Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 outubro 2011

Reflexões em Camburi

Poucos andam de lancha
Muitos, nem lanche tem...

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

25 outubro 2011

Constatações

Nos bastidores da crença organizada
Pode ser diferente para você mas, para mim, isto é um fato: a enérgica e eloquente oratória é capaz de tocar um enorme salão repleto de fiéis, em sua grande maioria, sonâmbulos seguidores mantenedores, no entanto, não é capaz de tocar um coração desperto.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira 

20 outubro 2011

A Música da Vida


Bom dia a todos! É bom estar mais uma vez aqui compartilhando um pouco da experiências, experiências essas que vem se apresentando de momento a momento, nesse estado de atenção, nesse estado de presença a tudo que se apresenta, nesse estado de presença sem escolha ou retaliação daquilo que se apresenta.

Essa semana, no facebook de um conhecido, eu achei interessante uma imagem que ele colocou, uma imagem que tinha um piano de cauda e acompanhava uma frase que dizia assim: "O fato de você ter um piano em casa não faz de você um pianista. Do mesmo modo que você ir até à, frequentar uma igreja, um templo, não o torna um cristão". Isso ficou ai dentro de mim ecoando e hoje pela manhã, logo quando eu abri os olhos, me veio logo cedo isso, que do mesmo modo que a capacidade de repetir capítulos e versículos não faz de você um cristão, o fato de você pertencer a um sistema de crença organizada, isso não certifica que você saiba por experiencia direta o que é amor. Isso não certifica, esse mero repetir de versículos e capítulos, não certifica que você saiba o que é bondade sem escolha, não certifica que você saiba, que você seja consciente de um estado de ser, onde ocorre uma escuta de modo incondicional, livre de qualquer forma de condicionamento. O fato de você ter um piano em casa, de decorar alguma partituras compostas por terceiros, isso não certifica que a "Música da Vida" jorra em seu coração. Existe uma grande diferença entre ser músico e ser um compositor, ou meramente, mais um interprete. Interpretes são muitos, os compositores, são raros. 

São muitos os que falam de Deus, são muitos os que falam sobre a Graça, mas quantos, realmente, sabem por experiência direta o que é a Graça, o que é Deus?... Indo inda mais longe: Quantos sabem daquilo que chamo de "Amostra Grátis de Deus"?... Amostra grátis são aqueles momentos em que um estado de ser se apresenta, um estado de ser em que você é todo unidade, em que não há separação, em que há um estado de liberdade e felicidade que não pode ser traduzida através do limite das palavras. E quantos que conhecem, que são conscientes desse estado estabilizado no Deus que são? Não que vivam da experiência dessa amostra grátis de Deus, que é tão somente parte da memória? Não é um estado estabilizado, um estado comum no dia a dia. Eu sinto que boa parte ainda vive da ilusão do culto num Deus longínquo, onde Deus é só uma palavra. A maior parte vive dormindo na crença e não despertos na experiência direta do Deus que são.  

A idéia de que somos um pianista porque seguimos um estilo é que nos impede de ouvir a "Música da Vida". Por causa das idéias, dos estilos que trazemos conosco, nunca ouvimos o músico — seja o músico vizinho, ou o músico que trazemos em nós ainda em estado dormente. Nós adoramos defender partituras, disputar qual é a melhor partitura e é por causa delas que nós vivemos partindo, fragmentando relações autênticas, relações realmente nutritivas. Discutimos partituras de amor e bondade, mas não sabemos de forma direta o que é amor, o que é bondade. Por mais decoradas que sejam as nossas partituras, por mais decoradas que sejam, por mais decorados que sejam os capítulos e versículos, ainda nos mantemos rancorosos, ciumentos, gananciosos, ainda nos mantemos separatistas, preconceituosos, vingativos. Ainda somos escravos do s "você tem que", dos "você deve", dos "é assim e pronto". Por mais partituras que nós tenhamos decorado, não sabemos manifestar a "Música da Vida". Não sabemos da música que trazemos em nós. Nós nos mantemos que nem um aparelho de MP3, sempre repetindo, repetindo, repetindo, de forma mecânica, padronizada, as partituras provenientes da experiência direta de terceiros e, tudo isso, porque nós não sabemos escutar, porque nós não aprendemos a nos manter num estado de abertura, de prontidão, que leva a um estado de reflexão, de meditação direta. Nós não aprendemos a meditar. 

Nós somos muito rápidos em reagir de forma reativa, emotiva, a reagir de forma emocional. Temos um forte impulso em defender tudo, a nos defender de tudo que não se encontra dentro de nossa partitura, de tudo que não esteja de acordo com as velhas e amareladas partituras. E, o pior de tudo, é que nós pegamos qualquer coisa que nos seja desconhecida, como algo pessoal. Nós pegamos tudo que nos é falado como uma afronta pessoal. Nós não conseguimos ver aquilo que nos é falado e que não está dentro do nosso pacote do conhecido como um convite à meditação, como um convite a uma reflexão que aponta para algo novo. Tudo aquilo que não é tradicional, acaba sendo visto como desaforo. Qualquer fala que não está dentro do parâmetro do socialmente aceito, é tido como uma ofensa, é tido como uma afronta e é por isso que nós criamos infindáveis polêmicas, controvérsias, alimentamos controvérsias sem fim e essas controvérsias criam ainda mais imagens, ainda mais ressentimentos. E acabamos optando pela retaliação, pelo ostracismo, pela indiferença, pela difamação, pelo sarcasmo, pelo deboche, pelo isolamento emocional e físico... Ao invés de nos abrirmos a uma escuta atenta, nós fechamos nossa mente e, consequentemente, mantemos ainda mais fechados os nossos corações. É por causa dessa imatura opção que acabamos nos fechando para a "Melodia da Vida".

Nós dizemos querer ser um músico, mas não somos músicos, nós insistimos em querer ser um regente birrento de partituras envelhecidas. Tememos o novo porque o novo, porque no novo, não somos nada. Tememos o novo paradigma por que o novo paradigma ele nos torna um nada. O novo paradigma nos leva a um ponto zero, ele derruba nossas incertas certezas... Arrasa com nossas estagnantes zonas de conforto... Extermina com nossa respeitabilidade adquirida... Ele põe ao chão a imagem que fazemos de nós mesmos e a imagem que fazemos do mundo. É por isso que nós tememos tanto o novo: porque no novo nós somos um nada. Só que não temos a consciência que esse novo, o original, a existência do novo e do original, está nesse nada que em essência, é tudo! E assim nós não revelamos o músico, esse músico que há em nós, simplesmente, por não adquirirmos a capacidade, a disposição e o estado de prontidão para ouvir sem qualquer tipo de medição.

É o crente em nós que nos mantém descrentes diante do desconhecido. O regente em nós, nos mantém surdos diante da música desconhecida. Nosso birrento regente que trazemos em nós é que nos mantém totalmente fechados ao novo. Esse regente que é o nosso "ego espiritualizado", nosso "ego religioso", nosso "ego crente separatista", é esse ego que nos impede de saber, de forma direta, o que é amor, o que é bondade, o que é aceitação livre de escolha, que são tudo partituras integrantes da "Música da Vida". Nós vivemos uma ilusão de que o nosso modo de ser, esse birrento estado de ser, é digno de estar nas paradas de sucesso, quando de fato, o sucesso, o único sucesso que com isso conseguimos é de manter nossa vida parada, parada sem o real sucesso que é o conhecimento, que é a realização de nossa verdadeira natureza. Esse estado de ser nos mantém parados no sucesso da experiência de terceiros, nos mantém parados diante do Portal do novo, que é um portal que transpassa os limites do tempo.

Nós temos uma mente cheia de crença e um coração vazio de amor. O que nós chamamos de amor, a imagem que nós temos de amor, na verdade, é exigência descabida, é condicionamento, é condição, é imposição. Nós não sabemos ouvir de forma incondicionada. Estamos sempre medindo a tudo e esse modo de medir, essa medição constante, inconsciente, é que nos mantém estagnados, que nos mantém prisioneiros de uma vida que é só repetição, que é só rotina, que é tédio, que é insatisfação, que é uma vida de repetição de estudos de escrituras e partituras há muito partidas.

É interessante notar que nós falamos de Salmos, mas não somos calmos... Nós falamos de Cânticos, quando nos cantos escuros de nossa mente, não temos vida, não temos a música que se chama amor. Nós pregamos o não culto à imagem, a não idolatria de imagens, quando na verdade, nosso Deus é a imagem protegida de nós mesmos... Amamos a nossa imagem... Cultuamos a nossa imagem e aquele que não a cultua nós rotulamos como pecador, nós o rotulamos como inimigo, inimigo que coloca em risco a idolatria de nossa imagem e ainda damos a isso o nome de "Guerra Santa". Nós vemos inimigos por todos os lados, só não conseguimos ver o inimigo que se esconde atrás de nossos medos, atrás de nossos pensamentos, atrás de nossas incertas certezas e mesmo assim, nós ainda nos achamos músicos... Nos achamos regentes... E não percebemos como nosso modo de vida é partiturado, é fragmentado e, mesmo com um modo de vida partiturado, fragmentado, insistimos  em querer reger a vida dos outros e numa arrogância dizemos que podemos reger a "nossa vida", como se houvesse alguém que é dono, que é proprietário de "uma vida". Essa imagem que temos de nós faz com que acreditemos que "nós temos" uma vida, que somos senhores de algo... E vivemos cultuando "esse" que alimenta essa ilusão de "minha vida".

Se o nosso Deus tem um nome, seu nome é "John MacClaine", que é o nome que eu dou para o ego, porque ele "é duro de matar" e, mais duro de matar ainda, quando é um ego espiritualizado, quando é um ego religioso, quando é um ego cheio de crença, cheio de certeza. É por causa desse "John MacClane", desse ego que insiste em ser regente, que nós não sabemos por experiência direta o que é a "Música da Vida"... A música que conhecemos é a música do conflito, é a música da reclamação, é a música da crítica, é a música da fofoca, é a música das doenças, é a música da polêmica, é a música da controvérsia, é a música da inimizade, é a música da desconfiança, é a música do medo, é a música da ansiedade... Nós desconhecemos a arte que trazemos dentro de nós e, por desconhecer a arte que trazemos dentro de nós, somos repetição, somos cópia, somos imitação, somos regência mecanizada, uma regência que segue o coral do tradicional, que segue o coral da tradição. E é por isso que nós somos pesados, destituídos de brilho, sem leveza, acreditando ser "mais um" e não "UM", porque o nosso tom é o tom do desamor. Nosso tom é o tom da polêmica que é o tom da crença que a "Música da Vida", é essa crença  que a "Música da Vida" prensa e de nós permanece inconsciente.

