26 dezembro 2007
Além dos limites do medo e do ressentimento
23 dezembro 2007
Existe súbito ataque cardíaco?
22 dezembro 2007
O drama da criança de sensibilidade adulterada
- Bom dia, JR! Sua mãe está?
- Bom dia Sueli, tudo bem com você?
- Sim e a Ida? – Perguntou-me esticando seu olhar para o fundo da loja.
- Em casa. Só chega depois das 14h00min. Deve estar com certeza acompanhando o serviço dos pedreiros.
- Pedreiros... Nem me fale essa palavra. Quase que perco meus cabelos de tanto nervoso que passei durante a reforma que fizemos no apartamento que acabamos de comprar. Por falar nisso, espero poder contar com vocês na passagem de Natal.
- Sinto muito, mas não será desta vez. Além do mais, não comemoro Natal. Acho uma data destituída de qualquer sentido. Estarei em casa com alguns dos nossos amigos.
- Mas sua mãe não lhe disse que na passagem toda a sua família estará lá em casa?
- Não fazendo desfeita à vocês, mas, nesta noite, estarei com pessoas que durante o ano todo nos deram o ar de sua graça, pessoas que realmente fizeram parte do nosso cotidiano.
- Não é por causa de eu não lhe trazido um convite em casa, não é mesmo?
- Não, não é nada disso. Já lhe disse que quero estar com aqueles que estiveram comigo... Sabe, para mim, a vida é como uma estrada de mão dupla... Eles nos prestigiaram durante todo o ano, portanto, merecem nossa atenção especial, você não acha?
- Eu convidei sua família para estarem conosco na ceia da véspera de Natal! No dia, farei um almoço para a minha família, uma vez que o apartamento não é muito grande e, portanto, não ficaríamos a vontade.
- Entendo. Fique tranqüila. Agradeço pelo convite.
- Com toda certeza, Jorge irá sentir muito a sua falta, afinal de contas é o primeiro Natal em sua casa própria.
- Ele fez por merecer!... Estou feliz por vocês! Quanto a ele sentir a nossa falta, se for do mesmo modo que sentiu durante o ano que passou, acho que não vai haver nenhum problema.
- Não fale assim. Você está sendo injusto com ele. Você mais do que ninguém sabe o quanto que a vida dele é uma verdadeira loucura, como ele está sempre na correria.
- Lógico que sei! Por que você acha que deixei de trabalhar com ele? Não tenho a estrutura física que ele tem e, além do mais, não tenho a intenção de passar os meus dias atrás de um computador na expectativa de bons negócios. Para mim, a vida é muito preciosa, não vale a pena ser trocada pela virtualidade. Ela passa rapidinho, num piscar de olhos. Não quero ser mais um daqueles que no leito de morte, olhando arrependidamente para os olhos de um amigo, se questione: "O que é que eu fiz com a minha vida?" Quanto a conhecer seu apartamento, fique tranqüila, oportunidades não vão faltar. Além do mais, dou preferência aos momentos de intimidade, tão impossíveis nessas datas de encontros familiares.
- Vê se vai lá qualquer noite dessas com a Deca, para dividirmos umas pizzas.
- Pode deixar... E as meninas, como estão? Já sairam de férias?
- Nem me fale!... Você não está sabendo? A Ida não lhe contou?
- O que foi desta vez?
- Com a Ruth, tudo bem! Apesar de ser a mais nova, essa quase nunca me traz problemas... O problema é sempre a Raquel!
- O que tem ela?
- Não sei mais o que faço com essa menina. Agora deu para mentir e, o pior de tudo, está correndo o risco de repetir de ano. Ficou para recuperação em três matérias. Cada dia ela me aparece com um novo problema.
- E vocês?...
- E vocês o que?
- Sim, já se fizeram a pergunta sobre quais os problemas que devem estar levando para ela todos os dias? Já se perguntaram em quais matérias, como pais, vocês precisem ficar em recuperação? Já se questionaram se a educação, a presença e a atenção que disponibilizaram para ela no decorrer deste ano, não seja merecedora de uma reprovação? Já se questionaram do por que dela se ver com a necessidade de ter que fazer uso de mentiras para as pessoas em quem ela deveria confiar? Será mesmo que o problema esteja somente no comportamento da menina? Ou estará ela, como é mais comum, sendo uma espécie de "mata borrão emocional" de uma possível disfunção familiar?...
