Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 julho 2012

O bem-aventurado estado de insatisfação e saturação com o que é

É comum, algumas poucas pessoas que se aproximam de nós, aqui chegarem nos relatando um profundo estado de insatisfação e de saturação total com tudo que se apresenta de conhecido. Segundo nossa vivência, isso é ótimo e ESSENCIAL, chamamos isso de "Ponto X", essa saturação, o fator determinante, o "Fator X" que abre um portal para nosso coração sutil. No início a coisa acontece mesmo pelo mental; é um "verbo", que leva um certo tempo para que o mesmo "vire carne e habite em nós", passando a fazer parte integrada de uma inteligência amorosa e criativa. A chave é a SATURAÇÃO, inclusive com tudo que colhemos na assim chamada "busca espiritual". Quando chegamos neste momento de saturação, nada daquilo que antes nos nutria, nos brinda com frescor ou nutrição. Há um sentimento de ausência, de falta de paz e, o que mais se apresenta é a solidão e o sentimento de não pertencer. Isso é o que convencionamos chamar de "Deserto do Real". Nesse período, é como se ninguém falasse a nossa língua, como bem diz o poeta, parece que ninguém está falando o que queremos escutar e ninguém está escutando o que queremos dizer. Mas, por mais doloroso que esse momento se apresente, o mesmo se faz profundamente essencial para o alcance de um estado de autonomia e autossuficiência psicológica. Os que se deparam com esse doloroso e fecundo período, são aqueles que, de forma arquetípica, já se encontram com mais de 40 anos no deserto do real. Já falamos aqui sobre isso, num áudio que se encontra em nosso blog, cujo título é: "40 anos no deserto — novas moradas de consciência". Se você é um daqueles que se identifica com isto que estamos falando, antes de mais nada, tenha em mente e coração o seguinte: nós lhe compreendemos, pois já vivemos isso e sabemos muito bem o quanto que esse momento é profundamente doloroso. No entanto, saiba você que, por detrás desse período doloroso é que se encontram as sementes de sua integridade emocional psíquica, bem como da descoberta de sua real vocação a qual aponta para um novo sentido e direção existencial, consciencial.
Caro confrade — poeta quase morto ressuscitado para o desfrute da realidade da vida — quando nos abrimos, quando nos prontificamos para uma escuta atenta dessa solidão, dessa insatisfação, para esse necessário processo de desilusão, nos permitimos o movimento interno de "desentulhar", movimento esse que nos prepara para a manifestação de um estado de ser cuja mente é "inocente", não condicionada, não maculada pelos limites do pensamento. Aqui já não há mais espaço para aquela doentia e tão incentivada busca pelo ajustamento ao que é tido como "normal"; isso já não faz o menor sentindo; só há espaço e energia para a entrega a algo que transcenda os limites do conhecido. É natural aqui que, muito daquilo que achávamos ser essencial, se mostrar como cinzas em nossas bocas: relacionamentos, profissões, instituições, tudo parece perder sentido; há uma imperiosa necessidade de algo mais, algo esse que, no mais intimo de nós, sabemos não se encontrar em nenhuma situação externa, nem mesmo, na antiga e tão alimentada idéia de consolo em alguma forma de um deus externo preconcebido segundo a nossa imagem e semelhança. É natural um forte impulso para abrir mão de várias situações externas, como se elas fossem a natureza exata de nossa angústia e insatisfação. No entanto, podemos afirmar que essa é mais uma das armadilhas de nossa mente condicionada. Não estamos querendo afirmar com isso que não existam situações que realmente se mostram prejudiciais e das quais talvez seja necessário nos distanciarmos. No entanto, podemos afirmar que, poucos são aqueles que conseguem perceber o que realmente precisa ser tocado; a mente, com sua sagacidade, disso que precisa ser tocado — que é ela mesma — nos mantém distanciados e inconscientes. Podemos alterar tudo em nossa volta, mas, se permanecemos presos na identificação mental, não há a menor possibilidade de conhecer o que vem a ser um estado de ser, cuja base está numa amorosa inteligência integrada, a qual é capaz de tornar nova todas as coisas, a qual é capaz de trazer um novo olhar em nossa vida de relação. Isso que torna nova todas as coisas é a essência de nossa natureza real, nossa natureza não condicionada, não contaminada pelo campo do pensamento, a qual nos brinda com a manifestação de nosso real local de ação neste espaço tempo, com uma mensagem "impessoal", da qual somos tão somente os mensageiros e não a mensagem, o que podemos também chamar de real vocação.