De fato, muitos de nós, somos como um belo, somos como um belo e lustrado piano que não tem música em si mesmo. Muitos de nós somos apenas amareladas partituras partidas e assim somos devido a essa inconsciente identificação com essa ilusão de que somos o conteúdo limitado de nossa mente, de nossos pensamentos, de nossos sentimentos e de nossas emoções. Nós alimentamos a ilusão de que somos isso e por manter essa ilusão, essa crença, nos impedimos de sair da infância da crença para a maturidade do estado da experiência direta de nossa real natureza. Somos um piano sem música, com todas as notas adormecidas dentro de nosso coração. Fica ai o convite à uma reflexão.

Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Valeu!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

17 outubro 2011

A raridade dos encontros nutritivos - Parte I

O desejo por algo maior

Ser Místico
Certa vez, disse Phillips Brooks:

“Mal será o dia do homem quando ele se tornar absolutamente satisfeito com a vida que está levando, quando não estiver eternamente batendo nas portas de sua alma um enorme desejo de fazer algo maior.”

Hoje, digo:

"Bem-aventurado será o dia do homem quando nele não mais existir a idéia de portas, a idéia de alma, nem o desejo de fazer algo maior, pois, nesse dia, saberá por si, que em si, já é esse algo maior, e nesse saber terá feito o algo maior que o liberta de todo desejo!"

Uma semana repleta de bons momentos no agora!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

16 outubro 2011

Iluminado bafo de boca

O BudaNet
Cômico e infantil. Não há palavras melhores para definir o sentimento diante da imaginativa postura humana com relação a realização do despertar do estado de sonambulismo, sonambulismo este proveniente da ilusão de sua identificação com seus sempre defendidos limitantes conteúdos mentais. É interessante ver como se comporta o ser humano diante dessa questão da "realização da verdade", da "iluminação", do "nirvana", da "vinda do espírito santo", do "despertar espiritual", ou seja lá o nome que lhe pareça mais conveniente. Seja qual for a palavra, seja qual for a linguagem usada para comunicar esse comportamento, não é difícil constatar seu cômico comportamento infantil, seu cômico comportamento imaturo. 

Uma flor, enquanto não desabrocha, enquanto fechada em seu processo de desenvolvimento, não faz alarde das propriedades do aroma, da fragrância, seja de outra flor, seja de si mesma. Ela está ali, totalmente dedicada em seu estado de ser, em seu estado de desenvolvimento. Quando ocorre o seu rebento, quando seu botão se abre ao mundo trazendo sua beleza original, ela simplesmente se dá ao mundo, partilha de seu aroma e beleza sem qualquer tipo de preocupação, sem qualquer tipo de resistência, sem qualquer tipo de proteção ou escolha. Ela simplesmente é, simplesmente é doação. Ela não está preocupada se outras flores estão ou não se desenvolvendo, se estão ou não jogando ao ar, de forma correta, de forma assertiva, seu aroma e sua beleza. Ela não está preocupada se "falsas flores" estão iludindo ou não outros seres com suas folhas de plástico. Não existe essa preocupação com o vir-a-ser, uma vez que ela é. Ela não se preocupa em convencer outras flores a qualquer tipo de exigência descabida. Ela é simplesmente doação. Ela não impõe o "modo certo" de como outros seres devam apreciar seu aroma ou sua beleza. Ela não impõe qualquer tipo de conceito, qualquer tipo de achismo, qualquer tipo de racionalização. Ela simplesmente permanece num silencioso estado de disponibilidade, num silencioso estado de doação de sua essência realizada. 

Em outras palavras, diante do assunto "iluminação" nos comportamos feito crianças, crianças trancadas num aposento qualquer, em sua sexual curiosidade infantil, ansiosamente folheando revistas e livros, obtendo o prazer solitário da masturbação, prazer este que é fruto da imaginação, fruto da observação de imagens, mas que não trazem em si o estado de êxtase, felicidade e liberdade que se dá quando do real encontro entre dois seres humanos num momento de encontro sexual. E como crianças, com a mente carregada de imagens, saímos discutindo com outras crianças o que é a realidade de algo que ainda não vivenciamos de forma direta, fazendo isso, com base na limitada quantidade de imagens sexuais de nosso conhecimento, imagens que extraímos de páginas e páginas, de filmes e filmes. Com base nessas imagens, tecemos conceitos sobre o que é ou não esse desconhecido momento de gozo, de felicidade e liberdade. Contamos histórias e mais histórias, histórias dotadas de eloquência e requinte, mas que, infelizmente, em nosso interior, sabemos que são apenas histórias. E, por saber que são apenas histórias, nos tornamos viciados em colecionar imagens, histórias e filmes feitos por terceiros, sempre defendendo que nossas imagens são as melhores, são as mais autênticas, são as mais originais. No entanto, são apenas imagens... Do ato em si, por si mesmos, nada sabemos. No entanto, em nossa infantilidade, insistimos em ver inteligência em alimentar intermináveis discussões sobre tal assunto... 

Num outro exemplo, agimos como prisioneiros, dentro de nossas apertadas celas, discutindo o que seja ou não um homem livre, o que seja ou não o estado de liberdade de ir e vir. Passamos anos e anos dentro da limitação de nossas celas mentais discutindo conceitos de liberdade, ao invés de nos darmos ao trabalho de vivenciar a própria liberdade... Por causa de nossos inconscientes medos, não ousamos sair da crença infantil, para a experiência adulta e assim, nos mantemos num estado irreal, baforando sobre a realidade. 

Como é infantil tudo isto! Como é infantil viver nessa constante masturbação mental imaginativa... Como é infantil não poder desfrutar do aroma da flor por estar tão ocupado com conceitos sobre aromas e fragrâncias... Como é infantil tudo isso!   

Em vista disso, pergunto: 

Crianças, quanto tempo mais ainda vamos precisar para termos a "iluminação" de que bafo de boca não cozinha ovo? Sobre o assunto "iluminação", que tal, como um botão de uma flor qualquer, um pouco de recolhimento e silêncio?... Se assim for, quem sabe, você também, relaxe e goze!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

15 outubro 2011

Constatações

Dar atenção e se identificar com os barulhos mentais de um idealista falido é sinal de profunda imaturidade.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

14 outubro 2011

Técnicas de anti-guru ou anti-iluminado


Observem como é fácil se passar por um "anti-guru ou anti-iluminado". O sujeito "defensor do Universo" que ataca o "falso guru", a partir de si mesmo, não diz nada com nada. Usa apenas conhecidas técnicas informatizadas de ctrl+C e ctrl+V; não pausa em usar palavras sempre de terceiros, o olhar quase sempre está enrustido demonstrando bastante insegurança psicológica em seus ataques. Tudo bem formatado. Porém, com muito conteúdo de arrogância, soberba e inveja não assumida.

Isso não se trata de opinião, é fato a ser constatado!

O "falso guru" que fique a vontade, é claro, para rir do próximo imaturo ataque do "anti-guru intelectualmente iluminado", bem como de seus simpatizantes...

Julgar e criticar é fácil, difícil é se abrir, alcançar, ser, comungar e amorosamente, compartilhar!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

No ajustamento não há relação real


Conversa entre Nelson, Marcos e Nabil via MSN em 13/10/2011

MG: O intelecto, ele é um instrumento extraordinário, mas ele tem que estar no lugar certo e ele não está no lugar certo. No homem, na mente condicionada, dentro do seu processo psicológico de movimento comum, essa auto-identificação, que a consciência faz com a própria mente, o intelecto não está a serviço da própria consciência, está a serviço dessa atividade egocêntrica, dessa atividade centrada, nessa pseudo-identidade ai. 

NJ: Então, esse intelecto com todo esse acervo de conhecimento impede qualquer tipo de comunicação real; não há comunicação. Inclusive, o que eu constatei é que mesmo, só dá para ter uma real comunicação quando é coração para coração.

MG: Isso só é possível assim: você falou e eu acabei de te ouvir. Mas, se você fala e eu já tenho engatilhado o meu ponto de vista, minha posição, eu não te escuto, eu tento impor a minha colocação.

NJ: Sim.

MG: Eu tento impor a minha colocação sobre a sua e isso é violência. 

NJ: Sim.

MG: Isso é não escutar. 

NJ: Então, o interessante é assim: uma das coisas que eu percebi que, aparentemente, quando duas mentes se encontram, elas se escutam. Mas, na realidade, não há escuta, há uma negociação temporária, enquanto aquilo satisfaz alguma zona de conforto da pessoa. 

MG: Sabe como a gente poderia chamar a isso? Ajustamento. 

NJ: Sim.

MG: É só um ajustamento. Não há realmente uma comunhão. Comunicação é comunhão e não há comunhão. É só ajustamento. 

NJ: E, inevitavelmente, todos esses ajustamentos terminam em separação, em conflito, em confronto. Num determinado momento em que, o que está ajustado não se ajusta...

MG: Exatamente!

NJ: ...Há conflito! É muito interessante isso!

MG: O eu, tem esse sentido separatista, esse sentido do eu é separatista, ele por natureza, ele é isolacionista, ele isola tudo. Ele se auto-isola e isola todo mundo. Ele se auto-centra, ele é auto-centrado. Então, ele não tem interesse no outro, o interesse é nele próprio. Ele é violento. 

NJ: Ele só não isola quando tem algum interesse, em volta daquele que ele está colocando ao lado. 

MG: Mas isso não põe fim ao isolamento: isso cria o ajustamento. 

NJ: Só ajustamento! Que é tenso! É sempre tenso porque está sempre conferindo se vai cumprir ou não aquilo que está ajustado. 

MG: Defesa! O processo de defesa está presente! Ai o processo de defesa está presente!

NJ: Não tem comungar, nem conspirar!

MG: Não, porque é uma defesa, Nelson! Esse estado, ele tem sempre algo a perder, então, há sempre essa questão de defesa ou ataque, no sentido de manter o território. E aí é ação isolacionista mesmo, uma ação isolacionista.

NJ: E então, se tem isso, como que o indivíduo, o ser humano, ele vai ter condições de abertura e receptividade ao que vem do coração? Ao que vem do Ser? Que não está no nível da mente? Que está no nível do coração?

