Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

24 setembro 2011

Sobre a natureza exata de nossos conflitos

Bom dia a todos! Gostaria de estar compartilhando com vocês umas percepções de ontem a tarde, depois que eu fui fazer uma visita ao escritório de um grupo de auto-ajuda, um grupo de uma Irmandade Anônima, a qual eu devo muito, tenho uma profunda gratidão,  porque, se não fosse ela, com certeza não estaria agora aqui conversando com os amigos. Já faz oito anos que me afastei dos grupos anônimos, onde durante vários e vários anos fui um membro bastante participativo, bastante ativo, por medo de voltar a ter aquela depressão terrível, que foi a minha depressão iniciática, da qual hoje eu sou profundamente grato também, porque se não fosse ela eu não teria a mínima condição de estar descobrindo esse estado de ser no qual me vejo agora. 

Eu pensei que quando chegasse naquele escritório ia encontrar velhos conhecidos com quem a gente teve bastante troca, uma ajuda muito legal,  que foi um grande suporte naquele momento profundamente difícil, profundamente confuso, naquele momento de muito medo, muita incerteza, muitas idéias obsessivas compulsivas, uma total bagunça interna e, quando cheguei lá, não tinha nenhum desses conhecidos, eles não estavam por lá, porque eles todos tinham ido, por coincidência, tinham ido para um encontro nacional que está sendo realizado este final de semana em Santa Catarina, e o tema desse encontro é "Pode haver recuperação sem a prestação de serviços?" Pois eu vou tentar, vou falar um pouquinho sobre isso que é uma das percepções que eu tive durante essa quase uma hora que fiquei lá conversando com uma senhora, que frequentava o mesmo grupo que eu frequentei, e que não me identificou, não me reconheceu quando eu cheguei lá. Perguntou se era a primeira vez que eu estava indo naquele grupo. Eu disse: 

Não, você não lembra de mim? Eu sou, eu era conhecido por "Nelsinho...
Ela olhou para mim assim e falou:
Não pode ser!...
Por que que não pode ser?... Cresceu uma barba, tem uns fios brancos ai, uns bigodes brancos, perdi cabelo, mas estou tão diferente assim?...
— Não, você está diferente... O Nelsinho que eu conheço é aquele Nelsinho bravo, que falava alto com todo mundo... Você está diferente!...
— Que bom que eu estou diferente!
— Você está frequentando que grupo?
— Não eu não frequento mais os grupos, já faz oito anos que me afastei.


Quando falei isso, percebei como ela ficou assustada com essa colocação minha de não fazer mais parte dos grupos. E ela virou para mim e falou assim:

 Mas escuta: você está frequentando alguma terapia? Está frequentando psicólogo? Está frequentando alguma reunião?... Porque não dá para a gente ficar bem sem estar frequentando alguma coisa!...


Eu falei:

— Não, é lógico que dá! Dá sim! São oito anos ai que eu estou sozinho, que eu estou na caminhada sozinho! No início não foi nada fácil, porque formou-se durante todos esses anos uma profunda dependência psicológica entre o grupo, entre as literaturas do grupo e entre as pessoas com quem eu me relacionava nos grupos. Ali havia uma forte rede de segurança emocional. Mas, como a palavra "rede" indica, a rede é algo que nos prende a algo, que não deixa você livre. E, para poder estar dentro desse grupo eu tinha que me ajustar, me amoldar as tradições, aos padrões comportamentais que esse grupo, que a consciência coletiva desse grupo estipula como sendo um padrão de comportamento viável para que você participe desse grupo. Apesar de dizer que você tem toda liberdade, não, existe sim por parte das pessoas, dos membros, uma cobrança de que você se ajuste, se conforme com o padrão de pensamento, o padrão comportamental... Que a sua fala seja encima dos "chavões", dos "temas", dos "lemas", dos "jargões" que são passados de membro para membro durante suas reuniões.

É muito interessante essa questão dela, o modo como ela me colocou, o olhar dela de medo...

— Mas como é que pode você ficar sem reunião? Você não vai transmitir para as pessoas?...


E eu virei para ela e falei assim:

 Escuta: essa programação, se você levar ela a sério, devidamente, se você se aprofundar, se você não ficar na superfície das letrinhas, se você for fundo, isso propicia para você um estado de "Unidade Interna", em que você adquire uma "auto-suficiência psicológica" em que você não precisa mais ficar correndo atrás de "doações de terceiros"... Dá para você começar a caminhar por você! E tem mais: eu descobri nessa caminhada que o mundo é uma "grande sala de reunião"... Está cheio de pessoas ai, atrás dessa mensagem... Cada um está buscando essa mensagem em algum lugar... É um telefone que toca, como falei ontem... 


É bem interessante isso, como as pessoas parece que, para você poder dividir um pouco de você, tem que quer num determinado lugar, tem que estar preso num determinado horários, numa determinada prática durante a semana, quer dizer, isso ai não pode ser feito em todas as nossas atividades?... Então, eu descobri isso que "o mundo é uma grande sala de reunião, o mundo é uma grande sala de pessoas conflitadas e que você pode estar passando, do seu modo, com sua originalidade, com sua autenticidade, do modo que você sente que lhe é melhor, mais folgado,... passar essa experiência. E eu pude perceber, no ato, a resistência dela diante dessa minha postura, diante dessa minha visão... E isso é muito natural, porque dentro de qualquer instituição, você é incentivado, é condicionado que você "tem que" estar ali,  participar, dar continuidade... A maioria dos lugares parece que nem a família, eles não criam você para o mundo, para soltar você para o mundo... Querem você ali, você tem que estar ali para dar continuidade aquele grupo, aquele limitado grupo... Você não pode sair do grupo!

Foi muito interessante, que quando, no início dessa depressão, houve uma identificação iniciática, que através do fundo de poço... É muito interessante, a pessoa que tem o problema do alcoolismo, que tem o problema de jogo, que tem problema da compulsão sexual, da dependência psicológica de relacionamentos, ou do comer compulsivo, quando ela chega no fundo de poço dela, o que está causando a dor é aquele determinado comportamento. Então, é natural que a identificação iniciática seja encima de um padrão comportamental. Então, a gente vai se reunir dentro de um grupo que trabalhe esse padrão comportamental, que seja um fator determinante... Então, no meu caso ali foi a depressão, eram as minhas emoções descontroladas que estavam me causando todo aquele conflito. Então, quando cheguei nesse grupo e eu vi pessoas falando sobre o padrão comportamental que estava acontecendo comigo, houve uma identificação natural: "Pô! Achei a minha turma!... Esse é o problema e a natureza exata dos meus conflitos são as minhas emoções!"... E isso é importantíssimo!... Isso é importantíssimo!...

Sem essa identificação iniciática com um padrão comportamental de sofrimento, que causa o sofrimento, Não tem como a pessoa começar a ter uma percepção, não tem como a pessoa começar a desenvolver o auto-conhecimento, o processo de meditação sobre si mesmo... Não há como! E, hoje fica muito claro para mim que se a pessoa for "séria", em qualquer instituição que ela entrar, ela vai encontrar as ferramentas iniciais, básicas, para o início desse processo de auto-conhecimento. E, se ela for "séria", com essas mesmas ferramentas, ela vai perceber a limitação dessas ferramentas e ela vai precisar buscar por "novas ferramentas". Não vai dar para ficar ali parado... Como num processo de educação, você começa lá no pré-primário, vai para o primeiro aninho, depois vai para o ginasial, — nem sei agora como são as classificações na escola, — até chegar a um "Ensino Superior"... Onde você se sente pronto para ir para o mundo e dividir aquilo que já tem dentro de você e que foi ajudado por todas essas ferramentas.

Então, se a pessoa for "realmente séria", seja lá no grupo em que ela fizer parte, estiver fazendo parte, ela vai perceber, ela vai começar a desenvolver, aquilo que alguns homens já colocaram como o "observador". Todo início de conflito é por causa da ausência total, da ausência desse observador!... Você está tão identificado com a mente, com seus pensamentos, com suas emoções, com seus sentimentos, com suas compulsões, com seus medos, que você "age no automático", num estado quase que de sonambulismo... Você vai fazendo tudo conforme, você vai reagindo, reagindo, reagindo emocionalmente... Não há esse estado de observador. E, nessas reações, é lógico que só pode se instalar conflito atrás de conflito, conflito atrás de conflito... Um círculo vicioso de conflitos e que, para esses conflitos, você vai precisar de algum padrão de comportamento compulsivo, obsessivo, para aplacar a dor causada por esse constante conflito se instalando.

Já com a "instalação" desse observador, a coisa começa a amenizar... Esse observador começa a, pela observação, a não se identificar com várias das coisas que vão se manifestando, já começa a perceber o falso... Já começa a instalar, com esse observador, a prática de um inventariar relâmpago do que está ocorrendo dentro de você... E, esse inventariar já começa a dar condições de você não se identificar, não criar conflitos, não criar tanta resistência... Aqui já é um grande passo no processo — como nessas irmandades falam, todas elas, no A.A., nos Neuróticos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Jogadores Compulsivos Anônimos — todos eles vão colocar isso, a palavra que é muito utilizada, a "recuperação"... Que, aparentemente, de início, é esse recuperar de, não mais, de se "manter limpo", como é falado nessas irmandades, limpo desse padrão de comportamento compulsivo. Mas, isso é muito primário, isso é muito primário! Isso não tem nada a ver com "cura"... Isso ai é só o parar para começar a perceber o que é a realidade interna sem ser anestesiada. "Recuperação" é muito mais do que isso! Porque tem um monte de gente ai detendo seus padrões e, como no A.A. eles falam, o cara para de beber e vira um "bêbado seco", emocionalmente bêbado... Não tem o químico mas é emocionalmente bêbado. Isso é em qualquer das irmandades. Isso é um fato! O parar com seu padrão de comportamento compulsivo não é recuperação. É interessante perguntar: recuperar o que?... Hoje eu tenho essa consciência dessa resposta, já está dentro de mim... Muito bem marcada, muito bem vivida! Eu vou falar um pouquinho mais diante disso.

