Nesta chuvosa manhã de domingo, a vida aqui é só alegria. Você pode dizer isso? De coração, espero que sim! Tudo mais é uma pequena parte disso, mesmo as adversidades e contratempos, que podem inicialmente soar estranho e incompreensível para o entendimento na esfera do mental. Tudo bem, pois isso, não é algo para ser entendido, isso é algo para ser vivido, vivido de forma direta. Perdemos essa consciência desse estado vívido, vivo, repleto de frescor, enquanto insistimos com nossa tentativas infantis de entender e justificar nosso estado de inconsciência através de nossas — que nem sequer são nossas — teorias, teorias religiosas, filosóficas, esotéricas e outras mais.
Por que insistimos em complicar o que é simples?... Isso também é de simples compreensão: o simples é não aceitável para os limites da mente, porque ela só se ajusta ao comum, o que só é aceito devido a falta de um questionamento sério. O interessante é que, lá no fundo, isso é sentido tanto como algo maravilhoso, como também profundamente assustador. Isso é natural, essa dualidade de sentimentos é bastante natural, uma vez que, o estado de ser da mente, do intelecto “é” dualidade. Essa atitude diante do novo, essa atitude de confronto diante de quem expressa o novo, não é algo “pessoal”, uma vez que, esse tipo de comportamento se dá com qualquer um que expresse algo diferente do conteúdo pré-existente na mente. Seja de quem for, venha de quem vier, tudo que é ouvido,— se é que é ouvido — é ouvido sempre com as indevidas reservas, é tido como confronto, confronto este que é sempre retalhado com o “chumbo grosso” da intelectualidade livresca.
Não há necessidade de se perder tempo com essas imaturas “controvérsias públicas”, com esses ataques que tem com base um estado de imaturidade, imaturidade esta que demonstra o total desconhecimento de um estado de paz, felicidade, liberdade e amorosidade agregante. Não é preciso ficar assustado com nada disso... Veja as crianças... Elas também são birrentas, esperneiam, chutam, batem, choramingam, gritam, mas, se você as deixa num canto, sem dar a atenção que elas esperam, em poucos minutos, acabam somatizando seu estado de sono mental e acabam, no mesmo lugar, dormindo devido ao próprio cansaço proveniente de seu debater conflituoso. Costumo brincar com alguns amigos, que hoje, não perco mais tempo, não gasto mais vela com “defunto ruim”. Meus ouvidos, minha atenção estão sempre disponíveis quando o defunto está pronto. Enquanto o defunto se acha “doutor”, “PHD” com bacharelado em escolas iniciáticas, nem se quer dou atenção, uma vez que não há inteligência alguma em querer fazer um cavalo beber água quando ele ainda não tem a devida sede.
É preciso ver isso com naturalidade, ver esse comportamento imaturo de fazer alarde, de criar conflito, de criar grupinhos, com muita naturalidade. Isso é bem natural quando se trata da adolescência, por hora digamos assim, da adolescência psicológica. É natural da adolescência, um comportamento de “tapas e beijos”. E é natural o susto diante do novo, para quem ainda é adolescente. Um adolescente é aquele que ainda não caminha com suas próprias pernas, que ainda não se sustenta em si mesmo, que ainda precisa de “doações psicológicas de terceiros”. Um adolescente quando recebe atenção, beija, quando não recebe, distribui tapas, se não aguenta bater sozinho, reúne e bate em grupo. Não pode ser diferente, uma vez que o novo sempre impacta, desmonta, desmorona, produz demolição das protegidas zonas de conforto e de falsa respeitabilidade. É muito natural essa reação.
Mas, como pode haver preocupação com isso, para aquele que se encontra num estado de maturidade psicológica, maturidade esta que se apresenta quando do “contato consciente” com sua real natureza? Quando isso ocorre, quando esse contato, que é o contato que é tudo, onde está agora "AQUELE" que se preocupava com isso, com essa coisa de aceitação e respeitabilidade estagnante?... Puff!... Evaporando!... Nessa evaporação, esse tipo de preocupação não tem mais lugar, não é mais cabível. Essa preocupação é natural da mente, do intelecto, do “eu”, do “eu” que se vê como uma “pessoa” respeitável e cheia de conhecimento.
O simples fato de ver isso, traz em si, uma grande felicidade, uma grande liberdade. Do mesmo modo, quando se dá esse contato consciente com nossa real natureza, não tem mais lugar a preocupação em esclarecer, em se proteger, em dar respostas para quem não está aberto para respostas, mas totalmente fechado para qualquer resposta que seja realmente fundamental, que seja realmente desestruturante.
Nesse estado de adolescência psicológica, é muito natural o conhecido movimento de “ir e vir”, de “entra e sai”, de “tapas e beijos”. Isso é natural de uma mente cujos fundamentos é o medo. Quando a mente se encontra neste estado, ainda não pode ser considerada como um defunto digno de atenção. Ela não morreu ainda, está em processo de "negociação". A mente "pensa" que aqui, ainda pode "negociar" com sua fase terminal, que seu conteúdo que é produto do tempo, pode lhe proporcionar ainda mais tempo. Aqui ela se agarra com mais desespero ainda ao seu “limitado, embolorado e fétido pacote”... É aquela coisa de bater no médico e depois se agarrar nele clamando em total desespero... Enquanto não tiver a aceitação da fase terminal, é melhor deixar de lado aquele que vive este “evento”, na sua própria UTI intelectual. Ele não tem consciência, mas está na UTI, está numa UNIDADE DE TRATAMENTO DO INTELECTO.
