Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 janeiro 2012

Compreensão é a palavra

Para mim, não há como aceitar qualquer religião ou sistema de crença que incentive qualquer tipo de guerra ou resistência causadora de conflito, seja a algo interno ou externo, uma vez que a guerra ou resistência é a antítese do amor e compaixão, que em última análise me parece ser a essência da síntese da verdadeira experiência religiosa que à tudo e à todos abarca e congrega em perfeita comunhão. Em meu coração, "COMPREENSÃO" é a palavra que traz "a outra face" que nos liberta de qualquer forma de conflito.

(em resposta ao vídeo de John Piper, intitulado "Faça a Guerra", que me foi enviado por um amigo)

Constatações sobre concepção


Para muitos, a concepção de um filho é uma forma de droga socialmente aceita para anestesiar o sofrimento causado pela falta de compreensão de si mesmo e a consequente vida sem sentido. Para outros, um acidente de percurso ou o seguro da manutenção de conveniências egocêntricas. Para raros, um transbordamento de amor, fruto de um real encontro.

A compreensão do "eu" - parte 2

Sem a total compreensão do "eu", qualquer ação que busque por mudanças nas situações externas, só pode acarretar em mais conflito e confusão, uma vez que, mudança não é o mesmo que mutação. Na ação que busca por mudança — o que na realidade não é ação, mas sim, ré-ação — os resultados não podem ser muito diferentes dos conflituosos resultados já instalados, uma vez que as bases do "eu" é que sustentam, de forma abalada devido a constante presença do medo, os pilares da mudança. Só na compreensão do "eu" se opera uma mutação real e instantânea, uma vez que, na compreensão do "eu", toda manifestação de medo deixa de existir e, só quando a mente está livre do medo, se torna possível o vivenciar de um estado de ser cujas bases sejam o amor, a felicidade e a consequente liberdade. As mudanças podem trazer um alívio momentâneo, mas nunca a excelência do ser. Sem a profunda e instantânea compreensão do "eu", qualquer forma de mudança implicará numa espiral sem fim de mudanças sempre conflituosas. Mudança implica em reforma e, como a própria palavra indica, são ajustamentos à formas pré-estabelecidas, que falseiam o original. No contato com o estado original sem "eu" é que pode se manifestar a mutação que proporciona a verdadeira liberdade da mente humana de seu antigo sistema de pensamento e seus consequentes vícios comportamentais. Para o alcance desse estado de liberdade é imperativo a compreensão do "eu" com suas rotineiras exigências, necessidades, desejos, manias e motivações. De nada adianta o sincero desejo de suprimir um determinado desejo, uma vez que, a base desta supressão parte do próprio desejo, o que aponta para um processo de mudança de desejo e não para a compreensão do mecanismo do desejo, bem como da entidade desejante, o "eu". Sem a eliminação da entidade desejante — não pelo esforço, mas pela compreensão — torna-se impossível a manifestação de um estado livre de toda manifestação de ansiedade, medo, insatisfação e da busca por um novo objeto de desejo que traga alívio imediato para toda forma de conflito causado por tais dolorosos sentimentos. 

Constatações sobre a compreensão do "eu"

"Operários", Tarsila do Amaral (1933)

Parece que a maior dificuldade enfrentada por aqueles que buscam pela compreensão do "eu", seja a indiferença parental/social com relação a necessidade de auto-conhecimento amplo e profundo. A maior parte da população está apenas interessada na superficial adaptação à algum conhecimento específico — cujos pilares são a imitação e a entendiante rotina — que lhes assegure a falsa respeitabilidade social, o senso de participação grupal para fins de divertimento, prestigioso e invejado posicionamento numa sociedade corrupta em acelerado estado de decadência. Para a compreensão do "eu" e suas diversas manifestações de medo, um dos primeiros medos a ser compreendido e, — pela compreensão transcendido — é o medo do ostracismo, cujo clamor aponta sempre para o ajustamento, a estagnante domesticação servil e uma vida de superficialidades.

30 janeiro 2012

A compreensão do "eu"

Para a compreensão do "eu", se faz necessário a presença de tremenda energia, energia que só pode ser manifesta através da aplicação de toda atenção, sem que ocorra nenhuma forma de distração, nenhuma forma de desatenção. O "eu", com sua complexa estrutura, só pode ser compreendido quando há atenção completa. Quando ocorre a dispersão, quando ocorre a desatenção, a visão se torna fragmentada e, portanto, incapaz de compreensão que gera a mutação imediata. A compreensão só pode ocorrer quando cessa todo o movimento da mente. 

Para a compreensão do "eu", se faz necessário, de início, perceber a verdade relativa de cada movimento do pensamento e sentimento, assim como sua consequente manifestação de desconforto corporal. Isso só é possível quando em silêncio, em quietude e quando não há a identificação com o constante e imperioso impulso para a fuga do que está ocorrendo, através de algum fator externo.  A compreensão do "eu" só pode ocorrer quando a mente já não está se movendo na ponte do tempo — passado/futuro —, em nenhuma direção determinada, uma vez que, pelo estado de atenção, todas as sugestões de direção são compreendidas e, por serem compreendidas, não se dá o processo de identificação com seus resultantes conflitos que dão continuidade a novas camadas do "eu". Isso só ocorre quando se dá uma escuta atenta, minuciosa e destemida, isenta de qualquer tipo de resistência, escolha ou julgamento ao que se apresenta, momento a momento. Isso precisa ficar bem claro uma vez que a resistência gera a dispersão da energia necessária para o estado de profunda atenção. Qualquer forma de resistência, inevitavelmente produz conflito, dispersão de energia, dispersão esta que distorce e deteriora a percepção dos fatos e, sem a percepção dos fatos, da-se a continuidade ao passado — com seu imenso arquivo de imagens, conceitos, crenças e idéias — as quais retroalimentam as múltiplas camadas do "eu". 