Caro confrade, esse período de solidão, esse período de insatisfação e descontentamento, o qual é profundamente essencial e evolutivo, funciona como uma espécie de portal que separa os adultos dos adolescentes espirituais. Em nossa adolescência espiritual é que nos permitimos ao ajustamento servil, o qual é motivado pelo medo do abandono e da solidão, pela necessidade de aceitação parental/social, a qual nos impele ao insano comportamento de autoboicote em nome de tentar atender essas inumeráveis e descabidas — quase sempre não atendidas exigências parentais/sociais. Esse período doloroso de desconstrução, aponta para uma nova maneira de ver a tudo, uma nova maneira de estar na vida de relação, nunca se quer imaginada. É natural, nesta faze de transcendência entre a adolescência e a maturidade do espírito humano, vivenciarmos um período de rebeldia — não inteligente — dotada de uma "visão ácida" e, não raro, "muito amarga", onde toda forma de relação se apresenta muito pesada, destituída de um estado de compaixão com o momento psíquico do "outro". Sem dúvida, aqui, é um momento de muita angústia e solidão que, apesar de se mostrar por vezes um tanto terrível, com o passar do tempo, se mostra profundamente fundamental... Funda novas bases para a faculdade do uso do mental de forma consciente e não, como outrora, de forma automaticamente inconsciente e reativa. Quando atravessamos este portal que nos direciona para o contato consciente com o ser que somos, em nossa real natureza, a qual nada tem em comum com essa persona, com essa imagem, com esse feixe de memórias que até então pensávamos ser, se manifesta em nós, tanto uma enorme e profunda compreensão de nós mesmos como do "outro" que pensávamos ser "outro". Portanto, caro confrade, essa capacidade de ficar com a solidão, sem anestesiá-la de nenhuma forma — mesmo com materiais espirituais livrescos ou institucionalizados — se faz PROFUNDAMENTE NEFCESSÁRIA —; é ela que nos prepara para a limpeza de nosso antigo vício de ser psicologicamente influenciados e que, sem a manifestação, de boa vontade à tal limpeza, não há como se instalar em nós um estado de genuína autonomia psíquica, a qual nos brinda com a capacidade de saber o que é a felicidade e a liberdade de estar consigo mesmo, seja em momentos de silêncio e de ócio criativo, seja em momentos de relação social ou de momentos de desfrute com a natureza que nos cerca e da qual, agora, somos parte responsavelmente integrantes. Quando atingimos este portal do ser que somos, um profundo movimento "criativo" começa a se instalar e, desse criativo, o despertar de nossos talentos adormecidos, tão essenciais para a ocorrência de nosso transbordamento vocacional que, em última análise, é o fundamento e o sentido de nossa encarnação neste espaço tempo.