Mas, o interessante desse processo de desenvolvimento, de auto-conhecimento interno, você percebe num determinado instante a limitação do próprio observador... Que aonde tem observador e a coisa observada, ainda há fragmentação, ainda há espaço, ainda há tempo, ainda há conflito, ainda há um querer "vir-a-ser" algo, que cria ansiedade, que cria angústia, que cria inveja, que cria todos aqueles sentimentos... E aqui é um momento muito difícil da caminhada, pelo seguinte: quando se chega aqui, se você ainda está preso a uma entidade, a alguma organização, a alguma instituição, pelo conhecimento adquirido, diante dos demais membros você começa a ter a formação de uma "personalidade, de uma respeitabilidade". As pessoas começam a te respeitar como um "veterano", como alguém que tem "bastante conhecimento", que "já andou bastante". E, essa respeitabilidade, muitas vezes, limita que a pessoa fale a realidade de seus sentimentos internos. Então, esse observador ai faz com que a pessoa perceba, mas ela não coloca de modo aberto, como os membros que vão chegando pela primeira vez, a realidade interna de seus conflitos. Então, a pessoa passa a viver um estado de isolamento emocional por causa da respeitabilidade adquirida nesses grupos. Ela não tem a liberdade de falar abertamente, como chega o novo, por isso que nesses grupos eles falam que "o novo é a pessoa mais importante". Por que é a pessoa mais importante? Mais importante porque ela vem original, ela vem sem os condicionamentos, mesmo com uma originalidade adoentada pelos seus padrões de comportamento"... Ela chega ali e fala tudo! Ela fala exatamente o conflito dela, o que ela está vivenciando, ela não tem a preocupação em adequar o comportamento dela aos jargões, aos padrões, aos lemas, que aquela irmandade, que aquele grupo, que aquela instituição coloca como sendo o comportamento de uma "pessoa espiritualizada", de uma "pessoa equilibrada", de uma "pessoa iluminada", ou sei lá o nome que for... uma "pessoa realizada".

Então, esse é um momento muito difícil porque todo esse conhecimento adquirido, na busca da solução dos conflitos internos, faz com que a pessoa"não seja autentica, não seja original", para defender essa personalidade "espiritualista" que foi criada dentro desses grupos. Então, essas pessoas, esses "líderes" ele vão ter que ficar sempre fazendo "reuniõenzinhas" fechadas, falando num cantinho qualquer, com um ou outro, para que não fira aquela imagem que foi criada, até para não "assustar" os mais novos... "Fulano de tal teve uma recaída emocional? Mas como? Com tantos anos ai?"... "Fulano de tal recaiu no álcool, recaiu na droga, recaiu no padrão de comportamento, mas como?"... Esse é um momento bastante difícil, bastante limitado, e que acontece muito e que muitas vezes, o que acontece?... Essa respeitabilidade faz com que a pessoa se afaste de vez daquela ambiente que ela frequentava, porque o orgulho, não deixa a pessoa voltar e dizer: "Gente: eu preciso de ajuda!... Estou limitado nesta área"... Esse é um momento bastante difícil, inclusive, existem recaídas que acabam, dependendo do padrão comportamental, acabam sendo recaídas fatais, que acabam levando a pessoa à loucura ou à morte prematura. 

Então, aqui, é uma outra identificação muito interessante: que é a impotência diante do observador, que o observador não tem condições de levar a gente além daquele estado do próprio observador. O observador , em si mesmo, é limitado ao seu poder de observação. Há a necessidade da instalação de "algo" maior, de algo" que não pode ser traduzido pela limitação das palavras. Sem essa instalação desse algo, e a instalação desse "algo" só vem com a rendição total, com esse fundo de poço diante desse observador, sem isso, sem isso, sem esse abaixar as mãos, sem a percepção direta da limitação do conhecimento, de tudo que foi adquirido em todos esses anos de busca para tentar solucionar aquele padrão comportamental inicial, sem isso, a pessoa não consegue adentra num outro "estágio", num outro "portal", um portal de cura. Em todos esses lugares, isso ficou claro para mim, nenhum deles prepara você para a liberdade do espírito humano. Eles te querem ali, preso, eles não querem você: "Olha, vá ao mundo e transmita sua mensagem, a sua experiência, isso que você vivenciou... Vá!... Não se prenda a nós, não! Vá!... Vá e faça esse trabalho! Vá lá e seja VOCÊ MESMO e passe para o "outro" o que você descobriu!... Não! Não fique preso aqui!"

22 setembro 2011

Atendendo o telefonema do Ser



Bom dia a todos! Gostaria de compartilhar um pouco da experiência de hoje de manhã. Acordei por volta das quinze para cinco da manhã, com o toque do telefone aqui de casa e era o alarme da empresa do meu irmão, que está viajando, que está no exterior. E, fiquei pensando, como que é interessante, tem sempre alguém, tem sempre algo que está ali, tentando nos "despertar" cedo, nos trazer pra essa consciência, pra esse estado de sonambulismo, que durante tantos e tantos anos muitos de nós acabamos levando uma vida, uma existência sem vida.  Tem sempre alguém tocando um telefone pra gente, tem sempre alguém dando um toque pra ver se a gente desperta, mas, tem sempre aquela preguiça de sair da "zona de conforto", de sair daquilo que a gente está acostumado, daquele leito das nossas certezas, dos nossos conhecimentos, dos nossos achismos, daquela guerra de intelectualismo que não consegue por fim ao estado de inquietude constante, que não consegue colocar fim aquela falta, daquele sentimento de que está sempre faltando alguma coisa... Eu costumo a brincar que nós somos que nem aquela bolachinha "Mabel",  aquela rosquinha, super gostosa mas sempre com aquele buraquinho no meio... Sempre faltando um pedacinho, sempre faltando alguma coisa... E tem sempre alguma coisa se apresentando, dando um toque, dando um chamado, pra despertar que algo de nós está sendo roubado... Que o melhor de nós está sendo roubado e é justamente o conhecimento de uma nova maneira de estar e de viver na vida de relação, — uma vida totalmente livre da necessidade de controle, livre da necessidade tão conhecida de todos de ficar colocando resistência a tudo que se apresenta, de ficar num estado de julgamento constante, de repulsa. 

Muita gente tem tentado dar esse toque... Vídeos, filmes, poemas, sistemas de crenças organizadas — que erroneamente a grande maioria chama de religião — textos, blogs... Mas nós nunca conseguimos olhar para tudo isso de uma forma clara, aberta, sem defesa nenhuma, sem resistência nenhuma, sem confronto. Não! Está sempre ali o intelecto, está sempre ali aquele acervo de conhecimento livresco, aquele acervo de conhecimento adquirido nas várias instituições que nós passamos durante todos esses anos de busca... Sempre colhendo frases prontas, bonitinhas, para serem aplicadas em momento de impacto... Mas, todos nós sabemos muito bem o que é ir deitar a noite e botar a cabeça no travesseiro... E não estar tranquilo! Não estar em paz! Não se sentir livre! Todos sabem o que é acordar, abrir os olhos, e ainda deitado na cama sentir aquele "friozinho" no estomago, aquela coisa que não dá aquele impulso, aquele "tesão" de sair da cama... Aquela certeza ainda somos o mesmo do dia anterior, que carregamos os mesmos conflitos, as mesmas inseguranças, as mesmas incertezas, os mesmos medos, os mesmos conflitos, as mesmas angústias, os mesmos ressentimentos... Aquela dorzinha crônica e bastante disfarçada da inveja, do ciúmes, dos sentimentos de inferioridade e de superioridade... Aquela distância entre a gente e o mundo e os acontecimentos, que vários escritores, vários pensadores tem colocado como sendo o sentimento de separatividade... Todos nós sabemos o que é isso! E o engraçado é que, parece que a grande maioria — parece que não é só uma experiência minha —, sempre tem uma má vontade incrível de levantar e atender esse chamado, atender esse telefonema aí, esse telefone que toca tentando trazer ai o toque de que a existência está passando, e está passando sem vida, que a existência está sendo roubada, que a qualidade de vida está sendo roubada. Não está sendo roubada por ninguém, está sendo roubada por nós mesmos, justamente por acreditar, por aceitar, o padrão de comportamento, por aceitar a identificação de "eu", uma "irreal identidade", identidade essa que foi criada ai desde o primeiro sopro, através da cultura herdada de família, de tradição... Essa cultura nefasta aí que só tem criado separação, criado conflito, criado divisões... Minha família, sua família, meu irmão, seu irmão, meu país, seu país... As mais variadas formas de conflito ai de separatividade. 

E sempre tem alguém dando esse toque e a gente está sempre "chegando lá" e querendo derrubar, dizer que esse toque não é um toque verdadeiro, que a pessoa não está digna, e sei lá!... E é tão interessante quando ocorre essa abertura, quando ocorre essa entrega, quando essa resistência toda cai pro chão, assim... E "algo" se manifesta, "algo" se instala e transforma totalmente seu modo de estar na vida de relação, de estar ai vendo as pessoas, vendo as pessoas pela primeira vez, destituído daquele monte de julgamentos, de imagens adquiridas durante o tempo, imagens essas ai que sempre foram uma forma de "auto-defesa", e é engraçado que, mesmo nessa auto-defesa, aparentemente ganhando, continuava carregando aquelas situações por dois, três, quatro, cinco, um ano, sempre achando que não tinha ganho "como deveria" ter ganho... Não havia falado "o que deveria" ter falado... É muito interessante notar tudo isso! 