- Para com isso! – Exclamou ela visivelmente ruborizada por ter sido exposta a uma contrariedade – Por que seríamos nós os responsáveis pela sua nova mania de mentir?
- Vocês chegaram a conversar com a orientadora da escola onde ela estuda?
- Claro!
- E o que ela comentou?
- Que isso é um problema da idade e que é normal... Que ela está querendo se afirmar... Que está querendo ser auto-suficiente antes do tempo...
- Sei!... Parece que as coisas não mudam mesmo, que a história do mundo se repete, tendo quase sempre um final muito parecido com o que tivemos com os nossos pais... E o Jorge, como reagiu a isso?
- Ficou extremamente nervoso. Pensei que ia ter um piripaque. A sorte dela é que estávamos atrapalhados com as reformas do apartamento, caso contrário, com certeza ele teria lhe dado uma boa surra. Onde já se viu, nessa idade, mentindo desse jeito?
- Quer dizer que em outra idade, mentir não é um grande problema?... Sim, acredito mesmo que ele se limitaria a repetir o que duramente aprendeu na própria pele, durante o alcoolismo de seu pai: violência como forma de educação... Não sei não, mas, para mim, esse tipo de método educacional já está bastante desgastado. Sabe, quem não tem tempo para ouvir, nunca pode ser um bom amigo... Você entende o que quero dizer com isso? – Ela limitou-se a me olhar com aquele seu olhar perdido – Ou melhor, você sabe o que é ser e ter um amigo?... Na minha visão, amigo é aquele com quem você pode pensar alto, com quem você pode se abrir e ver a história pessoal validada em seu olhar. Amigo é alguém em cujo relacionamento não existem espaços para ponto e vírgula e, muito menos, meias verdades. Creio que estamos diante de um sério problema, se Raquel, com apenas doze anos, não consegue ver em seus pais, pessoas amigas em quem possa confidenciar suas dificuldades.
- É muito fácil falar quando não se tem filhos...
- Por um acaso, o filho de um alcoólatra precisa também se tornar um alcoólatra para ter consciência dos desastrosos resultados de uma vida sobre o cárcere do alcoolismo?... Sabe, você tem toda razão: não sei o que é ser pai. No entanto, posso lhe garantir que sei muito bem o que é ser um filho "não visto". Sei muito bem o que é ser usado como bode expiatório para que seus pais se esquivem de virar os refletores para a escuridão de suas próprias vidas e relacionamento. Sei muito bem o que é ter um irmão para ver se com a sua vinda o equilíbrio do lar seja reestruturado. Sei muito bem o que é o sofrimento e a ansiedade sufocados no peito e também o déficit de atenção gerado pela constante exposição em um ambiente regido pelo medo e pela vergonha. Sei muito bem o que é o convívio com dois adolescentes em corpos de adultos, duas pessoas pela metade, ausentes de si mesmas e, conseqüentemente, ausentes para as necessidades emocionais de seus filhos. Sei muito bem o que é ter que fazer uso de mentiras na expectativa de sobreviver nesse ambiente. Sei muito bem o que é ter uma educação pautada em ameaças de reformatório, em constante violência física, verbal e, em certos momentos, aspectos de violência sexual... Sei muito bem o que é se deparar com um livro de biologia e entrar num desespero silencioso ao chegar ao fim de uma página e perceber não ter conseguido assimilar absolutamente nada. E, o pior de tudo, é olhar para os lados e não encontrar ninguém com a sensibilidade apurada para perceber os meus silenciosos gritos implorando por socorro... Sei muito bem o que é ter a auto-estima dilacerada pela constante comparação com o meu irmão mais novo, com os meus primos ou com os filhos da vizinhança. Sei muito bem o que é ter que prostituir minha autenticidade, ainda que adoentada, em nome da aceitação condicionada de meus pais e professores. Sei muito bem o que é sobreviver ao terrível ambiente gerado pelo sistema escolar, com professores que se escondem atrás das garantias de emprego do funcionalismo público ao invés de ali estarem em nome do amor à profissão... E, para finalizar, sei muito bem o que é ter que amargar dias e mais dias em salas de terapias, em livrarias revirando estantes de auto-ajuda e psicanálise, na tentativa de colar os caquinhos da minha psique estraçalhada. Portanto, apesar de não saber o que é ser pai, sinto-me bastante apto para questionar a mãe de uma criança, para mim querida e preciosa, afim de, quem sabe poupá-la de ter que passar por tudo isso que agora lhe confidenciei...