Para a compreensão dessas múltiplas camadas, é preciso dar a devida escuta ao acelerado e reativo fluxo mental, sem a ocorrência da identificação geradora de conflitos, uma vez que o conflito é o alimento do "eu". Em poucas palavras: observação sem a deterioradora identificação. Observar o fluxo mental, os conflitos, as aflições, as frustrações, as compulsões, as somatizações, o desespero; observar completamente os diversos movimentos do "eu" sem que ocorra a identificação com as constantes sugestões de fuga que resultam em perda de energia que, por sua vez, enfraquece e distorce o poder da observação e escuta. Sem que deixe de ocorrer o processo de dispersão de energia, não há como se dar o desembotamento da mente, de todos os condicionamentos a que foi submetida durante o longo processo de estruturação do "eu". Isso implica num estado de ser que, a primeira vista, pode soar como algo fora da realidade: um estado de observação do fluxo mental — que é pensamento — sem que ocorra a interferência do pensamento nesse estado de observação. Isso implica numa mente atenta sem qualquer tipo de reação; atenção a toda ação egocêntrica geradora de conflito, a qual impede a percepção dos fatos, do real. Sem essa percepção, não há como a mente ser livre da intrincada e deformadora rede psicológica do condicionamento social, a qual tem seus alicerces na inveja, na busca de poder, na avidez e no desejo de reconhecimento social. Sem isso, não há como ocorrer a completa compreensão do "eu" e, sem esta compreensão, não há a mínima possibilidade do homem saber, por experiência direta, o real significado para onde apontam as palavras felicidade e liberdade.

A dificuldade de comunhão


Uma das coisas mais difíceis — quando um homem está falando e outro escutando — é o estabelecimento de uma relação correta entre aquele que escuta e aquele que fala. Sem o estabelecimento dessa relação correta não há a mínima possibilidade de se estabelecer a comunhão, comunhão esta que surge somente quando da compreensão direta dos fatos. Quando não há relação correta, quando não há a escuta atenta que leva a compreensão dos fatos, ao invés da comunhão, o que se apresenta é a dispersão criada pela ideação intelectual formadora de imagens e, consequentemente, conflito.

29 janeiro 2012

Intimação

Homem: desperta a ti mesmo!

27 janeiro 2012

Constatações sobre o BBB


Confinados assistindo outros confinados, para se esquecerem do financiado confinamento  auto-aceito.

NJRO

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 4


O pensamento é profundamente fragmentário, separatista, isolacionista. Ele é a raiz de toda forma de conflito, discórdia, desentendimento, discussão, disputa, antagonismo, ódio, crueldade. Qualquer coisa que seja vista, por meio do pensamento, terá o conflito como resultado. Qualquer coisa que seja ouvida por meio do pensamento, não poderá, de fato, ser escutada, uma vez que o pensamento é velho, limitado, condicionado.

O pensamento criou o senso de separatividade dando a ilusória realidade à individualidade e, através da idéia de individualidade, de um "eu" e um "você", deu-se início a toda forma de competição e crueldade. Quando se dá importância psicológica ao pronome, este fragmenta a totalidade, impedindo a comunicação,  que se torna coisa distante, isolada. 

O pensamento é o causador do processo de "escolha", que defende como "livre arbítrio", o qual, obrigatoriamente cria "resistência" que, por sua vez, cria o conflito que retroalimenta o pensamento sustentado na idéia de "eu", do "indivíduo" que tem direitos a escolha e que, por se achar com "direitos", cria o conflito na defesa desses direitos contra outro que se sente como "indivíduo" e que também defende seus direitos antagônicos. 

O pensamento busca por segurança e continuidade nos estreitos limites das possibilidades apontadas pela lógica, pela razão, pelo conhecido, portanto, nunca pode se deparar com o atemporal, com o mundo das infinitas possibilidades. Sua visão é limitada no condicionado, no convencionado, pelo que se encontra no script socialmente aceito. Cada estrutura, com seus fragmentos, com sua particular forma de ambição, de desejo, quando se depara com "outra" estrutura igualmente fragmentada, cria conflito, caos e desordem. Isso é o que o pensamento chama de relação, de relacionamento: uma relação de mentes isentas de realidade; o que chama de relacionamento, na verdade, não passa de ego-conveniência, com breves intervalos de bem estar, causado pela ausência de conflito. Isso ocorre inclusive com aqueles que se encontram como "egos em processo de esclarecimento"; os momentos de bem-estar perduram até que seja suportável a contenção do desejo, da ambição, o que torna possível, momentaneamente, abrir mão da idéia de defesa da "individualidade". Quando, na defesa da idéia de direito de defesa da individualidade, o conflito entre egos se instala. 

Tudo aquilo que o pensamento "pensa" entender, nomeia como realidade e, tudo aquilo que, por não conseguir "pensar" não consegue entender, rotula como sendo absurdo, sendo levianamente descartando por imediato. Sem se aventurar num minucioso e destemido mergulho no que julga absurdo, mantém sua continuidade, sempre nos estreitos limites do conhecido.