E, para mim, fica muito claro que só dá para "ouvir" esse toque desse telefone, só dá para sair cedo da cama quando se tem esse cansaço... Quando tem... Quando percebe que não tem mais espaço para brigar, que essa coisa de disputar não leva a nada, não levou a nada... Não liberta de jeito nenhum dos conflitos, de todo acervo, de toda cultura, de todo conhecimento... A única coisa que fez foi deixar um "cabeção" bem esclarecido, mas um "coração adoecido", um "coração adormecido"... Uma mente que pensa e um coração que não sente... Quando chega esse momento de perceber que tudo isso não leva a nada, que essa disputa não leva a nada, ai... Eu não gosto muito dessa palavra, mas vou usar ela, agora, aqui... Um "milagre" acaba acontecendo, um clique, um insite, alguma "coisa" acontece, quando acontece, você percebe que já não existe mais aquele "você", não existe mais aquele antigo "estado de ser"... Cheio de resistência, cheio de defesas, cheio de achismos... Tudo isso some!... Some automaticamente, sem esforço, sem a participação direta desse "eu", controlador, desse "eu" que gosta das escolhas... Só pode ter escolha onde tem resistência!... Se não tem resistência não tem escolha... Há uma "percepção direta", há um "intuir direto" que leva a "ação que não é reação", porque não está baseada nesse acervo de memória, de imagens, de conceitos, de achismos, de conhecimentos livrescos... Não há nada, é uma percepção direta, essa percepção direta ela passa a acontecer toda vez que essa resistência cai para o chão... E essa resistência, só cai pro chão quando há a total entrega, que é uma entrega que vem num estado de rendição, de total rendição... Quando há a percepção direta de que todo movimento, todo acervo de cultura, de conhecimento não é capaz de colocar fim aquele estado de constante sofrimento interno, silencioso, que tentamos disfarçar de todos, e que nos impedem de ter uma vida de relação com qualidade. Sem que esse estado de rendição ocorra, nossa vida não tem qualidade, nossos relacionamentos não tem qualidade... Vivemos uma vida totalmente estressada, limitada, apertada, corrida, cheia de conflitos, cheia de máscaras, cheia daquele "Tá tudo bem!", mas que lá dentro "não tá tudo bem!"... Eu vivo falando: a gente vive colecionando "Tudo bem!" que não tem nada de "Bem"... Não existe "Bem" nenhum quando a gente está vivendo "dentro da cabeça", sem um "coração que sente"...

O interessante dessa rendição é que ela faz com que ocorra um milagre... É muito intereesante: é uma mente que começa a sentir e um coração que pensa... E há uma unidade desses dois... Dessa mente e coração... Há um estado interno de unidade que, eu brinco que parece que coloca uma "calça mais folgada" na vida da gente, fica tudo mais folgado, um chinelo mais folgado... Há uma base sólida sob os pés, há um pisar diferente, há um falar diferente, há um olhar diferente, há um tom diferente... Tudo passa a ser diferente! Totalmente diferente daquele modo de vida tenso, limitado, em que não conseguimos estar 100% por inteiro, holisticamente, em cada situação que se apresenta, porque tem sempre uma parte nossa que fica na defensiva, que fica no resguardo, sempre precavida, sempre analisando, sempre julgando, sempre retaliando, sempre procurando a melhor palavra... Ou seja, um modo de vida que tem espaço e tempo em tudo que vai acontecendo... Não há uma interação direta, solta, livre, leve, justamente por causa desse "eu" ai, com suas defesas, com suas resistências...

Então, o que eu gostaria agora era de lhe convidar, para que você também possa se permitir essa experiência de fazer essa pergunta para si mesmo: "O que é que eu estou conseguindo com esse modo de vida de resistir a tudo que se apresenta? A esse modo de resistir a esse "telefone que toca", de madrugada,  na hora que você menos espera, com uma voz que você "não conhece", "nunca viu", não está "vendo o rosto", que vira para você e diz: "Olha!... Acorda!... Estão tentando entrar na sua mente... Estão tentando fechar a porta do seu coração... Estão tentando fazer com que você não experimente a Vida com toda a sua propriedade, com toda sua qualidade, com toda sua plenitude... E aí fica a pergunta: "O que você ainda prefere fazer? Ficar nas suas resistências, só para poder ficar um pouquinho mais ai deitado na sua zona de conforto, com "dor nas costas"... Será que vale a pena isso?... Ainda não está cansado disso?"...

Eu posso garantir para você que... Ou melhor, eu quero provocar você para isso... "Ousar, atender esse telefone... Ouvir esse toque... Deixar as resistências... Deixar esse "milagre" acontecer!" Esse milagre acontece quando a gente, "baixou a mão" e escuta, pela primeira vez, lê pela primeira vez, ouve pela primeira vez, sem esses filtros desgastados do nosso intelecto, da nossa mente condicionada por toda essa forma de cultura, por todos esses conhecimentos, conhecimentos que nós corremos atrás para tentar amenizar o estrago feito por essa cultura nefasta herdade pela tradição local, pela tradição parental. Interessante colocar aqui que "ninguém tem culpa, ninguém pode ser responsabilizado... Somos vítimas de vítimas, vitimizando, se não despertar, se não atender esse telefone, vamos continuar sendo instrumentos vitimizadores de todas as pessoas que entram em contato conosco. E o interessante, é que quando você desperta, quando você atende esse telefone que toca de madrugada te avisando que a vida está sendo roubada... Você passa a ser um instrumento de cura também!

Então, fica ai o convite, esse convite para que você atenda esse telefone, para que você escute esse "toque", de coração e de mente aberta, e eu posso garantir para você, que se você fizer isso, que se você se abrir, se você permitir que essa resistência vá ao chão, você está condenado a saber o que é felicidade, o que é uma vida de qualidade, e o que significa a verdadeira liberdade do espírito humano.

Então era isso que eu queria falar! Um fraterabraço e um beijo no seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