MG: Exatamente! É por isso que eu falo ali na fala, eu sei que alguém que vai ler aquilo ali, vai achar a gente louco. Eu digo: não é razoável, não é lógico!... O cara diz: Esse cara é doido? Como é que pode dizer uma coisa que ele mesmo está dizendo que não é razoável? Mas esse é o ponto, entendeu? O cara está ouvindo eu falar que não é razoável o que eu estou dizendo, e ai o cara diz: como é que eu vou ouvir um cara que ele mesmo está dizendo que não é algo razoável? Então, o cara é um maluco? É que não é razoável porque não está dentro da razão, está dentro desse ponto ai que você acabou de colocar. Ele não está vendo que aquilo não pode ser ajustado. 

NJ: Exatamente! Tem que se abrir a algo que é transcendente ao intelecto, ao intelecto e a mente, a algo que transcende esse limite.  Por isso que eles dão o nome por ai de "Transcendência"... Porque transpassa a ciência, o conhecimento limitado. 

MG: Esse estado de ser, Nelson, ele engloba, esse estado de ser ele toca o cérebro, mas ele é "extra-cerebral"... Ele não depende do cérebro! O cérebro é só um mecanismo, um mecanismo humano e, a Consciência, transcende, a Consciência não está limitada ao cérebro. 

NJ: O cérebro e o intelecto é só uma antena, mas ele quer ser o "sinal", ele quer ser a "fonte do sinal!"...

MG: Isso ai! Exatamente! Exatamente! 

NJ: Dai que sai todo esse chiado ai! Esse monte de chiado é porque o intelecto, a mente quer ser a "Fonte" e não só o receptor, a antena. 

MG: Mas quem diz isso é o próprio pensamento que diz isso! É o próprio pensamento que diz isso! Entendeu? É o próprio pensamento que na verdade, está sempre limitado a essa dimensão conhecida do cérebro, que diz: "Você é o senhor aqui!". apontando para o cérebro... Apontando para essa lógica, essa dialética cerebral, para esse processo razoável que o cérebro conhece ai. 

NJ: E você vê que loucura, né? Você comenta isso, eu tenho comentado isso, e as pessoas não conseguem, o ser humano não consegue entender que nós não estamos apontando como um ataque ao intelecto, à mente, ao movimento cerebral... Nada disso! 

MG: Não! Porque ele é importante, ele tem o lugar dele!

NJ: Sim, lógico!

MG: Ele tem o lugar dele, entendeu? Como seres humanos, é com os seres humanos que o despertar acontece... Entendeu? O despertar não acontece para uma flor!... Acontece para o ser humano. Então, o ser humano tem o cérebro e todo esse equipamento ai que nós temos, tem o seu lugar, entendeu? Tem o seu lugar perfeito ai. Ele é perfeitamente capaz e hábil de ter essa vivência. Só que essa vivência é "extra-cerebral"...

NJ: Sim, estou acompanhando! 

MG: Então, a gente está diante de uma vivência extra-cerebral mas que não tem nada escondido ai... O cérebro está incluído, o corpo está incluído, entendeu?... Toda a capacidade e faculdade intelectual, tudo aquilo, está tudo incluso, está tudo incluído, não tem nada fora do lugar ai, nada fora do lugar. Agora,  soa, para o próprio intelecto isso, de uma forma fora do seu contexto, então, ele atribui, ele coloca isso como algo que o ataca, ou então, exatamente, e diz que é místico, entendeu? Que não atrai, que é algo que é místico, que é algo é... Enfim, é tudo ai, é isso ai! Eu tenho muito o que dizer, entendeu, sobre isso ai, não. Isso é mais aquela coisa de vivenciar diretamente... Vivenciar diretamente e pronto!... Dá aquele "click" e acabou! Não tem mais perguntas e respostas a respeito disso, dúvidas, não é nada místico, não é nada extra-humano, embora seja extra-cerebral, não está fora daquilo que pode ser a experiência, está dentro de uma experiência humana, sim, claro que sim! Não é uma experiência para uma flor, para um pássaro, é uma experiência para o ser humano!

NJ: Sim!

MG: É por isso que eu tenho para mim, Nelson, ai, dentro dessa observação que eu tenho feito, que esse mecanismo precisa ser liberto dessa estrutura. Então, dentro desse trabalho, ele percebendo essa estrutura, comportar essa visão. Entendeu? Então, há uma mudança, inegável, na respiração, entendeu? Em tudo! Vai havendo uma mudança completa nas células cerebrais. Eu tenho para mim que é uma mudança tremenda acontecendo. A gente não precisa ser especialista em coração, como são os especialistas do coração para entender como o coração funciona para ele funcionar em nós. O coração funciona em nós e nós não precisamos intelectualmente saber a respeito disso, não precisamos ser especialistas nisso... Então, assim é essa questão da "realização" neste ser humano. É algo que acontece independente se intelectualmente ele consegue acompanhar ou não, entendeu, em termos de mudanças físicas, químicas, biológicas... Então, o fato é que acontece algo para que haja uma capacitação para que isso que está ai, como potencialidade, se atualize de uma forma real, entendeu? De uma forma real...

NJ: É um "update do Ser"...

MG: É! É um update do Ser!

NJ: É um "update do Ser"...

MG: Isso! É uma atualização, é isso ai!

NJ: É uma "super nova"!

MG: Então, é muito interessante isso, cara! É muito interessante você vivenciar isso, entendeu? A vivência direta disso é a compreensão disso, sem teorias, sem a necessidade de teorizar sobre isso, de defender isso, de mostrar a alguém especial, que você tem isso como algo especial, isso não entra ai, entendeu? Isso é tão real para todos, é que alguns tem consciência e outros não. E o nosso trabalho dentro do Satsang, dentro desse espaço, que é um espaço de uma certa forma nova, porque trata de algo fora do usual, fora do conhecido, essa bela oportunidade de observar isso, entendeu?

NJ: Estou te ouvindo!

MG: Se observar isso, de se observar o que está acontecendo em cada um de nós, dentro desse processo de "certificação", de "constatação" como eu gosto de falar.

NJ: É, eu já gosto "testemunhar"...

MG: É, então, é exatamente isso!

NJ: É um testemunhar porque tem que usar a "testa" também...

(...) Risos...

MG: O legal ai, Nelson, é ver que "você não é o pai da coisa"!

NJ: Sim!

MG: Você só se permite, entendeu? Porque isso é natural em você, isso é inato.

NJ: Então, Marcos, mas veja bem: é o próprio exemplo da antena!... A antena não faz nada, ela fica parada e só recebe...

MG: Exatamente, cara!

NJ: E só isso!... Ela só recebe o "sinal da Fonte"... E ela nem sabe de onde vem a Fonte!... Ela só recebe o sinal!

MG: Também isso, para ela, é irrelevante, também!

NJ: Então!... Então é muito louco isso! Só que meu, a mente quer ser "a Fonte, o sinal, escolher o canal, o volume..." — risos — É muito louco, isso ai cara!

MG: Deixa eu falar uma coisa, acabei de falar contigo isso: o teu coração está batendo, mas tu não entende nada de coração e melhor ainda você não entender porque você não vai pensar ai! Entendeu? Você tem liberdade para ir acontecendo no "time" dele, da forma dele e isso tudo é uma ação natural! Não tem nada de espetacular! Entendeu? Não tem nada de extraordinário nisso, entendeu? É simplesmente o que é!

NJ: É extraordinário sim!... Porque o ordinário é essa identificação ilusória com a mente... Esse é o ordinário! Isso, é realmente "extra-ordinário", porque, não está na ordem...

MG: Nesse sentido é! É extra-ordinário porque está fora do ordinário.

NJ: É porque esse "modozinho" de se identificar com a mente é muito ordinário mesmo!

(...) risos

MG: Nos dois sentidos, não é? No sentido pejorativo e no sentido comum!

NJ: Veja muito bem: esse modo identificado, ilusório com a mente, é muito "terrestre"... Você precisa de um modo "extra-terrestre"... O "extra-terrestre" aqui é no sentido de "ouvir esse coração", não é cara?... E usar essa ferramenta que é a mente, que é o cérebro, que é o intelecto, como uma antena do que essa voz está falando!

MG: O Nelson, ai cara, olha só, ai eu entro com algo que eu acho muito legal a gente entender! Você vai, muitas das vezes eu sinto essa coisa de "voltar ao natural", "voltar ao primal", "voltar à origem"... E a mente, ela é muito entorpecida, ela é muito fechada, entendeu? Ela é muito arrogante! Ela não consegue se abrir nessa dimensão, que é para que o toque desse nível do coração aconteça, porque ela vive nessa arrogância!


NJ: Principalmente quando não sabe sobre o que está sendo falado! A arrogância é o prato primordial nesse momento, é o estado primordial de arrogância e soberba.

MG: É o estado ordinário, não é?

NJ: É, muito ordinário isso por sinal! É muito infantil, inclusive! Você assistindo, quando você assiste isso, você vê: "Nossa! Como é infantil isso!"

MG: É demais não é? É demais!

NJ: É demais mesmo! Olha Marcos, quando eu lembro eu dando porrada com você nos primeiros contatos, eu dou risada sozinho... Porque é muito infantil!... Um ser que está sofrendo, que está em conflito, que não tem paz, que não tem sossego, que vive buscando, que vive vida experiência de terceiros, comendo livro da experiência de terceiros, um atras do outro, virando página, virando página, virando página, não tem nada de seu, nada de próprio, e vem arrotando, não é, arrotando sabedoria de terceiros e querendo bater de frente com quem está vivendo algo original.... Isso, quando eu lembro disso eu dou muita risada, cara! Como é que pode? Você está sofrendo, você não tem paz e quer arrotar tranquilidade de terceiros...

MG: Você é uma grande lição da graça, entendeu? Eu fico feliz por você ter visto tudo isso e ter, entendeu, e ter baixado a guarda, entendeu? Porque você podia estar comigo esses meses ainda cara, e eu não ia descansar de você não, cara, a gente ia ainda continuar a brigar aqui.

NJ: Você sabe o que é interessante? Você falou isso dai e me veio à mente aqueles gladiadores, com aqueles escudos pesados, com elmo, capacete, espada, todo aquele monte de coisa e, de repente, você joga no chão tudo isso cara, e fica levinho, cara! Fica levinho, não precisa aquele monte de peso, cara! Aquela armadura...

MG: Para você ver, Nelson...

NJ: Que limita o passo, que limita o andar, que limita tudo, cara!

MG: Agora quer ver uma coisa? Eu vou te perguntar uma coisa: como é que você vê isso, fora de você ai, como você vê isso nesses contatos que você tem? O que você sente dentro do seu coração, cara? Você não sente...

NJ: Compaixão é a palavra!... Compaixão! Compaixão é a minha palavra hoje!

MG: É isso ai! Você não sente isso? Esse cara está perdido, mas é um cara que pode ver isso, entendeu...

