Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 março 2011

Antiga sabedoria perdida

Escravos do Tempo

Antiga sabedoria perdida na contemporaneidade:
"Desta vida só se leva a vida que se levou."

29 março 2011

Fotografando em Modo Zen

zulai12
Manhã de sol, céu azul e poucas nuvens. Depois de um saboroso café, com frios e pães especiais, partimos em direção ao Templo Zu Lai, para a primeira saída fotográfica de um casal de sobrinhos. A ansiedade deles fez-me lembrar dos meus primeiros dias de relação com a fotografia. Durante o caminho, fui falando um pouco da minha visão sobre o que a fotografia fez comigo, como ampliou minha maneira de ver o mundo, de perceber que existem variados ângulos pelos quais podemos vê-lo, ao contrário da forma obtusa com a qual antes o via. Falei também de como a fotografia nos torna muito mais sensíveis, atentos e abertos para situações nas quais a grande maioria, por estar quase sempre ligada aos 220 watts, não se dá conta. Falei sobre a importância de fazer da fotografia, muito mais do que um mero “retratar” de beleza, mas sim, um “denunciar” da falta de coerência e dignidade humana tão presente em nossos dias. Meu desejo era poder passar tudo de bom que trago comigo, mas, a boca não consegue dizer mais que uns poucos bocados do que trazemos no intimo; acho que só a terça parte e, talvez, esse seja o simbolismo da palavra “dizimo”: dividir o que diz o intimo.

Chegando ao local, encontramos vaga logo no estacionamento da entrada. Hora de dividir equipamentos. Pela primeira vez, fiquei sem minha máquina, o que sobrou, foi carregar o tripé. Sob a sombra de uma pequena mas bela árvore, passei as explicações sobre como fotografar em modo manual, como encontrar o valor da exposição, da importância da poesia fotográfica formada pelas linhas, retas, curvas, perspectivas, cores e formas. Da importância de captar o “espírito” que paira no ar, bem como as emoções que o mesmo causa nos presentes. Depois da explicações, paramos diante das primeiras estátuas para alguns testes. Para minha surpresa, ambos pegaram as explicações na primeira. Hora de partir à campo. Usei os turistas que ali estavam para mostrar para os “aprendizes” como o olhar humano é acelerado e automatizado, como quase sempre vê o mundo na mesma posição, como não sai do seu lugar para arriscar a beleza de se deparar com novas formas de ver as formas. Apresentar aos acelerados as formas por outras formas: essa é a grande arte do fotógrafo. Dito isto, lancei-os, juntamente com meus internos e silênciosos votos de que a fotografia fizesse com eles, tudo aquilo que vem fazendo por mim.

zulai2

Começamos as fotos pelo jardim de entrada do templo, para depois partir em direção ao mesmo. Abaixo do umbral de entrada, havia uma caravana atenta as explicações do monitor. No templo, ocorria um cerimonial do qual se podia ouvir os cantos. Havia também no local um grupo de fotógrafos da cidade mineira de Pouso Alegre. Enquanto meus sobrinhos e esposa fotografavam, fui olhando as imagens do andar do Templo. Uma grande estátua, parecendo ser de bronze me chamou atenção. Enquanto a observava, pude ver meu sobrinho se aproximando. Pedi para que me passasse sua máquina para que eu avaliasse suas fotos tiradas até então. Enquanto, pelo visor apontava alguns de seus erros e acertos, pude perceber um cidadão, de fisionomia oriental, numa negra roupa monástica, com sapatilhas pretas, meias brancas e num acelerado e raivoso andar “dez paras duas” vindo em nossa direção. Quanto mais se aproximava, mais seu olhar se fechava. Sem expressar nenhum cumprimento, gesticulando muito, disparou seu mal-estar:

- Já falado não fazer fotografia cerimônia. Não poder fotografar.

Com muita calma, respondi:

- Senhor, não estou fotografando.

- Está sim, vi fotografando.

- Não estou fotografando, se quiser posso lhe mostrar. – Disse-lhe apontando o visor da máquina, a qual ele empurrou de forma brusca, negando-se a conferencia.

- Não querer ver.

Como ele quis virar as costas e sair bruscamente, segurei em seu braço e disse:

- O senhor não tem o direito de me chamar atenção por algo que não estou fazendo.

Dito isto, empurrou meu braço e saiu em disparada, feito uma negra mariposa transloucada, em direção a entrada do templo, onde, com ajuda de vários incensos, deu continuidade a sua participação no culto. Sua postura só fez confirmar em mim, aquilo que já trago comigo: a desconfiança de situações envoltas na necessidade de cerimônias e roupas especiais que não condizem com o dia a dia.

Meu sobrinho olhou para mim e disse:

- Esse tal budismo não deve estar funcionando com ele.

Com um riso malicioso, respondi:

- É um tipo diferente de Zen budismo... Zenpaciêncianenhuma!...

O que aprendi com o ocorrido? Aquilo que não necessita de um olhar fotográfico: Que belas roupas, um belo templo e uma perfumada e florida cerimônia, de modo algum fazem um monge.

25 março 2011

A grande arte

Slave Pupet

Conscientizar alguém do prejuízo que leva onde pensa ter lucro e fazer com que veja lucro onde pensa levar prejuízo, essa é uma grande arte!

Nelson Jonas

Estão acabando com o planeta?

Responsabilidade Social

Estão acabando com o planeta? Quem? Os "grandes"? A mídia? Os pequenos? O povo? Mas, quem é o povo? Os grandes, a mídia e os pequenos não são o povo?

Na minha percepção, tudo que se vê, quando se mantem os olhos abertos, só ocorre com o CONSENTIMENTO popular, estes, sempre ávidos por consumo e o sonho de poder. Se os poucos "grandes" são responsáveis pelo manuseio exacerbado e inconsequente do planeta, não são os muitos "pequenos" responsáveis pelo consumo do que é gerado pelos grandes? E os muitos "pequenos", não sonham com as posições dos "grandes"? E, desses muitos "pequenos", quais se preocupam com esses questionamentos, sem se importar em vir a ser "grande"? A falta de interesse pelos questionamentos seria responsabilidade da mídia ou dos governantes? Seria correto responsabilizar somente a mídia por essa alienação? Quem quer ser consciente? Olho em minha volta, - e não estou cercado de pessoas desculturadas - e vejo que nenhuma delas quer saber de consciência. Elas são sedentas por consumo, poder, prestígio e atividades alienantes. É possível responsabilizar somente os "grandes" e a mídia pela escolha do "comportamento Pilatos" destas pessoas?... Não sei!

Acho que está todo mundo tão egocentrado, tão voltado para os próprios umbigos, com seus transitórios sonhos de consumo, que sobra pouquíssima energia, boa vontade e disposição para qualquer tipo de questionamento. O governo, desde que se fez governo, sempre deu aquilo que o povo quer e o povo dando ao governo aquilo que ele quer. Raros são os que trilham em direções não percorridas; poucos desses, viram blogueiros, que por muitos são tidos como alienados sonhadores a lutar contra moinhos...

E fica a pergunta: quem quer acordar? Quem quer lidar com a Real? Quem arrisca o pescoço?...

É um ciclo vicioso... Os governantes, os "grandes", os publicitários que controlam a mídia vieram de onde, a não ser do povo? E, você e eu, que dedicamos tempo e energia sobre estes questionamentos, não somos também povo? Será uma benção ou uma maldição ter aberto, - ou estar abrindo - os olhos?

