Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 outubro 2009

O falso pelo falso

Ele deixou de ter fé nas drogas quando passou a ter a droga da fé.

Triste fato

Em cada encontro que tenho com meus amigos, aprendo mais a respeito dos problemas e avanços das empresas em que trabalham, do que sobre os problemas tidos na empreita para o avanço no encontro de cada um.

29 outubro 2009

O segredo dos malditos

Arame Farpado
A inquietude ampliou-se no período da tarde e nada de externo parece ter o poder de aliviá-la. Ocorre uma grande dificuldade de manter a mente centrada no presente; ela insiste vaguear em pensamentos desconexos e destituídos de qualquer sentido. A tentativa de manter-se em silêncio desperta os hábitos, ou então, a presença da sonolência.
Sinto que cada minuto amplia ainda mais a já existente falta de identificação com as atuais atividades cotidianas, em especial, aquelas pelas quais mantenho o meu sustento. Sinto uma imperiosa necessidade de resposta e por isso, percebo-me vez por outra rogando internamente aos resquícios da fé em um Poder Maior.
Durante os momentos de silêncio ocorre uma espécie de quentura no centro do peito, dando a impressão que o ar que sai dos pulmões esteja sendo aquecido, o que acaba tornando consciente o movimento da respiração.
O pensamento insiste em vaguear num zig-zag passado-futuro e é na escrita que acabo fazendo um fio-terra. A mente insiste por distração, pelos hábitos. Sinto-me cada vez mais arredio ao contato com pessoas cujas conversas, quase sempre centradas em seus afazeres, problemas ou realizações profissionais, assunto que hoje julgo banais, não nutritivas. Aquelas que, ao contrário, mantém uma postura Polyana, me são ainda mais arredias. Sinto falta do coro dos malditos, dos rebeldes, dos desobedientes. Tenho encontrado leves ecos desse coro em algumas letras musicais, no entanto, raríssimos são aqueles cujo modo de vida parece coadunar com aquilo que outrora escreveram.
Há um forte impulso por abandonar tudo e lançar-me ao mundo, sem destino; uma espécie de fuga inconseqüente, a qual é logo abafada pela voz da razão. Além do mais, sinto que a saída não é bem por aí.
Enquanto escrevo, sinto a quentura aumentar ao mesmo tempo em que a inquietude diminui. Gostaria de poder estar compartilhando uma realidade diferente, no entanto, não há como fugir do que é.
Alguns amigos, inseridos no mesmo processo, me telefonam perguntando pelo sentido de tais sentimentos de vazio, inquietude e solidão e, pela primeira vez na vida, sem o mínimo de vergonha, lhes respondo não saber. A única coisa que sei é aquilo que sinto: necessidade de não fugir de tais sentimentos, perseverar diante dos mesmos em busca de sua totalidade, pois sinto que ali se encerra as sementes de algo original.
Enquanto escrevo, do outro lado da rua, um jovem andarilho, com o olhar colérico grita com o invisível, chamando a atenção dos motoristas e com isso atrapalhando o já lento transito.
No final da página da agenda onde rabisco este texto, uma frase de Tolstoi: “O segredo da felicidade não é fazer sempre o que se quer, mas querer sempre o que se faz”. Talvez seja essa uma das razões do atual estado de infelicidade: além de fazer sempre o que não quero, o que quero se mantém em segredo.

Sobre o Sadismo dos Deuses

Neste infindável deserto, os Deuses parecem se divertir, enquanto em círculos, desidratado espero por água e direção sem contaminação.


28 outubro 2009

Sabe você?

- Filho, seu avô acaba de falecer. O velório será no Cemitério do Horto à partir das 10:00 horas da manhã.
- Sinto muito meu pai, mas não vou.
- Como não vai?
- Não vou!
- Mas é seu avô!
- Sei disso, mas não vou.
- Você é mesmo um insensível!
- Sei disso!
- Se continuar vivendo assim, quando morrer, ninguém irá em seu enterro.
- Sei disso, inclusive eu!... Sinto muito por você ainda não saber disso!...


Funebre exceção

De vez em nunca aparece um assumido insatisfeito como eu... Pena que falecido!....

A vida nos bosques

Thoreau mantinha-se eternamente insatisfeito com a vida na sociedade e com o modo como as pessoas viviam. Há relatos de que visitou aldeias indígenas só com a roupa do corpo, ao contrário de seus contemporâneos, que o faziam com armas em punho.

Em 1845, com 27 anos, Thoreau foi morar no meio da floresta, em um terreno que pertencia a Ralph Waldo Emerson. Às margens do lago Walden construiu sua casinha e um porão para armazenar comida. Apesar de inexperiente como agricultor, tentou a auto-suficiência e, a longo prazo, teve algum sucesso, plantando batatas e produzindo o próprio pão.

Segundo suas próprias palavras, ele foi morar na floresta porque queria “viver deliberadamente”. Queria se “defrontar apenas com os fatos essenciais da existência, em vez de descobrir, à hora da morte, que não tinha vivido”. Em seu período na floresta, ele queria “expulsar o que não fosse vida”.

Baseado no relato e em todo o pensamento filosófico empreendido nos dois anos em que morou na floresta, Thoreau escreveu “Walden ou A vida nos bosques”, uma obra que se tornaria um referencial para a Ecologia e um de seus livros mais famosos. Além de descrever sua estadia na floresta, "Walden" analisa e condena a sociedade capitalista da época. E, convida a uma reflexão sobre um modo de vida simples, propondo novos olhares sobre o conceito de liberdade.