NJ: Há uma tristeza quando percebe que ainda não está no momento, que ainda está batendo demais, ainda vai ter que bater muito a cabeça até chegar a um ponto de rendição... Enquanto a coisa está ali, está fácil... É bem a frase que você me falou naquela vez lá: "Pô, Nelson, está faltando só uma olhadinha um pouquinho pro lado ai, tenha paciência, olhe um pouquinho só pro lado... Está bem ai cara!"

MG: Isso! Exatamente!... Você lembra que eu te falei: "A tua experiência não é diferente da minha"... Você estava colocando a experiência do Marcos numa altura, mas que não existe! É isso que eu estava tentando te falar: isso não existe! A tua experiência não é diferente da minha!

NJ: Existe para o intelecto! Marcos, para o intelecto...

MG: Oi?

NJ: Para o intelecto ele vê isso muito longe...

MG: Como é? repete de novo ai!

NJ: Isso para o intelecto soa muito longe! Muito distante!

MG: Exato!

NJ: E hoje, a gente olha aqui e vê que não tem nada de distante, está ai!

MG: Muito distante! Muito distante!

NJ: Eu tenho um conhecido meu que eu falei que ele está passando por um momento de depressão, eu toquei no peito dele e falei: "Cara, está tudo aqui!"... Você precisava ver a expressão no olhar dele: de espanto!... Não consegue acreditar que está ai, que está acessível! Não consegue acreditar nisso! Que é algo acessível!... Soa como muito longínquo, muito especial... Espera só um pouquinho que está tocando a campainha!... Espere um pouco! Espere que o Nabil chegou aqui!... Puxe a cadeira que você já vai falar com o Marcos...

Nabil: Fala ai, Marcos!

NJ: Espera ai que o Nabil chegou aqui! Continua com o Nabil aqui, espere ai!

MG: Deixa eu ver esse cara ai, rapaz!

Nabil: E ai Marcos? Tudo bom ai?

MG: Você sempre bonito!

Nabil: Que nada!

MG: Está bonito em cara? É bom te ver!

Nabil: aqui é maior estúdio, aqui é um verdadeiro estúdio!

MG: Mas a gente vai providenciar um NET bonita aqui.

NJ: Olha só: nós vamos fazer uma "janta Cósmica" hoje. Só que enquanto a Andrea não chega, vamos botar ele no assunto... Olha só: nós estamos falando sobre a limitação do intelecto e a dificuldade do intelecto cria de escutar o novo, estão bom? Dá p seu parecer para o Marcos, aqui!

Nabil: Porra, agora... O Marcos...

MG: O Nelson, ontem foi o dia das crianças faltou ele, faltou o Tom no satsang...

Nabil: Pois é rapaz! Cheguei tarde ontem. Ontem a namorada trabalhou, teve que sair do trabalho, pegar ela e tudo, e acabei chegando tarde, estava cansadão e eu não vou nem... Eram onze e trinta e oito, onze e quarenta, eu ia entrar para ficar vinte minutos, só para dar um oi... Ah! Não vou fazer esse desprazer para o pessoal!...

MG:  É o Tom também ontem não conseguiu chegar! Eu estava num papo ai com o Nelson ai.

Nabil: É, ele estava falando aqui do intelecto.

MG: O Liban, eu fico só ouvindo esse cara, eu não tenho muito para dizer para ele não, cara!

NJ: Espera ai, Marcos! Vamos colocar ele aqui! Vamos ver o parecer dele aqui! Vamos ver aqui, é importante, até porque eu estou gravando essa fala! Eu não perco nunca!...

Nabil: Eh, rapaz!... Eu estou na berlinda!

NJ: Está na berlinda! A gente está colocando assim: sobre a dificuldade da escuta que o intelecto, que a mente, com todo seus acervo de conhecimento cria e impede uma escuta direta. Se você não consegue ter uma escuta direta, nem do outro ser humano, como é que você pode ouvir a si mesmo, o próprio coração e o próprio movimento da mente? Como é que você vê isso?

Nabil: É, ele está me jogando na fogueira, Marcos!

(...) Risos

NJ: Olha o pensamento está queimando... Está cheirando a carne queimada aqui a cabeça dele!

Nabil: Eu já estou soando frio aqui...

MG: Está saindo até fumaça pelas orelhas dele, ai?

NJ: Está, está aqui, está derretendo os cabelos todos, os pouco de cabelo que ele tem está derretendo!

Nabil: Poxa!

MG: Os cabelos estão derretendo? Está acabando de cair o restante?

(...) Risos

MG: Então, o Nelson estava dizendo, O Nelson estava falando ai, viu Liban, sobre o processo de resistência dele...

Nabil: Sim!

MG: Ele estava falando comigo sobre o processo de resistência dele, que ele entrou querendo bater no Marcos... Eu falei para ele, cara... Eu aprendi com vocês, com ele, esse negócio de "defunto bom"... Ai eu vi que ele é um cara que é um "defunto bom", entendeu?... Eu falei: se esse cara continuar entrando comigo querendo me bater, eu vou continuar com ele ai, e vou ver até quando, até onde ele vai, até onde ele vai com essa tentativa de "me pegar", de "me bater"... Ele vai descobrir que não tem opositor aqui, pô! E fui levando ai!... Eu acabei de falar para ele ai... se tivesse ficado mais três, quatro meses, se tivesse esse tempo todo ai, brigando ainda, na NET, eu estava ainda com ele ai... Ele ia entrar no MSN me batendo e eu ia ficar só na minha, o tempo todo olhando para qual é a dele até ele desistir dessa bobagem... Mas é esse que é o estado comum, não é?

Nabil: É, do ser humano!... A gente, os moldes da sociedade são todos montados em torno disso, não é? A gente vai sair na rua, vai pegar ônibus, vai pegar o metrô, vai chegar no trabalho, seja ele qual for, vai ser atendido por qualquer pessoa e ela está... Vestida com isso! Ela está trajada com essa coisa do intelecto! E, num primeiro contato, o que eu tenho percebido, num primeiro contato, ela se espanta quando se depara com pessoa como a gente, imagino, imagino que aconteça com você Marcos, que como a gente não está ainda, 100% nessa de ficar nessa neura, nessa corrida, nessa competição, nessa coisa de querer se prevalecer sobre o outro, então num primeiro momento, a pessoa se espanta quando começa a conversar comigo... Com pessoas como a gente, que imagino que mais gente seja assim.

MG: Claro que tem!

Nabil: Porque a gente conversa e a gente "conversa", a gente quer "conversar realmente", a gente olha na pessoa e olha de verdade. Então, imagino, só pelo olhar já existe...

MG: Isso!

Nabil: Já existe um choque.

NJ: Há uma presença. Esse estado de presença, diante da conversa, muitas vezes acaba até inibindo o outro, e não é o interesse querer inibir o outro. Ao contrário, você quer realmente ouvir.

Nabil: Relaxar! Você quer deixar a coisa descontraída!... Pra deixar, então, aproveitando o gancho, pra deixar descontraído, é que eu não entro em, deixo a pessoa falar, não é, ás vezes eu saio até de "burro", fico até meio "chato", não é, porque eu saio por baixo, eu prefiro, não é nem questão de preferência, porque, já não existe mais isso, não é... A pessoa quer conversar, quer botar banca, quer fazer o que for, deixa ela!

(...) Risos.

NJ: Isso é muito infantil, tudo isso! Essa necessidade de prevalecer nas conversas, de ter a última palavra, de ser o sabedor, não é, meu... Sabe tudo! Pô, cara!... Quando eu olho para esse comportamento antigo, não no outro, em mim mesmo, eu dou risada, porque é muito ridículo!... E realmente, cara, isso acontece!... Ou eles ficam inibidos ou acabam tirando você de bobo. Cara, acabam tirando você de bobo e o engraçado é ver isso também nas relações comerciais, cara!... É! Se você não fala muito, eles já tiram você de bobo.

(...) Risos.

Nabil: Principalmente na relação comercial que você tem que ir lá e mostrar que sabe!

(...) Risos.

Nabil: Relação comercial é a pior que existe!... Bate na madeira!

MG: Exatamente! Isso é ego puro!

NJ: Exatamente! Não há encontro!

MG: isso é ego puro! Isso é ego puro, entendeu? Isso é puro ego! Isso, o ego é exatamente isso: é essa expressão, essa expressão de arrogância, de prepotência, de isolacionismo, de domínio, de controle, de estado de pompa...

NJ: Marcos é impressionante constatar hoje, é impressionante constatar, como que as pessoas não conseguem falar assim: "Olha, isso eu não sei!"... "Eu não tenho conhecimento disso!"... Todo mundo sabe tudo, cara! Ninguém consegue virar e falar assim: "Olha, você vai me desculpar mas isso eu não tenho conhecimento, não posso lhe ajudar nesse assunto!"... Cara, eu fico olhando, todo mundo sabe tudo, cara, tem resposta pra tudo!

MG: Exatamente! Não só sabe, como sabe mais que você!

NJ: Pô, cara! É um barato ficar vendo isso, cara!

MG: Não só sabe, como sabe mais que você! De outra maneira, ele sai perdendo, entendeu Liban?... O cara sabe mais que você!

NJ: Isso é mais interessante que as piadinhas do Faustão no domingo, cara! As verdadeiras piadinhas do Faustão é isso, cara! Você fica assistindo "as pegadinhas do intelecto", da mente, sabe?... E o engraçado,  é que é assim, realmente outro dia você falou num vídeo teu, que o corpo, ele sofre toda a alteração do que passa na mente, e é verdade! É só você prestar atenção como o corpo da pessoa se transforma na hora que ela está falando com esse ar de autoridade... Até o corpo infla!

MG: Infla! Ela fica contraída, ela infla, a ponta do dedo treme, a sobrancelha agita demais, entendeu?... Vira-se de lado, é muito louco, é isso ai! Entendeu?

Nabil: O Marcos, eu não sei se você se lembra da fala de segunda-feira, mas foi u8ma fala em que eu percebi que você estava emocionado, em alguns momentos da sua fala, você fica emocionado, não fica?

MG: Fico!

Nabil: Ouviu? Deu para ouvir direito ai, chegou?... O Microfone está aonde?

NJ: Aqui!

Nabil: Ah, está ai direto!

MG: Repete isso ai!

