A busca por relacionamentos e situações sexuais foi o mecanismo que se apresentou e com o qual me identifiquei para sobreviver e poder dar vazão ao acumulo de emoções negativas de tantos anos (sensação de vazio, inadequação, vergonha, medo, ansiedade, raiva e outras mais). A sensação de desligamento que encontrava em cada situação romântica e/ou sexual foi o elixir do prazer imediato que me possibilitou por momentos, me afastar de minha própria realidade interna.
Não me lembro de em nenhum momento da minha vida ter sido passada a informação de que eu sou um ser único, um representante individualizado de uma Inteligência Amorosa, deste Ser que me faz ser.
A constante exposição a este ambiente disfuncional, com toda sua carga emocional negativa, fez com que eu me afastasse gradativamente desta Inteligência Amorosa e Criativa. Hoje sei que inconscientemente, o que eu buscava em cada relacionamento ou situação sexual, era o preenchimento da minha "sede de plenitude", que só poderia ser saciada através de uma experiência direta, pessoal e intransferível com essa Inteligência. Durante anos, insiste de várias maneiras, na busca dessa conexão através de mecanismos externos, onde muitos deles, acabaram por se tornar verdadeiras prisões.
Hoje, consigo ver que a busca pelos relacionamentos e situações sexuais, me levaram sempre ao deserto do isolamento. Na busca do prazer imediato, acabava por me afastar cada vez mais da minha realidade interna e também das pessoas. Lembro-me que durante essa fase da minha vida, tinha a vontade de "me fundir" junto ao corpo das minhas "amadas", o que mostra bem, o inconsciente anseio de UNICIDADE, de totalidade expressa tão somente através da experiência direta com essa Inteligência.
Meu processo inicial de maturação deu-se através do isolamento dos objetos anestesiantes, das pessoas da ativa e também ao isolamento que qualifico como sendo um dos mais importantes de toda a minha vida: a morte de deus. Não teria como iniciar uma nova maneira de viver sem o descartar do pré-conceito religioso de um deus masculino, punitivo, castrador, uma espécie de homem superior não amoroso (a visão que eu tinha de deus era a mesma que se apresenta na pintura de Michelangelo, creio que na capela de Sistina - não sei bem se é esse o nome).
Vivi por muitos anos, de modo inconsciente, aceitando as "doações de fora" provenientes duma sociedade que me bombardeava maciçamente com mensagens que me prometiam a satisfação das minhas mais profundas necessidades, por meio de situações externas (transbordantes de conotações sensuais e amorosas). Essas mensagens apelavam não apenas para a minha vaidade ou desejos emocionais/sensuais, mas também pelo anseio da conexão com o Inefável. Passei por longos anos, acreditando que o relacionamento perfeito, o tipo de "transa perfeita", a "profissão perfeita" e outros tipos de "finitos absolutos", poderiam resolver minha divina inquietude interna. Acreditei no absurdo contido em frases do tipo: "a metade da minha laranja", "a tampa da minha panela", "minha outra metade", "minha alma gêmea", que se tornaram uma verdadeira obsessão, alimentadas sempre, pelas constantes mensagens e imagens visuais e sonoras de cunho romântico e/ou erótico. Quanto mais bebia dessa água, mais sede sentia; verdadeiras miragens no deserto. Foi preciso questionar e descartar totalmente os velhos, arcaicos e disfuncionais sistemas de crenças que me mantiveram enclausurado na masmorra do modo de viver disfuncional do meu passado, que me impediu por anos de vasculhar o interior do castelo e encontrar a "bem-aventurança".
Hoje, não é mais possível falar sobre o amor, através do mito romântico. Minha compreensão de amor se ampliou, através da ampliação de minha consciência. Para mim, o amor esta na vontade de me empenhar ao máximo para nutrir o crescimento de minha consciência que resulta na ética de compartilhar o crescimento da mesma com outros que como eu, não se entregam mais ao "conformismo social, à normóse operante da horizontalidade. Hoje, para mim, amor é verticalidade. Amor é a eterna procura pela transcendência dos próprios limites impostos pela conformidade aos ditames sociais e familiares, para um estágio de maior consciência. Optar pelo amor é dedicar-me ao desenvolvimento da capacidade de amar; é dedicar-me à raça da qual faço parte. Não posso ser uma fonte de amor, ao menos que tenha uma "autêntica experiência interna do amor" e que procure manter o meu próprio bem-estar e unidade interna, através de momentos de silêncio e solitude.