19 setembro 2011

Contato: uma nova forma de vida


Algo no mais fundo de nós, desde a mais tenra idade nos impulsiona em direção ao contato consciente com nossa real natureza. Por muitas vezes nos deparamos com esse impulso, com esse sentimento, com essa sensação de que não estamos sós, de que não estamos num mundo sem sentido. Todos nós vivemos estas experiências, alguns em maior grau, outros em menor grau. Mas com certeza, todos sabemos o que esses momentos de vislumbre representam. Nessas experiências, por mais curtas que sejam, sentimos a forte sensação de que nada precisamos temer, que tudo está certo, que tudo está em seu devido lugar, em sua divina ordem. Quando elas ocorrem, sabemos que “algo” está ali, que uma "presença" está ali, que não estamos sós. São instantes que nos roubam a noção de tempo e espaço. Não sabemos de onde esse “algo” vem, de que modo mantém contato, mas sabemos, por experiência direta, que esse “algo” existe. Para aqueles que vivem esta divina e sagrada experiência, nada mais deste mundo das formas consegue ter mais sentido. Toda paixão, todo desejo transfere-se para esse inusitado estado de ser. Aos olhos dos demais, aquele que vive esta experiência, passa a não ser levado muito a sério, assim como este, também não passa a levar os demais e a tudo mais que eles estressadamente buscam, a sério. Saber como reencontrar esse "algo”, essa “presença”, saber como retomar o contato, passa a ser o motivo de suas buscas, toda sua energia se direciona para isso. Essa experiência, esse inusitado contato causa uma profunda mudança de sentido na vida destes bem-aventurados.
Ouvir isso, ser tocado por isso, acariciado por isso, embalado por isso, é a única coisa que passa a ter real valor, o demais, é sempre secundário. Para quem vive está sagrada experiência, este sagrado instante de contato consciente com "aquilo que é", de nada importa saber se há ou não vida em outros planetas, o que realmente importa é como existir sem essa presença de vida, sem essa presença que nos outorga um estado de ser que é totalmente "extra-terrestre", extra terrestre no sentido de como todos estão acostumados a este modo de vida destituído de vida em abundância.
Quando se vive tal experiência, sabe-se de forma visceral, de forma holística que, viver sem esse estado de presença, viver sem esse contato, de forma comum, de forma natural, seria como um tremendo desperdício de espaço, um grande desperdício de vida. É graças a estas experiências vivificadoras que nos tornamos “antenados”, antenados numa direção contrária a direção comum, que passamos a ter uma visão maior, uma visão que transpassa em muito a trivialidade da visão geral exteriorizada. Essa experiência muda nosso rumo, altera nossas coordenadas, nos faz ouvir e ver aquilo que a grande maioria, por causa de sua insensibilidade, insensibilidade esta criada pela identificação ilusória com este doentio padrão externado, não consegue captar. Quando se vive esses "breves contatos conscientes", contatos esses que surgem de uma escuta atenta, escuta essa que não é maculada pelos filtros do intelecto, literalmente vive-se em outra "faixa", em outro "canal", sem dúvida, muito, mais muito mais sutis. Há uma mudança total em nosso eixo, mudança essa que causa uma profunda mutação na escala de valores de um ser humano. Graças a esses contatos, dá-se um "novo pulsar", dá-se uma nova frequência. Esses contatos causam uma espécie de "flutuação" e essa flutuação traz consigo, uma nova capacidade de escuta, capacidade esta que é totalmente desconhecida pela grande maioria que ainda não se abriu para esse contato. E o mais maravilhoso de tudo, é que esse contato torna tudo mais real. 
Para quem vive esse contato, o script social, com todas suas exigências descabidas, — me desculpem  a expressão — é um "tremendo pé-no-saco"... Essa obsessão aquisitiva deixa de ser uma realidade na vida de quem vive essa "amostra grátis" do que é viver num estado de contato consciente com esta Ilimitada Consciência. Enquanto quase todos se vem obcecados por esse padrão aquisitivo consumista, para aqueles que se viram tocados por esta "coisa", nem se quer se importam com um possível "suicídio profissional"... Carreira, nome, posses, posições, sistemas de seguro, nada disso para estas pessoas é levado em conta, o que conta para elas, é a estabilização desse contato consciente com esta Ilimitada Consciência. Para elas, o mais importante é realizar isso, realizar esse contato, com toda intensidade de seu ser. Viver sem esta presença, ver-se distanciado desta bem-aventurada presença, para elas é como um enorme "buraco-negro", um enorme buraco-negro que faz com que elas dediquem anos e mais anos de suas vidas, procurando, procurando, procurando. Para estas pessoas, a experiência desse breve contato, torna suas vidas uma verdadeira "viagem", viagem esta, que se dependesse apenas do intelecto, da lógica e da razão, a ela nunca teriam se quer considerado. E, em nome desta "viagem cósmica", todos que vivenciaram esses bem-aventurados momentos, passam a fazer ajustes em suas vidas, a torná-las o mais simples possível, simplicidade esta que tem como base, ter o maior tempo possível para se dedicarem na busca daquilo que para elas passa a ser realmente essencial. Por conta própria e de bom grado, ajustam seu orçamento em prol de tal realização. E isso, para aqueles que se encontram nos limites do intelecto, não passa de abstrações fantásticas, não passa de um modo de vida destituído de praticidade, destituído de valores palpáveis e mesuráveis, algo que realmente não vale empregar seus limitados esforços. Quando se está preso nos limites do intelecto, da lógica e da razão, não há se quer a mínima abertura para esse estado de "pesquisa pura", para quem se encontra nesse limitado espaço, não há nisso nada de prático, não é algo que se possa mostrar "lucrativo" e, por não se mostrar lucrativo, não lhe traz o menor interesse, a menor atração. Para aqueles que se encontram nos limites do intelecto, da lógica e da razão, tudo isso é visto como algo místico, destituído de sentido prático. Para estes, a busca da verdade é um objetivo totalmente desprezível. Para eles não há nada de interessante nesse modo de vida, principalmente se nesse modo de vida, se apresenta uma simplicidade voluntária, simplicidade esta que não se vê impulsionada por essa acelerada corrida tecnológica aquisitiva. Para quem foi abençoado por este contato consciente com esta Consciência Ilimitada, não faz o menor sentido essa frenética busca tecnológica aquisitiva em detrimento da descoberta da real natureza humana. Estas pessoas, apesar de não mais encontrarem espaço em qualquer sistema de crença organizada, encontram em seu interior, um devido espaço, espaço este que se torna sua verdadeira religião, e essa religião, encontrada dentro de si, para elas, é uma "Super-Nova", uma verdadeira constelação de infinitas possibilidades.
Graças a esse bem-aventurado momentos de contato com esta Ilimitada Presença, contato este que traz consigo um novo e desconhecido sentir, um sentir que as palavras não conseguem mensurar, é que passamos a saber por experiência direta de que "não estamos sozinhos", de que não precisamos temer nada. Graças a este bem-aventurado momento de contato consciente com esta Ilimitada Consciência, que até a idéia de "morte", encontra sua morte, o que traz a vida um novo estado de liberdade. Quando isto ocorre, a pergunta "Deus existe?" ou "Quem é Deus?", deixa de fazer parte de nosso interior. Com certeza, para todo aquele que ainda está preso nos limites do conhecimento livresco, nos limites da lógica, da razão e do intelecto, não há como ver nisto, o menor sinal de inteligência, o menor sinal de sanidade; para elas, tudo isso é birutice, é loucura, não passa de pura ficção. Para elas, falta um pouquinho mais de visão, uma mudança de visão capaz de trazer uma nova percepção das coisas. Para estes que se vem emaranhados na rede do pensamento condicionado, tudo isso não passa de puro misticismo, de pura irracionalidade, irracionalidade esta que deve por eles ser combatida. Estas pessoas não podem ser responsabilizadas por este modo de encarar os fatos, uma vez que, estas experiências provenientes desses momentos de contato consciente com esta Ilimitada Consciência, não podem ser captadas pela limitação da análise mental, por um modo cartesiano de ver a a vida. Para estas pessoas que sofrem deste vício mental de querer ter controle sobre tudo, isto do que falamos, para estas pessoas, causa um profundo pânico. Não é raro, numa forma insana de quererem defender seus "direitos de controle", estas pessoas passarem a hostilizar o comportamento dos que se dedicam a busca da verdade, alegando que tudo isto não passa de pura bobagem, algo que não merece ser levado a sério. Desdenham aquilo que, com certeza, é a essência da maior descoberta humana. Elas alimentam em si a ilusão do controle, a ilusão da escolha, ilusão esta que é sempre apoiada em em agressivas frases como: "a vida é minha, faço dela o que eu quiser". 
É bastante interessante notar que, sem que a pessoa experimente a morte da fé em tudo aquilo que durante anos e anos se viu atraída, sem que sua vida se torne um turbilhão emocional, não se dá o início desta busca por este contato consciente com outro modo de estar na vida de relação. Sem que a pessoa se dê conta do tamanho da infelicidade a que está acometida como resultado de sua anterior busca por felicidade, este bem aventurado processo de busca, não tem seu início. Não há a menor possibilidade de que comece a fazer a si mesma, perguntas que se mostrem fundamentais, perguntas fundamentais para que seu modo de vida superficial possa abrir espaço para um modo de vida dotado de real sentido e significado. Sem que estes momentos de infelicidade se apresentem, não há como deixar de se apresentar um modo de vida pautado na repetição, na rotina, no tédio e na insatisfação desorientada. 
É através da rendição total ao estado de insatisfação, de declinação, que um contato consciente pode se manifestar, contato este que traz consigo uma "ascensão direta", que traz consigo uma "confirmação", um estado de ser "antenado", estado de ser este que passa a diagnosticar com clareza a insanidade de todo sistema com seus repetidos sinais, com seus repetidos sinais que insistem num modo de vida que busca sempre por certezas. Sem dúvida, este estado de "ascensão direta", não é um fenômeno comum, mas sim, um fenômeno que é natural a todos, desde que, conectados a fonte dessa Suprema Inteligência. É graças a este contato que a vida passa a ser harmônica, sem os antigos e tão conhecidos ruídos emocionais. Graças a essa harmonização, todos os sentidos passam a exercer suas qualidades comuns, só que agora, devidamente ampliados. Nossa percepção do que é, torna-se instantânea, sem a antiga necessidade de uma base falsa, de um limitado ponto e essa percepção instantânea, traz consigo descobertas maravilhosas, descobertas essas que se encontram numa base real, que é a base de nosso estado natural, de nossa real natureza.  


Nelson Jonas R. de Oliveira


Para baixar este áudio:
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O que o intelecto, a lógica e a razão não consegue alcançar, dúvida, satiriza, hostiliza, ou então, mistifica...

Constatações

O mero repetir de orações, mantras, crenças, rituais, simpatias ou citações livrescas de terceiros, em nada confere ao homem, mutação de seu conflituoso e solitário caráter, proveniente do analfabetismo de si mesmo, proveniente do total desconhecimento de sua real natureza.

Nelson Jonas R. de Oliveira

17 setembro 2011

A anormalidade da normal qualidade de vida



Uma boa parte dos seres humanos, quando acometidos por uma forte crise existencial, buscam de forma ansiosa voltar ao estado que elas consideram como seu estado "normal". Em seu estado de delírio não conseguem perceber que a crise a que estão momentaneamente acometidas, teve seu início no excessivo esforço para tentar atender as incoerentes exigências sociais, exigências estas que, quando atendidas, recebemos o rótulo de "pessoa normal". Talvez, estas pessoas, muito antes de sua presente crise existencial, nunca se deram conta de que ser normal não é sinal de saúde. Saúde só pode existir quando, pela auto-investigação, revela-se a nós mesmos o nosso Estado Natural, a nossa Natureza Real, o estado que é natural, sem esforço. Esse Estado Natural, sem esforço, esse Estado Natural no Ser que somos, é um estado totalmente livre das características da personalidade, personalidade esta construída no decorrer dos anos a que fomos expostos a esta nefasta cultura que nos distancia de nossa originalidade, de nossa autenticidade não adulterada. 
O Satsang é um divina oportunidade de reencontro com esta originalidade natural, com este estado de ser natural, estado de ser este que, através da crise que é uma oportunidade de crescimento, reivindica sua posição natural. O Satsang, antes de tudo, precisa ser uma atitude sua, totalmente livre da necessidade da atitude de um terceiro, livre de qualquer doação psicológica externa. O Satsang precisa se tornar uma ocorrência diária totalmente natural, destituída de esforço, de preocupação com uma prática num determinado horário, uma vez que, fora desse estado de presença, fora desse estado de contato consciente com essa Consciência Ilimitada, que é você, agora, nesse instante, que é um estado natural de ser, a vida, que não é "nossa" vida, a vida sem esse contato consciente não tem a menor qualidade. Sem este estado natural de contato consciente com esta presença, a vida de relação, nossos relacionamentos, não tem qualidade. 
É interessante constatar que muito se fala sobre "qualidade de vida", tendo como referência para essa expressão, pequenas mudanças, mudanças essas que estão sempre no campo de nossas limitadas escolhas pessoais. É preciso ter em mente e coração, que mudança não é o mesmo que transformação, não é o mesmo que mutação. Isso a que erroneamente alegam ser "qualidade de vida", não passa de um truque a mais pregado pela mente, não passa de mera ilusão. A qualidade de vida nunca pode ser encontrada em algo, ou em algum lugar que você vê. O que pode ser visto, o que pode ser tocado, não corresponde a essência da expressão "qualidade de vida". O que a maioria das ditas "pessoas normais" consideram por "qualidade de vida", nada mais é do que um colecionar de propriedades, um colecionar de situações externas, colecionar este que mais se refere a uma "qualidade materialista". Isso nada tem a ver com a real qualidade de vida. Qualidade de vida, a real qualidade de vida refere-se a um estado de ser, a um estado de sentir, a um estado de pulsar, estado este livre de toda forma de ansiedade, de toda forma de medo, de toda forma de conflito e confusão interna, livre de toda manifestação dolorosa que todos nós conhecemos muito bem. A real qualidade de vida é um estado de ser que é felicidade, liberdade, paz e amor, independente de qualquer situação externa. Isso é algo que precisa estar bem claro, uma vez que, sem a manifestação deste estado de ser, sem a manifestação deste novo estado de sentir, estado de sentir este que não é dual, que não é fragmentado, que perpassa o limite de tempo espaço, não há como ocorrer o testemunhar da verdadeira liberdade do espírito humano, liberdade esta que, em última análise, é a essência da real qualidade de vida. 
Sem que este estado natural de ser, sem a manifestação deste novo estado de sentir, sem que este testemunhar totalmente livre de esforço seja o nosso estado natural de ser, um estado natural, comum, a vida, que não é a "nossa" vida, não tem como ter qualidade real, nossos relacionamentos não tem como ter qualidade real. Isto precisa ser visto muito além dos limites da análise mental, isto precisa ser fruto de uma vivência direta, algo vivido visceralmente, holisticamente, algo que seja totalmente intransferível. 
Qualidade de vida, a real qualidade de vida só é possível de se fazer manifesta quando ocorre a revelação de nossa real natureza, de nosso real estado de ser, quando este estado natural, depois do prévio trabalho aplicado, torna-se um estado "estabilizado", torna-se comum, comum no sentido de ser sem esforço de nossa parte, tão natural como o pulsar de nosso coração. 
A real qualidade de vida nada tem a ver com essa ilusória idéia aquisitiva, idéia essa que cria a ilusão de que somos proprietários de algo, idéia essa que, de forma totalmente inadequada damos o nome de "bens". O único bem real, a única propriedade real que existe, não se encontra em exposição em nenhuma prateleira, uma vez que o único bem real não se encontra na limitada esfera do tempo-espaço. O único bem real, encontra-se em nosso interior, trata-se da essência de nossa natureza, do nosso real estado de ser. Esse bem, essa propriedade, precisa ser testemunhada de forma direta, de forma vivencial, não pode vir através das palavras de terceiros, precisa ser vivido em primeira estância. É preciso que se manifeste esta percepção direta de que somos essa propriedade, de que somos esse bem. É nesse testemunhar direto que a vida passa a ter real sentido e qualidade e não essa pseudo qualidade de vida representada por esse infantil modo de colecionar transitórias propriedades que sofrem imediata desvalorização pela ação do tempo. A real qualidade de vida nunca está naquilo que é apresentado nos barulhentos anúncios de televisão, ou nos coloridos anúncios gráficos recebidos em meio do tumultuado trânsito, que quase sempre acabam num canto de uma sarjeta qualquer. A real qualidade de vida não pode ser adquirida em suaves dolorosa prestações. 
Se existe de fato, o sincero desejo, a boa-vontade de saber por experiência direta a realidade que pode ser limitadamente nomeada com a expressão "qualidade de vida", se isso existe em você, dá-se a percepção direta de que quantidade na exterioridade não se traduz em qualidade. A ilimitada qualidade de vida se encontra na revelação da realidade da vida, que em essência você é.
Um forte abraço e um beijo no coração. 
Nelson Jonas Ramos de Oliveira      


