Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 setembro 2011

Atendendo o telefonema do Ser



Bom dia a todos! Gostaria de compartilhar um pouco da experiência de hoje de manhã. Acordei por volta das quinze para cinco da manhã, com o toque do telefone aqui de casa e era o alarme da empresa do meu irmão, que está viajando, que está no exterior. E, fiquei pensando, como que é interessante, tem sempre alguém, tem sempre algo que está ali, tentando nos "despertar" cedo, nos trazer pra essa consciência, pra esse estado de sonambulismo, que durante tantos e tantos anos muitos de nós acabamos levando uma vida, uma existência sem vida.  Tem sempre alguém tocando um telefone pra gente, tem sempre alguém dando um toque pra ver se a gente desperta, mas, tem sempre aquela preguiça de sair da "zona de conforto", de sair daquilo que a gente está acostumado, daquele leito das nossas certezas, dos nossos conhecimentos, dos nossos achismos, daquela guerra de intelectualismo que não consegue por fim ao estado de inquietude constante, que não consegue colocar fim aquela falta, daquele sentimento de que está sempre faltando alguma coisa... Eu costumo a brincar que nós somos que nem aquela bolachinha "Mabel",  aquela rosquinha, super gostosa mas sempre com aquele buraquinho no meio... Sempre faltando um pedacinho, sempre faltando alguma coisa... E tem sempre alguma coisa se apresentando, dando um toque, dando um chamado, pra despertar que algo de nós está sendo roubado... Que o melhor de nós está sendo roubado e é justamente o conhecimento de uma nova maneira de estar e de viver na vida de relação, — uma vida totalmente livre da necessidade de controle, livre da necessidade tão conhecida de todos de ficar colocando resistência a tudo que se apresenta, de ficar num estado de julgamento constante, de repulsa. 

Muita gente tem tentado dar esse toque... Vídeos, filmes, poemas, sistemas de crenças organizadas — que erroneamente a grande maioria chama de religião — textos, blogs... Mas nós nunca conseguimos olhar para tudo isso de uma forma clara, aberta, sem defesa nenhuma, sem resistência nenhuma, sem confronto. Não! Está sempre ali o intelecto, está sempre ali aquele acervo de conhecimento livresco, aquele acervo de conhecimento adquirido nas várias instituições que nós passamos durante todos esses anos de busca... Sempre colhendo frases prontas, bonitinhas, para serem aplicadas em momento de impacto... Mas, todos nós sabemos muito bem o que é ir deitar a noite e botar a cabeça no travesseiro... E não estar tranquilo! Não estar em paz! Não se sentir livre! Todos sabem o que é acordar, abrir os olhos, e ainda deitado na cama sentir aquele "friozinho" no estomago, aquela coisa que não dá aquele impulso, aquele "tesão" de sair da cama... Aquela certeza ainda somos o mesmo do dia anterior, que carregamos os mesmos conflitos, as mesmas inseguranças, as mesmas incertezas, os mesmos medos, os mesmos conflitos, as mesmas angústias, os mesmos ressentimentos... Aquela dorzinha crônica e bastante disfarçada da inveja, do ciúmes, dos sentimentos de inferioridade e de superioridade... Aquela distância entre a gente e o mundo e os acontecimentos, que vários escritores, vários pensadores tem colocado como sendo o sentimento de separatividade... Todos nós sabemos o que é isso! E o engraçado é que, parece que a grande maioria — parece que não é só uma experiência minha —, sempre tem uma má vontade incrível de levantar e atender esse chamado, atender esse telefonema aí, esse telefone que toca tentando trazer ai o toque de que a existência está passando, e está passando sem vida, que a existência está sendo roubada, que a qualidade de vida está sendo roubada. Não está sendo roubada por ninguém, está sendo roubada por nós mesmos, justamente por acreditar, por aceitar, o padrão de comportamento, por aceitar a identificação de "eu", uma "irreal identidade", identidade essa que foi criada ai desde o primeiro sopro, através da cultura herdada de família, de tradição... Essa cultura nefasta aí que só tem criado separação, criado conflito, criado divisões... Minha família, sua família, meu irmão, seu irmão, meu país, seu país... As mais variadas formas de conflito ai de separatividade. 

E sempre tem alguém dando esse toque e a gente está sempre "chegando lá" e querendo derrubar, dizer que esse toque não é um toque verdadeiro, que a pessoa não está digna, e sei lá!... E é tão interessante quando ocorre essa abertura, quando ocorre essa entrega, quando essa resistência toda cai pro chão, assim... E "algo" se manifesta, "algo" se instala e transforma totalmente seu modo de estar na vida de relação, de estar ai vendo as pessoas, vendo as pessoas pela primeira vez, destituído daquele monte de julgamentos, de imagens adquiridas durante o tempo, imagens essas ai que sempre foram uma forma de "auto-defesa", e é engraçado que, mesmo nessa auto-defesa, aparentemente ganhando, continuava carregando aquelas situações por dois, três, quatro, cinco, um ano, sempre achando que não tinha ganho "como deveria" ter ganho... Não havia falado "o que deveria" ter falado... É muito interessante notar tudo isso! 