Optar pelo amor é optar pela busca constante de um maior contato consciente com a Verdade, com a Realidade, uma busca pelo relacionamento do meu ser com o Ser que me faz ser - uma união mística, a qual só pode ser realizada por meio da renúncia da falsidade de seguir aos ditames do meu egocêntrico eu compulsivo.
Optar pelo amor implica em atenção, dedicação, compromisso, fidelidade e exercício constante de "confiança na mansa voz da intuição". É a dedicação constante na busca de uma maior ampliação de consciência através de um verdadeiro exercício de escuta amorosa de meus pensamentos condicionados.
Optar pelo amor significa "correr os riscos" necessários para se diferenciar da normóse operante; é dizer não a um ambiente social que não satisfaz minhas necessidades mais profundas; é não mais me permitir "empurrar a vida com a barriga". É o eterno compromisso de me recusar a tolerar relacionamentos limitantes e castradores que impedem a livre expressão do Ser que me faz ser.
Optar pelo amor é me permitir pelo corajoso questionamento de meu sistema de crenças. É me permitir dar um salto qualitativo em busca do desconhecido; é me permitir passar por louco, não temendo mais a desaprovação social e familiar - estar livre dos ditames do tipo "você tem que", "você deve", resultantes de um comportamental social limitante.
Optar pelo amor significa um comprometimento profundo e fidedigno para com a "voz interior" que se encontra no espaço onde o pensamento não pode entrar. O verdadeiro amor não pode existir sem o compromisso e sem este, a vida e seus relacionamentos não tem qualidade.
Optar pelo amor é me permitir ao erro, uma vez que eu esteja disposto a usar este erro como uma espécie de trampolim para um estágio maior de consciência amorosa. É se permitir à verdadeira intimidade - abrir meu "intimus" para o "intimus" do outro, sem o qual não pode ocorrer uma verdadeira relação. É assumir o compromisso do autoconfronto, da percepção e da mudança comportamental necessária. Optar pelo amor é não mais querer assumir o papel dessa Inteligência Amorosa e Criativa e ser somente um servidor de confiança. É expressar um sentimento de reverência no lugar do abuso.
Optar pelo amor é contrariar a minha "preguiça espiritual", minha tendência relutante contra novos paradigmas que possam ampliar a minha consciência e a minha responsabilidade frente à mesma. É não mais me permitir ser indulgente com minhas próprias racionalizações que me forçam a continuar em minhas "zonas de conforto".
Optar pelo amor é estar consciente de mim mesmo enquanto me movo através da vida. Isso exige que eu preste atenção não só as minhas ações externas, mas também que eu esteja atento à irrealidade de meus condicionamentos que tornam a vida tão complicada. É viver e agir de maneira determinada, consciente e em simplicidade. È questionar minha atual relação com aquilo que eu consumo, com o tipo de trabalho que exerço, com as pessoas com as quais me relaciono e a minha ligação e responsabilidade para com a natureza e o cosmos.
Optar pelo amor significa encarar a vida de frente, sem distrações desnecessárias e ver em cada sincronicidade do dia a dia uma manifestação dessa Inteligência Amorosa e Criativa. É a aceitação do compromisso da busca de um estilo de vida exteriormente simples, mas interiormente rico, de forma tal que possa ser uma livre expressão do meu verdadeiro eu.
Optar pelo amor é a capacidade de transferir quantidades cada vez maiores de energia e atenção antes dadas ao materialismo horizontal para o aspecto não-material e, assim, evoluir em consciência, em compaixão e em sentido de comunidade em unidade.
Optar pelo amor é optar pela eliminação do que é desnecessário; é optar pelo simples e enxergar através da simplicidade, o Inefável que preside todas as coisas. É buscar pela religião "dentro de mim mesmo"; é buscar pela Graça capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem mais graça.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!