Após ouvir atentamente o teor dos meus doloridos sentimentos de infância, um desconcertante silêncio espalhou-se pelo ar, dando a impressão que o tempo havia congelado. Sua dificuldade de me olhar nos olhos aumentou ainda mais. Percebendo seu desconforto, tratei logo de mudar de assunto, perguntado-lhe sobre os motivos de estar caminhando por aqui, carregando um enorme pacote plástico, uma vez que sempre anda para cima e para baixo com seu carro. Com alivio me respondeu:
- Jorge saiu muito cedo e precisou ficar com o carro. Tivemos que vender o outro para poder completar o valor do apartamento. Se antes nossa vida já estava bastante corrida, agora é que ficou ainda mais. Deixe-me ir, pois as meninas ficaram sozinhas em casa – disse ela, ajeitando alguns fios de cabelos que haviam caído sobre sua testa – Espero que a gente se veja antes do Natal. Dê um beijão na Deca e na Ida!
- Pode deixar. Dê um beijo nas meninas e diga para que me enviem umas letrinhas pelo e-mail. Ah, por favor!...
- Diga!
- Procure meditar um pouco sobre o que conversamos agora. Não se trata da sua vida, mas da vida da sua menina, que um dia, quem sabe, pode ter sido também você. Dê um abraço no Jorge e também um forte chute em suas canelas. Cuide-se bem!
E, meio vacilante, sob os fortes raios solares, com aquele enorme saco preto, pela calçada, seguiu cabisbaixa em seu caminhar.
INFÂNCIAS ROUBADAS
Sobre o curriculum vitae e a dignidade humana
- Fala mulher!... Ainda não morreu?... Fique esperta: se você não morrer, antes de morrer, você morre quando morrer! – disse-lhe em alto tom enquanto lhe abraçava fraternalmente.
- Quando você está em casa, livre dos seus afazeres domésticos, o que faz? Liga a TV e trata de se distrair com algum seriado do tipo "Hero"? Senta diante do seu computador e passa hora e horas teclando no MSN com sua sobrinha ou com uma amiga a respeito das qualidades e defeitos de seu atual pretendente? Ou então, perde-se no Orkut em busca dos amigos do seu tempo de escola? O que tem lido? O que tem pesquisado? No que tem dedicado seu tempo e energia?... Ao amuo encolhido num canto do sofá, ou no quarto escuro embaixo de um cobertor?... Será que algumas dessas atitudes serão capazes de lhe proporcionar a conscientização de suas qualidades singulares e talentos adormecidos?... Quer saber? No fundo, no fundo, fico profundamente feliz por saber que isso está fazendo com que sua cabeça fique a mil... Fico feliz por saber que você esteja chegando à um ponto de saturação total... Infelizmente, parece que nós que viemos de famílias disfuncionais, parecemos funcionar como fusca 64: somente através dos trancos... Dá para perceber nitidamente pelo seu olhar, que você não gostou nem um pouquinho do que acabo de lhe dizer.
- Atitude é a palavra chave. Bafo de boca não cozinha ovo. É preciso ousar pela ação. Se aventurar no aberto... Isso não é mera filosofia. Eu mesmo estou vivenciando isso neste exato momento... Em nada pode lhe ser útil, ficar justificando sua depressiva inércia dizendo que as oportunidades estão se apresentando para mim. Fique sabendo que não tenho ainda nada certo, muito menos garantias. A única certeza que tenho é a de que seu eu me permitir continuar somente resmungando, passarei mais um ano empacado na mesma situação. É preciso ousar; seguir os ditames, por vezes abafados do coração... Sinto que é um verdadeiro exercício de entrega que somente os homens e mulheres de "saco roxo" se dispõem a praticar.
- JR, ás vezes acho que você vê a vida de um modo muito dom quixotiana... Existem certas coisas que parece que nunca serão mudadas nesta sociedade.