NJRO

26 janeiro 2012

A busca de um solo fértil


Há uma necessidade interna de sentido, de ação, de participação no dinâmico e silencioso movimento da vida, a qual provoca uma inquietude diante do estado de não ação que no momento se apresenta. A preocupação com os forçados compromissos financeiros pede por uma ação qualquer, uma ação que resulte no adquirir de um saldo que custeie o necessário, mesmo que essa ação produza conflito interno. Ao mesmo tempo, algo mais profundo pede pelo silêncio e indica que qualquer ação externa que não seja um transbordamento de uma amorosa resposta interna, só poderá ser fonte de constante conflito, tédio e mais insatisfação. A urgência interna por resposta, impele em buscar no externo, no insatisfatório conhecido. No entanto, há também a consciência de que o insatisfatório conhecido não tem como plenificar esse impulso que pede pelo desconhecido; há uma intuição que aponta para o desconhecido e, ao mesmo tempo, o medo, apontando pela busca de segurança no conhecido. Em meio a essa dualidade sem respostas, que impede o apaziguamento do ser, há a consciência do movimento do relógio. Não vejo sentido na adaptação, — como consegue fazer a grande maioria —, à estressante rotina mecânica de um emprego qualquer, destituído de alma, controlada pelo relógio, rotina essa que parece roubar de todos, a liberdade de ação, regida pelo coração. Lá fora, numa leve cadência, a chuva continua a cair sobre o velho embrutecido asfalto e, vencendo a segurança dos cantos das guias que produzem estagnação e a consequente deterioração, a água busca pela natureza de um solo, onde possa se fazer fértil.

NJRO
nj.ro@hotmail.com

25 janeiro 2012

Constatações sobre autoridade


Ninguém gosta de sofrer indevida ação autoritária, no entanto, a maioria adora exercê-la.

NJRO

24 janeiro 2012

Sobre o insatisfatoriamente conhecido


Seja nos breves encontros do apressado cotidiano ou nos prolongados encontros de lazer, os homens disparam a falar repetidos assuntos, em sua maioria, acontecimentos de um passado morto, ou então, fragmentos de suas recentes atividades, cuja superficialidade, — no que diz respeito a revelação da verdade —, nenhuma profundidade ou relevância possui. Esses encontros sustentados com conversas fúteis, por vezes mantidas com entonação de seriedade, em última análise, não passam de uma forma socialmente aceita de auto-engano, com o qual, apenas momentaneamente o homem consegue afastar de si mesmo, bem como dos outros — também destituídos de visão por comungarem do mesmo script social — a enorme superficialidade, o vazio e a ausência de liberdade causada pelas várias formas de medo que governam sua solitária e, na maioria das vezes, enfadonha vida. Estas conversas só servem para a manutenção de uma imagem pessoal, imagem esta construída por décadas e que é totalmente destoante da presente realidade interna. Em consequência, por serem estes encontros, — encontros de idealizadas, comparativas e competitivas imagens —,  da verdadeira e salutar intimidade e comunhão, que abre as portas para a poderosa experiência do amor autêntico, o homem se mantém na ignorância e, dessa forma, cativo do que lhe é  insatisfatoriamente conhecido. 

NJRO

23 janeiro 2012

O auto-engano da respeitabilidade

Apesar da sofisticação tecnológica/material, o homem funciona numa repetição mecânica, dentro do modelo de vida herdado da cultura parental/social. Ao se permitir isso, dá continuidade a esse limitante modo de existir, pautado na busca de  conveniências, que por sua vez, sustentam as mais variadas formas de auto-engano. Isso porque, ao homem, em sua infância, não ouve o incentivo para o livre questionar. Ao contrário, o homem foi sistematicamente incentivado para aparentar ordem em meio da desordem. Se ele é capaz de aparentar ordem em meio da desordem, em seu meio, conquista a respeitabilidade, se tornando uma autoridade, sem perceber que, por meio dessa respeitabilidade, instala-se a estagnação. Se o homem é capaz de aparentar ordem em meio da desordem, passa então a ser visto como uma "pessoa responsável" e, por ser responsável, lhe é facilitado a aquisição de transitoriedades que criam a ilusão de sucesso, através da qual se aprisiona cada vez mais ao embrutecido padrão socialmente estabelecido. 

Então, para proteger suas transitoriedades conquistadas, tão importantes para a manutenção de sua respeitabilidade dentro do grupo a que pertence, o homem elege autoridades, através de pessoas que também aparentam ordem em meio da desordem e, ao fazer isso, dessas autoridades torna-se silencioso, ajustado, e domesticado mantenedor, delas dependentes. E, sem que se perceba, com o passar dos anos, cada vez mais a vida escapa de suas mãos. Ao se permitir isso, o homem abre mão de sua individualidade, aceitando pagar caro para se ver, feito boi amansado e devidamente registrado, como parte do assustado gado, aprisionado dentro do intrincado curral social. 

Desse modo, a repetição do conhecimento do passado, sempre projetado na idéia de futura segurança, rouba do homem a possibilidade de abertura para o estado de insegurança criativa do presente, insegurança essa que parece ser a única forma possível de real segurança e verdadeira ordem. 

NJRO

20 janeiro 2012

Será que vale a pena?


Vale a pena sacrificar a realidade do presente em busca do ideal de uma futura segurança material/psicológica?

Vale a pena em nome desse ideal de segurança futura, de bom grado desintegrar valores internos na busca da consumação e manutenção de pseudos valores externos? 

Vale a pena abrir mão do esclarecedor ócio criador e se conformar em ser mais um dos meros, atarefados e mecânicos copistas, quase sempre destituídos de perguntas fundamentais? 

As tendências hereditárias, a cultura, as constantes influências do ambiente para o ajustamento ao servilismo social e a ignorância da alimentação de ideais é que condicionam a mente e o coração que, uma vez condicionados, sustentam um limitado modo de vida, cujo pano de fundo é feito com as tramas do medo, da ansiedade e da hipocrisia.