“Fui para os bosques viver de livre vontade,
Para sugar todo o tutano da vida…
Para aniquilar tudo o que não era vida,
E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!”


"Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes".

"Caminhar sem rumo é uma grande arte."

"Somos uma raça de acanhados homens-pássaros e em nossos vôos intelectuais, elevamo-nos pouco mais alto do que as colunas dos jornais diários."

"Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo."

26 outubro 2009

Desejo

Que o Ser que me faz ser, me livre
Da estéril espiritualidade preguiçosa,
Da morna tranqüilidade, isenta de vigor
Vinda dos exercícios de relaxamento esotérico.

Que em contrapartida me brinde
Com a viva calma, receptiva e atuante,
Contrária a inquietude e ansiedade anterior,
Maior dos benefícios do transbordamento etéreo.

25 outubro 2009

Preferência da modernidade

Se para obter
O tal sucesso
O lance é
Se fazer medíocre
Se nivelando
Pelo mais baixo,
Separo,
Não me interesso.
Esse transe
De auto-crime
Vou descartando,
Não me encaixo.
Você pode até
Me chamar de esnobe
Mas sucesso no medíocre
Em pouco tempo, some.

Martas e Marias

SF Centro/SP
Eu me sinto um solitário
Na busca pelo que é do Além
Mesmo os que me são próximos
Assim não O buscam também.

Por quererem a casa limpa
As poeiras lhe tiram bem
Num labor exaustivo, ilógico
Que não desencarde ninguém.

O que buscam, ignoro
Por saber não me fazer bem
Para o que olho, não se importam
Alguns tratam até com desdém.

Em silêncio vou seguindo
Pelas terras de alguém
À espera do Bem-vindo
Cujas poeiras são do Além.

Samba, suor e anfetamina

No carnavalesco dia a dia
Segue o bloco da ilusão
Desfilam máscaras de alegria
Fantasias encobrem a negação.

Ao compasso da escola
Da crença e da tradição
Correm atrás da melhor nota
Confetes de insatisfação.

Emaranhadas serpentinas
De desejos de auto-afirmação
Sobras de sonhos, triste sina
Nos cantos da avenida solidão.

Risos moldados por seringas
Bundas e peitos de silicone
Cada qual com suas mandingas
Para projetar o próprio nome.

Num cortejo bem ensaiado
Em alto som e adrenalina
Todo o medo é camuflado
Altas doses de anfetamina.

Numa organizada ala paga
Na cadência apressada dos apitos
Desviam o olhar de quem lhes traga
A realidade do coro dos proscritos.

24 outubro 2009

Eu não sou um révoltado

Eu não sou um révoltado
O que sou é um févoltado.
Um révoltado tem seu olhar
Embasado no antigamente;
Um févoltado tem seu olhar
No porvir melhor, diferente.
Um révoltado tem o corpo e emoção.
Em permanente embotamento.
Um févoltado tem a mente e coração
Em descondicionante movimento.
Um révoltado é motivado
Na mesmice dos contentes
Um févoltado é inspirado
Por não fugir do diferente.
Um révoltado é pregado
Na autoridade da tradição.
Um févoltado é revigorado
Na realidade da transição.
Um révoltado é um infeliz sofredor
Por ser analfabeto de sua própria dor.
Um févoltado é um feliz sofredor
Por ser desperto no estudo de sua dor.
Um révoltado sempre espera
O mais podre da já podre sociedade.
Um févoltado se desespera
Pela vitalidade de outra realidade.
O révoltado não questiona
É um ponto terminando em velha afirmação.
O févoltado ao velho detona
Com seus dois pontos seguidos de interrogação.



23 outubro 2009

A Chave


Composição: Billy Das Letras

Quando vocês procuram cada vez mais luz
Podem estar ficando cada vez mais cegos
A verdade absoluta que te seduz
É a mesma verdade que eu ainda nego
Enquanto isso Jesus aparece na TV
Prometendo a boa-nova pra você
Enquanto isso Jesus aparece na TV
Cabelos longos, olhos claros pros gringo ver
Religiões que ganham por cabeça
Cansaram de tentar minha degola
Bicho, hoje se aprende na escola
Deus não é mais dez agora Deus é Dollar
Bicho, hoje se aprende na escola
Deus não é mais dez agora Deus é Dollar
Reajo contra todas as convensões
A sociedade burocrática estabelecida
Estou cagando para autoridade nacional
A sacanagem se resume a nossa vida
Por isso bicho eu planto a minha horta
Eu não preciso mais a chave da sua porta
Por isso bicho eu planto a minha horta
Eu não preciso mais a chave da sua porta
Quando vocês procuram cada vez mais luz
Podem estar ficando cada vez mais cegos
A verdade absoluta que te seduz
É a mesma verdade que eu ainda nego
Enquanto isso Jesus aparece na TV
Prometendo a boa-nova pra você
Enquanto isso Jesus aparece na TV
Cabelos longos, olhos claros pros gringo ver
Religiões que ganham por cabeça
Cansaram de tentar minha degola
Bicho, hoje se aprende na escola
Deus não é mais dez agora Deus é Dollar
Bicho, hoje se aprende na escola
Deus não é mais dez agora Deus é Dollar

22 outubro 2009

Engrenagem objetiva

Ele sai prá todo mundo
Batendo continência
Afirmando a alto custo
Servilismo e eficiência.
Ele sai prá todo lado
Com coleiras eletrônicas
Correndo atrás de resultado
Com promessas faraônicas.
E cada vez há menos espaço
Prá quem banca sua liberdade
Sem desistir de seu compasso
Sem vender sua individualidade.
E esse lance de espaço,
Prá muita gente não interessa
Então funcione a largos passos
A engrenagem objetiva apressa.
E ele cada vez mais se assemelha
A uma coisa, a um componente
A um objeto, a um operário
A ser descartado previamente.
E sai por medo todos os dias
Reduzindo sua humanidade
Rastejando a baixo custo
Ao mando de uma autoridade.
E renuncia sua alma,
A sua individualidade
Para não acabar substituído
Por qualquer outra identidade.
Às exigências do sistema
Conforma-se dia a dia
Evitando criar atritos
À custa de sua energia.
E ele sai prá todo mundo
Batendo continência
Afirmando a alto custo
Servilismo e eficiência.
Sem perceber no dia a dia
Abre mão de sua vitalidade
Distanciando-se da Energia
Rumo à mediocridade.