Nabil: Ei vou repetir!... Na segunda-feira, porque na quarta eu não estive, ontem eu não estive, mas na fala de segunda feira eu estive e eu percebi que, eu acho que foi nessa segunda-feira, que você ficou emocionado, porque eu estava acompanhando a sua fala pelo Ustrean, e estava vendo o vídeo, e eu percebo que, não só nessa, que eu acompanhei de segunda-feira, mas em outras, em outras vezes, das vezes em que eu não pude acompanhar via vídeo, porque ainda não existia o vídeo, o Ustrean, mas eu percebi que você ficava profundamente emocionado com lágrimas nos olhos mesmos, como se você fosse tomado por uma....

NJ: Compaixão, um se condoer pela dificuldade do outro.

Nabil: Isso! Uma compaixão, como o Nelson falou aqui, uma compaixão de se condoer pela dificuldade do outro também, é como se você é... O engraçado que nós aqui, pelo menos comigo aconteceu, a gente ficava tocado, eu fico tocado, na mesma hora... A impressão que me dá é que na mesma hora a gente fica tocado e se emociona junto! Mas é diferente daquela emoção de novela, não, é emoção de filme, de novela...

NJ: Não é de mente... É de Ser para Ser.

Nabil: É uma coisa de integração! Você lá no Rio de Janeiro e a gente aqui, e você realmente tomando partido, não, mas tomando unidade, melhor do que partido, tomando unidade...

NJ: Esse tipo de fala não tem tempo e espaço, é por isso que há essa integração, não tem tempo e espaço nessa fala!

Nabil: E exatamente nesse momento... Está dando pra ouvir direito ai, Marcos?

MG: Estou, estou ouvindo! Pode continuar!

Nabil: Sim! Exatamente, com essa constatação que a compaixão está se dando nesse momento, parece que acontece um esvaziamento nesse instante, assim como um passe de mágica... As preocupações, as angústias, tudo vai embora!

MG: Sei como é que é!

Nabil: Está entendendo como é que é? É um passe de mágica!

MG: Estou, estou entendendo!

Nabil: Para mim, isso é, pra mim isso é alteração, é como altera esse estado de presença, é um milagre operando! Que a gente tem muitas coisas já criadas a respeito de milagres, pensa que tem um... Parece que tem uma série de procedimentos a serem executados para que o milagre seja feito...

MG: É, estou ouvindo!

Nabil: Leva um tempo até chegar o áudio ai?

MG: Não, estou ouvindo, estou ouvindo!

Nabil: Não, mas você ia falar alguma coisa, pode falar ai, "mete bronca ai"...

MG: Não, é porque o que a gente não tem, viu Liban e Nelson, é...

NJ: O Marcos, o Marcos...

MG: Oi, fala!

NJ: escuta essa fala do Liban, vê como o intelecto está viciado nisso, ele virou para você e disse: "Mete bronca"... "Mete bronca!"....

(...) Risos.

NJ: A gente tem as frases mas não presta atenção no que é que elas apontam... "Mete bronca ai"...

MG: Está certo! Então, deixa eu meter bronca!... Nós não temos, o Liban, nós não temos uma idéia, nós não temos uma idéia do que é o nosso estado natural, entendeu? O estado natural é um estado de muita beleza, de muita naturalidade, basta dizer assim. A gente tem aquela concepção mental, entendeu, inclusive do estado natural. O estado natural é um estado em que você é um cara humano, entendeu, humano no sentido pleno da palavra. Entendeu? Você tem sentimentos, você tem emoções, você tem, só que tudo isso, o intelecto, tudo isso hoje, fica a serviço dessa Presença Real de sua natureza... Não está a serviço dessa mente em desordem, confusa, desorientada, dessa mente focada nessa exclusividade de uma identidade que ela mesma criou, que não existe, que é esse "eu", então... O estado natural é um estado simples, cara, onde há emoções, onde há sentimentos, onde há espaço para tudo, só que tudo a serviço dessa presença real. Então, você vive um estado de amor, de liberdade, de felicidade. Então eu fico vendo o nome do blog lá "Felicidade and Liberdade", retrata perfeitamente esse estado natural, porque é exatamente isso: é felicidade mesmo! Entendeu?  Não tem nada a ver com sensações, com realizações externas, com o ter ou não ter qualquer coisa, entendeu? É um estado de ser, é um estado no qual você acorda e vai dormir com ele de novo, entendeu? E passa o seu dia sem estresse, sem tentar buscar nada, ou prevalecer sobre alguém ou algo, não existe nada disso! Entendeu? É simplesmente ser e deixar a vida fluir! Entendeu? E se há a oportunidade, como a Graça sempre lhe oferece, de você compartilhar isso, porque isso também não é seu!






09 outubro 2011

O impaciente estado terminal

Mediocridade tem cura pra quem procura
Nesta chuvosa manhã de domingo, a vida aqui é só alegria. Você pode dizer isso? De coração, espero que sim! Tudo mais é uma pequena parte disso, mesmo as adversidades e contratempos, que podem inicialmente soar estranho e incompreensível para o entendimento na esfera do mental. Tudo bem, pois isso, não é algo para ser entendido, isso é algo para ser vivido, vivido de forma direta. Perdemos essa consciência desse estado vívido, vivo, repleto de frescor, enquanto insistimos com nossa tentativas infantis de entender e justificar nosso estado de inconsciência através de nossas — que nem sequer são nossas — teorias, teorias religiosas, filosóficas, esotéricas e outras mais.

Por que insistimos em complicar o que é simples?... Isso também é de simples compreensão: o simples é não aceitável para os limites da mente, porque ela só se ajusta ao comum, o que só é aceito devido a falta de um questionamento sério. O interessante é que, lá no fundo, isso é sentido tanto como algo maravilhoso, como também profundamente assustador. Isso é natural, essa dualidade de sentimentos é bastante natural, uma vez que, o estado de ser da mente, do intelecto “é” dualidade. Essa atitude diante do novo, essa atitude de confronto diante de quem expressa o novo, não é algo “pessoal”, uma vez que, esse tipo de comportamento se dá com qualquer um que expresse algo diferente do conteúdo pré-existente na mente. Seja de quem for, venha de quem vier, tudo que é ouvido,— se é que é ouvido — é ouvido sempre com as indevidas reservas, é tido como confronto, confronto este que é sempre retalhado com o “chumbo grosso” da intelectualidade livresca.

Não há necessidade de se perder tempo com essas imaturas “controvérsias públicas”, com esses ataques que tem com base um estado de imaturidade, imaturidade esta que demonstra o total desconhecimento de um estado de paz, felicidade, liberdade e amorosidade agregante. Não é preciso ficar assustado com nada disso... Veja as crianças... Elas também são birrentas, esperneiam, chutam, batem, choramingam, gritam, mas, se você as deixa num canto, sem dar a atenção que elas esperam, em poucos minutos, acabam somatizando seu estado de sono mental e acabam, no mesmo lugar, dormindo devido ao próprio cansaço proveniente de seu debater conflituoso. Costumo brincar com alguns amigos, que hoje, não perco mais tempo, não gasto mais vela com “defunto ruim”. Meus ouvidos, minha atenção estão sempre disponíveis quando o defunto está pronto. Enquanto o defunto se acha “doutor”, “PHD” com bacharelado em escolas iniciáticas, nem se quer dou atenção, uma vez que não há inteligência alguma em querer fazer um cavalo beber água quando ele ainda não tem a devida sede.

É preciso ver isso com naturalidade, ver esse comportamento imaturo de fazer alarde, de criar conflito, de criar grupinhos, com muita naturalidade. Isso é bem natural quando se trata da adolescência, por hora digamos assim, da adolescência psicológica. É natural da adolescência, um comportamento de “tapas e beijos”. E é natural o susto diante do novo, para quem ainda é adolescente. Um adolescente é aquele que ainda não caminha com suas próprias pernas, que ainda não se sustenta em si mesmo, que ainda precisa de “doações psicológicas de terceiros”. Um adolescente quando recebe atenção, beija, quando não recebe, distribui tapas, se não aguenta bater sozinho, reúne e bate em grupo. Não pode ser diferente, uma vez que o novo sempre impacta, desmonta, desmorona, produz demolição das protegidas zonas de conforto e de falsa respeitabilidade. É muito natural essa reação.

Mas, como pode haver preocupação com isso, para aquele que se encontra num estado de maturidade psicológica, maturidade esta que se apresenta quando do “contato consciente” com sua real natureza? Quando isso ocorre, quando esse contato, que é o contato que é tudo, onde está agora "AQUELE" que se preocupava com isso, com essa coisa de aceitação e respeitabilidade estagnante?... Puff!... Evaporando!... Nessa evaporação, esse tipo de preocupação não tem mais lugar, não é mais cabível. Essa preocupação é natural da mente, do intelecto, do “eu”, do “eu” que se vê como uma “pessoa” respeitável e cheia de conhecimento.

O simples fato de ver isso, traz em si, uma grande felicidade, uma grande liberdade. Do mesmo modo, quando se dá esse contato consciente com nossa real natureza, não tem mais lugar a preocupação em esclarecer, em se proteger, em dar respostas para quem não está aberto para respostas, mas totalmente fechado para qualquer resposta que seja realmente fundamental, que seja realmente desestruturante.

Nesse estado de adolescência psicológica, é muito natural o conhecido movimento de “ir e vir”, de “entra e sai”, de “tapas e beijos”. Isso é natural de uma mente cujos fundamentos é o medo. Quando a mente se encontra neste estado, ainda não pode ser considerada como um defunto digno de atenção. Ela não morreu ainda, está em processo de "negociação". A mente "pensa" que aqui, ainda pode "negociar" com sua fase terminal, que seu conteúdo que é produto do tempo, pode lhe proporcionar ainda mais tempo. Aqui ela se agarra com mais desespero ainda ao seu “limitado, embolorado e fétido pacote”... É aquela coisa de bater no médico e depois se agarrar nele clamando em total desespero... Enquanto não tiver a aceitação da fase terminal, é melhor deixar de lado aquele que vive este “evento”, na sua própria UTI intelectual. Ele não tem consciência, mas está na UTI, está numa UNIDADE DE TRATAMENTO DO INTELECTO. 

Isso não quer dizer que ocorra uma escolha de fechar portas... Elas sempre estiveram e estarão abertas. Quem chega num Satsang e fica, quem chega num Satsang e retorna, é porque “algo” lhe tocou, alguma “coisa” lhe tocou, ainda que não consiga inteligir o que isso seja. E isso só ocorre porque já se encontra, de forma inconsciente, em estado terminal.