Finalizando: se é que estão matando o planeta, quem o está fazendo é a sociedade humana. É uma sociedade de vários sócios, com cotas diferenciadas, mas, sócios! Se sai um sócio, entra outro. E só se mantém como sócio, quando a sociedade produz aquilo que lhe foi prometido. Enquanto o sócio tem aquilo que busca, por lá fica...

Estou tranquilo! Os tristes fatos ocorridos no Japão deixaram claro para mim que o planeta está longe de acabar. Quem pode acabar, são aqueles que se sentem sócios! Basta ele tremer um pouquinho mais forte, que os sócios não tem tempo nem para tremer!

Nelson Jonas

Coceiras


Duas são as coceiras que me causam profundas irritações:
a da língua e a do bolso!

Nelson Jonas

Outrite

As paredes tem ouvidos

Uma antiga conhecida escreveu em seu Facebook:

"Com a mesma facilidade que uma pessoa fala de outras para você, também terá para falar de você para as outras. Com essas é preciso tomar "muito" cuidado."

Penso que é muito mais importante, manter a guarda diante da nossa própria tendência de falar do outro ausente.

A doença que chamo de "Outrite",  causa inesperadas recaídas.

Nelson Jonas

22 março 2011

O Outsider

O novo rebelde


CARACTERÍSTICAS DO OUTSIDER
1 – DA DEFINIÇÃO
Segundo o dicionário Aurélio:

outsider
[QwtÈsajd«Õ] [Ingl.] 
Substantivo masculino. 
1. Turfe Cavalo que tem o mínimo de possibilidades de vencer. 
2. Fut. Lance em que a bola vai fora do campo. 
3. Mar. Merc. Navio mercante que não se atém aos acordos estabelecidos nas conferências de frete.
Em termos práticos, Outsider pode ser visto como aquele que não se enquadra, que não faz questão de fazer parte de nenhum grupo determinado, alguém que vive a parte da sociedade, alguém que de fora observa um determinado grupo; alguém dotado de um estivo de vida independente e alternativo. Um estrangeiro, um forasteiro, um peregrino, um homem fora do lugar, um anônimo.
                                                                                  *
*   *
2 - DA VOLUNTÁRIA DISSIDENCIA SOCIAL
A dissidência como “outsider” dá-se quando a pessoa começa a se irritar diante da constatação de que não é livre. Enquanto a pessoa for um ser humano comum, nascido uma só vez, ela não é livre, mas não tem consciência disso. Essa falta de consciência a deixa momentaneamente livre da irrealidade que é sua vida. Isso não quer dizer que sua ignorância não faça diferença; faz. O Outsider, voluntária e abertamente se recusa a aceitar o ambiente, com sua mecanicidade e atual virtualidade. É sempre alguém que não se deixa contagiar pelo absurdo entusiasmo geral. Possui uma profunda resistência a integração na cultura globalizada, imunização a influência da moda, mídia e economia. Assume uma condição dissidente diante de uma sociedade de desenfreado consumo. Abre mão do modo de vida burguês com todas as suas futilidades e relações destituídas de verdadeira intimidade, que para ele, não passa de uma verdadeira piada. Não tem em conta convenções familiares, onde quase sempre, por sentir-se inadequado nesses contatos, sente necessidade de afastamento físico e emocional. Não teme, através de sua mente questionadora, arrancar sistematicamente, todas as afeições e crenças que se mostrem sem fundamento, mesmo que isso implique num estado de aterrorizante vazio. É controverso e arredio as discrepâncias e falhas do sistema econômico e social. Recusa-se a desenvolver uma mecanicista mentalidade prática burguesa. Prefere buscar por caminhos diversos de experimentação e vivência, mesmo que estes conduzam a solidão e a dor, tudo em nome da experimentação da vida com total intensidade. Por ser portador de uma vontade resistente e inadaptável, a qual direciona para a questão existencialista, tem ampliada a sua problemática em torno do social. Adota uma postura ética de renúncia e disciplina que o torna menos escravo de um cotidiano voltado para a domesticação servil, a qual impede a livre expressão das potencialidades humanas. O Outsider possui potencial libertário e inconformista, além de uma vontade dúbia e tênue por rebelião às instituições básicas. Por causa disso, rompe com a vida social e passa a buscar por um modo de vida alternativo, longe dos ditames e grilhões da sociedade dita civilizada. Por estar de fora, prefere viver a essência do anonimato, do que manter-se participante dos insanos jogos de aparências, uma vez que tem consciência de que quem vive de aparências, só aparentemente vive. Ao contrário do coletivo que insiste no falseamento de sua realidade, o Outsider é uma amante da Verdade, por mais dura que esta possa ser. Sofre e faz sofrer por causa de sua sinceridade e autenticidade. Possui um profundo sentimento de não aceitação do modo de vida vivido pelos seres que se dizem humanos numa sociedade que nada tem de humana. Seu forte insight sobre a natureza da liberdade, faz com que não aceite os estúpidos valores pelos quais os demais pautam suas vidas. Sente a necessidade de assumir comportamentos completamente novos e empreender um estudo deste mundo irreal que se apresenta. O Outsider se separa das outras pessoas por uma inteligência que impiedosamente destrói os valores das mesmas e o impede de se expressar pela incapacidade de recolocar novos valores. Seu maior desejo é o de deixar de ser um outsider, não pela domesticante inserção burguesa no sistema, mas sim, pela transcendência do sistema e de si mesmo.  Para ele não há como retroceder; seu problema, portanto, é o de saber como seguir em frente. Na máxima manifestação de sua dissidência, pode preferir optar pelo fim de sua existência do que negar a expressão maior de seus ideais.
*
*   *
3 - DO SEU APURADO PODER DE VISÃO
O Outsider exerce profunda observação sobre o espaço que o cerceia, excluí e por ele é excluído. Sua capacidade de visão o torna profundamente questionador, com infinitas indagações no tocante ao que é fundamental. Produz questionamentos sobre o viver correto, sobre novas formas de ver e sentir que não sejam esmagadas pelas próprias limitações e que não obstruam a capacidade de agir, bem como a potencialização de seus talentos. É dotado de uma demasiada profundidade do olhar, da qual faz uso de forma silenciosa e com a qual constata o jogo de falsidade, interesses velados e superficialidade pelo qual transcorre grande parte das relações sociais. Tem os olhos bem abertos para o caos instalado, enquanto a grande maioria, em sono profundo, se preocupada apenas com a satisfação das medianas preocupações imediatistas burguesas. A visão de vida de um Outsider não se apóia na Tradição, mas sim na relação direta de seus insights, experiências e racionalidade. Seu apurado poder de visão lhe faculta um perfeito juízo da injustiça de os seres humanos terem que viver nesse nível morno das trivialidades cotidianas; ele sente que deveria haver uma maneira de viver o tempo todo com a intensidade do êxtase criativo do artista e é para este que constantemente aponta seu olhar. Por perceber a irrealidade de tudo, começa a formular perguntas do tipo: Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? São essas perguntas que acabam com a ilusão de identidade com o script social e o “condena a ser livre”.  O Outsider busca pela interioridade; reconhece as emoções que lhe roubam a energia, que não contribuem para a sua interioridade, e se dispõem a exterminá-las de si mesmo. À medida que caminha em direção ao seu objetivo, cresce o seu suprimento de força vital excedente, ampliando assim seu poder de visão.
*
*   *
4 - DO SEU SOFRIMENTO, MAL-ESTAR E DIFICULDADES
Um dos seus sentimentos mais desconcertantes é o sentimento de “estrangeirismo”; de alguém que se encontra `fora de lugar’, de ser um `anormal’, um introvertido que não consegue participar de uma maneira satisfatória da vida de relação. Vivencia um estado de desespero diante da miséria da realidade social. Sente a necessidade de buscar por equilíbrio diante de tantos desequilíbrios de ordem social, econômica e psíquica. Observa seu conflito interno e o mal-estar gerado pelo sentimento de inadequação. Não teme o contato com suas feridas, ao contrário, ousa remexe-las. Por vezes, sente-se degenerado, doente, dividido, ressentindo-se por pensar (de forma errônea) não ter nenhum talento especial, nenhuma mensagem para oferecer. Tem profunda ojeriza a conversações pautadas em experiências passadas; seu interesse está nas experiências do agora que apontam para a possibilidade de um saudável futuro. Possui um excesso de energia intelectual aliada a uma nula capacidade de ação, além de dificuldades de auto-expressão, ausência de assertividade na defesa de seus valores, idéias e visão de mundo. Devido sua dificuldade de auto-realização, busca constantemente por um modo de agir no qual se aproxime mais de si e pelo qual obtenha a auto-expressão máxima (excelência de ser). Sente uma inquietante necessidade de colaborar de forma criativa e direta para a manifestação da ordem ao caos instalado, ao qual é extremamente sensível e vulnerável, mas não o suficientemente forte para esboçar reação assertiva.  Anseia profundamente por um modo de vida que não seja fútil, absurdamente acelerado e impessoal. Sofre a infelicidade de perceber que não existe uma real comunicação com os outros seres humanos, nem mesmo com aqueles a quem mais ama. Experimenta constantes ataques de insatisfação, tédio e sentimentos de irrealização, os quais, depois de algum período são amenizados por breves momentos de insights criativos. É uma pessoa que se sente dividida e anseia pelo estado de unidade através do qual possa viver mais abundantemente. O sofrimento resultante de seu conflito não se trata de inferioridade, ainda que possa torná-lo menos apto a sobreviver do que o burguês; não-reconciliado é um sinal de grandeza; reconciliado, manifesta uma vida mais abundante que torna inquestionável a sua superioridade aos outros tipos de homens. Quando se torna consciente de suas forças, sente-se unificado e feliz. Parte de sua infelicidade é resultante de sua incorrigível tendência a fazer concessões, de preferir as temperadas regiões burguesas, civilizadas. Seu bem-estar encontra-se nos extremos, não nasceu para ser homem de meias medidas. Seu traço mais característico: é a incapacidade de parar de pensar. Sente-se um prisioneiro de seu pensamento. O resultado é um estado de tensão mental sem fim. Sente que seu maior inimigo é a futilidade humana. As exigências do mundo exterior, infindáveis e sem importância, são lhe um peso imenso. O Outsider é uma pessoa cansada da vida, cansada dos tolos com suas imaturas oposições. Cansada de tanto ter que recompor suas forças para ter que desperdiçá-las de novo, numa sociedade que se movimenta em direção a não vida. Esse cansaço, ao contrário do que todos pensam, é proveniente de problemas existenciais reais, e não delírios neuróticos. Ele sofre por ter elevado seu bom senso e sensibilidade ao máximo, os quais ampliam sua percepção. Um de seus maiores medos é o de se deparar com a morte sem que seu problema existencial tenha sido devidamente resolvido.
*
*   *
5 - DA SUA RELAÇÃO COM A BURGUESIA
O Outsider se interessa por altas velocidades e grandes pressões; ele prefere dar atenção ao homem que se dispõe a ser muito bom ou muito mau, e não ao bom cidadão que defende a moderação em todas as coisas. Ele não se contenta com velocidades comuns. O Outsider vê naturalmente a grande maioria dos homens como fracassos; na realidade, talvez ache que a grande maioria dos homens que já viveram foram um fracasso. Em vista disso se pergunta: Como devo viver minha vida para não ter de me considerar um fracasso? Sua relação com o burguês tende a ser conflituosa uma vez que o burguês defende a complacente aceitação do establishment enquanto que o Outsider tenta sempre expressar seu senso de anarquismo dissidente. Não o faz por provocação, mas pelo profundo impulso de que a Verdade deve ser dita, custe o que custar, caso contrário, nunca será possível o estabelecimento final da ordem. Sente profunda alergia ao caos proveniente da confortável e protegida infeliz felicidade da zona de conforto burguesa, bem como pelo seu profundo esforço pela manutenção de seu ilusório prestígio passageiro. Onde o burguês vê realização, o Outsider vê pesadas correntes. Contempla o mundo burguês como uma enfermidade. Está envolvido por uma sensação de estranheza e de irrealidade que o leva a enxergar a natureza burguesa como caótica, doente e enfastiante. Sua máxima: A verdade deve ser dita, o caos deve ser enfrentado. Já para o burguês, a verdade deve ser encoberta e o caos, bem decorado. Vê o mundo burguês como um verdadeiro caos, uma irracionalidade profundamente contagiante. O outsider é o principal suporte do burguês; sem ele o burguês não existiria. A vitalidade dos membros ordinários a sociedade depende dos seus outsiders. Muitos Outsiders se unificam, se realizam como poetas ou santos. Outros permanecem tragicamente divididos e improdutivos, mas mesmo assim suprem a energia espiritual da sociedade; é a sua tenacidade que purifica o pensamento e impede o mundo burguês de afundar sob seu próprio peso morto. O outsider é o dínamo da sociedade. Possui uma imensa capacidade de renúncia, sofrimento, de indiferença pelos ideais da burguesia, e de paciência quando relegado àquele último grau de solidão que rarefaz a atmosfera do mundo burguês, transformando-o em éter gelado em torno dos que sofrem para se tornarem homens. Prefere se comprometer com um futuro incerto e solitário do que se render à conformação da pseudo-segurança e companhias interesseiras tidas num modo de