A única coisa indispensável

O peso morto da inércia e da velha consciência
Impede-nos o imergente desafio,
O caminho e a conseqüência,
De realizar em nós a promessa de transcendência.
É preciso transpor as fronteiras da mesmice,
Da lógica analítica conclusiva,
Da fé dogmática ou de qualquer crendice
Não se importando com a oposição dos contentes
E seus comportamentos de vazia tagarelice.
É preciso ousar pelo evento decisivo,
Pela grande e inefável Experiência
Que de fato,
ser humano - propicia.
Pois Ela traz sabor e cor a cada momento
E desvenda os intrincados mistérios da vida
Nunca revelados pela ação do pensamento.
É preciso para isso, aceitar a dor
Que a Ela nos torna receptivos
E que em si mesma encerra,
As sementes da real integridade.
É senti-la como a única coisa indispensável
Uma vez visto que o resto é grotesca banalidade.

20 outubro 2009

Aos mestres contestadores

Não mais me desaponta
O que anônimos e
Declarados inimigos
Dizem a meu respeito.
O que levo em conta
É o que trago comigo:
A voz do íntimo inimigo
Alojado em meu peito.
...........................................
Ilustração: Orlando Pedroso

19 outubro 2009

Conceitos

Pelo substantivo
Não mais me interesso.
Busco a mim expresso
O Sujeito Ativo.
Muito menos me contento
Com formulação de idéias,
Apreciação ou julgamento.
E, sem faltar com o devido respeito,
A respeito de Deus, não mais aceito
Por mais que direito
Qualquer conceito.
.........................

Sempre que tentamos encerrar o inexplicável dentro de uma imagem ou de um conceito abstrato, estamos na realidade tentando subjugar o seu significado existencial, dotando-o de um sentido tranquilizador, familiar e concreto. - Karlfried Graf Dürckheim

Diário de Bardo


A tarde está se encerrando juntamente com a segunda xícara de chá. A dor deixou a região lombar e se apresenta insuportavelmente forte entre os nervos abaixo da clavícula esquerda e as vértebras próximas ao pescoço. Não se apresentou nenhum serviço, o que mais soou como uma benção, uma vez que neste estado, somando a acentuada insatisfação, não há como ser viço. Durante o dia surgiram momentos de extrema vontade de sair de dentro de mim, como se assim fosse possível. A inquietude chegou a um nível nunca antes sentido. Ocorreram também os mesmos impulsos em buscar alivio nos caminhos já percorridos e, o fato de a eles não recorrer, fez aumentar ainda mais a inquietude interior deste segundo dia chuvoso de horário de verão. Sob o olhar atento de meu cachorro, deparei-me por várias vezes andando de um lado para o outro da sala, na expectativa de sei lá o que. Tento encontrar uma resposta lógica para este momento de profundo deserto, algo que supere em muito este sentimento de desperdício, não de tempo, mas de vida.


Ninguém para atravessar o deserto

Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a se bombardear de telefonemas, mensagens escritas, e-mails e contatos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, se contatam, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, se expõem logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e atuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, "leves", disponíveis, sensíveis e interessantes. E por isso é que vivem esta estranha vida: porque, muito embora julguem poder ter o mundo aos pés, não agüentam nem um dia de solidão. Eis porque já não há ninguém para atravessar o deserto. Ninguém capaz de enfrentar toda aquela solidão.

Tudo o que se diz de desnecessário é estúpido, é um sinal destes tempos estúpidos em que falamos mais do que entendemos. No deserto, não há muito a dizer: o olhar cega e impõe o silêncio.

Miguel Souza – do livro “O teu deserto”

16 outubro 2009

Uma gota d'água no deserto

Deserto...
Solitário e árido lugar de encontro consigo mesmo e com a fragilidade que nos torna humanos.
Lugar de amadurecimento, de sustentação de convicções e valores intrínsecos.
Deserto é aprendizado interior através do descarte das inúteis promessas de consolações exteriores, que por anos nos mantiveram medíocres.
É a expectativa diária por uma luz interna que proporcione equilíbrio, direção e sentido; é confronto e perseverança na espera deste milagre.
É período de descoberta da paciência, ânimo, confiança e coragem em si mesmo.
É tempo de reconciliação com o silêncio e a capacidade pelo não-fazer, apenas sendo.
É momento de desprendimento e de restauração da essencialidade através da desilusão benfazeja.
É tempo de recusa a frivolidade genérica, ao oportunismo temporal, aos antigos valores espirituais de terceiros e de uma profunda ânsia de saber per si.
É um sublime momento de lançar ao chão, máscaras e mochilas de intimas quinquilharias que só nos causam desnecessário peso, dor e suor.
É tempo de renúncia às débeis paixões e aos inconscientes impulsos dos instintos.
Tempo de experienciar na pele os cortantes e contrários ventos do ostracismo soprados pelas bocas que nos são próximas e queridas.
Tempo de descoberta de verdadeiros amigos, desmascaramento dos falsos e estabelecimento de íntegros relacionamentos nutritivos.
Deserto é oportunidade de substancial evolução por meio de profundas e alucinantes reflexões em momentos de silêncio e quietude e, através delas, ser capaz de florescer em meio à escassez.
O resto...
É pura miragem.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