Para baixar o áudio:
http://www.4shared.com/audio/gHaAttbP/Nelson_Jonas_-_A_anormalidade_.html?

16 setembro 2011

O despessoalizar de nossas relações


Sem dúvida, é uma verdadeira bênção o "despessoalizar" de nossas relações. Ver-se livre do antigo estado de ser que toma tudo como pessoal, é realmente uma grande aventura, é realmente uma grande benção. Viver nesse estado de ser onde não mais se manifesta a ilusão da confiança no limitado conteúdo do intelecto, por mais  sutil que este seja, é realmente um estado de bem-aventurança. Quando não mais ocorre essa ilusória identificação de nossa natureza real como sendo o conteúdo de nosso intelecto, de nossa mente, dessa ilusão "pessoal", ilusão essa que nomeamos de "eu", de "ego", não há nada errado em lugar nenhum, tudo se mostra simples, maravilhosamente simples e certo. De fato, é muito bom quando não mais se apresenta a insana necessidade de buscar por debates, por buscar por inimigos externos, por buscar por pessoas a quem devamos ou não "desmascarar". Perceber que tudo está certo, que você não é responsável por concertar o mundo, traz uma leveza de ser que nos permite, pela primeira vez em nossa vida, desfrutar da vida em toda sua plenitude. É um estado de ser tão maravilhoso que as palavras não alcançam. Poder estar na vida de relação sem a antiga necessidade de querer ver confirmada suas certezas, de querer mostrar ao "outro" que ele não compreende as coisas de modo correto, não precisar reprovar ou concordar com as certezas dos outros é um estado de divina graça.  Neste estado de ser, as certezas já não são importantes, visto que as certezas são da esfera da pessoalidade e, este estado de ser, nada tem a ver com a pessoalidade, mas sim, com "algo" que é totalmente impessoal — as certezas estão exatamente no limitado e estreito campo da pessoalidade. Neste estado de ser, o que importa é o livre compartilhar da manifestação dessa impessoalidade, dessa impessoalidade que não é produto da mente, que não é produto de um limitado intelecto abarrotado de conhecimento livresco ou institucionalizado. Essa impessoalidade compartilhada, simplesmente vem e vai como bem quer, vem pronta sem a necessidade de se preocupar com as palavras, uma vez que as mesmas fluem por si só. Essa impessoalidade se apresenta de forma direta, simples, sem palavras complexas, se apresenta de forma muito natural, muito simples, pois não é fruto da sagaz linguagem do intelecto, mas sim, da amorosa linguagem do coração. Esta impessoalidade não precisa buscar apoio na fala de outros homens de renome, isso que vem não precisa de respaldo, não precisa da aceitação, da concordância ou discordância de terceiros. Isso fica para eles. Nesse estado de ser pelo qual essa impessoalidade se apresenta, não há mais a necessidade da busca pela opinião pessoal de terceiros, uma vez que toda graça já foi sentida no compartilhar, no proporcionar a oportunidade de comunhão com isto que se apresenta através deste estado impessoal. De fato, há uma Graça ainda maior, quando se percebe que um real encontro ocorre, e que nesse encontro, um qualitativo comungar acontece. Nesse estado de ser onde essa impessoalidade se apresenta de forma calorosa e amorosa, a graça sentida através dessa manifestação, dispensa toda forma de doação psicológica de terceiros, não importando se essa doação seja positiva ou negativa, uma vez  que neste estado de ser impessoal, não há espaço para a manifestação da dualidade que nomeia como positivo ou negativo. Esse estado de presença, onde essa impessoalidade se apresenta, tudo se faz simples e funcional, tudo se faz profundamente libertador. Aqui, já não há mais a doentia e deplorável necessidade de buscar por "tapinhas nas costas", por buscar pela necessidade da aprovação alheia, aprovação esta que é uma limitante prisão. Neste estado de ser onde essa impessoalidade se apresenta, não mais há espaço para os velhos jogos de egos, não há espaço para nosso político de plantão. Essa impessoalidade desfaz todos os jogos, jogos estes sempre jogados no tabuleiro da hipocrisia. Neste estado de ser onde esta impessoalidade se apresenta, não há mais espaço para manipulações, não há mais espaço para conchavos, para interesses ocultos, uma vez que a essência desta impessoalidade é amor. Neste estado de ser não existe a menor preocupação em manter ou colecionar amigos,  ou com o conseguir qualquer coisa por meio deles, seja material ou psicologicamente falando. Nesse bem-aventurado estado de ser não há a necessidade infantil de "colecionar amigos ou seguidores"; isso é muito bom quando ainda se está prisioneiro das ilusões do nossa natureza irreal, de nossa personalidade. É a personalidade que acha bom ter uma "enorme rede de amigos", no entanto, só o coração consegue constatar que o "bom" é sempre o grande inimigo do "melhor". Para o coração, o fato de ter ou não ter amigos, o fato de ter ou não ter uma numerosa rede de amigos, nada disso tem relevância. Isso é importante para a mente e não para o coração, pois o coração sabe que, uma rede é sempre uma rede, por mais que aparente ser boa, em sua essência sempre aprisiona, sempre enreda. Neste bem-aventurado estado de ser onde está presença impessoal se manifesta, não há espaço para a solidão. Neste estado de ser, se é livre de pessoas, de números, de sinais e palavras, se é livre na experiência direta desta impessoalidade, desta impessoalidade que podemos chamar de amor. Aqui a única coisa que é importante é o testemunhar deste estado de Ser e, pelo testemunhar deste estado de ser, nele sendo, facilitar a todos para que também desfrutem disto que traz à vida um novo sentido com real sentido.