- Sim, se continuarmos dando poder para esse sistema de crenças que hoje em dia ainda continua vingando, quem sabe. No entanto, eu prefiro conspirar de que o universo reserva um digno lugar para mim, indiferente aos valores de cotação do mercado. Tenho certeza de que existe algo que somente eu possa dizer ou fazer e que as pessoas se sentiram gratas de pagarem de forma amorosa por isso. No entanto, se eu ficar preocupado em ter que encher lingüiça num pedaço bem diagramado de papel, ou então pelos meus 43 anos sem carteira profissional devidamente assinada ou com possíveis restrições no nome... Vai ficar difícil de vivenciar essa realidade.
- Francamente?... Ainda não consigo ver a vida por esse prisma que você vê!
Duelo de Titãs
Às vezes fico me perguntando, como pude ficar tanto tempo de olhos fechados para os acontecimentos ao meu redor e se ainda não continuo de certa forma, vivendo nessa mesma situação. A todo instante, acontecem fatos cheios de significação, basta somente estar atento.
Como estou com muita dor na região lombar, tratei de colocar um edredom sobre o tapete da sala para assistir com Deca, um filme de Walt Disney, "Duelo de Titãs". Antes, após fecharmos a loja, um pouco desapontados com o movimento esperado das vésperas do Natal, fomos juntamente com Ida, saborear uma boa pizza sicilliana, salpicada com pedacinho de alho frito. Para acompanhar, uma boa cerveja gelada. Mal o garçom havia nos servido o primeiro pedaço, fomos interrompidos pelos sorrisos e abraços de minha irmã e seu marido...
- Pizzaiolo, por favor, repita a dose e capriche um pouco mais no recheio!
Logo após o jantar, deitados sobre o edredom, saboreando deliciosos pingos de leite, naturais da cidade de São Lourenço, começamos a nos envolver com a trama do filme, baseado em fatos reais, retratando os absurdos das épocas acirradas de diferença racial numa cidade qualquer dos USA. Deca assistia ao filme com sua cabeça sobre meu peito enquanto eu acariciava a pele quente e macia de seu braço.
- Devia ser extremamente terrível, ter que se sujeitar a esse tipo de situação – afirmou Deca, enxugando os olhos pela sensibilidade à flor da pele.
Brancos e negros... Negros e brancos... Um verdadeiro duelo de titãs... Duelando por terem medo... Medo de fazerem diferente, medo de serem expostos ao ostracismo social...
Terminado o filme, a sede bateu forte. Deca levantou-se e da cozinha, resmungou que havia terminado a água e que não havia nenhuma bebida na geladeira para poder saciar sua sede.
- A Casa da Esfiha ainda deve estar aberta. O que você prefere?
- Não tenho preferência. O que você trouxer está bom para mim.
- Ok, volto já!
Foi só pegar o chaveiro, que o danado do nosso cachorro, Krish, saiu em disparada debaixo do sofá, abanando o rabo e tentando morder as minhas chinelas.
Na rua, uma enorme escuridão. Quatro postes estão com suas lâmpadas queimadas há mais de uma semana. Logo após nossa casa, uma barbearia, depois dela, a auto-escola com sua cobertura de zinco dando proteção aos motoqueiros entregadores da casa de esfihas. Lá dentro, logo na mesa mais próxima da entrada, quatro homens visivelmente embriagados. Do outro lado dois ou três casais. No balcão, pelo menos cinco solitários afogam suas mágoas no intervalo de suas baforadas.
Depois de pagar pelas garrafas de água e coca, um pouco emputecido pelo valor abusivo cobrado pelas mesmas, segui para casa. Cinco passos foram o suficiente para me deparar com uma cena que me fez pensar nas sensíveis palavras de Deca, durante as primeiras cenas do filme... "Devia ser extremamente terrível, ter que se sujeitar a esse tipo de situação"...
Quase que colados nas portas da auto-escola, um casal, deitados sobre alguns panos e protegidos do vento por um carrinho de lata velha... Há menos de um metro deles, uma marmita de alumínio amassada, encostada na roda traseira do carrinho. Como estavam abraçados e devido a escuridão da rua, não tive como ver a expressão de seus rostos... Tive vontade de parar e olhar mais de perto, mas, senti que estaria invadindo a "privacidade" dos mesmos...