15 outubro 2009

Grandes são os desertos


Grandes são os desertos, e tudo é deserto
Álvaro de Campos

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto
Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.
Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes
Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,
Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu.
Grandes são os desertos, minha alma!
Grandes são os desertos.
Não tirei bilhete para a vida,
Errei a porta do sentimento,
Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
Senão saber isto:
Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
Grande é a vida, e não vale a pena haver vida,
Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
Acendo o cigarro para adiar a viagem,
Para adiar todas as viagens.
Para adiar o universo inteiro.
Volta amanhã, realidade!
Basta por hoje, gentes!
Adia-te, presente absoluto!
Mais vale não ser que ser assim.
Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito.
Mas tenho que arrumar mala,
Tenho por força que arrumar a mala,
A mala.
Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino.
Tenho que arrumar a mala de ser.
Tenho que existir a arrumar malas.
A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
Sei só que tenho que arrumar a mala,
E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci.
Ergo-me de repente todos os Césares.
Vou definitivamente arrumar a mala.
Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;
Hei de vê-la levar de aqui,
Hei de existir independentemente dela.
Grandes são os desertos e tudo é deserto,
Salvo erro, naturalmente.
Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado!
Mais vale arrumar a mala.
Fim.

O Deserto - Mariza


Deserto
Império do Sol
Tão perto
Império do Sol
Prova dos nove
Da solidão
Cega miragem
Largo clarão
Livre prisão
Sem a menor aragem
Sem a menor aragem
Que grande mar
De ondas paradas
Que grande areal
De formas veladas
Vitória do espaço
Imensidão
Ponto de fuga
Ampliação
Livre prisão
Anfitrião selvagem
Anfitrião selvagem
No deserto
Ouço o fundo da alma
E, se a areia está calma,
O bater do coração
É que tanto deserto
Tão de repente
Faz-me pensar
Que o deserto sou eu
Se não me vieres buscar

Pai nosso dos tempos modernos

Pai Nosso que estais nos Céus,
Bem remunerados sejamos pelo uso do vosso Nome,
Venha a nós o vo$$o Reino,
Seja feita a nossa vontade
Assim na terra como no Shopping.
O supérfluo nosso de cada dia nos dai hoje,
Perdoai as nossas explorações
Levando em conta
O quanto temos sido explorados
E nos deixeis distrair com a tentação,
Mas livrai-nos do Mal.

O que estamos buscando?

Eis o que vi quando me pus a considerar grande parte das minhas atividades:
busca de distração para este vazio que não passa; para ele não há solução debaixo do sol.

14 outubro 2009

Os problemas de ser amigo

Amigas
Dizem que amigo sincero é aquele que mostra seus erros e o ajuda a vencê-los e não aquele que os esconde somente para satisfazê-lo, permitindo que você viva em um mundo de auto-enganos. Por acreditar nisso é que assino embaixo.


O que se esqueceu de dizer é que, uma vez expressa a sinceridade do que vemos e sentimos, o que se dizia ser amizade quase sempre desaparece feito bolha de sabão.


O que fazer então? Com um sorriso amarelo no rosto fazer parte dos intrincados jogos de mentiras, fingindo acreditar nas historinhas que as pessoas contam para si mesmas? Compactuar para não se ver só?


Se ao menos as pessoas escutassem aquilo que dizem... Talvez o problema delas esteja no fato de que aquilo que elas realmente são ecoar tão alto que elas mal podem ouvir aquilo que, por vezes, acanhadamente dizem.

O problema é que é difícil ter amigos quando se aprende a difícil arte de escutar.

Mergulhar no fundo de nosso ser

Não perdemos nada. Deus não está perdido, portanto não pode ser encontrado.
Nós apenas nos esquecemos; é só uma questão de lembrarmos. Está lá, no centro de nosso ser.
Chame isso de verdade, Deus, felicidade, beleza: todas essas coisas indicam o mesmo fenômeno. Há algo eterno em nosso ser, algo imortal, algo divino.
Tudo o que temos a fazer é ir fundo, mergulhar no fundo de nosso ser e ver, perceber, reconhecer.
Portanto, a jornada não é exatamente uma jornada. Não vamos a lugar algum. Só temos de nos sentar em silêncio e ser.

Osho, em "Meditações Para o Dia"

..................................

Parece fácil não é?
Já tentou?... Duvido que você consiga esse sentar em silêncio por apenas 10 minutos que seja...
A mente não deixa.
O corpo não deixa.
O telefone não deixa.
A campainha não deixa.
Seja lá o que for, não deixa.
Se não acredita, então, faça o teste gratuito.
Se conseguir, me diga.
Se não conseguir, continue a sofrer silenciosamente com suas rotineiras mazelas.

Bem haja!

Nelson Jonas

13 outubro 2009

O ilusório sonho da casa própria

Sábado a noitinha, recebemos um casal de amigos que não víamos há mais de mês. Eles, chegaram trazendo consigo, como de costume, um pote com deliciosa canjica. Juntos conversamos na sala por alguns minutos e logo, as mulheres se dirigiram para a cozinha, onde mais a vontade, colocaram suas conversas em dia. Enquanto isso, nós homens conversávamos sobre a faculdade e o modo atirado e inibidor de algumas mulheres, a exploração profissional que se vê na escala hierárquica da empresa da qual meu amigo faz parte e como venho abrindo mão dos relacionamentos profissionais vampirescos. Em determinado momento da conversa, meu amigo perguntou-me:

- Você já ouviu falar do Programa “Minha casa, minha Vida”?