Então, é bem natural essa postura de rebeldia adolescente. É como receber a noticia de ter seus dias contados, é natural a revolta inicial, a revolta contra o médico que lhe dá essa noticia: a noticia dos dias intelectuais contados, a noticia da fase terminal dos domínios do intelecto. Num Satsang, o intelecto entra em sua própria UTI, a UTI da unicidade intensiva do intelecto ao coração. A realização, a iluminação não é nada de sobrenatural: é só a estabilização do estado de unicidade entre intelecto e coração, ambos precisam se tornar "UM". Sem isso, é morte na certa: morte do estado de concientização da Real Natureza do Ser e, nessa morte, o que sobra é continuidade de um estado de vida moribunda. 

Tudo isso é muito infantil! A mente é toda a barreira; se não houver uma desistência, uma entrega dos domínios da mente, nada acontece, nada se instala. Quando o intelecto chega num Satsang é porque está cansado de ter que viver amarrado no balão de oxigênio do outro, mas, mesmo assim, se agarra no leito de suas certezas, se agarra nos lençóis suados de seu conhecimento e não consegue se soltar, ainda mais quando o "Doutor" chega com a noticia fatal: a noticia de que está condenado a morrer para o velho e condenado a ser feliz!" O intelecto aqui, não pode aceitar ser feliz, ele precisa viver em constante estado de conflito, num estado de confronto, num estado de disputa, pois é o único território que conhece. Por isso, é natural sua insistência ao confronto, ao ataque, a defesa, é natural lutar para defender sua irreal natureza. No entanto, aqui, não tem mais como: o soro da sanidade mental vai pingando lentamente através de cada Satsang, através de cada anônima leitura de um tópico, em cada anônima leitura que lhe contraria em nossos blogs... O soro vai minando suas defesas, vai entorpecendo suas resistências, ele vai ficando bambo, começa a delirar em voz alta — uma vez que sempre viveu em delírio anônimo e silencioso —, e a dizer um monte de besteiras. Em seu estado de inconsciência é como um moribundo sedado, só pode falar sobre coisas que não merecem atenção. É um delírio, um delírio que não é levado a sério pelos médicos e enfermeiros, pois os médicos e enfermeiros sabem muito bem — pois já testemunharam isso antes — que isso é um evento delirante. 

Mas, o que acontece quando o paciente insiste em fazer muito barulho?... O que faz a equipe médica?... Briga com o impaciente paciente?... Tentam acalmá-lo através da limitação das palavras?... Não!... Se o impaciente paciente faz muito barulho, os médicos pacientemente e amorosamente o isolam numa sala e o deixam lá, com seus adolescentes barulhos... Fazem isso para não atrapalhar os que estão abertos a recuperação; não o isolam por maldade, mas, por compaixão, compaixão com ele e com os demais que buscam por remédio, pelo remédio do Ser que nos faz ser. Quando através da aceitação, o delírio desaparece, então, o paciente "está" pronto e o médico lhe dá ouvidos e, em pouco tempo com sua colaboração e participação consciente, lhe dá alta. E assim, o paciente, — agora paciente —, passa a ser também o médico e o enfermeiro, assim como passa a ser mais UM a se ajuntar neste bem-aventurado hospital do Ser, e a receber de braços, mente e coração abertos aqueles que chegam fazendo o mesmo tipo de barulho.

Mas, enquanto o impaciente paciente faz barulho, o barulho natural de suas ilusões, é preciso que fique isolado, isolado num quarto solitário da Unidade de Tratamento Intensivo. Como diz um amigo, "Isso é simples, é muito simples".

Com certeza, este é mais um daqueles textos de deixar qualquer defensor do intelecto, de barba e cabelo em pé. O que estamos falando não tem nada de novo. O que estamos falando se resume muito bem em uma conhecida fala:

“Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”

Quando não está pronto, o mestre, sabiamente, desaparece. Não há iluminado que aguente por muito tempo uma criança birrenta cheia de "coco mental". O interessante, é que, quando o discípulo está pronto, o mestre, sabiamente, também desaparece.

Portanto, chega de barulho e mal cheiro! Gastemos vela com os bons defuntos! Quanto aos outros, até lá, paciência é a palavra.

Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

08 outubro 2011

Abrindo-se para a auto-lavagem cerebral

O lavador de cérebros

Qual a melhor prática para se chegar à libertação?

João: boa tarde!
Nelson: olá!
João: eu só queria te fazer uma pergunta.
Nelson: diga!
João: eu vi aquela palestra que você me mandou sobre as técnicas para se libertar. Para você qual é a melhor prática, para se chegar a libertação??
Nelson: não seguir técnica alguma.
João: mas fazer o que? Nada?
Nelson: por que você acha que temos que fazer algo? Não sei nada de técnicas, o que sei é se fazer uma testemunha, uma testemunha de tudo que acontece em nosso interior, bem como no exterior e como essa relação dessa visão "privisória" que temos de "dentro" e "fora" afeta o nosso estado de ser
João: entendo!
Nelson: observar tudo!
João: pergunto porque eu tenho interesse em entender mais.
Nelson: mas, enteder “mais” do que?... Só precisamos ententeder o modo como funcionamos,
O modo como estamos condicionados a reagir a tudo que se apresenta diante de nós, perceber como nunca agimos de forma direta, como sempre reagimos com base em nossas experiências passadas.
João: sim.
Nelson: essa percepção direta você não vai achar em nenhum técnica.
João: entendo.
Nelson: hoje vou colocar um video novo no you tube sobre isso, sobre a auto-lavagem cerebral.
João: sim. Para você, qual é a nossa natureza real? Como é isso?
Nelson: vou te responder com uma pergunta, ok?
João: sim! Pode!
Nelson: quem é você?
João: sou o que me ensinaram sobre ser um humano e o que eu aprendi de ser uma boa pessoa, tipo uma coletânia de coisas, que eu sei de mim mesmo.
Nelson: tem certeza que você é esse conteúdo? Tem certeza que a sua real natureza é isso?... Esse limitado pacote herdado?
João: não, porque isso eu adquiri.
Nelson: tem certeza de que sua real natureza é o acervo de experiência vividas? Tem certeza de que sua real natureza é o acervo de conhecimento adquirido?
João: claro que não!
Nelson: você é o seu nome? Você é a sua família? Você é a sua nacionalidade? Você é o seu corpo?
João: eu estou dizendo o que eu sou, por isso que sei e passei. Não, claro que não!
Nelson: então, vamos com calma!
João: sim!
Nelson: você acredita que a sua real natureza possa estar em qualquer coisa que você possa ver, que você possa tocar?
João: eu para ser algo, preciso entender, como posso ser algo que eu não sei?
Nelson: calma!
João: sim!
Nelson: temos o "vício" de responder tudo de forma muito rápida; não damos tempo da pergunta reverberar em “nosso interior”.
João: sim!
Nelson: veja, ninguém pode lhe dizer o que é a sua real natureza; você precisa lançar essa pergunta no solo de seu coração e deixar que essa semente, em seu tempo, floresça lhe trazendo como fruto a resposta, a resposta que traz em si uma profunda mutação de todas as células de nosso cérebro, de nosso corpo...
João: é!
Nelson: vivemos identificados com uma "idéia" de quem somos
João: sim!
Nelson: só que a idéia, nunca é o real! É preciso abrir mão de toda idéia, de todo conceito, de todo processo de imaginação e lançar a pergunta, soltar o "verbo" e deixar que esse "verbo"
Habite em nós e faça parte de cada céula nossa...
João: sim!
Nelson: nessa experiência direta de sua real natureza, toda dúvida, toda pergunta cai por terra.
João: entendo.
Nelson: toda necessidade de doações psicológicas de fora, caem por terra.
João: certo!
Nelson: sei que isso, essa frase "sua real natureza"causa — inicialmente — bastante estranheza na mente, a mente que tem a si como sendo a real natureza de nós. Mas, acompanhe, se você pode ver os conteúdos que passam na sua mente, como você pode ser a sua mente? Se você pode ver a qualidade de suas emoções, como você pode ser as suas emoções? Se você pode ver a qualidade dos seus sentimentos, como você pode ser esses sentimentos? Você é a mente, a emoção, os sentimentos? Ou você é essa consciência que se torna consciente de tudo isso? Está acompanhando?
João: sim.
Nelson: qem é que se torna consciente de sua consciência?... Essa é outra boa pergunta!
João: é!
Nelson: será que existe isso que chamamos de "minha" consciência?... Ou será que "só existe consciência"?
João: isso eu já li um pouco.
Nelson: por favor, esqueça "momentaneamente", só por agora, tudo o que leu.
João: sim!
Nelson: será possível ver, ver sem o conteúdo do passado? Será possível ver diretamente
Sem o acervo, sem as experiências, sem o conteúdo livresco?
João: sim! Pode ver, ser...
Nelson: então, largando momentaneamente tudo, largando tudo só por agora, lhe pergunto: quem é você?
João: ai eu não sou nada...
Nelson: e porque você precisa ser algo?
João: isso é interessante!
Nelson: onde você aprendeu que precisa ser algo?... Onde você ouviu a pergunta “o que você vai ser quando crescer?”... Percebe como fomos programados?
João: sim!... O eu não existe!
Nelson: creio que essa resposta, creio que não é sua, mas sim, de livros. Isso não nos ajuda em nada aqui.
João: sim!
Nelson: colocações cerebrais não nos dão a resposta para a pergunta que lhe fiz: quem é você?... Não tenha pressa! A resposta não é para mim. A resposta é para sua consciência. Sua resposta de nada me serve, só pode servir para você, isso se for uma resposta direta, verdadeira, original, da fonte. Como sempre digo, “bafo de boca não cozinha ovo”... Essa resposta não pode ser cerebral. Ela não é resultado de especulação mental, ela precisa brotar, brotar em seu interior, no mais fundo de seu ser, essa pergunta é uma grande pergunta que não é levada a sério.
João: por isso é testemunhar!
Nelson: e em sua resposta, está a resposta que encerra todas as respostas, que põe fim a todas as perguntas, ou melhor, põe fim ao "perguntador"...
João: mente é especulação!
Nelson: os nomes aqui não nos dizem nada, a palavra aqui não nos diz nada, estamos cheios de palavras em nosso interior, palavras de terceiros e palavras nossas, palavras ao vento,
Palavras que não fecundam, que não libertam. Cessar as perguntas, as palavras, testemunhar a resposta, ve-la brotar, sentir ela brotar... E tomar tudo!
João: sim! E como foi isso para você? Vi que você era católico... O que aconteceu, o que mudou?
Nelson: essa curiosidade é natural! Mas, não lhe ajuda a encontrar a resposta da pergunta que lhe fiz: quem é você?... Isso é o importante aqui! Se você está com fome, de que adianta eu lhe falar do sabor da fruta? Percebe? Não me interprete mal, por favor, não estou fugindo de sua pergunta! Mas estou fugindo de lhe dar uma resposta a mais que em nada pode lhe ajudar. Que só pode servir para ser mais um referencial limitador.
João: sim! Mais vale provar ela. Que ussasse isso como uma ajuda... Entendo! Eu queria saber se sente algo, ou o que muda, entende? Se você tem experiência com isso, porque já viveu isso.
Nelson: isso você precisa saber por você mesmo! Isso é o mesmo que me perguntar qual é a sensação de dirigir uma ferrari...
João: sim, entendo!
Nelson: você precisa dirigir por você, não se contente com descrições. Por mais belas que sejam.
João: isso é tentar fazer uma fórmula, de como é isso, dai entram as religiões... Tipo faz essa prática, porque assim você consegue.
Nelson: a foto de um copo d'água não mata sua sede! Eu já lhe dei uma chave: fique com a pergunta “quem é você?” Se você for sério, através da observação, do testemunhar, percebendo o falso, aquilo que você não é, uma hora, num deterrminado instante, você se deparara com o verdadeiro, com sua real natureza. Mas, ,não somos sérios o suficiente! Nos perdemos, nos distraímos num mar de perguntas, nos distraimos com curiosidades infantis... Quando crianças perguntavamos se “papai noel existe”, agora, adultos, perguntamos “se a iluminação existe”, se “a realização existe”, ou então, "como foi para você"... Percebe a nossa insanidade nisso?
João: entendo!
Nelson: quando criança, nos distraíamos com revistas e figuras em nosso quarto ou banheiro. Isso termina (para alguns) quando temos a experiência direta de um contato real sexual, e agora, quando adultos, nos distraímos com livros de auto-ajuda, filosofia, espiritualidade, com as imagens que fazemos disso.
João: sim!
Nelson: é preciso estar cansado desse processo de criar perguntas que não buscam pela real resposta, é preciso estar cansado desse processo de viver de imagens, idéias e conceitos, todos de segunda mão.
João: sim! Valeu pelas dicas! Estou entendendo mais!
Nelson: certo! Lembre-se: fique com a pergunta, com a sua pergunta e deixe “isso” se mostrar! Vou nessa! Um abraço!
João: outro!