NJRO 

18 janeiro 2012

O problema não está fora

Eu desconfio que a única pessoa livre, realmente livre,
é a que não tem medo do ridículo.
Érico Veríssimo

Por vezes é um tanto difícil acreditar numa máxima espiritual que, anos atrás, conheci num grupo de anônimos: “O problema não está em nenhuma circunstância externa, o problema, está em nós”. No entanto, observar essa máxima espiritual, tem me poupado de uma série de antigos conflitos com aqueles com os quais mantenho contato. De fato, para se perceber como parte de um grupo, uma das exigências veladas é não fazer qualquer tipo de questionamento quanto à qualidade ou a validade de seus encontros, bem como quanto a superficialidade das abordagens que neles acontecem. Qualquer questionamento, a julgar pelas experiências vividas, sempre causa melindres, choques de instintos inflados pela ação do ego, choques estes que quando acontecem, por vezes, quase sempre se mostram irreparáveis.

Mas, me parece ser um fato que, uma vida sem profundos questionamentos só pode gerar embotamento, bitolação, preconceitos e uma ignorância sem fim que tem como resultado a enfadonha e rotineira domesticação servil. No entanto, me pergunto: como se ajustar a superficialidade, a trivialidade e a mecanicidade sustentada pela imensa parafernália tecnológica, quando, no mais fundo do ser, algo clama por maior intimidade, verdade e comprometimento? Quando estou farto de carregar minhas máscaras sociais, diante do deserto do real, torna-se difícil esconder o resultante olhar mal humorado. A questão é que, as demais pessoas não podem ser responsabilizadas por essa necessidade pessoal, necessidade essa que não é fruto da escolha, mas que é um fato operante e que não pode ser negligenciado através de qualquer tipo de fuga ou distração momentânea. Ela está aqui e clama por conteúdo emocional nutritivo.

O problema parece ser que, para a grande maioria da população nunca houve um profundo e impactante chacoalhar causado pela Vida. É esse chacoalhar que dá início ao processo de questionamentos e que, uma vez acolhidos com seriedade e paixão, tiram o homem do sonambulismo coletivo que mantém a ajustada, mediana e ilusória forma de existência sem vida em abundância, pautada num otimismo pollyanico superficial e na ansiosa perseguição de finalidades e metas, dentro de um imenso e influenciante universo que lhe rodeia, mas que, aos olhos daqueles que sofreram a dolorosa bem-aventurança do chacoalhar da vida, soam como trivialidades distanciadas de qualquer valor, sentido ou propósito real. Esse bem-aventurado chacoalhar da Vida apresenta um novo paradigma existencial, onde falar a respeito dos autênticos sentimentos e dos possíveis conflitos, ao contrário do modo de existir passado, podem ser abertamente discutidos. Este novo paradigma existencial, permite a capacidade de “pensar em voz alta”, contrariando o antigo e enclausurante abuso social, alimentado pela imensa massa de contentes adultos adulterados adulterantes de que, “roupa suja deve ser lavada em casa”.

O fato é que muitas vezes ainda é profundamente desgastante ficar com aquela cara de paisagem, apenas no estado de observação, no estado de testemunha, prestando atenção em como afeta a situação externa. Não é fácil se deparar com tantos preconceitos herdados da cultura parental/social, com tantas palavrórias repetições de crenças — destituídas de um mínimo senso de reflexão iluminada pela lógica e pela razão —, sem poder se deparar com um mínimo de solo fértil onde sementes da reflexão possam ser compartilhadas.

Em meio de tudo isso, solitariamente, em silêncio surge a pergunta: por que tudo isso causa afetação? Por que a constatação do presente estado de sonambulismo, da superficialidade e dos discursos de assuntos triviais que não levam a nada ainda afetam? Fácil: porque ainda não estou pronto, ainda existem traves na visão e, é por isso que tenho que me manter nesses ambientes com um olho na missa e o outro no interno padre do ego que quer bancar o antigo Deus punidor. Até o presente momento, a única opção que se apresenta, parece ser apenas, observar... Estar nos ambientes sem me ambientar — sei que soa como prepotência, arrogância e soberba espiritual — trazendo à mente e ao coração a questão: por que a escuta de assuntos triviais, na maioria das vezes repetitivos e que não levam a nada ainda causam tédio e insatisfação? Quem é esse que sente o tédio, a insatisfação e o conflito?... Fazer a pergunta e não se desfocar, entender o fragmento que critica o assunto que julga pra lá de fragmentado... Se questionar para compreender o conflito, sua causa e o porquê de ter sido causado, porque, se não existir essa compreensão, parece que sempre haverá essa forma de conflito. Então, partindo dessa afirmativa, surge a pergunta: o que é que alimenta a continuidade desse organismo "ego"? Sinto ser o "vicio" da desatenção mental, durante as constantes ocorrências a que sou exposto. Esse vicio é que causa a automática identificação, que por sua vez, rotula, julga, critica, tece a solução correta para o modo de vida do outro, tece o comportamento correto para o outro, condiciona o outro. É a falta de atenção aos movimentos internos que sempre me coloca diante do novo, com o velho olhar que impede o conhecimento da verdadeira compaixão ou do amor incondicionado. Uma vez que tenho em vista que é esse vicio da desatenção mental que causa o conflito, surge a pergunta: é possível levar esse vicio da desatenção mental ao seu termino? É possível viver num estado de atenção plena não reativa? Se é possível, o que está causando o impedimento?