Nelson Jonas R. de Oliveira

15 setembro 2011

Dormindo com o inimigo

Madrugada de um Adão contemporâneo
Caro amigo, bom dia! Espero que você esteja vivendo momentos melhores do que aqueles vividos quando de nosso último encontro. Nesta manhã nublada de setembro, espero com todo pulsar do meu ser, que você esteja vivendo momentos "ensolarados" neste Ser que lhe faz ser. 
Aproveito a ocasião para lhe convidar para uma ousada e tão negligenciada experiência, a experiência de ser você mesmo, de ser você mesmo em sua real natureza e não essa natureza com a qual, por causa de nossa nefasta cultura e educação, você se identificou desde a mais tenra idade, como sendo você. Gostaria de lhe lançar muito mais que um convite, gostaria de lhe lançar um desafio, o desafio de viver na observação do que se apresenta, agora, neste instante, tanto interna como externamente, viver a constatação e nessa constatação, perceber esse "Algo" que se apresenta, como nunca antes se apresentou. Não há como colocar em palavras o que quero dizer por esse "Algo", tudo que posso colocar é que esse "Algo" traz consigo um estado de paz, de felicidade, de compaixão, de "abarcamento", de compreensão destituída de qualquer forma de julgamento, de qualquer forma de resistência. Esse "Algo" nos livra das inúmeras formas de conflitivas identificações mentais. Se há a constatação, por minima que seja, desse "Algo", dessa natureza que não é esse falso eu com o qual estamos identificados, então, instantaneamente se apresenta a manifestação de um novo modo de viver, de um novo modo de estar na vida de relação. Uma vez que essa constatação tenha ocorrido dá-se, em sequencia, um período de assimilação, um período de experimentação, experimentação essa que leva a confirmação da instalação desse "Algo" com toda a sua propriedade, fazendo com que esse estado de presença se torne um estado comum e não um estado passageiro. Isso para alguns é muito sutil, enquanto que para outros é algo bem explosivo. Aqui, também ocorre uma forte e instantânea percepção de como a mente viciada tenta reinstalar seu domínio. Isso pode até parecer complicado agora, algo místico, mas, tenho a vivência direta de que o ponto nevrálgico aqui, vai além da esfera das análises, dos achismos, pois a análise só pode nos levar até os limites do ego, que é essa nossa identificação com essa natureza irreal. Algo precisa ocorrer, e ocorre quando há a rendição de que a análise é em si mesma limitada.
Sinto lhe dizer, mas não há como atravessar esse Portal que nos leva a uma nova dimensão, que é a dimensão do coração, que é a dimensão do Ser que nos faz ser, sem que ocorra essa rendição diante do conhecido. Quando ocorre essa rendição diante da impotência da análise, esse "Algo" se manifesta e continua em sua manifestação. Isso é muito fácil de ser identificado na vida de tantos homens e mulheres que a história lhes confere a substância da “iluminação”, da “realização”. Enquanto não ocorre esse momento de rendição, o ser humano se vê prisioneiro no labirinto da análise intelectual, análise esta baseada no acervo de seus limitados conhecimentos. Hoje, mais do que nunca sinto que a análise não é o essencial, o essencial se encontra em outra dimensão, se encontra na esfera do sentir. Todo conhecimento adquirido nos leva ao descobrimento da mente, mas, este mesmo conhecimento, por vezes, para muitos, é a grande trave em seus olhos, trave esta que lhes impede a visão e o despertar de um coração em chamas. Se esse despertar não ocorre, nos tornamos meros intelectualóides de plantão e isso é um estado terrível, um estado deplorável em que mantemos sobre tudo e todos uma ácida medição que nada conhece sobre o amor e a compaixão. Nesse estado intelectualóide somos vítimas de nosso vício de fazer perguntas que não buscam por respostas, ou, na melhor das hipóteses, se buscam por respostas, não são as respostas que nos são realmente fundamentais, realmente essenciais para que ocorra uma verdadeira mutação.  Nesse estado intelectualóide não há espaço para a compreensão do momento do “outro”, o que há é a constante vontade felina de 'DERRUBAR" a sustentação do "outro", de deixá-lo a beira da calçada de si mesmo. 
Caro irmão, hoje, já não alimento mais o mínimo desejo de querer disputar certezas e muito menos de saber se o outro tem ou não certezas, se é ou não um iluminado, se o seu comportamento condiz ou não com aquilo que expressa... Isso não me cabe, isso é lá com o "outro". Não me interessa mais saber se o "outro" vive ou não a realidade, quero saber porque ainda vivo essa realidade ainda em partes. Isso é o que hoje conta para mim. Os inimigos externos sumiram porque caiu a ficha que há muito já durmo com o inimigo. Caiu a ficha de que alimentar controvérsias públicas me afastam desse único propósito primordial, o propósito de estabilizar esse "Algo" que aos poucos vem se manifestando e que vem derretendo todas as minhas resistências. Para o freguês aqui, a parte que me cabe está em deixar de viver isso em partes. O que sinto ser a melhor ação é deixar de ser “um mundo em trevas”. Se quero fazer algo pelo mundo, devo saber o significado de um modo de viver sem esse estado de trevas. Se conseguir isso, por osmose, o mundo também se ilumina. Hoje sinto que somos um só, tanto quando identificados com nossa irreal natureza, tanto como quando identificados no Ser que nos faz ser. Se você está identificado com sua irreal natureza, se você está identificado com essa idéia de "eu" de "ego", que é o resultado da identificação com a rede do pensamento condicionado, você alimenta esse estado de inconsciência coletiva que está no ar. Mas, se, ao contrário, pela descoberta desse "Algo" ai dentro de você, se você passa a alimentar essa constatação e, se consegue chegar a estabilização desse "Algo" em si, essa estabilização é o fim de toda identificação ilusória com sua irreal natureza, com esse ego. Isso é o fim dessa idéia ilusória de um "eu que sofre", isso é o fim da identificação com nossa irreal natureza. Em sua real natureza não existe essa coisa de um "eu sofrendo". Quando ocorre essa constatação, não de forma intelectual, mas sim, de forma holística, visceral, você de forma direta e instantânea ajuda na ampliação desse estado de consciência, estado esse consciente da própria Consciência Ilimitada, desse estado de ser que é consciente dessa Consciência. Desse modo, aquele que estiver apto, que estiver com as antenas de seu coração limpas das linhas emaranhadas dos condicionamentos capta o sinal e também acessa isso, entrando nessa maravilhosa rede amorosa. Para tanto, sinto que se faz necessário proteger essa "criança crística" que está nascendo na mangedoura de seu coração. Sinto necessário proteger esta criança do raivoso ataque do Herodes da análise, do Herodes da disputa, do Herodes da discordância intelectual. Sinto que se faz necessário o retirar-se para o deserto da Meditação, para o deserto do silêncio do nosso conhecimento. Sem esse meditativo retirar-se, esse despertar das chamas do coração não ocorre.
Caro irmão, lhe desafio de forma amorosa, a deixar que esse "Algo" reverbere ai dentro, a deixar que isso que está além das palavras faça ecos em seu coração, nunca perdendo a consciência das investidas da mente. Quanto mais se vai para a dimensão do coração e não para a dimensão da análise, que é uma limitada dimensão da mente, que é do ego, que é da nossa irreal natureza, mais esse "Algo" vai se manifestando, se manifestando com uma qualidade amorosa e abarcante. É preciso estar consciente de que a grande disputa nunca ocorre do lado de fora, isso é uma ilusão, uma forma de dispersão, toda forma de disputa sempre ocorre dentro de nossa mente, dentro de nossos sentimentos, dentro de nossas emoções. Quando nos identificamos com elas, interiormente, acabamos por vomitá-las no externo, sempre infectando aos demais. Aqui, é preciso a constatação clara de que o “outro” já não é a questão, o “outro” é tão somente uma espécie de lixa grossa que pode nos ajudar no polimento das arestas que encobrem nossa natureza real. O “outro” é quem traz a lenha para nosso fogo ascender ou, se estivermos desatentos, por meio da identificação com o irreal, nosso fogo apagar. Quanto mais nos aproximamos desse "Algo", quanto mais nos aproximamos da verdade, quanto mais próximos dela, mais os desconhecidos e benéficos resultados se apresentam, resultados estes, nunca se quer imaginados na dimensão da análise, na dimensão da lógica e do intelecto.
Mais uma vez, caro irmão, ouso lhe lançar este convite: aventure-se com aquilo que é, com aquilo que neste momento se apresenta diante de você. Constate tudo do mesmo modo que você constata a exibição de um filme diante de seus olhos. Deixe tudo fluir sem qualquer forma de julgamento, sem qualquer forma de identificação com os monólogos dos personagens que se apresentam. Se você conseguir isso, com certeza estará condenado a ser feliz, estará condenado ao final feliz dessa ilusória dimensão de tempo e espaço.
Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Seu sempre amigo e irmão,
Nelson Jonas R. de Oliveira 

14 setembro 2011

O que você vai ser quando você crescer?

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Parado na lentidão do trânsito, nesta manhã nublada de setembro, enquanto via a enorme quantidade de homens e mulheres, com seus olhares tensos diante do Fórum Trabalhista de São Paulo, uma enorme ficha caiu referente a forma como somos formatados desde cedo, através da pergunta que mais ouvimos de tantas pessoas que são significativas para nós, num período em que somos psicologicamente vulneráveis... A pergunta é: 
"O que você vai ser quando crescer?"... 
E nunca:
"O que você é agora?"... 
Com essa frase é que muitos de nós fomos formatados a acreditar que nosso valor vai estar "num futuro distante", a acreditar que não somos de importância real agora, a acreditar que para sermos levados a sério temos que nos tornar algo e esse algo está sempre lá na frente, de forma muito cara, nunca aqui e agora. Somos educados que não somos o suficiente pelo que realmente somos, somos educados que seremos "alguém" de acordo com a nossa profissão e quanto mais rentável for esta profissão, mais valor teremos. Somos educados num processo competitivo que faz com que olhemos para aqueles ao nosso lado, como inimigo, concorrentes, pessoas das quais não podemos confiar. Então, além de nosso valor estar no futuro, nosso valor também está associado a algo externo, está associado em conseguir ser "o mais esperto". Essa é a base de nossa alienação coletiva, alienação esta que se dá com o processo que erroneamente chamam de educação. Fomos formatados para nos integrar a esta corrupta sociedade através da desintegração de nosso real estado de ser. Nos formataram com uma moral que nada tem de moral, na realidade é totalmente imoral. Não fomos educados para o Ser, mas sim, para o vir-a-ser, para o vir-a-ser para conseguir vir-a-ter. Isso que erroneamente chamam de educação, nada tem a ver com o real significado da palavra "educação". O que chamam de educação, na realidade é um processo de adestramento, de amestramento. Educação é algo que se encontra na esfera do coração e não esse estúpido método de formatação mental que está fortemente ligado na prisão do tempo, nessa insana ponte entre passado e futuro. Isso que chamam de educação, que chamam de cultura é a maior forma de alienação, de formatação, de padronização, padronização esta que devido ao longo período em que a ela somos expostos, nos distancia de nossa real natureza. 
Por isso que afirmo a todo aquele que esteja atravessando um forte período de conflito interno, que esteja atravessando uma dolorosa "depressão", que esse é um momento abençoado, por mais que neste momento, sua dor o impeça de assim constatar. Brinco sempre com os meus amigos mais próximos, que a palavra "depressão" é uma palavra que não corresponde a beleza desse momento, uma vez que, sem confusão, não há fusão. A palavra que poderíamos utilizar, que no meu sentir, expressa melhor a realidade desconhecida de todos quanto a este bem-aventurado momento, é a palavra que cunhei como "Deuspressão". Essa é uma pressão interna que é gerada pela nossa real natureza, real natureza que foi hermeticamente fechada, que foi ocultada de nossa Consciência através de toda nefasta cultura, de toda corrupta educação, de todo desgastado sistema de crença a que fomos sistematicamente expostos. É preciso dar as boas-vindas a esse confuso estado, estado este que não se apresenta para nos desintegrar, mas sim, para dar início a um processo, a um trabalho que pode nos facultar um estado de Ser livre de toda dualidade, livre de toda escolha, livre de toda competição, livre de todo ajustamento servil, livre de todo vir-a-ser, livre de toda forma de fragmentação interna. Sem essa abençoada "confusão", não há como dar início a esse bem-aventurado estado de fusão, fusão esta, que é o resultado direto da Unidade, da Unicidade entre mente e coração. Nossa educação nos manteve por anos e anos identificados em nossa mente, assim como totalmente analfabetos de nosso coração, de nossa real natureza, analfabetos deste amoroso pulsar que a tudo qualifica, que a tudo quantifica de modo amorosamente simples. Isto que chamo de "Deuspressão", nada mais é do que o início de uma nova e real educação, educação esta que aponta para o coração e, só através do coração é que somos dotados de uma qualidade de ser em que, pela primeira vez em nossa vida, podemos sentir de peito aberto, que fazemos parte desta única humanidade, de que somos dignos de ser vistos como um autêntico "ser humano". 
Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Nelson Jonas R. de Oliveira