vida burguês. Sem dificuldades ou hesitação, abre mão das aparências em busca da essência de tudo que é. Quanto mais aumenta sua consciência, mais aumenta o desprezo pelos valores burgueses. O outsider, por ter experienciado um contato, ainda que breve, com a “Grande Realidade”, sente-se inutilizado para a futilidade da vida do dia-a-dia burguês. Sente-se totalmente incapaz de se adaptar a trivialidade cotidiana. Sente que a vida é uma eterna tensão entre a “Grande Realidade” e o sofrimento resultante do conformismo ao modo de vida burguês. O outsider não gosta de sentir que a futilidade seja a única opção de vida; sua natureza lhe diz que há alguma coisa à qual possa responder com total assentimento, e, por ela, busca. Nesse ínterim, sofre pela sua não autossuficiência e pelo doloroso “vácuo” em que se encontra. Sente que o modo de vida burguês é uma forma de morte viva. Diante de sua profunda percepção da doença proveniente do modo de vida burguês, com toda sua corrupção, erros, mesquinhez, pobreza, imundice e desprezível conforto, insiste em apontar para a necessidade de reconhecimento da mesma, para uma possível cura. O Outsider tem consciência de que as demais pessoas inseridas no sistema, não possuem a consciência da natureza que move as suas ações. Para o Outsider, os homens estão contentes numa prisão – são animais engaiolados que nunca provaram o gosto da liberdade – portanto, ao contrário de si, eles não têm consciência de sua prisão. O Outsider sente que a vida tem por objetivo mais vida, formas mais elevadas de vida, viver mais abundantemente, a qualquer custo. Devido sua incansável busca por mais consciência, não vê lógica em desperdiçar seu precioso tempo e energia com futilidades. Prefere dedicar-se à contemplação, em apenas ter dinheiro necessário para a manutenção de uma vida de simplicidade voluntária. Para ele, o que importa é o hoje, nunca o amanhã. Por isso, é tido pelo burguês, como um sonhador que vive sempre no mundo da lua, que não lida com a realidade, alguém totalmente destituído de espírito prático. Mas, na realidade, nele não há nada do sonhador inútil: todos seus valores são claros e precisos. Para ele, cabe a busca do despertar da inteligência, deixando ao burguês, a mania de colecionar futilidades e tolices. O outsider não leva a vida na brincadeira; na melhor das hipóteses, é uma caminhada difícil; na pior, é uma insuportável camisa-de-força. Ele vê o mundo como um “caos dominado pelo ego” e não sente inteligência em se sentir seguro na identificação com o mesmo. Para ele, o importante é conhecer-se melhor e o estabelecimento de uma disciplina para vencer sua fraqueza e sua fragmentação interior, tendo por objetivo tornar-se harmonioso e integrado. Ele é alguém totalmente diferente do burguês que não tem nada na cabeça, a não ser a satisfação de suas infinitas necessidades físicas imediatas, estas criadas pela ausência de bom senso. Enquanto o outsider busca por momentos de contemplação, o burguês, se colocado numa ilha deserta, sem nada para lhe ocupar a mente, por lhe faltar a motivação verdadeira, entra num tédio depressivo ou enlouquece. O Outsider sente profunda urgência em se afastar dos costumes e práticas do burguês. Sente a necessidade de se manter alheio aos pensamentos, costumes e opiniões do mundo burguês, uma vez que eles valorizam as coisas com as quais o Outsider não se vê atraído.
*
*   *
6 - DA SUA NECESSIDADE DE AUTO-EXPRESSÃO
O Outsider durante toda vida ansiou pela capacidade de auto-expressão sob alguma forma imaginativa, que não seja trivial nem não-heróica. Sente-se como um dínamo de energia, mas não tem a menor idéia do que fazer com essa energia. Busca por uma forma de agir que dê expressão ao que não é trivial. Questiona-se de como conseguir obter a força necessária para não se ver escravo das circunstâncias. Sente profunda necessidade de auto-conhecimento uma vez que não pode mais se desperdiçar, muito menos desperdiçar as oportunidades de auto-evolução e potencialidades. O Outsider é o resultado do homem que se interessa em saber como deveria viver, em vez de simplesmente aceitar a vida tal como ela é. É um contemplativo nato, acostumado a se recolher profundamente em si mesmo, reunindo suas energias, numa espiral bem apertada, para depois soltá-la na auto-expressão. Para ele, a negação da auto-expressão é a morte da alma; sem criação, desfalece o equilíbrio, a balança pende para o lado da aflição e do sofrimento. 
*
*   *
7 - DA SUA NECESSIDADE DE AUTO-CONHECIMENTO
Todo Outsider viveu uma vida “irreal” e só despertou para essa irrealidade quando se deparou com o limiar da dor e da morte, com o “desgosto de si mesmo e a conseqüente vontade de fugir de si mesmo”. Esse é o preço de entrada, o seu rito de passagem. O Outsider vive em busca de respostas para a questão: Seria ele um Outsider por ser frustrado e neurótico, ou seria um neurótico devido algum instinto mais profundo que o impele à solidão? Seu poder de auto-análise é profundo. Sente necessidade de isolamento e períodos de meditação em busca da palavra viva, que embora desconhecida, sente trazer consigo.  Para alguns outsiders, é muito mais importante ter um intelecto vigoroso do que uma evoluída capacidade de “sentir”. O Outsider não tem certeza de quem ele é. “Ele encontrou um ‘eu´, mas este não é o seu verdadeiro ‘eu’”. Sua maior preocupação é a de encontrar, por meio da auto-análise, o caminho de volta a si mesmo. O Outsider sente a necessidade de cavar fundo em si mesmo para se livrar dessa prisão, mas, por vezes, sente medo de estar cavando na direção errada. O problema final, enfrentado pelo Outsider, está em responder de forma holística, visceral, a pergunta: “Que sou eu?”. Na resposta dessa pergunta encontra-se o limiar entre a identidade e a alteridade. O Outsider busca por um senso de harmonia, pela possibilidade de um modo de ver o mundo que faça da vida uma contínua forma de intensidade; uma visão de intensidade e vida. Busca como se aliar às forças que habitam em seu interior, para ajudá-las no que elas visam. Ele sente profunda necessidade de solidão para ver “dentro de si mesmo”.
*
*   *
8 - DO ESTIGMA SOCIAL
Devido a não adequação ao estabelecido, o Outsider sofre o estigma social. Voluntariamente faz-se um dissidente social em nome da busca de liberdade, pela qual, não mede esforços. Sua incessante luta contra a fragmentação e destituição do sujeito, produz tensões e confrontos entre os espaços externos e internos, no âmago do grupo familiar e social que o acolhe ou exclui. Seu parecer sobre as questões do viver nunca são tidos em conta por causa de sua evidente “anormalidade e introversão”. Por se manter distante de situações que possam comprometer seu modo de vida, que possam afetar sua calma e segurança interior, quase sempre é tido por egoísta, insensível, frio e indiferente aos sentimentos alheios. Como a mediocridade do ambiente não é capaz de satisfazer suas mais profundas necessidades, acaba sendo visto como um teórico sonhador, um idealista platônico, um sonhador de outros mundos, um ocioso. Ao contrário de como é visto em seu meio, o Outsider não é um anormal, um acomodado vagabundo, mas sim, e tão somente, alguém mais sensível do que aqueles que se dizem normais e saudáveis. Sente-se um peregrino solitário, lutando desarmado contra milhares de soldados do sistema. O fator que faz com que suas palavras e modo de vida sejam levados a sério, é que ele convida seus conhecidos a jogarem fora a água suja, sendo que ele mesmo ainda não tem a fonte da água limpa. No entanto, em outras palavras, apesar de ainda não possuir a chave, diferente dos demais, vê nitidamente as grades da prisão. Em vista disso, o Outsider ínsita aos seus poucos ouvintes para que também se tornem dissidentes, para que abandonem a postura morna e burguesa do caminho do meio, afirmando sempre melhor ser um grande dissidente do que um estagnante burguês de valores corrompidos. Para ele, a força está nos extremos e não na convenção. O Outsider tem consciência de que os outros o tem por tolo, mas, sabe também da veracidade das palavras de Willian Blake:
Se o tolo persiste em sua tolice, torna-se um sábio”.
*
*   *
9 - DO SENTIMENTO RELIGIOSO
O Outsider sente que as experiências religiosas individuais, diferentemente dos preceitos estabelecidos pelos sistemas de crença organizadas (que nada tem a ver com religião), constituíam a espinha dorsal da vida religiosa, a qual facultam a capacidade de apaziguamento dos sentidos e a reorganização do intelecto. Ele vive de elevados valores éticos transreligiosos. É avesso a qualquer sistema de crença organizada erroneamente tida por religião. Para o Outsider, não há melhor lugar para se assistir à eterna comédia humana dos seres humanos se enganando a si mesmos do que no culto de uma congregação qualquer. Para o Outsider, a religião é algo pessoal, único e intransferível, resultante de seu processo de unicidade. Sua religião pode ser traduzida na busca de liberdade sem isolamento, na necessidade de livre movimento sem a necessidade de renúncia de sua singularidade; na busca pela experiência do êxtase criativo que lhe incentive a sair da cama pela manhã. Para o Outsider, em algum momento de tensão, deu-se uma experiência religiosa que não pode ser traduzida em palavras, um vislumbre de um poder, o contato com alguma realidade extraordinária, a percepção de uma área desconhecida de sua consciência, uma realidade mais elevada, um êxtase repentino, um momento “atemporal”. A experiência se vai, mas a consciência de sua existência permanece, deixando um forte sentimento de irrealidade quanto à realidade cotidiana experimentada. A reconquista do insight, da bem-aventurança perdida é a grande esperança para muitos Outsiders.  Sua religião se fundamenta num profundo desejo de “vir-a-ser”, de progressão, de unidade, em que nada se refere à satisfação de ninharias materiais. É através de sua religiosidade que vivencia a educação dos sentidos. Por ser profundamente avesso a idolatria e ideais, é um ser que se equilibra sobre uma corda, onde em uma das pontas, bem atrás se encontra a mediocridade do conformismo a filiação a organizados sistemas de crença  e, pela frente, a possibilidade de transcendência. Para o Outsider, o mundo no qual ele nasceu sempre é um mundo sem valores. Comparado com seu próprio desejo de finalidade e direção, o modo pelo qual a maioria dos homens vive não é absolutamente viver; é deixar-se levar. Tal é a desgraça do Outsider, pois todos os homens têm um instinto de rebanho, e esse instinto os leva a crer que o que a maioria faz deve ser o certo. A menos que ele desenvolva através de sua própria religiosidade, (um conjunto de valores que correspondem à sua mais alta intensidade de propósito), melhor será dar término a sua existência sem vida, pois sempre será um marginal um desajustado. Uma vez encontrado esse propósito, porém, metade das dificuldades será vencida. Se o Outsider aceitar sem hesitar que é diferente dos outros porque é destinado a algo maior; se ele se vir no papel de poeta predestinado, de profeta predestinado, ou de alguém que vai melhorar o mundo, metade de seus problemas estará resolvida. O Outsider é um profeta mascarado – mascarado até para si mesmo – cuja salvação está em descobrir o seu propósito mais profundo e a ele se entregar. Ele não possui nenhuma inclinação para a doutrina do ajustamento, do engajamento. Sua inclinação maior está na vontade de gritar ao mundo: “Acordem!” Ele é inevitavelmente um visionário. Possui uma intensidade de visão que poucos homens conheceram. Ele reconhece que todos os homens são desonestos consigo mesmos, que todos os homens se deixam cegar pelas emoções. As “respostas dos sistemas de crença” parecem-lhe mentiras destinadas a anestesiar os homens. Ele rejeita tudo que o burguês tem por religião. Para ele só interessa o “Eu sei” e nunca o “Eu creio”. Como resultado, boa parte do seu tempo e energia é aplicada na busca de formas de atração de outros homens para o modo de vida Outsider. Pode-se dizer que, o Outsider que for fiel ao seu impulso interior, que seguir em sempre frente não deixando erguidas sólidas pontes de retrocesso, esta fadado a ser um santo, ou, em outras palavras, alguém portador de perfeita sanidade mental.
*
*   *
Organizado por: Nelson Jonas
Referências:

O Outsider - O drama moderno da alienação e da criação
Autor: Colin Wilson 
Editora: Martisn Fontes

A necessidade da Arte 
Autor: Ernst Fischer
Editora: Zahar

21 março 2011

18 março 2011

Beleza não é nada


...dinheiro não era nada, o poder não era nada.
Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza. Também a saúde não contava tanto assim.
Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir. O amor quer somente amar.

Herman Hesse

17 março 2011

Tempo de Travessia

caminhante3
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia, e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos"

Fernando Pessoa

Controle


Só quando a mente é capaz de se livrar de todas as influências, todas interferências, de estar completamente só,... existe criatividade. No mundo, cada vez mais a técnica está sendo desenvolvida – técnica de como influenciar as pessoas pela propaganda, por compulsão, pela imitação, por exemplos, pela idolatria, pela adoração do herói. Há livros inúmeros sobre como fazer uma coisa, como pensar eficientemente, como construir uma casa, como montar máquinas, e de forma que gradualmente perdemos a iniciativa, a iniciativa de pensar de forma original algo por nós mesmos. Em nossa educação, em nosso relacionamento com governo, por vários meios, somos influenciados ao conformismo e a imitação. E quando permitimos a influência que nos convença a uma atitude particular ou ação, naturalmente nós criamos resistência com outras influências. E neste processo de criar uma resistência à outra influência, nós não cedemos a isso negativamente? A mente não deve estar permanentemente em revolta a fim de entender as influências que estão sempre colidindo, interferindo, controlando, amoldando? Não é isso uma das causas da mente medíocre que é sempre medrosa e, está num estado de confusão, quer ordem, quer coerência, quer uma fórmula, uma forma que possa ser guiada, possa ser controlada, e, mas estas fórmulas, estas várias influências criam contradições no indivíduo, cria confusão no indivíduo. Qualquer escolha entre as influências é seguramente ainda um estado de mediocridade. ... Não deve ter a mente à capacidade, não de imitar, não de acomodar-se e ser sem medo? Tal mente não deve estar só e, portanto ser criativa? Essa criatividade não é sua nem minha, é anônima!

Autor: Krishnamurti - O Livro da Vida



16 março 2011

Epitáfio de um Domesticado Servil


SOB ESTE QUENTE SOLO JAZ
UM FRIO IMIGRANTE AUDAZ
QUE MORREU EM U.T.I. LUXUOSA
SEM SABER DO DESFRUTAR
DE UMA VIDA FULGUROSA

NÃO SE PERMITIU TEMPO
PARA FAMÍLIA, AMIGOS,
OU, EM ALGUÉM, DEIXAR SAUDADES.
TRADUZEM AS FLORES AQUI DEIXADAS,
A SUPERFICIALIDADE DE SUA VIDA.

Nelson Jonas

Observar e Celebrar


Silenciosamente só,
Olhando para os lados
Vejo vários negociantes;
Disfarçam olhares assustados.
Questiono por longos instantes:
Onde estão aqueles que, pela Vida,
Livres do temor ao estigma de errante,
Se fazem, Dela, buscadores celebrantes?

Nelson Jonas

15 março 2011

Constatações sobre o Homo Demens

O Homo Demens é um desarmonizado desarmonizante.

Nelson Jonas

<

Recado da Mãe Terra

Responsabilidade Social
A julgar pelos resultados do que erroneamente chamam de recentes "catástrofes planetária" (enchentes, avalanches, terremotos, vulcões e tsunamis), os poucos que pensam, podem ficar tranquilos: este planeta (que não é nosso), nunca será destruído. Para quem tem olhos de ver, fica claro o seu  recado: basta que ele se sacuda só um pouquinho mais forte, para se livrar de vez das incomodas e petulantes pulgas que se pensam Homo Sapiens. O que acertadamente podemos chamar de "catastrófe planetária", são eles: os Homos Demens com seus inconsequentes acordos em gabinetes fechados.

Nelson Jonas























Alma Outsider

O novo rebelde


O artista Eduardo Marinho fala sobre sua opção de vida e discute sobre como vivemos complacentes com toda a mentira que existe na sociedade. Esse vídeo devia passar no ensino fundamental... Assistir 10 x 10 vezes!