Apesar de ainda não ter respostas para estas perguntas, cada vez mais percebo que a prática do silêncio é a melhor resposta, que através da prática do silêncio, melhor a percepção dos fatos, dos acontecimentos, sejam eles externos ou internos. É interessante ter, através do silêncio, a percepção de que, mesmo sem se expressar externamente, o ego adora tagarelar, ser sempre aquele que tem a última palavra, ser o dono da razão. Percebo que, a facilidade maior, bem como a atenção está sempre mais fora do que dentro; há uma profunda rapidez em perceber o externo, mas, uma negligência na percepção dos acelerados e incontáveis movimentos do “John Macclane” — o ego duro de matar. Quanto mais faço silêncio, mais percebo que toda forma de conflito parte desse “vício” da desatenção interna.

Parece-me ser um fato que o ser humano necessita de troca emocional nutricional e que, para que essa troca possa ocorrer se faz necessário um mínimo de afinidade, caso contrário, qual o sentido de nos agruparmos? Se não há a menor afinidade, que troca pode se apresentar, do que se pode comungar? A própria palavra “comungar” implica na necessidade de “um ar comum”. Se eu e você vivemos ares totalmente diferentes, se temos aspirações opostas, de que modo então, podemos juntos comungar? Se permanecermos no mundo das aparências é claro que não encontraremos nada de comum. No entanto, o que mais pode haver de comum entre nós, do que o próprio ar, o próprio Sopro? Quem é esse que tudo observa com um olhar ácido e que não consegue perceber Aquele todo amoroso que nos habita e no qual somos?

O fato é que não há o interesse em conhecer ou discutir nada disso, aliás, a maior parte parece nem ao menos estar consciente disso — as novelas que os distraem de suas novelas diárias, cuja calmaria do final feliz nunca se apresenta — parecem para eles, serem muito mais atrativas. Em vista disso me pergunto: por que então insisto tanto em manter contato com situações onde não há a menor possibilidade de comunhão, de haver um contato que aponte para um Real Encontro? Será que tenho que me conformar a pagar por um encontro semanal — durante anos — com um psicólogo qualquer para realmente ouvir e ser ouvido? Se não posso ser autêntico, o que me impele a manter a continuidade dessas situações destituídas de real encontro?... O vínculo familiar que não consigo quebrar. Mas, porque não consigo rompê-lo? Não seria a incapacidade de fazer frente à solidão que me coloca diante da própria insuficiência? Não seria o medo de me ver em total situação de abandono e desamparo emocional? Por que insisto em manter o vínculo com pessoas que hoje não tem nada de emocionalmente e mentalmente familiar? Por que insisto em manter contatos com situações que me apresentam sempre os mesmos assuntos referentes a pessoas que não conheço e que fazem parte sempre do passado? Por que insisto em manter esse laço que mais se parece com um amarrotado nó? Por que alimento essa hipocrisia que, em última análise, parte de mim mesmo? Parece ser o medo de ficar só, uma vez que por anos fui condicionado — de forma bastante egoísta — que no futuro, só a família é que cuida de nós. Se vejo isso com clareza, porque não abro mão?... O medo... É o medo da solidão, o medo do desamparo é que impede a postura de abrir mão de vez desses contatos onde não há a menor possibilidade de trocar aquilo que sinto ser necessário. É o medo que impede a coragem de fazer exatamente como pede o interior. É o medo que impede o rompimento do apego parental e é também o medo que impede o surgimento das perguntas que apontem para a natureza exata desse apego parental. É o medo que impede de ver o porquê de dar tanta importância ao que as pessoas que não comungam em nada da minha maneira de ver, de estar e se relacionar com o mundo, pensam a meu respeito, ou possam pensar com relação a minha escolha de não mais manter contato.

O fato é que, só por agora, sinto que a intimidade nutritiva não tem como ocorrer (pelo menos até aqui, ela não se manifestou). A relação fica sempre no nível do socialmente polido e aceitável. As posturas se limitam a conversação do passado, ou as especialidades, as trivialidades do cotidiano e, como não vejo sentido em alimentar esse tipo de abordagem, só assisto. Isso causa vazio, o qual tento aplacar com um copo a mais de refrigentante ou um petisco qualquer (bebida alcoólica nem pensar: poderia facilitar manifestações inconvenientes). Não vejo sentido e nem tenho a menor habilidade para manter piadinhas infantis para tentar trazer vida graciosa numa relação que, por si só, não tem vida, muito menos graça. No entanto, em meu intimo, gostaria profundamente de que, com essas pessoas, realmente pudesse haver intimidade profunda, mas, no entanto, as repetidas experiências me mostram que não há como. É dito que, insanidade, é fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes... Se os resultado se mostram sempre superficiais e insatisfatórios, porque devo continuar a dizer sim, quando meu coração pede para dizer não?... A razão diz: isso é o que eles podem dar, para eles, isso é se relacionar... Ok! Mas, se o que recebo deles não me alimenta, então, porque devo continuar? Se estou com fome e procuro um restaurante que em seu cardápio insiste em só apresentar Coca-Cola, quando sua dispensa está cheia de alimento nutritivo (ainda que disso seus donos se mostrem inconscientes), o que devo fazer? Insistir em frequentar o mesmo restaurante e, desse modo, me manter desnutrido, ou buscar por um local realmente nutritivo? A lógica e a razão dizem ser a segunda opção. Se isso está claro, o que impede de escolher pela segunda opção, formada pelo ato de abrir mão da ilusão de segurança do conhecido e me lançar na realidade da insegurança do desconhecido? Mais uma vez, a lógica e a razão, sobre a ação do medo, afirmam que, para fazer isso seria necessário abrir mão de tudo. Então, se não é possível abrir mão de tudo, o que seria necessário para poder estar em tudo, de modo sereno, equilibrado e feliz? A razão e a lógica respondem rapidamente: só pela Graça. No agora, nada sei disso, o que sei disso é memória — essa coisa que condicionamos chamar de graça — uma idealização de bem-estar — um achismo de que com isso, num futuro, posso viver um bem estar. Creio ser mais inteligente compreender ESSE que sente a insatisfação, uma vez que, até mesmo com os mais íntimos, só consigo manter intimidade até a página dois; essa intimidade não é total, há sempre os limites, pois há sempre o temor de ser mal compreendido, de ser julgado e novamente ser deixado ao ostracismo.