13 setembro 2011

O massacre do irreal

Todos dormem, upload feito originalmente por NJRO.
A mente tenta constantemente com seu conteúdo mecânico, automático, conteúdo este que é todo o depositário da memória, com seu acervo de experiências, conhecimentos, vivências, causar a necessária identificação para a instalação de conflitos separatistas, conflitos estes através dos quais a mente consegue o alimento necessário para sua dominante continuidade e permanência. Nesse estado de permanência, nesse estado de identificação mental, nos mantemos em constante estado de desatenção, num estado parecido ao sonambulismo, estado este que é a base de toda limitação, de toda fragmentação, de toda ilusória identificação, vivemos em constante estado de dispersão e de identificação com os mais variados tipos de ilusão.
Desde a infância somos educados a identificar como sendo nossa real natureza, aquilo que pensamos, aquilo que de forma totalmente inconsciente e automática, apresenta-se em nossa mente, sem ao menos precisar de nosso convite. Como nunca fomos educados a observar os conteúdos da mente, devido a total identificação com a mesma, desenvolvemos uma instantânea conduta reativa emocional. Esta conduta reativa emocional instantânea é o gatilho de toda manifestação conflituosa, tanto interna quanto externa. Isso é natural porque fomos educados para reagir, para buscar pelo controle, para tomar uma atitude qualquer, para "não deixar quieto", fomos educados para resistir e não para observar, tudo é possível, menos meditar naquilo que se passa na mente viciada. Fomos educados para acreditar que somos a nossa mente e, por acreditarmos nessa ilusão, passamos a maior parte de nossa existência, sem vida, totalmente inconscientes de nossa real natureza. Nossa mente viciada nos torna mecânicos, dispersos, prisioneiros de constantes devaneios, devaneios em formas de projeções, de conjecturas, de lembranças. Não fomos educados para dar a devida atenção ao momento presente, ao agora, ao contrário, fomos educados a valorizar o passado morto e a nos manter sempre preocupados com as futuras situações, a manter os olhos sempre voltados para as conjecturas do futuro. Nessa constante viagem no tempo, perdemos boa parte de nossa energia vital criadora, nos tornamos letárgicos, sonâmbulos, distraídos de nosso estado de ser, seja interno como externamente. Não fomos educados para estar 100% presentes, no agora, a estar holisticamente presentes nas situações que se apresentam. Em vista dessa nefasta educação desenvolvemos uma profunda facilidade, uma forte tendência para a dispersão, para a distração e nem precisamos de fatores externos para que essa dispersão ocorra, bastam os conteúdos dos monólogos mentais, bastam a nossa mente a influenciar em nosso inquieto corpo.
Por não termos sido ensinados, iniciados nessa importante prática do contato consciente com esta presença, presença esta que é a nossa real natureza, nunca estamos realmente presentes nas situações que se apresentam. Não fomos incentivados, não fomos iniciados, não fomos educados na prática da auto-investigação, na observação dos conteúdos da mente, não fomos direcionados para a meditação. Porque se assim o fossemos, desde a mais tenra idade, seríamos um "problema para o sistema", seríamos perigosos diante do ilusório padrão de vida coletivamente incentivado. Ao contrário, somos incentivados a seguir o pensamento tradicional, a segui-lo sem o menor espaço para possíveis questionamentos. Aliás, fomos ensinados a acreditar que que o minimo questionamento diante do que é tradicional é sinal de rebeldia, rebeldia esta que deve ser abafada, que deve ser silenciada em nome da manutenção e continuidade de toda forma de zona de conforto estagnante e corruptiva. Desse modo, toda rebeldia inteligente é indevidamente combatida com toda forma de rebeldia destituída de verdadeira inteligência amorosa e quântica, quântica no sentido de fecundação, fecundação qualitativa.. 
Sem a presença desse estado de ser meditativo, somos vitimados constantemente por ansiedades, medos, angústias, preocupações, projeções, reações emotivas inconscientes e, por causa dessa inconsciência reativa, para escaparmos do resultante estado doloroso de sofrimento psicológico, alimentamos várias formas de doentias dependências psicológicas, dependências essas que limitam ainda mais nossa capacidade de testemunhar o que é real. Enquanto nosso corpo caminha numa direção, nossa mente voa em várias direções opostas, o que acaba criando em nós, um constante estado de conflito. Somos vitimados através das mais variadas formas de compulsão, sendo, entre elas, o consumo inconsciente e inconsequente uma das formas que se faz mais comum e presente. Em resultado, consumimos sem comungar. Nos tornamos viciados em buscar fora alguma forma de alívio momentâneo para a insuportável dor do "não ser", da insuportável dor causada pelo total desconhecimento de nossa real natureza. Nesse triste estado de ser, tudo que é desnecessário é visto como urgentemente necessário.
Demora muito para que se instale a percepção de que o pensamento é um vício que insiste em nos roubar o agora, o presente instante, funcionando sempre com suas projeções no tempo e espaço, com seu mecanismo acelerado, mecânico, com seus filmes de terror ou de prazer, filmes esses que nada tem a ver com a nossa realidade. Sem a percepção momento a momento deste viciado processo mental reativo, não há como ocorrer o espaço necessário para a manifestação de algo que vá além dos limites do conhecido, algo capaz de um curativo poder superior  a toda forma de turbulência mental.
É natural que no início dessa prática da observação neste estado de presença, o pensamento passe a intervir de forma mais violenta do que costumeiro. Aqui se instala quase sempre uma grande confusão. Aqui se faz muito necessário um estado de paciente e amorosa atenção com nós mesmos, para não cedermos ao vício reativo emocional, vicio esse pelo qual tomamos posturas indevidas, que aparentemente se mostram como solução, mas que em pouco tempo se mostram como nova forma de conflito.
Esse é segundo a minha experiência, um dos estágios mais delicados nesse processo de massacre do que é irreal, massacre que ocorre dando abertura para um estado de cansaço, cansaço este que causa a rendição, a rendição necessária para a manifestação libertadora de nossa real natureza.
Nelson Jonas R. de Oliveira

11 setembro 2011

Constatações numa manhã de setembro

Controle

Este mundo está repleto tanto de homens que são excelentes oradores sobre o "idealismo" de liberdade, quanto profundamente carente de homens que, pela bem-aventurada ação do toque da Graça, alcançaram em si mesmos, a "excelência de ser", onde, através dela, sem tornam livres de toda escolha dualista, de toda arrogante expressão que esconde em si mesma uma doentia necessidade de auto-afirmação, carente de homens livres de todo idealismo e de toda conflitiva e separatista oratória destituída da real inteligência amorosa e abarcante.

Nelson Jonas R. de Oliveira

O sentido da vida

Ser Místico, upload feito originalmente por NJRO.
Aqui estou para ser parte de uma só humanidade e não para causar a ela ainda mais apartes.

Nelson Jonas R. de Oliveira

10 setembro 2011

Auto-realização

Auto-realização, upload feito originalmente por NJRO. Fotos: Andrea Zafra
Clique na foto para vê-la em detalhes.

Fashion Week da Iluminação

Nelsosho, upload feito originalmente por NJRO.