De cara o título do “Programa” já me chamou atenção, não pela proposta em si, mas sim, pela sagacidade do apelo publicitário que passa desapercebido pela miopia popular condicionada pelo sonho da casa própria. Ainda pensando no teor da sagacidade marqueteira, respondi:

- Nunca ouvi falar disso!

- É um Programa do Governo; nunca existiu nada igual. É uma excelente oportunidade de investimento, só que você não pode ter nenhuma divida em seu nome. Funciona mais ou menos assim, o Governo financia de cara R$23.000,00 para você poder comprar a casa de sua escolha. E detalhe: não tem nada a ver com esses antigos projetos tipo “Singapura”. Estávamos tentando fazer no meu nome, mas não deu certo por causa da pensão alimentícia. Você mora de aluguel, não mora?

- Sim!

- Então, Nelsão, por que você não tenta? É uma excelente oportunidade de vocês saírem do aluguel! Quanto você paga nesta casa?

- R$600,00, mais o IPTU.

- Já dá para pagar a prestação do financiamento. E tem mais: as parcelas são com valores decrescentes... Nunca se viu nada igual em termos de financiamento; nenhum Governo anterior fez algo se quer parecido.

- Não tenho a mínima inclinação e nem interesse por uma casa própria. Não estou buscando por isso.

Minha resposta caiu feito balde gelado sobre a conversa. No ar, o silêncio similar ao momento em que o ator esquece o roteiro da peça. Percebendo a situação, polidamente voltei ao assunto pedindo para que ele me falasse um pouco mais. Ele de pronto, voltou a falar do assunto com o mesmo entusiasmo. Enquanto explanava sobre o assunto, nossas esposas voltaram a se juntar conosco. A conversa continuou por um bom tempo em torno do assunto “casa própria” e moradia. Com atenção acompanhei a idéia por eles passada do alcance de um modo de vida mais equilibrado na segurança de uma cidade interiorana próxima à capital. No entanto, não pude deixar de colocar meu ponto de vista de achar ilusória essa idéia de se obter “segurança” numa “casa própria” ou mesmo na fuga para uma cidade do interior. Uma vez dito isto, aproveitei para tocar no assunto da “insatisfação”, uma vez que esta amiga, antes de entrar neste relacionamento, vivia dizendo com muita propriedade a respeito de sua insatisfação existêncial. Falei em bom tom sobre o processo que venho atravessando de encarar a insatisfação de frente, evitando não me entregar a qualquer tipo de distração socialmente aceita para evitar seu decorrente mal-estar. Eles me ouviram atentamente, mas com olhar demonstrando espanto, olhar este também percebido por minha esposa. Contrariando as nossas expectativas, não ouve da parte deles, nenhum retorno característico da identificação com o tema "insatisfação". Uma vez percebido isto, tratei de silenciar-me e deixar que outro assunto surgisse no ar, enquanto o velho e conhecido sentimento de solidão tomou-me por completo. E assim foi até o findar da visita.

Minutos depois, enquanto Deca ao meu lado no sofá dormia, em minha mente, como de costume, vários e vários questionamentos...

Onde estão as pessoas assumidamente insatisfeitas como eu?

Onde estão as pessoas que buscam pelo Real Amor dentro de sua “casa interior” e não esse “pseudo-amor parental” propagado socialmente?

Onde estão as pessoas preocupadas em conseguir as "chaves" para abrir a “porta de suas mentes” e conseqüentemente de seus corações?

Onde estão as pessoas que não mais se iludem com “sonhos de segurança” em transitórias “conquistas materiais”?

Onde estão as pessoas preocupadas com a descoberta da real vocação, ao invés da conformação a um emprego que não amam e a um curso superior qualquer devido a pressão da empresa na qual trabalham feito escravos?

Onde estão as pessoas que não mais se iludem com as promessas de bem-estar vendidas através dos apelos consumistas movidos pelos "brancos sorrisos de Phototoshop" das campanhas publicitárias?

Onde estão às pessoas realmente interessadas em “buscar em primeiro lugar o Reino de Deus”, sem o egocêntrico interesse de garantir o que realmente buscam: “resto” acrescentado?

Onde estão as pessoas que entenderam o significado da palavra “resto”?

Onde estão as pessoas que realmente investem na aquisição de uma "mente própria" e não numa mente formatada de segunda mão?

Será que essas pessoas existem?

A falta de respostas para estas perguntas trouxeram-me a boca o gosto amargo dos momentos de solidão, o qual de forma consciente tentei aplacar com uma aquecida xícara da canjica amorosamente trazida pelo casal de amigos.

..............................

Foto:www.fagondesimoveis.com.br/minhacasa/minha-casa-minha-vida.jpg

12 outubro 2009

Paranóico



Paranóico

Terminei com a minha mulher
Pois ela não podia me ajudar com a minha mente
As pessoas pensam que estou louco
Pois estou olhando com ira o tempo todo
Durante o dia todo eu penso em coisas
Mas nada parece me satisfazer
Acho que vou perder minha cabeça
Se eu não encontrar alguma coisa para me acalmar
Você pode me ajudar? Ocupar o meu cérebro? Oh Yeah

Preciso de alguém para me mostrar
As coisas na vida que eu não consigo encontrar
Eu não consigo ver as coisas que trazem a verdadeira felicidade
Eu devo estar cego

Faça uma piada e eu darei um suspiro
E você rirá e eu chorarei
Felicidade, eu não consigo senti-la
Assim como amar para mim é tão irreal

E para você ouve essas palavras
Que dizem para você agora o meu estado
Eu digo a você que desfrute a vida
Eu queria poder mas é tarde demais

10 outubro 2009

Sobre o Orkut

A meu ver o Orkut é um dos atuais mecanismos onde se pode bisbilhotar a vida alheia, alimentar o ego com controvérsias em comunidades medíocres, manter relacionamentos pra lá de superficiais e rememorar o passado enquanto se foge de um presente vazio.