O COMEÇO 

Tudo começou na hora que cansei de pedir comida: eu queria escolher o que comer. Eu tinha que fazer alguma coisa; como eu viajava na estrada, comecei a catar dente de animal atropelado, comecei a fazer brinquinho, colar, pulseira... Essas coisas começaram a me dar uma noção de como é que eu estava doido. Eu quero experimentar o que é não ter nada. A maioria não tem nada e vive tranqüilo... Como é que eu olho em minha volta para a classe abastada e todo mundo é apavorado de ficar pobre, tudo tem medo de não ter privilégio... O que eu tinha era privilégio e de repente eu olhava em volta e via que as pessoas não tinham direitos. Hoje eu acho que privilégio come direitos e esses privilégios acumulados nessa minoriazinha que vive dentro de gaiolinhas de ouro... Condomínios – sempre fechados -... Eles são prisioneiros ali, eles têm medo de sair dali, eles são prisioneiros... Olham para as grades e vêem como segurança. Na verdade, a gente que está fora, vê que eles estão presos. Eu não posso aderir esses valores ridículos que eu vi em minha volta e que as pessoas vêem como os únicos valores possíveis, é mole?... Vivem angustiados prá cacete, quando conseguem o objetivo material já vem a insatisfação de novo, precisa de outro objetivo material e não se tocam que o objetivo na verdade – a necessidade na verdade - é abstrata: é integração, é a solidariedade, é a afetividade, só que isso a propaganda não divulga, porque não dá lucro. Pelo contrário, quando usam é para fazer uma propaganda bem piegas para induzir você ao consumo de qualquer maneira. Aliás, a publicidade é uma atividade criminosa: ela cria necessidades desnecessárias, necessidades artificiais que as pessoas não têm... As pessoas precisam comprar, precisam ter, precisam consumir... As necessidades materiais são muito pequenas, são muito básicas. Na verdade, as necessidades materiais são só cinco: ar, água, alimento, agasalho e abrigo. Tudo com “A”. São cinco “A”. Com essas cinco coisas você vive.

A CARREIRA

Eu não! Eu só tive uma carreira. Na verdade, eu vinha perdido da vida e, sabendo que eu tinha que arrumar uma profissão, que era o que meus pais esperavam... eu não via nenhuma que me atraísse. Aí eu comecei a pensar do jeito que eles pensavam:
“Pô, vou ficar velho, não tenho uma profissão... O que é que eu vou fazer? Pô, mas eu não gosto de nada! Tenho que arrumar uma profissão e não gosto de nada, o que é que eu faço?... Vou ser militar! Claro!... Sempre vivi no meio militar! Ser militar é mole! Fácil! 

Aí fiz um concurso para a Preparatória de Cadetes e entrei!... Realmente, é muito fácil ser militar, desde que você abra mão da sua consciência...
Corporação

...Acordei e estava escuro. Olhei pelas janelas lá em cima, era um salão com duzentas e cincoenta camas, de silêncio, de madrugada, acordei de barriga pra cima e aí fui lembrando... de todo o acampamento... Da chegada... De como tocou o alarme... Parecia tudo em câmera lenta... De como eu peguei a arma... Como fui caminhando e metendo as balas (era mosquefal, na época)... Fui botando as balas... Como eu cheguei, como eu mirei, como eu tive um cara a mercê de matar ele... Aí eu falei:
“Nossa! O que é que está acontecendo comigo, cara?... Não posso ficar aqui não!... O que é que eu estou fazendo aqui? ”...


Aí eu fiquei analisando:
"Qual é o papel social do exército?"...
Aí que eu não queria mais mesmo! O que era garantido para mim era a morte...
"Eu não quero ter vergonha na minha vida!... Vou passar por aqui e vou sair! Eu não quero que a minha vida seja usada para a manutenção desse estado da sociedade!... Não concordo com isso! Não sei o que eu vou fazer, mas sei o que eu não vou fazer! Aqui dentro eu não fico!
Saí, do exército.
formandos-da-pm8

UM SENTIMENTO

Raiva! Raiva!... Eu andei sem nada pelo mundo. Pertenci a classe mais pobre, dos mais pobres... E ali eu vi tanta beleza, quanta solidariedade... Tão pouco o que as pessoas querem ali... Eu pedi, como eu falei, eu pedi muita comida, né, me alimentei muito, pedindo. Teve caso de eu pedir comida na casa de rico, por achar que ali estava sobrando, e o cara me dar comida e chamar a polícia...

cesta-basica-015

SOBRE A ARTE

... Então eu acho que arte é função! Artista de decoração, para mim, é um artista falho, um artista fútil, vazio!... Fútil, então, mas o cara faz bem! Ele tem sensibilidade e não olha para o mundo em volta! Não se solidariza com o sofrimento da maioria; ele quer fazer parte da elite... É isso que é apregoado: queira fazer parte da elite... E os pobres têm os mesmos desejos dos ricos... Isso é um absurdo!... Uma ignorância!
Teatro

DEMOCRACIA

...Aí já é uma apelação! As pessoas acreditam mesmo que isso aqui é uma democracia... Isso aqui é um democracídio... Na verdade é um democracídio, estão exterminando a população... A juventude está morrendo... Falta de opção? ... O Tráfego está aí!
Meninos
Agora, no meu Blog, “Observar e Absorver”, tem um texto, que o título já diz o que ele diz: 

“Que vencedor que nada!”... Não estou aqui para competir. Quem é que disse que a vida é uma competição? A mídia? (risos)... Pior, é ver as pessoas acreditando e competindo mesmo!... Aí compete marido com mulher, vizinho com vizinho, irmão com irmão, colega com colega... Todo mundo é inimigo!... O inimigo é o concentrador de renda!... É inimigo da sociedade, é inimigo da população... Mantém o Estado refém... Enquanto tiver essa estrutura partidária no país, não vai ter democracia. A estrutura política, jurídica, legislativa, não permite que exista uma real democracia e transformam a vítima num bandido!... Você é o elemento perigoso, talvez porque destoa do tecido social.

Secretaria da Justiça

E OS RICOS?

...Rico é muito inseguro; o que é natural... É natural, né, porque depende de pobre prá tudo!... Não faz faxina, não faz comida, não concerta o pneu do carro, não costura sua própria roupa, né?... Rico é frágil, depende de segurança, depende de empregado, não cuida nem do jardim... É engraçado ver esses caras falarem que a sociedade tem oportunidade para todo mundo... Que pobre é pobre porque é incompetente... Porque não tem... Porra, é foda!... A competência dos pobres foi caçada no ensino, não é?


SEU PÚBLICO

Agora, meu público é mais, vamos dizer assim, o público que gosta mais é o pessoal dos movimentos sociais, pessoal reflexivo... Quem pensa, em geral, gosta!
Deformação Comprada
SEUS PAIS GOSTAM?

Não. Não sabia. Depois eu tentei a faculdade... Eu queria me enquadrar para não magoar minha família; nada fazia sentido, mas eu não queria horrorizar eles... Eu era dócil. Quando fui fazer vestibular... Acabei fazendo prá direito... Acabei fazendo Belas Artes, quer dizer, eu nem queria fazer vestibular, mas, para a minha família, era inconcebível não ter curso superior; todo mundo na minha família tem curso superior, só eu que não. Então, como era inconcebível eu tinha que fazer vestibular; me deram a melhor escola, me deram a melhor isso, a melhor aquilo... Beleza! Vou fazer vestibular! ...

- Estou pensando em fazer prá belas Artes!...

- O queeee? Você tá maluco!... Belas Artes... Você é viado? Você é drogado? Isso é curso prá dondoca! ”

Como era o moção da família, falei:

- Tá bom, tá bom, tá bom... Eu vou olhar!...