Agora, parece moda discutir o "ideal" estado de ser para que alguém seja ou não um "iluminado", um "realizado", alguém que "mereça" ou não a nossa desfocada atenção. Pela internet, pelas inúmeras rede sociais, pelo vários grupos espiritualistas e em tantos livros, essa parece ser uma das pautas preferidas do momento. É interessante verificar essa postura: boa parte está morrendo afogado no brejo escuro e fétido de suas certezas, quando vem alguém lançando uma bóia salva-vidas, ao invés de fazerem uso da mesma, passam a rejeitá-la porque suas cores, não são as ideais, o comprimento da corda em que está amarrada, bem como a sua espessura, não estão de acordo com os dados apresentados por seu guru favorito, e por não fazer parte de sua predileção, rejeitam a bóia porque não gostaram do modo como o "salva-vidas" está vestido, não gostaram do tom de sua fala, não gostaram do modo como o deconhecido salva-vidas lhes atira sua bóia salvadora. Afinal de contas, em suas certezas, salva-vidas que é salva-vidas tem que ter secular renome internacional. Preferem se debater intelectualmente do que fazer o único movimento realmente necessário em direção a um solo seguro: um esforço consciente em direção da própria liberdade. Essa me parece ser uma das grandes traves que impedem a clareza de visão, essa me parece ser uma das grandes pedras de tropeço que impedem aquilo que, em suas certezas, chamam de "realização", que impedem a tal "iluminação" daqueles que se julgam conhecedores e sérios buscadores. 
Aqui do meu canto, no desfrute deste bem-aventurado momento, neste momento onde esta chama quente, no centro do peito, a tudo ilumina, silenciosamente observo a pergunta que se manifesta: 
Qual o sentido de dedicar tempo e energia para criar uma idéia a mais, uma imagem a mais de como deveria ou não, ser um "ser iluminado", um ser "auto-realizado"?
Se a questão da iluminação está em ser "auto-realizado", qual a inteligência em se concentrar nas idealizadas qualidades do "outro-realizado"?
No que pode facilitar o processo pessoal, processo este que é intransferível, de se tornar consciente, através da percepção direta de nossa real natureza, no que facilita esse papaguear sobre as possíveis qualidades necessárias para um "ser iluminado"?
Alimentar projeções, idealizações referentes ao que seja ou não caraterísticas de um ser iluminado, no que pode nos ajudar na percepção direta deste estado de ser, estado de ser este que, em nossa prepotente soberba, julgamos poder qualificar?
Desde quando, o conjecturar sobre a amperagem ideal de uma lampada, pode iluminar a sala escura de nossa mente e coração?
Com outras palavras, quando o carteiro bate em sua porta, o que você faz? Recebe logo a mensagem que lhe é endereçada, ou antes de aceitá-la fica "medindo o carteiro" para ver se ele possui ou não as imaginativas qualidades para ser um carteiro "digno" de sua atenção? O que importa: receber e conferir o conteúdo da mensagem ou discutir o imaginado modo de ser do mensageiro?
De que adiantam, infantis citações afirmativas de quem foi ou não um ser iluminado? No que esse tipo de afirmação, "Jesus, Buda, Maomé, Krishnamurti foi um grande iluminado", pode facultar a um ser humano ainda preso na escuridão de seu acervo de conhecimento livresco, ainda preso na escuridão de seu conhecimento de terceira mão, outorgado por instituições com coloridos pedaços de papel com pequenas estampilhas douradas, no que isso adianta para que este ser humano possa revelar por si mesmo a realidade desse estado, estado este que com seu limitado conhecimento livresco, nomeia de "iluminação", de "realização"?... Quando é que vai cair a ficha de que Jesus, Buda, Maomé, Krishnamurti e muitos outros já viveram seu momento? Quando vamos arregaçar as mangas com real seriedade em direção a realização de nosso momento divino? Quando vamos abrir mão de nossa adolescência espiritual para saber por experiência direta, as qualidades de bem-estar provenientes da maturidade espiritual, da maturidade que pacientemente e amorosamente nos espera através do contato consciente com o Ser que nos faz ser? 
Quando vamos abrir mão dessa infantil busca por mais certezas? Afinal, de pessoas colecionadoras de certezas, os cantos escuros dos sanatórios já estão cheios... 
Desde quando, bafo de boca, por mais espiritualista que seja, pode cozinhar um ovo que nos brinde com real  nutrição? O mais interessante de tudo isso, — que seria cômico se não fosse trágico — é que a grande maioria que se dedica nesse "papaguear iluminista", nitidamente está a morrer de fome, mas, imaturamente prefere se ater nas discussões quanto a melhor receita, a receita "ideal" que possa se mostrar realmente nutritiva. Não percebem que, enquanto no alarde da disputa de suas certezas, na disputa da "idéia" da melhor receita, não dão o passo tão necessário em direção da cozinha do próprio Ser ainda não realizado, deste próprio Ser que são.
Divagações sobre a possível ou não realização do outro é outra pedra de tropeço, pedra esta colocada em nosso acidentado caminho pelo nosso tão acariciado e protegido intelecto. Esse tipo de divagação não tem o poder de nos "realizar", de nos "iluminar", o único poder que tem é o poder de nos manter presos em outra forma de auto-ilusão, auto-ilusão esta criada pelo nosso fétido pântano de certezas. 
O fato é que, a todo tempo e espaço, semeadores de homens e mulheres saem para semear... E novamente me veem a pergunta: o que nos cabe? Discutir as qualidades necessárias, o comportamento ideal para um semeador, ou voltar o foco de nossa atenção para aquilo que me parece ser realmente o essencial para que um plantio nutritivo aconteça: limpar o solo que somos de toda erva daninha nascida de nossas crenças, imagens, conceitos, achismos, conjecturas, desgastadas certezas e preconceitos?... O que você vai fazer agora diante desta pergunta que se apresenta através de um ser que agora não está nem aí para essa história de ser ou não iluminado: vai se debruçar sobre ela dedicando a necessária paixão, ou vai correr até seu "iluminado" preferido de plantão, para conferir o que ele responderia diante de tal pergunta? 
Quando vamos ousar largar nossas muletas psicológicas, quando vamos deixar de brincar de ser um "sério buscador", quando vamos dedicar tempo e energia necessários para a percepção de nossas pedras de tropeço, de nossas traves que nos impedem uma visão clara e imediata e assumir o tão necessário trabalho para deixar de sofrer, para deixar de bater cabeça e, com alívio, conhecer em si, esse estado de Ser que é toda liberdade, felicidade, alegria, amor, compaixão e simplicidade?
Já sei!... Estas perguntas, não merecem a devida atenção, afinal, o barbudo aqui, não está nos moldes de um ser iluminado, não foi aprovado em seu detector "iluminometro", em seu "gurumetro"... Então, amigo, em meio desta benfazeja quentura, só posso lhe desejar boa sorte. Seja feliz com seu acervo de certezas e suas mazelas ocultas... E, "boa viagem"!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

09 setembro 2011

Nossas, por nós, tolhidas asas da liberdade

Borboleta, upload feito originalmente por NJRO.

Em nossa cozinha, temos uma enorme janela, cuja medida é de 3 X 2 metros, com uma colorida vista, onde pássaros nos brindam com seus cantos a cada manhã. Quando corremos suas venezianas, entre elas, fica um espaço de um metro. Ontem a tarde, enquanto eu me deliciava com um bom copo de achocolatado, uma bela borboleta, se debatia contra a transparente veneziana, tentando alcançar a liberdade do infinito céu azul. Se debatia freneticamente, ali, no mesmo lugar, limitando seu movimento a poucos centímetros. Vendo seu esforço infrutífero, aproximei meu dedo indicador para ver se ela aceitava por ajuda. No entanto, ela, assustada, se afastava diante de qualquer aproximação minha. Quanto mais eu me aproximava, mais ela se debatia. Percebi então, que aquele não era o melhor momento para facilitar sua liberdade; ela ainda precisava chegar a um ponto de exaustão. Pouco antes de sair para buscar minha esposa Deca, no metrô, voltei novamente à cozinha, desta vez, para beber um pouco de água. A bela borboleta, agora, se apresentava quieta, bem no parapeito interno da janela. Fui lentamente aproximando meu dedo indicador direito, posicionando-o bem a frente de suas compridas antenas. Lentamente, fui aproximando meu dedo, até tocá-la, até que, em poucos segundos, a bela e exausta borboleta apoiou suas perninhas sobre meu dedo. Mais que depressa, lancei-a em direção ao fim de tarde que se iniciava. Fiquei ali desfrutando da beleza, da leveza e da graciosidade de seu voo em liberdade.
Diante desta experiência, aparentemente trivial, uma grande lição se apresentou para mim. Somos todos muito semelhantes aquela pequena e bela borboleta. Por anos e anos, frutos da hereditariedade cultural e da crença, vivemos no mundo da horizontalidade, feito vorazes e inconscientes lagartas,  consumindo a tudo e todos que se apresentavam em nossa direção. Consumimos tanto, até chegar a um ponto de saturação, onde, buscamos pelo isolamento, isolamento este tão necessário para um processo de maturação, um processo de transformação, transformação esta que se dá através do “digerir e descartar”, de toda forma de alimento, que um dia se fez nutritivo, mas que agora, nos impede de um modo leve, livre e solto de viver. Nesse processo, saímos de nosso casulo consciencial, agora com novas asas, com uma nova visão de mundo. Mesmo assim, por vezes, vemos nossa liberdade limitada pelas grossas placas de vidro das venezianas do intelecto e da razão. Por causa de nosso excessivo e exaustivo movimento, falta-nos a capacidade de observar um “pouquinho mais ao lado”. Igualmente a pequena e bela borboleta, inicialmente, rejeitamos qualquer tipo de “apontamento” que possa facilitar a revelação da direção que nos possibilite a liberdade de movimento. Sem que ocorra o ponto de saturação, sem que ocorra a total rendição e entrega, não há como se ver livre das grossas e transparentes placas de vidro do intelecto e da razão, através das quais, de modo frustrado e por vezes, dominados pela dor da inveja, observamos o livre movimento de alguns poucos pelo mundo de relação. Sem este bem-aventurado momento de rendição, rendição esta que nos liberta desta tendência de criar neurótica e conflitante resistência, resistência esta sempre em defesa de uma solitária e infeliz felicidade atrás das coloridas grades de nossa prisão mental, prisão mental que nos impede do desfrute de verdadeiras e nutritivas relações, não há como conhecer a felicidade e a liberdade de voos dotados de infinitas possibilidades.
Se você que agora lê este texto, há muito deixou de ser compulsiva lagarta, se já experimentou por breve que seja a delícia de se aventurar na verticalidade do Aberto, de ser "tocado" pelo Aberto, mas, que agora, talvez por falta de uma observação mais apurada, atenta, se vê momentaneamente preso nas limitações de seu conhecimento, de sua razão, se anseia pela mesma liberdade que, em meio a sua impotência, perturbado, conflitado, assiste a outros dela desfrutar, a você agora lanço este amoroso desafio: solte-se, relaxe e observe a direção para onde amorosos dedos lhe apontam. Eles estão por todos os lados. A liberdade e a felicidade estão logo aí, bem aí, onde você agora, exausto se encontra. Só é preciso um pouquinho de boa-vontade, um pouquinho de humildade, um pouquinho de rendição, para se deparar com as abertas e espaçosas venezianas de seu coração, coração este que, em chamas, nos liberta dos limites da lógica e da razão. Portanto, solte-se, liberte-se e descubra desta vida, o que ela tem de melhor.
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!