09 outubro 2009

Mantendo distância

Nas estradas da esperteza
Das quais ele pensa ser rei
Digo delas, com certeza
Já estive e jamais voltarei.
Nelas, por isso,
Não mais caio.

Desabafando via MSN

- Bom dia Nega!

- Bom dia, Né!

- Como você está? Levou os biscoitinhos de avelã?

- Estou que nem a piada do papagaio... "to aqui ué". Sim, trouxe-os, vou comê-los a tardinha.

- Melhorou o inchaço dos olhos?

- Sim, melhorou... Só a cabeça não melhora!

- Minha coluna quase que não me deixa sair da cama... Já não bastasse o vazio do momento...

- Jura? É, não é fácil!

- Estou aqui sem a mínima vontade de dar continuidade aos trabalhos que tenho para fazer e o telefone não para de tocar com mais e mais propostas para os mesmos tipos de atividades que já não me dizem nada; são as mesmas cobranças aceleradas por parte dos clientes.

- Sei muito bem como é!

- Sempre a mesma história de querer a coisa prá ontem, pagando só daqui um mês e com os preços de um século atrás.

- É fogo, só exploração!

- Sim, sempre a mesma choradeira, a mesma tentativa de acobertar a exploração com promessas de melhoras num futuro na "Terra do Nunca"... Não existe o mínimo sinal de valorização pessoal... O foda é que já não estou mais tento paciência, muito menos boa vontade de continuar mantendo estes relacionamentos comerciais vampirescos.

- Lhe compreendo perfeitamente!

- É sempre a mesma história: o outro acumulando cada vez mais e você apenas se mantendo de forma espremida, sem a possibilidade de melhorar as próprias condições existenciais.

- Não pense que por aqui a coisa é diferente, você sabe bem a minha realidade!

- Fora essa parte profissional e financeira, vem o que mais me pega que é essa falta de sentido na existência... Acordar todos os dias sem ver um sentido real, sem algo que produza energia interna, que seja energia pura, que seja realmente útil e com sentido tanto para mim quanto para os outros. Sinto-me vivendo dentro de uma superficialidade prá lá de medíocre.

- Faço meus os seus sentimentos.

- Minha vida com meus irmãos é superficial. Minha vida com meus "colegas" é prá lá de superficial. Minha vida profissional é superficial; minhas atividades são superficiais. Tudo que olho sinto como superficial e não consigo sentir nada com substância. Só vejo mecanismos criados pelo sistema, pela rede do pensamento, que servem tão somente para nos distrair, para nos afastar desse mal estar, desse sentimento de incompletude que me acompanha desde a mais tenra idade. Isso me faz crer que todas as pessoas insistem num modo de vida apressado, por que na pressa não sobra tempo para se depararem com seus reais sentimentos...

- Bem provável!

- Percebo com todas as células do meu corpo, a falta de sentido de dar continuidade em tentar achar no externo, algo que sinto ter que vir do interno. Só que lá no fundo, ainda existe uma forte tendência de querer buscar no externo... É como um vicio: difícil de largar!...

- Sei!

- Olho para os livros e nada... Ontem, depois que sai dos exames médicos no A.C. Camargo, caminhei pela Avenida Paulista em baixo daquela forte garoa e não consegui sentir nada, não consegui ver nada que me chamasse atenção. Fui até a Livraria Cultura, como fiz várias e várias vezes em momentos críticos da minha vida onde corri atrás de respostas nos livros. Fiquei no primeiro andar daquela imensa loja, sentado numa confortável poltrona, vendo aquela imensidão de livros sem que ao menos um deles me chamasse atenção. Pilhas e pilhas de livros voltados para marketing, publicidade e estratégia de vendas... Uma sessão de livros de auto-ajuda que em nada ajudam e outra de religião... Nada! Olhar para tudo aquilo e não ver nada só fez aumentar ainda mais o imenso vazio que trago comigo.

- Imagino.

- Ao sair de lá, parei por alguns minutos na calçada da Avenida Paulista e fiquei olhando as pessoas, a grande maioria acelerada, carrancuda, com o olhar voltado para o chão. O trânsito parado devido a forte garoa. Minutos depois peguei o ônibus Mandaqui. Dois ou três pontos a diante, no banco de trás, um senhor começou a discutir em voz alta com um jovem que carregava um enorme pacote, o qual havia esbarrado na perna do velhinho. O rapaz se desculpou, mas o velho não aceitou as desculpas e continuou a falar um monte para o mesmo. Testemunhando aquilo, peguei minha agendinha de apontamentos e escrevi meus sentimentos:

Que a Grande Vida não permita
Eu chegar à terceira idade
Sem conter em grande medida
Amor, ternura e piedade.