E, para mim, fica muito claro que só dá para "ouvir" esse toque desse telefone, só dá para sair cedo da cama quando se tem esse cansaço... Quando tem... Quando percebe que não tem mais espaço para brigar, que essa coisa de disputar não leva a nada, não levou a nada... Não liberta de jeito nenhum dos conflitos, de todo acervo, de toda cultura, de todo conhecimento... A única coisa que fez foi deixar um "cabeção" bem esclarecido, mas um "coração adoecido", um "coração adormecido"... Uma mente que pensa e um coração que não sente... Quando chega esse momento de perceber que tudo isso não leva a nada, que essa disputa não leva a nada, ai... Eu não gosto muito dessa palavra, mas vou usar ela, agora, aqui... Um "milagre" acaba acontecendo, um clique, um insite, alguma "coisa" acontece, quando acontece, você percebe que já não existe mais aquele "você", não existe mais aquele antigo "estado de ser"... Cheio de resistência, cheio de defesas, cheio de achismos... Tudo isso some!... Some automaticamente, sem esforço, sem a participação direta desse "eu", controlador, desse "eu" que gosta das escolhas... Só pode ter escolha onde tem resistência!... Se não tem resistência não tem escolha... Há uma "percepção direta", há um "intuir direto" que leva a "ação que não é reação", porque não está baseada nesse acervo de memória, de imagens, de conceitos, de achismos, de conhecimentos livrescos... Não há nada, é uma percepção direta, essa percepção direta ela passa a acontecer toda vez que essa resistência cai para o chão... E essa resistência, só cai pro chão quando há a total entrega, que é uma entrega que vem num estado de rendição, de total rendição... Quando há a percepção direta de que todo movimento, todo acervo de cultura, de conhecimento não é capaz de colocar fim aquele estado de constante sofrimento interno, silencioso, que tentamos disfarçar de todos, e que nos impedem de ter uma vida de relação com qualidade. Sem que esse estado de rendição ocorra, nossa vida não tem qualidade, nossos relacionamentos não tem qualidade... Vivemos uma vida totalmente estressada, limitada, apertada, corrida, cheia de conflitos, cheia de máscaras, cheia daquele "Tá tudo bem!", mas que lá dentro "não tá tudo bem!"... Eu vivo falando: a gente vive colecionando "Tudo bem!" que não tem nada de "Bem"... Não existe "Bem" nenhum quando a gente está vivendo "dentro da cabeça", sem um "coração que sente"...

O interessante dessa rendição é que ela faz com que ocorra um milagre... É muito intereesante: é uma mente que começa a sentir e um coração que pensa... E há uma unidade desses dois... Dessa mente e coração... Há um estado interno de unidade que, eu brinco que parece que coloca uma "calça mais folgada" na vida da gente, fica tudo mais folgado, um chinelo mais folgado... Há uma base sólida sob os pés, há um pisar diferente, há um falar diferente, há um olhar diferente, há um tom diferente... Tudo passa a ser diferente! Totalmente diferente daquele modo de vida tenso, limitado, em que não conseguimos estar 100% por inteiro, holisticamente, em cada situação que se apresenta, porque tem sempre uma parte nossa que fica na defensiva, que fica no resguardo, sempre precavida, sempre analisando, sempre julgando, sempre retaliando, sempre procurando a melhor palavra... Ou seja, um modo de vida que tem espaço e tempo em tudo que vai acontecendo... Não há uma interação direta, solta, livre, leve, justamente por causa desse "eu" ai, com suas defesas, com suas resistências...

Então, o que eu gostaria agora era de lhe convidar, para que você também possa se permitir essa experiência de fazer essa pergunta para si mesmo: "O que é que eu estou conseguindo com esse modo de vida de resistir a tudo que se apresenta? A esse modo de resistir a esse "telefone que toca", de madrugada,  na hora que você menos espera, com uma voz que você "não conhece", "nunca viu", não está "vendo o rosto", que vira para você e diz: "Olha!... Acorda!... Estão tentando entrar na sua mente... Estão tentando fechar a porta do seu coração... Estão tentando fazer com que você não experimente a Vida com toda a sua propriedade, com toda sua qualidade, com toda sua plenitude... E aí fica a pergunta: "O que você ainda prefere fazer? Ficar nas suas resistências, só para poder ficar um pouquinho mais ai deitado na sua zona de conforto, com "dor nas costas"... Será que vale a pena isso?... Ainda não está cansado disso?"...

Eu posso garantir para você que... Ou melhor, eu quero provocar você para isso... "Ousar, atender esse telefone... Ouvir esse toque... Deixar as resistências... Deixar esse "milagre" acontecer!" Esse milagre acontece quando a gente, "baixou a mão" e escuta, pela primeira vez, lê pela primeira vez, ouve pela primeira vez, sem esses filtros desgastados do nosso intelecto, da nossa mente condicionada por toda essa forma de cultura, por todos esses conhecimentos, conhecimentos que nós corremos atrás para tentar amenizar o estrago feito por essa cultura nefasta herdade pela tradição local, pela tradição parental. Interessante colocar aqui que "ninguém tem culpa, ninguém pode ser responsabilizado... Somos vítimas de vítimas, vitimizando, se não despertar, se não atender esse telefone, vamos continuar sendo instrumentos vitimizadores de todas as pessoas que entram em contato conosco. E o interessante, é que quando você desperta, quando você atende esse telefone que toca de madrugada te avisando que a vida está sendo roubada... Você passa a ser um instrumento de cura também!

Então, fica ai o convite, esse convite para que você atenda esse telefone, para que você escute esse "toque", de coração e de mente aberta, e eu posso garantir para você, que se você fizer isso, que se você se abrir, se você permitir que essa resistência vá ao chão, você está condenado a saber o que é felicidade, o que é uma vida de qualidade, e o que significa a verdadeira liberdade do espírito humano.

Então era isso que eu queria falar! Um fraterabraço e um beijo no seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!