Observar isso causa uma desolação... Então, olhando para esse sentimento de "desolação" vem a pergunta: onde diabos, fica a autêntica intimidade, a verdade e a troca? Pode haver verdadeira intimidade e troca se há esse medo de ser colocado ao ostracismo? É possível ficar livre desse medo que gera todo tipo de dependência de pessoas se não há a coragem de se abrir para a possibilidade de ostracismo? Será possível não tropeçar no medo da opinião dos outros? Em última análise, será possível encontrar intimidade externa, não sendo capaz de manter um intimidade com o conteúdo encontrado no próprio interior? É possível o encontro de um estado de ser que não seja afetado pela dualidade “bem e mal”?... Estas perguntas trazem consigo um sentimento de urgência de transformação interna. A transformação parece não ocorrer porque não há a seriedade de aprofundamento na solidão e no tédio, a qual talvez possa levar a uma auto-compreensão, sem a qual me parece impossível o conhecimento de uma realidade totalmente livre desse fragmento, desse fragmento pelo qual pensamos ser. Em vista disso, silêncio é a minha atual opção.

NJRO

16 janeiro 2012

Constatações sobre o ego

O ego está constantemente tentando se afirmar com base em sua limitada e fragmentada área de conhecimento e atuação e, nessa constante e imatura necessidade de auto-afirmação está a continuidade de toda forma de separação, isolamento e conflito. Suas infrutíferas tentativas de romper seu velado estado de isolamento se dá através do apego às memórias, à especialidade, à ideação e conjecturas. Em cima dessa base, nada de novo, original, autêntico e constituído de real valor nutritivo pode ser compartilhado.

NJRO 

15 janeiro 2012

Constatações sobre oração


Penso que a oração é um modo de expressar a não aceitação diante do que é, um modo de querer fazer com que a realidade dos fatos se alterem conforme aquilo que o condicionamento, o interesse, o apego, a conveniência, o medo, ou outra manifestação do ego, julga ser o melhor, o essencial.
NJRO

12 janeiro 2012

A volta ao Lar de um filho pródigo


Através da prática da observação sem escolhas, do testemunhar sem resistências, da sutil e atenta escuta de nossos pensamentos, sentimentos e sensações corporais, vamos nos tornando profundamente conscientes do falso e, através dessa consciência do falso, ocorre sem esforço de nossa parte, o processo de descondicionamento mental, sem o qual, torna-se impossível a manifestação do "Caminho do Retorno" ao nosso estado original de Consciência Pura, não contaminada pela excessiva exposição a ação da rede do pensamento coletivo. Esse é o processo de "Volta ao Lar", o prodigioso processo do "Filho Pródigo". Nesse processo, toda forma de apego se dissolve e, com eles, toda manifestação de ansiedade, medo e sensação de separatividade. Nesse processo retornamos à nossa originalidade esquecida, ao nosso tão sonhado "Eldorado", à nossa tão esperada "Terra Prometida". Esse processo de volta ao lar, este caminho de retorno é o processo da retomada da consciência; não se trata de um processo de evolução da consciência, uma vez que, a consciência, em si, já É O Que É. Ela sempre esteve ai, apenas, devido a nossa ignorância, permaneceu encoberta pela identificação ilusória com a herdada e disfuncional rede de condicionamentos coletivos, com o ego social. Essa observação sem escolhas, assemelha-se a um descascar de cebolas, onde, no reconhecimento de cada camada de condicionamento, uma casca é retirada. Se somos sérios, se temos a necessária paixão, apesar das lágrimas, a essência — que não pode ser presa pelo mundo das aparências —  se manifesta aos nossos sentidos e para além deles, Naquilo que somos em nossa real natureza. Na sutil escuta atenta — que se dá não através de nossos ouvidos físicos, mas sim através de nossos ouvidos espirituais — O Que É se manifesta e, nessa manifestação, todo falso se dissolve. A volta ao lar, o caminho do retorno é o constato consciente com a consciência que somos, com a Consciência Real. Quando esta escuta começa a se manifestar com clareza, nos tornamos conscientes da instalação de um estado de harmonia interior — nunca antes vivenciada — a qual se reflete de modo natural, sem esforço algum de nossa parte, em nossas relações com o exterior. Através dessa escuta, somos tocados por uma graça que nos propicia uma ilimitada, amorosa e desprendida capacidade de visão, a qual nos liberta de nossos antigos e recalcados apegos e preconceitos, que nos mantinham num labirinto de posturas defensivas, resultantes de nossas ansiedades e medos. 
NJRO

10 janeiro 2012

Constatações sobre a prática da quietude mental


Enquanto identificados com o ego, somos totalmente impotentes diante da rebeldia mental com seus mais estranhos e desconexos pensamentos que insistem em proliferar num ritmo por vezes alucinante, o qual nos mantém num estado de transe sonambúlico que nos impossibilita a manifestação de um estado de absorção interna que é Consciência Pura.

Contra esse incessante fluxo mental, não adianta qualquer tipo de esforço, tensão ou violência. O que se pode fazer é manter-se como uma testemunha, como um espectador impessoal, do habitual, involuntário e irrequieto fluxo mental.