Isso não quer dizer que ocorra uma escolha de fechar portas... Elas sempre estiveram e estarão abertas. Quem chega num Satsang e fica, quem chega num Satsang e retorna, é porque “algo” lhe tocou, alguma “coisa” lhe tocou, ainda que não consiga inteligir o que isso seja. E isso só ocorre porque já se encontra, de forma inconsciente, em estado terminal.
Então, é bem natural essa postura de rebeldia adolescente. É como receber a noticia de ter seus dias contados, é natural a revolta inicial, a revolta contra o médico que lhe dá essa noticia: a noticia dos dias intelectuais contados, a noticia da fase terminal dos domínios do intelecto. Num Satsang, o intelecto entra em sua própria UTI, a UTI da unicidade intensiva do intelecto ao coração. A realização, a iluminação não é nada de sobrenatural: é só a estabilização do estado de unicidade entre intelecto e coração, ambos precisam se tornar "UM". Sem isso, é morte na certa: morte do estado de concientização da Real Natureza do Ser e, nessa morte, o que sobra é continuidade de um estado de vida moribunda.
Tudo isso é muito infantil! A mente é toda a barreira; se não houver uma desistência, uma entrega dos domínios da mente, nada acontece, nada se instala. Quando o intelecto chega num Satsang é porque está cansado de ter que viver amarrado no balão de oxigênio do outro, mas, mesmo assim, se agarra no leito de suas certezas, se agarra nos lençóis suados de seu conhecimento e não consegue se soltar, ainda mais quando o "Doutor" chega com a noticia fatal: a noticia de que está condenado a morrer para o velho e condenado a ser feliz!" O intelecto aqui, não pode aceitar ser feliz, ele precisa viver em constante estado de conflito, num estado de confronto, num estado de disputa, pois é o único território que conhece. Por isso, é natural sua insistência ao confronto, ao ataque, a defesa, é natural lutar para defender sua irreal natureza. No entanto, aqui, não tem mais como: o soro da sanidade mental vai pingando lentamente através de cada Satsang, através de cada anônima leitura de um tópico, em cada anônima leitura que lhe contraria em nossos blogs... O soro vai minando suas defesas, vai entorpecendo suas resistências, ele vai ficando bambo, começa a delirar em voz alta — uma vez que sempre viveu em delírio anônimo e silencioso —, e a dizer um monte de besteiras. Em seu estado de inconsciência é como um moribundo sedado, só pode falar sobre coisas que não merecem atenção. É um delírio, um delírio que não é levado a sério pelos médicos e enfermeiros, pois os médicos e enfermeiros sabem muito bem — pois já testemunharam isso antes — que isso é um evento delirante.
Mas, o que acontece quando o paciente insiste em fazer muito barulho?... O que faz a equipe médica?... Briga com o impaciente paciente?... Tentam acalmá-lo através da limitação das palavras?... Não!... Se o impaciente paciente faz muito barulho, os médicos pacientemente e amorosamente o isolam numa sala e o deixam lá, com seus adolescentes barulhos... Fazem isso para não atrapalhar os que estão abertos a recuperação; não o isolam por maldade, mas, por compaixão, compaixão com ele e com os demais que buscam por remédio, pelo remédio do Ser que nos faz ser. Quando através da aceitação, o delírio desaparece, então, o paciente "está" pronto e o médico lhe dá ouvidos e, em pouco tempo com sua colaboração e participação consciente, lhe dá alta. E assim, o paciente, — agora paciente —, passa a ser também o médico e o enfermeiro, assim como passa a ser mais UM a se ajuntar neste bem-aventurado hospital do Ser, e a receber de braços, mente e coração abertos aqueles que chegam fazendo o mesmo tipo de barulho.
Mas, enquanto o impaciente paciente faz barulho, o barulho natural de suas ilusões, é preciso que fique isolado, isolado num quarto solitário da Unidade de Tratamento Intensivo. Como diz um amigo, "Isso é simples, é muito simples".
Com certeza, este é mais um daqueles textos de deixar qualquer defensor do intelecto, de barba e cabelo em pé. O que estamos falando não tem nada de novo. O que estamos falando se resume muito bem em uma conhecida fala:
“Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”
Quando não está pronto, o mestre, sabiamente, desaparece. Não há iluminado que aguente por muito tempo uma criança birrenta cheia de "coco mental". O interessante, é que, quando o discípulo está pronto, o mestre, sabiamente, também desaparece.
Portanto, chega de barulho e mal cheiro! Gastemos vela com os bons defuntos! Quanto aos outros, até lá, paciência é a palavra.
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!
Nelson Jonas Ramos de Oliveira