Aí fui na faculdade e peguei todos os currículos de todos os cursos que tinha. Aí, no final, tinha dois cursos: Belas Artes e Direito. Aí eu virei prá a família e disse:

- Direito tá bom prá você?

- Ah! Direito tá!

Aí, pronto! Entrei prá fazer direito... Fiz vestibular, passei , entrei... Fiz aqui na PUC também, mas, eu não queria mais depender dos meus pais... Eu tava com uma diferença ideológica muito grande com eles, então, não queria mais depender deles. Então, fui para a Federal lá de Espírito Santo e, fiquei lá. Aí conheci o Marxismo... Achei o Marxismo ótimo, ótimo! Mas aí, conheci os marxistas... E achei os marxistas péssimos, péssimos...

- Tem perigo, não!... Deixem eles serem rebeldes...

São Rebeldes!... Eu nunca aceitei a peste de rebelde... Eu não me rebelei. Só que o que a sociedade me ofereceu não me satisfaz, então eu fui atrás... Não sabia do que...
how turn on Fuck and be happy

SOBRE OS ARTISTAS

Eu nunca gostei muito dos artistas, sabe... São muito vaidosos, ego... Hoje eu chamo de artista, pavão. Hoje eu conheço artista engajado, mas é raridade, como é raridade gente reflexiva em qualquer meio... É uma gente que acredita em absurdos... Sabe, os valores, são absurdos, as crenças, são absurdas, os papos, são horrorosos, são fúteis, superficiais... A única vantagem é que eles tinham bebida que não dá ressaca, né: Whisky doze anos, conhaque de conhaque, champanhe de champanhe... Aí eu já chegava para entregar o quadro, os caras, geralmente era assim... Eu ia entregar o quadro, o cara, nesse dia, dava uma festa... Aí ele queria mostrar para os amigos o quadro e queria mostrar o artista para os amigos, e eu tinha que estar lá... Mas aí eu ia contra qualquer coisa que eu acreditasse... Não dava para fazer... É o tipo de benefício material que custa malefícios morais... Eu acho que tem benefício material que não vale o prejuízo moral e, viver junto dessa galera, é muito prejuízo moral, porque eu olho para a massa da humanidade e me sinto parte da humanidade e não de uma elite. Eu teria vergonha de ostentar riqueza, de ter privilégios... Porque é como eu disse, né, privilégio come direito... Por essa elitezinha, zinha... Ter tanto privilégio, falta direitos básicos prá a grande maioria. Isso é falta de solidariedade, isso é uma enorme grosseria... Estilo onda de refinados, na verdade são egocêntricos, são insensíveis, são não solidários, na verdade são egoístas ao extremo... A solidariedade para eles é grupal: é eu e o meu grupo, contra o resto... O resto somos nós. Eu prefiro fazer parte do resto!... Porque é como eu disse num trecho, sabe:

- A minha pobreza é a minha riqueza!

E, nessa sociedade competitiva, a minha derrota é a minha vitória.

13 março 2011

Constatações sobre celebridade

Máscara

A intensidade do anseio por celebridade
é tal e qual ao veio de mediociridade.

Nelson Jonas

12 março 2011

Som prá Outsider

Kleiton e Kledir no SESC Osasco em 2011 - Foto: Nelson Jonas



11 março 2011

Encontro Outsider

Um outsider incomoda muita gente,
Dois Outsiders incomodam muito mais...

Fotos: Andrea Zafra

Eu não tenho compromisso eu sou biscateiro,
que leva a vida como um rio desce para o mar,
fluindo naturalmente como deve ser,
não tenho hora de partir, nem hora de chegar...


A verdade do mundo


Verdade seja dita: neste mundo, a verdade não é dita.

Nelson Jonas

09 março 2011

O motivo maior que anima um Outsider

observador
Foto: Andrea Zafra

O Outsider sente profunda urgência em se afastar dos costumes e práticas do burguês. Sente a necessidade de se manter alheio aos pensamentos, costumes e opiniões do mundo burguês, uma vez que este valoriza as coisas com as quais o Outsider não se vê atraído. Enquanto o burguês sente a necessidade de ter um lugar onde se estabilizar, o Outsider sente uma espécie de horror a um lar estável, fixo, e, assolado por uma inquietude nômade, sente o desejo de vagar pelo mundo, sem pouso. O Outsider é propenso ao ócio da vida nômade, com sua meditação contemplativa, a qual lhe confere uma acuidade na inteligência e na capacidade de juízo que raramente é encontrada no modo de vida burguês. Isto se dá pelo fato de que o Outsider, por meio de uma experiência passada, conservar a lembrança de um estado de bem-estar, de unidade e de felicidade, totalmente desconhecido do burguês, e é por este estado que sacrifica a comodidade e a idéia de segurança alimentada pelo burguês. A busca da consumação da felicidade propiciada pelo estado de ser experimentado no passado é um dos poucos motivos que anima o Outsider.

08 março 2011

A anônima peça chamada Vida

pensador2
A vida é uma grande e mascarada peça teatral que não permite ensaios; sem cursos, ela segue seu curso. Não há como saber de antemão os acontecimentos do ato seguinte, uma vez que na mesma, não há script. Quando menos se espera, as pesadas cortinas se fecham e, para a grande maioria, sem aplausos. Grande parte, por medo, prefere dar aos outros o papel principal que lhes é de direito; se conformam em ser apenas tensos expectadores, sempre com medo de uma possível interação repentina. Outros, por demais petulantes, para esconderem seus medos, tornam-se críticos maliciosos. A coragem é só para os que possuem alma de artista, de poeta; para estes, não há como fugir do palco, pois a voz da consciência, destes diretor único, incessantemente grita exigindo desempenho efetivo. Para a covarde massa da platéia, essa voz é profundamente exaustiva. Ao artista e ao poeta o aplauso e o reconhecimento, quase sempre ocorrem muitos anos após o apagar das luzes e o fechamento de suas cortinas, sendo que esse reconhecimento só se dá por meio de outros artistas e poetas; nunca se encontra na mediocridade pública. Esta última, sempre ocupada com o colecionar de fugazes sucessos, não tem os sentidos despertos pelas perguntas feitas por artistas e poetas:

Quem escreve seu roteiro?

Que voz lhe dirige? 

Para onde apontam suas luzes?

Seu script é digno da atenção das gerações futuras?

Ser ou parecer? Eis a questão!

Nelson Jonas

04 março 2011

Seguindo o curso

Liberdade

- Bom dia! Parabéns meu querido!
- Bom dia! Por que parabéns?
- Você está de brincadeira (risos)
- Não!
- Hoje não é teu aniversário?
- Sim; mas por que as pessoas desejam parabéns?
- Porra! (risos)... São 8:25 da manhã; calma ai meu caro! Pelo menos ainda acha o aniversário uma data legal, não é mesmo?
- Acabei de receber uma mensagem de uma loja de departamentos on-line...