O rapaz, percebendo que o velho não se calaria, de lá saiu vindo sentar-se ao meu lado. Com o olhar sem graça começou a justificar o ocorrido. Com o intuito de acalmá-lo, li para ele o que havia escrito. Ele sorriu. Completei dizendo-lhe que essas pessoas são nossos professores de paciência e tolerância e que se não olharmos bem para nós mesmos, corremos o risco de ser como eles, antes mesmo da terceira idade. Ele sorriu novamente e silenciou-se até alguns pontos antes do final. Já no bairro, decide passar nas Casas Americanas para ver se encontrava algum filme interessante: nada. Já na saída diante das enormes prateleiras de chocolate com ótimos preços: nada. Os pacotes de batatas Springs também chamaram momentaneamente minha atenção... Nada. Minutos depois estava em casa e, novamente, nada.

- Sei!

- Liguei a TV... Nada. Liguei a NET... Nada. E de nada em nada, fui vendo mais um dia passar aumentando meu acumulo de nadas. E agora, depois de uma enorme surra dos “nadas matinais”, me rendi a este desabafo via MSN... Uma maneira de me distrair um pouco e ocupar o meu tempo. Fico aqui me perguntando: qual o sentido de ter que ficar a procura de atividades para encobrir estes sentimentos de mesmice, rotina, mediocridade e falta de sentido?... Não consigo entender essa espécie de "alergia" às atividades que se apresentam, principalmente as profissionais. Sei que várias pessoas gostariam de estar em meu lugar: trabalhar em casa, poder levantar a hora que quer, ir e vir quando bem quer, ter atividades comerciais onde faço o valor do salário delas em apenas um ou dois dias. Sei que se eu quisesse poderia fazer um montante financeiro mensal de causar inveja em muita gente, mas, no entanto, não sinto a menor inclinação para isso. Já me questionei se é preguiça, vagabundagem ou sei lá o que; no entanto, sinto que não é nada disso. Só sei que não me plenifica, não me faz sentido algum. Procuro apenas garantir o necessário valor para as minhas despesas e olha lá!

- Compreendo!

- As promessas de grandes serviços e de grandes resultados financeiros já não me atraem em nada, ao contrário, tornam-se um peso, um verdadeiro asco. Grandes projetos dentro daquilo que hoje tenho que exercer para custear a minha existência fazem meus músculos ficarem tensos. O corpo fala, não tem jeito de mentir para ele. Ele recusa. Mas aí vem o conflito: Já sei o que não quero fazer, mas como saber o que preciso fazer para ter o mínimo da existência garantida com dignidade e satisfação? E novamente... Nada! Nada de respostas... E o relógio continua seu movimento...

- Sei perfeitamente do que você está falando.

- O telefone toca e a espinha treme. Olho para a prateleira e vejo aquele enorme pacote com nossos cartões e não sinto o mínimo sentido em distribuí-los. E novamente me pergunto: o que fazer? E aí me lembro de Arnaldo Antunes:

Socorro, não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir
Socorro, alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor nem dor
Já não sinto nada
Socorro, alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos, deve ter algum que sirva
Socorro, alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento,
Acostamento,
Encruzilhada...

- Pois é: não faz sentido chorar e nem rir.. É assim que me sinto: numa encruzilhada! Ao centro dela, em silêncio olho para seus quatro cantos e me vem o sentimento de que em qualquer direção que eu vá, já estive ali mil vezes antes... Pode lhe parecer estranho, mas sinto que a saída só pode vir do alto. Então me pergunto: o que pode me tirar desta encruzilhada?... E mais uma vez... Não vejo nada.. Nega?.... Nega? Já sei, o patrão está aí do lado... Vou desconectar! Um beijo!


07 outubro 2009

Paralamas Parafraseados

Os Livros na estante
Já não têm mais a substância
O muito que li,
O pouco que sei,
Não me interessa

A não ser,
A vontade de despertar
Num sentido que eu nem sei,
Em que valha a pena ficar,
Acordado,
E viver com bom gosto

O que é a Verdade e o Amor
O que é a Verdade e o Amor

A noite eu me deito,
Esperando amanhã encontrar
Algo além do marasmo
E da mesmice
Que me roubam o ar

E me vem
A vontade de despertar
Num sentido que eu nem sei,
Em que valha a pena ficar,
Acordado,
E viver com bom gosto

O que é a Verdade e o Amor
O que é a Verdade e o Amor.

E entediado
Eu me vejo
Com os pés na terra
E olhando aos lados
Nada me toca
Nem me faz vibrar

A não ser,
A vontade de despertar
Num sentido que eu nem sei,
Em que valha a pena ficar,
Acordado,
E viver com bom gosto

O que é a Verdade e o amor
O que é a Verdade e o amor

Salve o Planeta

A moderna sociedade industrial é uma religião fanática. Estamos derrubando, envenenando e destruindo todos os sistemas vivos do planeta. Estamos assumindo dívidas que nossos filhos não poderão pagar... Agimos como se fôssemos a última geração do planeta. Sem uma mudança radical no coração, na mente, na visão, a Terra se extinguirá como Vênus, calcinada e morta.

José Antonio Lutzenberger, citado no Sunday Times

04 outubro 2009

Continuo sendo um VIP

Hoje está se mostrando um verdadeiro domingo de testes...
Mal havia terminado de postar o texto “Deturpando o Aviso de Miranda”, ouço o som característico de nova mensagem em minha caixa de e-mails, a qual tinha como título: “Convite Personalíssimo” (desconfiei logo de cara). A mesma tinha em seu cabeçário, uma bonita imagem espacial com alguns recursos de Photoshop. Tratava-se de um convite de filiação a uma determinada ordem. Transcrevo abaixo partes do tal convite, bem como a minha resposta.
.....................................................