Abri o portão e subi as escadas bastante pensativo, enquanto Krish se enrroscava entre minhas pernas... Poderíamos ser nós, ao invés deles... Deca continuava deitada sobre o edredom, com o controle remoto apontado para o aparelho da TV por assinatura.
Talvez, o racismo tenha sido de certa forma amenizado, no entanto, infindáveis parecem ser as diferenças que permanecem. Enquanto escrevo, saboreio um bom copo de coca. Deca, sobre o edredom, agora dorme ao lado de nosso cachorro. A garrafa de água está a menos de um metro deles.
Lá fora, sob o escuro da noite, o barulho das motos e as folhas de zinco da cobertura da auto-escola, dois titãs, talvez apaixonados, descansam para dar seqüência ao duelo do dia de amanhã, num país escancaradamente dividido pela corrupção, desconfiança, medo, rancor e ressentimento.
19 dezembro 2007
Second Life
De que adianta discutir qual era a cor do cavalo branco de Napoleão? Basta o minimo de seriedade e disposição para consigo mesmo e se dedicar ao estudo da própria questão e pode-se ver que a resposta já se encontra na própria pergunta. Para responder questões como essas não existe o menor sentido em participar desses grupos ou comunidades on-line repletas de discussões intelectualóides. Minha experiência é a de que, estes tipos de grupos ou comunidades, para muitos, acaba servindo como um espaço a mais para alimentar a ilusão criada de uma "Second Life". Segundo a Winkipédia, o nome "second life" significa em inglês "segunda vida" que pode ser interpretado como uma "vida paralela", uma segunda vida além da vida "principal", "real". Boa parte dos participantes desses grupos de discussão, escrevem suas idéias – isso quando suas – protegidos pela capa do anonimato: usam de pseudônimos, dados ficticios, e-mails não pessoais e ainda ocultam seus rosto para que não sejam reconhecidos. Desse modo, fica fácil criar uma identidade totalmente distinta da realidade que vivem.
Nesta semana, dois membros participantes da comunidade que mantenho no Orkut - Cuidar do Ser -, expressaram em suas colunas de recados o seguinte diálogo:
- Às vezes não entendo, como o Nelson escreve textos maravilhosos e, num bate papo via Orkut, é uma pessoa que não tolera nada? É um paradoxo! ... Falar é fácil, difícil é fazer, por isso "copiamos" um monte de leituras, principalmente se não temos a tal "autenticidade". Onde fica o novo além do que foi lido? Nosso novo, não uma cópia do "guru"...
- Concordo com você, existe um contracenso você não acha? Por isso que escrevi aquilo!...
Logo após essa troca de mensagens, um dos membros decidiu deixar para tráz sua participação na comunidade, atitude essa que já havia tomado em outros grupos, dos quais eu também participava.
Realmente, o simpático cidadão estava coberto de razão: sou realmente intolerante e acho puro contracenso gastar meu tempo e energia em discussões acaloradas por detrás da impessoalidade de uma tela de computador. Não tenho a menor tolerância para esse tipo de questionamento que na maioria das vezes, não condiz com as reais necessidades psiquicas do questionador. Ficar chovendo no molhado ou então enxugando gelo, isso sim é puro contracenso. Já tenho bastante experiência com esses grupos de "discussão". São muitos os participantes, mas rarissimos os sinceramente sérios. Raros são os membros que fazem uso dessa ferramenta tecnológica para realmente aprenderem sobre si mesmos. Ao contrário, alguns fazem uso dessa ferramenta como forma para darem vazão à sua "Second Life", repletas de discussões vazias, disputas de conhecimentos arcaicos e disfuncionais, vitimados por uma espécie de "intelectualose" que quase sempre acabam terminando em agressões sutis e, por vezes, declarada. Aí, os membros mais depressivos, vitimas da autocomiseração, se retiram "temporariamente" do grupo, com frases enxarcadas de autopiedade. Nesse período, ficam observando o movimento da comunidade em silêncio. Digo temporariamente, porque, como não conseguem ficar com o vazio gerado pela ausência do grupo, em questões de dias ou semanas, retornam ao mesmo, quase sempre com frases adocicadas. Já vi isso acontecer, não só com eles, mas, também comigo, portanto, posso falar com conhecimento de causa.