- Nelson: Feliz aniversário! Para nós essa é uma data muito especial. Nelson, a fulana.com.br deseja sinceramente muitas felicidades e que você aproveite muito este dia e o nosso presente: 10 % de desconto na COMPRA de livros, CDs e DVDs. São milhares de títulos à sua escolha. Aproveite agora este beneficio! Entre já em nosso site, inclua os produtos no seu carrinho de compras, copie e cole o código abaixo para obter o desconto: 

47ANOS-COMPRE-MAIS-AQUI-CONOSCO
- (risos)
- Aniversário... Bela merda. Um dia como outro qualquer! Dia em que aqueles que não te procuram o ano todo, ligam com as mesmas frases repetidas (ou então, como dita a moda, deixam uma rápida frase numa rede social on-line)...
- Você gostaria que lhe desejasse o que?
- Nada. É só uma pergunta: por que parabéns? Já pensou nisso?
- Sei lá cara!
- Por que nesse dia?
- Sei lá!... Da mesma forma que o amor é uma coisa muita complexa, o parabéns ou qualquer sinônimo é sinal de carinho...
- Por favor, deixe o amor para lá. Estou falando do tal "dia de aniversário"...
- É um sinal de carinho!
- E por que o sinal de carinho se manifesta só uma vez por ano?
- Uma vez por ano para os outros; eu, sempre quando tenho tempo, ao contrário de você, lhe procuro.
- Eu não procuro ninguém mesmo. Procuro a mim mesmo e olha que já é um grande trabalho. Mas sério: por que o dia de aniversário é tido como um dia muito especial?
- Para mim é um dia especial como todos os outros.
- Se é um dia especial como outro qualquer, por que devemos ligar para as pessoas e dizer "Parabéns"? Desculpe, mas, minha cabeça funciona assim, ela questiona sem esforço.
- Para mim, ainda é um dia que gosto de lembrar, pois há 40, 42, 44, 46, 47 anos você e eu nascemos.
- Não há nada de especial em nascer uma só vez para a existência... O especial está em conseguir nascer pela segunda vez, para a Vida. Aí sim o "parabéns" faria sentido em meio de tanta felicidade adquirida!
- Concordo!
- Veja, acho que essa data coloca uma corrente a mais nas nossas costas. Durante toda a semana ficaram me perguntando: "o que você vai fazer na noite do seu aniversário?"... Fiquei me perguntando por que não me perguntam isso durante o ano todo.
- Você diz que toda vez que conversamos temos assuntos nutritivos, mas, por vezes fico "chateado", por você não me procurar; mas, não tem importância. Não estou lhe cobrando nada. Você é e sempre será uma pessoa importante para mim; adoro seus textos, eles me fazem muito bem!
- Para não ficar chateado, basta não alimentar expectativas!
- ok!
- Não sou de procurar mesmo.
- É uma pena! Vou me lembrar disso! Para mim uma coisa é eu ter discernimento, procurar entender que a sociedade, a cada dia, está doente; outra coisa é se fechar: quero viver a minha Vida, mesmo rodeado de pessoas doentes. Além do mais, no meu dia a dia, não dá para escolher o tempo todo com quem quero dividir ou compartilhar o meu dia.
- Sei, escolhas... Bem, a quem você se refere a estar "fechado"?
- Atualmente voltei a estudar. Tenho um objetivo e por enquanto "preciso" dos meus professores e "colegas" de sala para compartilhar experiências dentro da profissão que escolhi.
- Sei!... E quando delas "não mais PRECISAR"? Vai procurá-las regularmente?
- Se houver empatia, sim!
- Sei!... Se houver empatia... É por isso que prefiro ficar só... Já cansei desse movimento. As pessoas mais te procuram por que esperam ou precisam de algo por meio de você e não por que realmente querem OUVIR ou SABER de você. Isso não me parece muito empático... Elas querem FALAR de si, querem que você saiba SOBRE ELAS, com suas conquistas e realizações passageiras, mas, não demonstram REAL INTERESSE EM SABER SOBRE VOCÊ e sobre o que É REAL. Elas querem falar e falar... Se esquecem que papagaio também fala, não escuta.
- Eu consigo, de vez em quando, ser um mediador, ouvir e ser ouvido, até porque, o curso que escolhi fala mais ou menos sobre isso.
- Que bom! Não é o caso da maioria. Percebo que enquanto falo, as pessoas estão mais ocupadas em retornar ao seu assunto do que no conteúdo daquilo que falo.
- Bem, no meu dia a dia, me sinto só no meio da multidão. Sim, mas preciso trabalhar. Este curso talvez seja "o chamado" (palavras suas, se me permite) que vai me dar possibilidade de fazer o que eu quero e, quem sabe, através das minhas mãos, poder cuidar de pessoas menos favorecidas.
- O que você QUER?
- Em que sentido?
- Você não está prestando atenção no que está dizendo? ..."Que vai me dar possibilidade de fazer o que eu quero"...
- Sim!
- Então, o que você QUER? O que está BUSCANDO?
- Busco por prazer e realização pessoal, dentro de uma determinada profissão.
- E o que você entende por "realização pessoal"?
- Talvez, fazer algo que gosto, talvez... É muito complexo, como o próprio amor...
- Vixi! Deixe o amor para lá...
- Digo amor como exemplo, porque na minha relação com minha esposa, tento descobrir... Prefiro estar com ela do que ficar na "putaria"; isto já não me interessa mais.
- Sei!... Uma "putaria caseira" é mais saudável... E você acha que o amor, pode ter alguma relação com questões de "preferência" ou "escolhas"?... Bem, vamos deixar isso para lá; muito cabeça para uma manhã de sexta feira, véspera de carnaval. Fiquemos com a pergunta inicial: o que significa para você, "realização pessoal"?
- Quanto ao amor e preferência, talvez sim, talvez não. Tento a cada dia aprender algo com o universo...
- Penso que toda "realização pessoal", tem seu prazer momentâneo, este, sempre fadado a frustração entediante. 
- Então, o que você busca, meu velho? 
- Busco pela realização da impessoalidade, me entende?
- Sim! De qualquer forma, lhe desejo um excelente dia, hoje e sempre!... E vou continuar sempre sendo seu admirador. Adoro de verdade o seu blog, mas preciso viver. Hoje estou mais caseiro, mas não pretendo me trancar: sou um cara mais do dia e da natureza.
- Creio que não se pode trancar aquilo que nunca foi aberto, meu caro!
- Gostaria muito que você me procurasse mais, mas vou respeitar a tua escolha e sempre quando é conveniente, tomo a liberdade de indicar o seu blog para pessoas interessantes do meu convívio (são poucas).
- Por que, ao invés de "respeitar minha escolha" não se questiona do porque de eu não lhe procurar mais? Ou quanto ao porque desse desejo de ser procurado?...
- Estou tentando entender a minha vida, as minhas escolhas, quanto menos entender as suas? Sem co-dependencia: eu preciso de pessoas como você, me fazem bem.
- Sei!
- Bem, meu velho, tenho que ir para o curso.
- Então, siga seu curso. Obrigado pela lembrança! Apesar de você não ter me respondido, deixo a pergunta: O que significa para você, "realização pessoal"? Um ótimo dia para você.
- Sinceridade? Eu estou satisfeito com a resposta que lhe dei!
- Sim, esse me parece ser o problema de muitas relações: as pessoas estão somente preocupadas em satisfazer a si mesmas e não nas necessidades do outro. Sua resposta, com todo respeito, não foi capaz de satisfazer a minha linha de raciocínio para a compreensão de seu modo de ver o mundo. Não me fez entender o que você entende por "realização pessoal" e, se não lhe compreendo, não há como existir comunhão... Fica um hiato.
- Se ninguém procura ninguém, também não há comunhão. Valeu! Um excelente dia. Um abraço...
Uma vez escrito isso, meu conhecido, fez-se “off-line”. Ficou um hiato... Não houve tempo para que pudesse explicar que, como um rio, solitário sigo meu curso e que me sinto feliz quando no percurso, me encontro com outras nascentes. Apesar da alegria do encontro, como um rio, não posso ali me deter. Com urgência, busco me dissolver no mar que com certeza, em seu silencio estrondoso, de braços e ouvidos abertos, há muito me espera.

Nelson Jonas

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!