CONVITE PERSONALÍSSIMO


Talvez você estranhe este convite tão singular mas, creia ou não, por você ser uma pessoa especial, livre pensadora e diferente das massas alienadas (e você sabe disso), estamos lhe convidando a participar dos estudos e prática de Ensinamentos com bases Científicas, relacionados com a evolução e o desenvolvimento da Mente Humana, que recebemos de Seres Espaciais Irmãos em missão de ajuda à Terra e à Humanidade.
Sua INICIAÇÃO NO PLANO DO MENTAL, lhe proporcionará uma extraordinária expansão nos limites de Consciência, Conhecimentos e Evolução Mental, abrindo-lhe as Portas das suas FORÇAS INTERIORES LATENTES e das FORÇAS DA NATUREZA PLANETÁRIA. Isto requer grande SENSO DE RESPONSABILIDADE e ESPÍRITO HUMANITÁRIO, pois você será elevado à condição de ADEPTO, de um AUTÊNTICO MAGO BRANCO, com total domínio sobre a Matéria e as Emoções, em seu benefício e de toda a Humanidade, como já ocorreu num passado remoto com os povos Atlantinos; ELES também receberam estes conhecimentos dos Irmãos do Espaço, mas não tiveram Consciência Humanística suficiente para aplicar os poderes adquiridos apenas para o BEM, o que levou ao afundamento do Continente no Oceano Atlântico.
Você será instruído com fundamento num vasto acervo de conhecimentos acumulado durante mais de 30 anos por um brasileiro que conviveu com Seres Espaciais Irmãos na Cordilheira dos Andes e assumiu o compromisso de divulgar a todos os terrestres o que lhe foi confiado; são revelações e ensinamentos de seu maior interesse e de toda a humanidade. Este assumiu o compromisso de formar um grupo de pessoas para a execução de um PROGRAMA DE AÇÕES MENTAIS conjuntas com os Espaciais, em benefício da nossa evolução e da solução dos graves problemas que afligem a atual civilização, nos colocando à beira do colapso planetário e da extinção da espécie humana.
Se está sentindo algo de bom vibrar dentro de você com as nossas palavras, se elas encontram eco em seu íntimo, se de alguma forma você sente que já tinha conhecimento e esperava por este convite, poderá visitar o nosso site para nos conhecer melhor e a nossa proposta, e depois, se quiser, juntar-se a nós ingressando na “tal Ordem”, através do preenchimento do formulário existente no site.
Está surpreso por lhe conhecermos no mais íntimo do seu SER? E por estarmos lhe convidando justamente agora em que está mais necessitando? E como foi que o encontramos? Pois fique tranqüilo, Irmão, e alegre-se, pois no Plano em que atuamos (Mental), não há segredos, limites, tempo e nem distâncias... Tudo é possível e você terá as respostas no seu devido tempo!
Será uma grande honra e alegria recebê-lo entre nós; no entanto, se duvida das nossas palavras, se elas lhe parecem fantasiosas, estranhas ou apenas marketing; ou ainda, se não se sente motivado a se unir a nós e à nossa causa, é porque ainda não chegou o seu momento e é melhor que fique à margem.
.............................
Então, a minha resposta:

Convite Personalíssimo...... Personalíssimo????.....
Hummm! Não sei não!...
Já começamos mal!
Pensei que “Personalíssimo” fosse um dos tão característicos e ambicionados rótulos separatistas do ego, desses do tipo “VIP – very important person”.
No entanto, agradeço pelo “singular” convite, mas, tenho como princípio não mais me filiar, apoiar ou financiar qualquer tipo de grupo.
Prefiro à margem caminhar só.
Sinto lhe informar que seu convite não fez eco em meu ser.
Tudo de bom!

Nelson Jonas
................................................
Depois de enviar minha resposta, com o intuito de conhecer um pouco do$ princípio$ e valore$ de tal Ordem, em visita ao seu site, sem nenhuma surpresa deparei-me com o seguinte avi$o de filiação...

ATENÇÃO

Para se filiar à Ordem, obter informações e/ou tirar as suas dúvidas, favor preencher o formulário. Teremos o máximo prazer em atendê-lo(a) e os seus questionamentos serão respondidos o mais brevemente possível.

Lembramos mais uma vez que a participação em nossa ORDEM deve ser livre e espontânea; não exigimos juramentos; não praticamos seleção de interessados quanto à raça, cor, credo religioso, convicções políticas, poder econômico, intelectualidade, cultura, sexo ou aspecto físico, pois não nos consideramos com o direito de estabelecer julgamentos visando a seleção de complexos individuais.

Você poderá se desligar da Ordem em qualquer tempo, independente de qualquer justificativa; sua saída será considerada uma questão de foro íntimo.

Mensalidades e obrigações financeiras: A primeira mensalidade, no valor de R$25,00, você deverá efetuar tão logo o seu pedido de filiação seja aceito pela Direção Geral da Ordem, o que lhe será comunicado em poucos dias por e-mail, acompanhado de boleto bancário (é claro!) para pagamento da referida mensalidade inicial. À partir do mês seguinte, você continuará pagando as suas mensalidades (no mesmo valor) para manutenção da entidade e para custear as remessas postais que lhe serão enviadas mensalmente; esses pagamentos devem ocorrer até o dia 05 de cada mês e as remessas serão postadas no correio até o dia 15 do mesmo.

Para efetuar o pagamento de qualquer contribuição, você receberá boletos bancários da Caixa Econômica Federal, que devem ser pagos via Internet Banking ou em qualquer Casa Lotérica do Brasil.
......................................

Cada uma!
É por essas e outras que cada dia mais prefiro de bom grado ser um anônimo marginalizado VIP:
Very Inadequate Person


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!