07 outubro 2011

Sobre o Bem-Aventurado estado de Prontidão

Ajustamento
Logo quando acordei, veio-me a lembrança uma passagem que ocorreu numa tarde em que fui ao centro da cidade de São Paulo, na região do centro velho, Anhangabaú, para uma saída fotográfica. Enquanto caminhava, atento a um possível registro interessante, deparei-me com uma grande quantidade de policiais, todos dispersos, próximos à uma pequena base comunitária. Um pouco antes deles, uma grande quantidade de sem-tetos, alguns deles compartilhando de alguns goles de pinga barata, acompanhados pelos olhares longínquos de alguns cães. Fiquei ali esperando pelo momento exato, pelo "clique do dia". Confesso que naquela tarde, nada de especial ocorreu naquele exato lugar e momento. O "clique do dia", proveniente daquela situação, ficou "encubado" durante todo este tempo, sendo "revelado" somente hoje pela manhã. 

Lembro-me que, num determinado momento, um oficial, com o corpo bastante obeso, deu um toque de "sentido" e, imediatamente, todos os policiais, deixaram de lado suas conversas, suas trivialidades e se dirigiram "na mesma direção", se posicionando diante da base, entrando em "formação", buscando pelo "alinhamento", pelo devido "ajustamento", pelo estado de "prontidão". Eles ficaram ali, em posição de "sentido", de total silêncio, em prontidão, num estado de escuta atenta a mensagem de um "superior", mensagem esta que lhes indicaria o sentido de seu dia. Depois de recebida a "mensagem do superior", todos partiram em direção de seu trabalho. 
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É no sentido de prontidão que ouvimos uma mensagem superior ao nosso conhecimento e que nos direciona em nosso sentido comum, no sentido da estabilização da "ordem" interior, que se traduz de maneira natural, com propriedade e autoridade em nosso exterior. Bem-aventurado é o momento em que "ouvimos" o chamado, um chamado que nos coloca num estado de prontidão sem esforço, um estado de prontidão que nos retira da trivialidade da normalidade sem sentido. O estado de prontidão é um estado que nos leva a um "não-fazer", a um "não-correr", a um "não-buscar". 

Quando nos abrimos para esse estado de prontidão, o ajustamento acontece de forma espontânea, não o ajustamento da contração forçada, formatada, limitante, mas o ajustamento do sentido de "justiça", de permanência do que é justo, do que é real, do que é verdadeiro em nossa real natureza. 

Interessante notar que, onde há esse estado de prontidão, o foco do olhar se mantem na mesma direção, não há espaço para a escolha, portanto, não há espaço para a dualidade. Toda escolha, toda dualidade é fruto da mente, do intelecto. Onde há o estado de prontidão, não há espaço para a escolha, não há espaço para os movimentos contraditórios da mente, tudo segue num só sentido. No espaço de prontidão, só há espaço para a Consciência que leva a um estado de profunda compreensão direta, compreensão esta que não sofre a ação do espaço-tempo. Neste estado de prontidão sem escolha, um sentido maior se manifesta e, nesse sentido, a direção se apresenta. O estado de prontidão é o primeiro e também o último passo. 

Neste estado de prontidão sem escolha, não há espaço para a manifestação de qualquer espécie de  conflito, portanto, não há ocorrência de perda de energia vital, perda esta que se dá quando da identificação com os conteúdos contraditórios de uma mente condicionada, prisioneira do processo de escolha. Onde há escolha, há o limite do tempo, uma vez que algo está pre-determinado no sentido psicológico. Nesse "pre-determinar", não pode haver espaço para a escuta atenta, portanto, não pode haver espaço para a abertura ao "não manifesto". O estado de prontidão é o estado de Consciência sem escolha. Nesta Consciência, não existe oposição, não existe luta, não existe conflito, não existe defesas, não existe dualidade, não existe esforço. No estado de prontidão, só a testemunha permanece.

No estado de Prontidão, o espaço é preenchido pela "inocência" e, na inocência é que se encerram as sementes da realização do Ser, da realização da real natureza humana. Nesta inocência, a dualidade dos opostos, geradora de conflitos, desaparece. Nesta prontidão, nesta bem-aventurada inocência, instala-se um estado de silêncio incausado, — não causado pela ação da escolha, da vontade, do desejo — e, nesse estado de silêncio incausado, uma Voz, até então não manifesta, no mais fundo de nosso interior, se manifesta. Quando está Voz se faz manifesta, — esta Voz que coloca outra voz em nossa voz — toda escolha desaparece, toda busca desaparece, toda prece desaparece, toda oposição, toda resistência desaparece, toda idéia de livre-arbítrio desaparece. E, a partir daqui, tudo que esta Voz manifesta, torna-se a Lei, o Sentido, a Direção, a Ação que não é reação. 
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Na ação desta Voz, dá-se a percepção direta da realidade da mente: a mente, o intelecto é a somatória de tudo que recebemos em nosso estressante contato com a sociedade, com a cultura, com a tradição, que é repetição ajustada do passado, do velho, do sem frescor. A obstinada defesa desse mesmo conteúdo, que é o único conteúdo conhecido pela mente, é que por anos mantém oculto o conhecimento, a revelação dessa Voz amorosa e libertadora, dessa Voz que é o centro vital, fonte de toda vitalidade abundante. Por e décadas, muitos de nós trazemos em nossa mente, um enorme arquivo de vozes de terceiros, vozes que se traduzem numa intimação ao ajustamento servil, que nos direcionam a um estado de total alienação quanto a nossa real natureza. 

O estado de Prontidão, é o portal da boa-aventurança capaz de colocar "ordem" em tudo que se manifesta, é a resposta para o caos interior e, a chave para este portal, não é uma chave comum, é muito mais que uma chave, é uma tetra-chave, formada pela boa-vontade, pela paciência, pela escuta atenta e pela total entrega. Quando, através deste estado de prontidão, este portal se apresenta no Aberto, adentramos num novo estado de Consciência, que é Pura Consciência, onde, maravilhas de bem-estar, pacientemente nos aguardam. 
Heróis
Aqui, novamente lanço um amoroso desafio em sua direção: Ouse, permita-se! Desfrute desta mesma alegria de Ser... Você deve isso a si mesmo e também ao mundo. 

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Dai ao Ser o que é do Ser e ao intelecto o que é do intelecto


Para baixar este áudio:
http://www.4shared.com/audio/BuGx0z9q/Dai_ao_Ser_o_que__do_Ser_e_ao_.html?

05 outubro 2011

Por que aceitamos a anormalidade como normal?

O novo rebelde

Olá amigo! Eu espero que você esteja vivendo bons momentos, neste momento em que você se depara com este vídeo. Eu estava aqui nestes meus momentos de ócio, eu estava pensando sobre uma conversa que eu tive hoje com um rapaz que esteve aqui, que veio pegar um serviço. Tivemos uma conversa super legal, foi a primeira vez que a gente conversa assim com um pouco mais de tempo e gostei bastante da cabeça dele, o modo como ele vê a vida. E, num determinado momento de nossa conversa ele falou assim, que ele teve muito problema, como eu também tive, com um pai alcoólatra — todos que veem de uma família disfuncional, que tem algum ente querido com algum problema compulsivo, sabe muito bem o isso significa. E ele estava me falando sobre a alergia que ele tem diante de qualquer vício de comportamento químico e que ele tinha jurado para si mesmo que nunca seus filhos teriam que sofrer o mesmo que ele sofreu com relação a questão do alcoolismo. Enquanto ele falava isso, enquanto ele me contava sua experiência no qual eu me identifiquei — também não tive esse problema da questão do álcool, nunca tive — eu fiquei me questionando o seguinte:

Por que nós não temos a mesma visão de não querer transmitir, transferir para os nossos filhos, para aqueles que estão ao nosso lado, ao nosso redor, para aqueles que entram em contato conosco, os resultados insanos, doentios, conflituosos que temos desse vício de tentar acompanhar o comportamento que a sociedade estipula como sendo o "padrão aceitável"? Por que fazemos isso com nós mesmos? Por que fazemos isso com as pessoas que nos são queridas? Por que insistimos em propagar esse modelo que tem causado tanto estresse, tanto conflito, tanto medo, tanta insegurança, tanta falta de tempo, que tem nos tornado cativos do relógio, prisioneiros do tempo, cheios de compromissos, acreditando em várias "desnecessárias necessidades", necessidades desnecessárias que foram criadas não por nós mesmos mas, por alguém que está por ai controlando toda essa parafernália que nos induz à um estado de consumismo inconsequente? Por que nós insistimos em propagar isso? Por que nós não conseguimos enxergar que isso também é um vício coletivo, que causa tanto mal, ou mais do que os males advindos de outro padrão de comportamento compulsivo? Um modo de vida do qual não sobra tempo para nada, para absolutamente nada... Como, se você não tem tempo, pode fazer qualquer tipo de questão que seja fundamental, que possa  abrir portas para um estado de consciência que leve a um modo de simplicidade voluntária, um modo de vida muito mais leve, muito mais tranquila, muito mais folgada, com tempo para desfrutar da existência "com vida"? Não de uma existência "sem vida" que é o que quase todos nós estamos vivendo! A gente olha e vê pessoas, verdadeiros "mortos vivos" andando pela rua... Quer fazer uma experiência?... Saia da sua casa, pare na saída de uma porta de uma estação de metrô qualquer e acompanhe como que as pessoas saem das escadas...  Dê uma olhada no semblante delas... Dê uma olhada no movimento dos corpos delas... Veja se ali tem vida... 