É natural, durante esta prática de testemunho impessoal, a mente apresentar pensamentos que questionem a praticidade e objetividade desta prática meditativa diante daquilo que ela imagina ser a realidade da vida, dessa vida caótica, destituída de períodos de ócio, intimidade, na qual ela se vê profundamente enredada. Diante disso, torna-se impossível encontrar a origem através da qual, a mente, de forma inconsciente, funciona. 
NJRO 

O eu e a ilusão corporal


Estamos profundamente condicionados à ilusão de que somos este corpo, bem como condicionados a forma de como este corpo deva ou não deva ser. Do mesmo modo que, quando na faze infantil, o eu se identifica de forma ilusória como sendo este corpo, em sua faze adulta, pela experiência do testemunhar, precisa se desidentificar com a ilusão corpórea para o alcance da consciência de sua real natureza.
NJRO

Constatações


Assim como os pingos da chuva fixados na vidraça da janela impedem a nítida visão da realidade exterior, o constante fluxo dos pensamentos impede a visão de nossa realidade interior.
NJRO

09 janeiro 2012

Constatações

Vivemos uma vida superficial, mecânica, rotineira, desperdiçamos nosso tempo e energia com trivialidades, frivolidades, com o alimentar de absurdas crenças e convencionalismos, em resultado, levamos uma vida destituída de real sentido e direção.
NJRO

Constatações

Vivemos uma vida superficial, mecânica, rotineira, desperdiçamos nosso tempo e energia com trivialidades, frivolidades, com o alimentar de absurdas crenças e convencionalismos, em resultado, levamos uma vida distituída de real sentido e direção.
NJRO

O Olhar que vê


Somente a Verdade possibilita a abertura dos olhos que veem por detrás dos olhos que pensam ver. Só este novo olhar é capaz de ver além dos apertados limites das aparências, das meias-verdades e das gritantes mentiras. Somente este olhar é capaz de perceber o invisível, as ondas não materializadas que sustentam o que é manifesto no mundo das formas. Enquanto o homem, em sua soberba ignorância, insiste em ver o mundo das formas, através de seu olhar egocentrado, como única realidade, os olhos que veem e o mundo Real, dele, permanecem velados. Sem a compreensão do ego e seus desejos, a Verdade não se manifesta.
NJRO

Constatações


Bem-considerados os que tem fome e sede de mentiras, 
porque deles, o mundo está farto.

A ilusória aparência do mundo das formas


O que passa pela mente é pensamento, idéia e, portanto, ilusão. Tudo é ilusão. A realidade que agora se percebe, enquanto identificados com as influências e exigências do ego social, é tão real quanto a realidade vivida durante o sono. A Realidade só se apresenta quando despertos. Somos escravos, uma vez que vivemos o cotidiano imersos — quase sempre de forma inconsciente — num fluxo sem fim e desconexo de pensamentos e idéias. Nunca estamos num estado de holística consciência. A Consciência da Realidade encontra-se permanentemente anuviada pelo incessante movimento dos pensamentos que ocorrem na ponte do tempo passado-futuro, sustentada por nosso arquivo de memórias que, em sua essência, é pensamento. Vivemos a ilusão de estarmos acordados, no entanto, vivemos em múltiplas camadas de sonhos sobre sonhos. O que pensamos ser a Realidade, nada tem de Real. A Realidade só se apresenta quando no estado de percepção pura, onde o eu, o ego, com seu arsenal de memórias, não existe. Estas percepções, para a mente condicionada e inconsciente de seus condicionamentos, soam como uma "grande viagem", uma vez que desconhece outra realidade que não aquela a que se encontra ajustada. No entanto, como um dia disse Einstein, a mente que se abre para uma nova idéia, nunca mais volta ao seu estado anterior. A dificuldade de lidar com a "Real Realidade" está no fato de que, a mente, por si mesma, mediante seus limitados esforços, não tem como acessar a referida Realidade, não tem como capturá-la. Como a grande maioria dos seres humanos nem sequer despertaram para a consciência do movimento dos pensamentos e, uma vez que se identificam como sendo o conteúdo dos mesmos, claro que esta percepção soa um tanto absurda. A maioria dos seres humanos estão plenamente identificados com a afirmação "Penso, logo existo"; de fato, só existem, nada conhecem da Vida Real, totalmente livre do medo. Só os despertos possuem a chance de alcançar o estado em que possam afirmar: Sou Consciência, auto-consciente de toda manifestação no mundo das formas e além-formas. Para que isto se torne um fato, a estrutura do mundo das idéias, dos conceitos, das formas, da materialidade, das crenças condicionantes, estagnantes e debilitantes precisa ruir por completo, "não sobrando pedra sobre pedra". Estar desperto é estar além da aparência ilusória do mundo das formas, é estar consciente e em direta relação com Aquilo que não pode ser expresso e que, em última análise, anima tudo que é percebido no mundo das formas. Quem vive preso ao mundo das aparências, só aparências enxerga e, portanto, só aparentemente vive; nada conhece de Real. 

05 janeiro 2012

Massa de escravos


Boa parte da raça humana se encontra, — devido a ignorância causada pela ilusória identificação com o ego social  —, profundamente cativa em sua imensa cela de condicionamentos, apegos, posses e hábitos mentais herdados da nefasta cultura com seus variados sistemas de crença. Quase todos entram num profundo estado de ansiedade, seguido de um pânico paralisante, quando se veem ameaçados de serem afastados de suas dependências emocionais, as quais alimentam a falsa imagem resultante de seus egos. São como escravos que buscam pela liberdade, protegendo suas grossas, pesadas e enferrujadas correntes.

