Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

10 dezembro 2007

Um zero na terra dos meios

Mais uma semana se inicia.

A mesma calçada, as mesmas pessoas, o mesmo fluxo de carros, as mesmas conversas desnutritivas.

O mesmo vazio, a mesma incompletude, o mesmo tédio, a mesma mesmice.

Fora o dia, nada de novo, somente as mesmíssimas das tão desgastadas ações.

Os segundos e minutos vão passando, lentamente, fechando horas e dias – enquanto isso – resta-me apenas a observação. Quanto mais observo, menos vejo sentido naquilo que os dias me apresentam.

A superficialidade das alegrias de prateleiras em promoção é sentida como nunca antes.

A consentida disparidade me enoja, bem como os clichês, os chavões, o pré-formatado modus operantis e as monótonas conversas de jornal.

Observo o tagarelante monologo das pessoas de cabeças não pensantes, prisioneiras de consolos e conformismos inconseqüentes e, igualmente, constante monólogo da mente, prisioneira de preocupações com um futuro imaginário, num movimento que insiste me tirar do aqui e agora.

O vazio é o mesmo de sempre – só mudaram as buscas utilizadas para tentar aplacá-lo - e, quanto mais observo, mais as opções se mostram desprovidas de sentido.

Nada acontece... Só o sentimento de impotência.

Em minha volta, pessoas aterrorizadas com a menor possibilidade de lidarem com o próprio vazio, buscam em meio de um sofrimento silencioso, aplacá-lo com o vazio de relacionamentos vazios... Tenho observado que é no vazio que a vida dupla de cada um se apresenta e é nele que se sustentam os maiores auto-enganos. É nele que o medo da solidão cega a razão e obscurece a lanterna dos desesperados.

Eu somente observo.

De que adiantam palavras para aqueles que nem mesmo escutam a si mesmos?

Ou então com aqueles que insistem em comentários sobre o ausente outro?

Nunca ocorre um genuíno encontro durante estes encontros... São meros passatempos desnutritivos... Uma seqüência ilógica de blábláblás que não tem o poder de saciar a fome mais profunda de ser. Um blábládor sempre fala demais por não ter nada a dizer sobre si. No entanto, tenho aprendido como é fácil fazer um blábládor silenciar: basta olhá-lo profundamente na retina (ele sofre de uma espécie de alergia aos olhares de garimpo).

Mas, o grande problema já se encontra explicito na canção: que quem sabe faz a hora, não espera acontecer... A impotência reina aí: eu não sei! Neste novo paradigma, sou como o vazio de um cemitério de crenças. O antigo já não me faz, pois a observação tornou-me um zero. Libertou-me de ser uma fração, uma metade, contudo, só por agora, não me tornou um.

Como é desgastante ser um zero numa terra de meios... E na terra dos meios, as relações com os zeros são sempre fragmentadas e separadas por vírgulas... Sempre existem as restrições...

Continuo a observar...


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!