Por que nós aceitamos isso como normal?... Por que não questionamos nada?... Aliás, o que é que nós estamos buscando?... Será que as pessoas se perguntam isso: o que é que elas estão buscando?... Você não sai da sua casa com a chave do carro e sai para qualquer lugar, você tem que ter alguma direção, algum lugar... Será que as pessoas realmente sabem o que estão buscando? Para onde é que aponta o coração? 

Eu disse para esse rapaz, que uma das coisas que, eu venho já num processo, há muitos anos, de questionamentos de valores, de conceitos, de padrões de comportamento, mas que em especial, uma das experiências que eu tive que mudou muito, drasticamente meu modo de ver a vida, foi acompanhar a morte de meu pai... Fazer uma análise de como foi a vida dele, uma vida de total sofrimento, já vindo de uma família completamente comprometida, profundamente disfuncional, sem intimidade nenhuma entre os membros, muito ressentimento, muita raiva, muita inveja... Tudo isso, transferindo para os outros... Perceber uma vida inteira cheia de medo, de angústias, de incertezas, de conflitos... E estar chegando o momento de "passagem" sem estar consciente, sem estar preparado, sem estar se sentindo livre, leve e solto para isso. Fiquei me questionando: de que vale ficar correndo atrás de tanta coisa que as pessoas colocam como necessárias se você, nem ao menos tem tempo para desfrutar dessas coisas que você coloca como sendo necessárias. Ao contrário, essas coisas que você coloca como sendo necessárias acabam tornando você um escravo delas, você vive em função delas... Vive para consegui-las e depois vive para mantê-las, depois para não perde-las ou vive para substituí-las... Um ciclo vicioso que rouba o tempo!... Hoje é até chique!... Uma das frases corrente é: "Tô na correria!"... "Pô, tá mó doideira!"... "Pô, tá louco"... Ninguém tem tempo para nada!

Eu virei para esse rapaz e perguntei para ele, se ele se lembrava de como é que deram o nome, como apelidaram o "dicionário"?... Ele parou, pensou um pouquinho, — eu pensei que ele não ia ter essa resposta —, mas ele me falou: 

— "Pai dos Burros!"... 

— Então, você já parou para pensar, para meditar, por que é que deram o nome de "Pai dos Burros" para o dicionário? 

Ele olhou...

Não!

— Uma pessoa que tem conhecimento da palavra, pode ser facilmente manipulável?

O engraçado é que você  ouve nas religiões que a pessoa vai ouvir, vai buscar pela "palavra", pela palavra de Deus... Uma pessoa que tem o conhecimento da palavra, fica muito difícil de ser manipulada. Então, é muito fácil você colocar o nome de "Pai dos burros" porque todo mundo vai se afastar desse livro, desse livro que é fundamental. 

Eu fico vendo as pessoas que vem aqui, que fazem serviço comigo, estão sempre adrenadas, sempre apressadas, com aquela coleira eletrônica que é o celular, os rádios... Não tem tempo para nada!... Não dá para respirar um minuto!... E as pessoas, é interessante como que as pessoas olham para uma pessoa que se permite o estado de ócio... É interessantíssimo ver isso!... As pessoas não veem beleza no ócio... As pessoas se sentem culpadas de estarem no ócio... Eu me lembro muito bem quando optei por isso, como que eu me sentia mal ao ver a maioria das pessoas em volta de mim, correndo para cima e para baixo e eu ali, podendo sentar embaixo de uma pitangueira, com um bom livro do Krishnamurti, do Huberto Rohden, do Joel Goldsmith, e ali ficar meditando sobre a existência, sobre uma existência cheia de conflitos. 

E ai eu perguntei para ele, se ele tinha algumas vez aprendido, se foi incentivado a olhar as palavras, dividir as palavras, ver a composição das palavras, para entender a riqueza de conhecer a palavra... Eu perguntei para ele sobre a palavra "negócio"... Se ele já tinha olhado para a composição dessa palavra: "negar o ócio"... Negócio: negar o ócio!... Por que é que se paga por um negócio? Por que é que se paga caro por um negócio que demanda muito tempo? Porque é profundamente mais importante o estado de ócio! Só no estado de ócio é que perguntas fundamentais, percepções fundamentais, percepções essas que levam ao "desvincular" desse padrão de comportamento acelerado e estressado que todos vivem a nossa volta e dos quais rouba o tempo necessário para o desfrute de tudo que é realmente essencial. Por que da palavra "compromisso"?... A omissão do estado do ócio... Se não tem esse estado de ócio, como meditar, como pensar, como olhar com propriedade para alguma coisa? De que jeito? Nós não fomos ensinados, incentivados a dar boas vindas ao estado de ociosidade, ao contrário, é chique falar que você está na correria, que você é um homem ocupado, que você é um homem que só vive para o trabalho, como trabalha... Até a palavra "empregado"... Estar pregado num determinado lugar... Você tem que funcionar!... 

Até essa questão do emprego mesmo, é bastante interessante!... Tem um senhor que vem aqui direto conversar comigo, o Nestor, ele vive falando para mim que, na época de sua infância, o lance era arrumar um emprego!... Se arruma-se um emprego de carteira assinada, a pessoa estava garantida! Então, a carteira de trabalho passou a ser uma coisa profundamente valiosa... Você ser autônomo, parece que não tem beleza nisso... Parece que nunca teve mesmo essa coisa do incentivo para você descobrir qual é a sua real vocação... Eu vejo, é muito interessante, converso isso com muita gente, vejo muito isso acontecer, você não é incentivado para buscar algo que realmente toque seu coração... Você é incentivado a buscar por algo que "dá dinheiro", que "dá bastante dinheiro"... Você fazer algo que vá te fazer feliz, que nesse feliz você tenha que ter uma vida de simplicidade, isso não conta, o que conta é você ter condições de ter vários "bens", "propriedades", conseguir aquilo que a sociedade coloca como sendo "r-e-a-l-i-z-a-ç-ã-o"... A realização está sempre no externo!... Está sempre no adquirir, está sempre no consumir... Não importa se através desse consumir você vá se consumindo direto, consumindo a si mesmo direto!... O lance é estar empregado!... Você ser um freelance parece que não conta muito, não é muito seguro, não é muito "respeitável", não é muito aceito... Você não está enquadrado nessa rotina acelerada, apertada, que é um absurdo... É um absurdo como todos aceitam isso sem o mínimo questionamento... Vamos aceitando!... Vamos empurrando a existência com a barriga!... Não vamos olhar para nada disso! E o engraçado: só se começa a olhar para isso quando vem uma "crise", quando vem a crise, quando vem a depressão, que eu brinco e chamo de "Deuspressão", ai começa o questionamento, caso contrário, você vê todo mundo, sonâmbulos acelerados... Altamente acelerados... Um subindo em cima do outro... Uma guerra social violenta para defender um "micro espaço", para defender migalhas, migalhas sem qualidade, sem intimidade, sem autenticidade... O que conta hoje é "copiar"... Tudo é cópia!... A cópia barata é que tem valor, é que conta!... Isso é muito interessante!

Outra coisa que eu tenho visto e que é muito interessante ver, é como as coisas vão mudando... Essa questão da escrita, da escrita na Internet... Você entra dentro da casa de alguém que você não conhece e entra lá e começa a discutir com a pessoa a maneira como que ela dispõe, o estilo e o modo como ela disponibiliza os seus pertences?... Não, não é mesmo?... Mas na internet tem isso: as pessoas podem se esconder atrás de um desenho qualquer, de um nickname qualquer, ou mesmo anonimamente, entrar dentro do seu espaço, que você criou, para dividir as suas coisas, os seus pensamentos, que muitas vezes você escreve para se auto-esclarecer, de si mesmo, e ai a pessoa entra lá e começa a tecer um monte de desaforos, um monte de críticas, devidamente protegida no anonimato... É tão interessante!... Começa a criticar tudo o que você está vivendo, tudo que você está... Se na vida real já é difícil "Viver e deixar Viver", nesse mundo da internet então é inacreditável!... Parece que todo mundo tem uma receitinha de como é que você "tem que" viver... O que é "correto"... Igualzinho o que a gente aprendeu na escola, o que aprendeu na família... O mesmo padrão!... Não que a crítica não seja interessante! Mas uma critica construtiva, aberta, responsável em que se dá a conhecer, uma crítica que leve a se conhecer... Mas é bem compreensível: é fácil criticar! Aliás, é a única ação que resta para quem não tem em si mesmo nenhuma ação criativa... É fácil criticar poesia, difícil, é fazer a poesia! É fácil criticar tudo! Cara, não tem preço ver todas essas coisas!... Não tem preço!

Outro lance que eu acho muito interessante também, que eu fico me questionando: eu fico vendo várias e várias pessoas sofrendo, sofrendo, mas insistindo numa auto-suficiência neurótica, resistindo ao novo, resistindo a uma abertura para ouvir algo que não esteja dentro do arquivo do conhecimento dela... A pessoa está tão complicada que não consegue perceber que está defendendo o que? Se aquele padrão de comportamento dela é que leva ela a um estado de conflito constante... Por que essa tendência neurótica de se apegar ao conhecido? Por que não se aventurar ao "Aberto"?... Por que não exercitar uma escuta atenta, destituída de qualquer defesa, de qualquer barreira, de qualquer resistência... Até mesmo, porque se ouvir, vê se ali é o falso ou o verdadeiro... Fica fácil!... Não! As pessoas preferem continuar batendo a cabeça! Insistindo nos achismos, no tal do "livre-arbítrio"... Muito interessante isso!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!