NJRO

Percepções


O que mais percebo: um constante e bem disfarçado estado de ansiedade, inquietude, insegurança, vazio, tédio e insatisfação, sempre intercalados por breves momentos de euforia causados pela consumação de algum desejo transitório, temporal. Tudo isso ocorrendo num acelerado e inconsciente ciclo vicioso, o qual impede a manifestação de momentos de ócio, onde uma salutar meditação possa clarear a consciência com relação a insanidade da continuidade da alimentação de tal ciclo viciante e alienatório de nossa real natureza. 

NJRO

Pecado Original


Não creio na afirmação feita por vários homens e mulheres de que o sentido de nossa existência seja a realização da experiência direta de Deus. Creio que aqui chegamos neste divino estado e que, devido a excessiva exposição à disfuncional educação e condicionante cultura é que nos "distraímos" deste divino estado natural de ser, nos identificando com este atual, caótico e ilusório estado de ser. Talvez, isso a que chamo de "distração", seja o mesmo que os homens ao longo dos tempos, convencionaram chamar de "pecado original".  

NJRO

Ter ou ser?

Sem uma profunda entrega ao reino da ilusão do ter, torna-se impossível a manifestação do sofrimento necessário para a instalação do estado de desilusão iniciática, através da qual se abrem as portas do Reino da Consciência que somos. Sem a vivência do sono com sonhos materialistas, não há como se conhecer o despertar para a prática da meditação que aponta para o Real.

NJRO 

03 janeiro 2012

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 3

Auto-realização
O ego só mantém uma postura de boa vontade com relação ao próximo, caso veja no contato com esse próximo, alguma fonte de conveniência. Sua assim chamada boa vontade, de forma alguma se manifesta de modo incondicionado — sempre, em oculto, encontra-se alguma forma de interesse. Nunca há de fato, uma postura de respeito e reverência. O ego está sempre preocupado, sempre medindo a tudo e a todos, o modo como o outro pensa, fala e age, sempre medido de forma ácida os comportamentos de terceiros. No entanto, em relação ao próprio modo de ser e de estar na vida de relação, se apresenta sempre de maneira complacente, o que faz com que se mantenha totalmente ignorante a respeito de si mesmo e de toda sua bestialidade.

O ego só consegue ver no "outro", um outro ego, isso porque o ego, é a única realidade da qual possui conhecimento. Se conhece algo superior a si, é tão somente um outro ego, do qual, quase sempre, decorre a manifestação da inveja, do ressentimento e o complexo de inferioridade. Nada conhece sobre a realidade da essência contida nas palavras, compaixão, amorosidade e piedade — com relação as mesmas, só tem ideais do que representam. Não há nada de divino em seus sentimentos, sendo que os mesmos se encontram sempre nos apertados limites da personalidade ilusória, responsável pela nefasta e separatista postura formadora de imagens e do idealismo comportamental do vir-a-ser. De real, de espontâneo, de natural, de transbordamento ético, o ego nada sabe; tudo é mero jogo de conveniências. Desconhece a tolerância amorosa, o que conhece é a tolerância condicionada à alguma forma de interesse. Ele é rancoroso, vingativo e retaliador. Não consegue de modo algum se colocar no lugar do outro, perceber seu momento, suas necessidades, seus direitos, ao contrário, está sempre em busca de constantes privilégios. O outro, para o ego, só existe quando pode lhe oferecer algo de seu interesse; ele exacerba seus direitos, sem se importar com os direitos alheios. Como é dominado pelas mais variadas formas de medo, o ego não tem como ser assertivo, muito menos, exercer justiça e ordem. 

O ego não tem autonomia pois é um escravo da moda, vivendo da imitação que o mantém num estado de servidão domesticada. Ele transforma tudo em mera cópia e ignora tudo que se apresente como original e ainda não convencionado pelo ego social. Em vista disso, vive preso na dinâmica das formas, das imagens idealizadas, pelo ego social. Quanto maior sua identificação, maior é a sua prisão. Sua postura quase sempre se alicerça na massiva e barulhenta influência externa e não na escuta atenta ao intuir interno. Por isso, sem o mínimo de consciência, em sua feliz infeliz ignorância, se mantém parte integrante da presente e descomunal massa de manobra do ego social. Sua existência sem vida, não pertence a si, mas a outros egos, dele, totalmente desconhecidos. Desconhece as mãos que conduzem os cacoetes de seus movimentos previamente ensaiados. O ego se encontra tão enredado em si mesmo, que em virtude desse enredamento, não consegue se aperceber das poderosas forças psíquicas exteriores pelas quais tem influenciado seu movimento reativo, competitivo e separatista. 

Para o ego, é muito mais fácil julgar e rotular o modo de ser, pensar e agir do outro, do que tentar compreendê-lo, entrar em seu mundo, observar sua história com todas as influências que o trouxeram até o presente momento. Para ele, é humanamente impossível, calçar os sapatos do outro e com eles, caminhar que seja por um curto período de tempo. Mas, ao contrário, exige que os outros deem atenção aos seus sapatos e que se submetam a marchar sob o julgo do seu compasso, o que também se mostra como uma fonte de inesgotável conflito.   

O ego é profundamente arredio à escuta da voz interior que aponta para a insatisfação que clama por um modo superior de estar na vida de relação. Ele impulsiona para o conformismo, a estagnação e ao servilismo domesticado, os quais impedem a livre manifestação do real amor e não daquilo que o ego tem por amor. 

Se para o ego já é humanamente impossível não viver em busca de imaginários inimigos externos e de alimentar a maledicência em relação aos mesmos, que dirá conseguir amar aqueles que fazem dele seu inimigo externo e que vivem igualmente a maldizê-lo. O ego adora uma disputa e horas e horas de comentários direcionados ao outro ausente, pois nisso, se alimenta e se protege.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!