O que penso ser um verdadeiro "contracenso", é acreditar que manter "discussões acaloradas" com adeptos da "second life" possa nos ajudar no desvelar de nossa autenticidade. Não vejo como chegar ao real de nós mesmos, quando já partimos de uma postura irreal. Cresci desse modo, dentro da comunidade familiar onde nasci. De certo, não será numa comunidade on-line, onde eu escolheria para dar continuidade a um modo de ser que durante anos e anos me manteve afastado de mim e de uma genuína relação com os demais seres humanos, nutrida pela capacidade de me expor retina diante de retina.
Então, reafirmo a clareza de visão do meu simpático amigo on-line: nessas questões – além de outras - sou realmente um ser humano intolerante. Só por hoje, escolho continuar sendo intolerante com esse tipo de disputas intelectuais, repletas de perguntas, que não tendem ao autoconhecimento mas sim a um lado tendencioso de criar embaraços, confusão e intriga. Não estou aqui para alimentar uma "second life", nem minha e nem de ninguém. Ainda sou um declarado entediado, um insatisfeito sem medo de dar o nome e a cara para bater, em busca das minhas próprias respostas que possam me revelar a minha própria autenticidade. Se por agora, ainda sou uma mescla de pensamentos de terceiros, não fugirei disso. Esse sou eu! Portanto, aos que me acharem intolerante, indico como porta de saída, a mesma porta pela qual entraram na comunidade. Com certeza, neste vasto mundo on-line, grupos dispostos a alimentar ainda mais a irrealidade humana é o que não falta.
E quanto ao amigo que alegou haver contrancenso entre o que escrevo e o que vivo, deixo a seguinte resposta, uma pérola deixada por Walt Whitman:
"Contradigo a mim mesmo por que sou vasto".
PS - Aos amigos escritores deixo uma pequena observação: cuidado! Em breve estaremos sendo acusados de plágio por fazermos uso da lingua pátria que depois de ouvirmos, "copiamos" de nossos antecedentes!
TIRE A MÁSCARA QUE ESCONDE O SEU ROSTO
Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
Tira, a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser
Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer consciente inconsequente
Sem se preocupar em ser, adulto ou criança
O importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho, seja você, mesmo que seja
Tira, a mascara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser
Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer consciente inconsequente
Sem se preocupar em ser, adulto ou criança
O importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho, seja você, mesmo que seja
Meu cabelo não é igual
A sua roupa não é igual
Ao meu tamanho não é igual
Ao seu caráter não é igual
Não é igual, não é igual
Não é igual
I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care
Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida
E o importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja estranho.
17 dezembro 2007
ROTINA
O senso comum governa a nossa rotina, acabando por nos conduzir como a marionetes. Nos transformamos em massa de manobra daqueles que controlam as ferramentas formadoras de opinião. Com nossa atenção dispersada por incontáveis besteiras reunidas num produto chamado "aldeia global", perdemos a força que nos alçava aos vôos mais altos.
Autor: Martinho Carlos Rost
Normose tecnológica e industrial
Frase do personagem Palmer Joss no filme: CONTATO
DESAMADO MUNDO NOVO
16 dezembro 2007
Para Além da Normose
"Em toda parte do mundo as pessoas passam a vida sonhando em desenvolver-se espiritualmente, sem jamais fazer muita coisa nesse sentido. Neste país, sobretudo, é preciso muita força de vontade para que alguém se desenvolva interiormente. Somos apanhados na competição pelas vastas reservas não exploradas de poder, que a tecnologia moderna colocou a nossa disposição. Nós vivemos sob intensa pressão para nos conformarmos com as regras e as restrições da nossa sociedade urbana "civilizada". A estrutura está enraizada de tal maneira que, se não nos conformarmos ser-nos-á difícil sobreviver. Assim, muitos de nós nos sentimos constrangidos embora sejam poucas as pessoas capazes de tomar a decisão de mudar suas vidas e menos ainda os que têm o poder de fazê-lo."
Postagens populares
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Deserto... Solitário e árido lugar de encontro consigo mesmo e com a fragilidade que nos torna humanos. Lugar de amadurecimen...
Escolho meus amigos pela pupila
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.