Portanto, à você caro confrade que, por ventura, neste momento se depara com este fecundo período de descontentamento, de insatisfação, de angústia e solidão, o qual chamamos de "ponto de saturação", é com grande alegria que lhe incentivamos: ouse se abrir e abraçar com zelo este fecundo momento de gestação de um novo homem profundamente integrado com a essência de tudo que é. Saiba que, neste período, muito de nós vivenciamos na pele, dores corporais, as quais são bem naturais e que nada tem a ver com o que nossa mente condicionada tende a rotular como sendo somatizações emocionais. Aqui não tem nada de místico ou esotérico, no que lhe dizemos; se não bastasse a nossa própria vivência, saiba que acompanhamos muitas pessoas no mesmo processo, lemos muitas biografias que apontam para o mesmo. Aqui, trata-se de um descondicionamento, uma espécie de realinhamento corporal, um realinhamento de nossa energia vital, a qual vai trabalhando de forma sutil, a dissolução de nossos condicionamentos, sejam estes conscientes ou inconscientes. Se você quiser um exemplo, poderá recorrer a vivência do próprio Jiddu Krishnamurti, que teve essas dores por mais de 40 anos, relatando-as em alguns poucos livros. Não podemos afirmar isso, mas, nossa intuição nos diz que Krishnamurti procurava não falar muito sobre isso, ou mesmo sobre "Deus", para não acrescentar a possibilidade de mais condicionamentos aos seus ouvintes e leitores. No entanto, nunca ocultou isso daqueles que lhe estavam mais próximos. Na maioria dos casos, essa dor começa na região lombar, ciática, depois subindo para a região do pescoço, próximo as costas, bem na base do pescoço. Depois, num estado mais a frente, é comum senti-la próxima a região do omoplata e, mais adiante, não raro, no centro coronário. É comum a mente querer nos distrair com idéias de possíveis e sérios "problemas físicos". Quando essa dor começa a se manifestar nesse ponto coronário, a mesma vem acompanhada de uma espécie de "quentura", muito benfazeja, algo parecido como uma "chama", uma energia de sagrada presença. Krishnamurti, em seu diário escrito por volta de 1961, denominava essa energia de "a coisa" ou então, de "o processo". Esse é um momento em que, pelo constante processo de desidentificação com o antigo estado de mente, a dimensão de nosso "coração sutil" começa a se manifestar. Há uma percepção de que "algo" superior a nossa vontade nos prepara para o alcance de novos "estados de retomada consciencial". Nesses momentos, ficamos em silêncio, prestando atenção no "sopro" que nos habita e no qual somos; nessa percepção, "instala-se" uma "PRESENÇA" que transcende os limites do pensamento. Isso precisa ser uma vivência direta e não apenas mais uma idéia condicionante. Nossa vivência apresenta uma mescla entre fortes dores musculares e essas "invasões de quente presença", onde se dá também, uma "observação sem resistência" com relação a essas dores; por não ter espaço para qualquer forma de resistência, não ocorre a ampliação dessas dores; uma vez que há uma percepção real de que se trata de um necessário processo de "realinhamento energético", o que ocorre é uma total entrega a este fecundo processo consciencial.
Caro confrade, se, por acaso, você estiver vivenciando algo parecido ao que acima relatamos, sugerimos que você procure pelo livro de título, "DIÁRIO DE KRISHNAMURTI", o qual para nós, se mostrou profundamente revelador nesse momento. Portanto, se esse for o seu caso, se essa saturação e essa sensação de solidão estiverem fazendo parte de sua "estruturante desestruturação" das artimanhas do pensamento, a qual vive sempre criando conflitos, lhe sugerimos que você ouse dar as boas vindas à toda manifestação mental emocional, abraçando-a sem qualquer tipo de resistência ou justificação. Para nós, segundo nossa vivencia, de fato, esse é o um momento de parto de um novo estado de consciência; é como um estado fetal. Você pode abortar esse processo através da busca de entretenimento, de distração, ou então, pode dar a devida atenção ao sopro que anima a batida cardíaca desse SER que é você, e que agora se encontra saindo da identificação com os limites da dimensão mental para a infinitas possibilidades quânticas da dimensão sensitiva intuitiva, amorosamente criativa, a qual se manifesta na região sutil do coração, não no coração no sentido "carne, físico", mas num coração sutil de ENERGIA PURA.  De coração e mente aberta é que lhe afirmamos não haver nada de misticismo nisso, mas sim, algo realmente qualitativamente prático. Foi aqui que muitos de nós passamos a compreender — limpos de qualquer ranço de crença religiosa organizada — o porque de vários quadros antigos com a imagem de Jesus aparecendo com um coração pegando fogo, totalmente cercado de espinhos. Você consegue se lembrar de alguma imagem como esta? Aqueles espinhos, são arquétipos da solidão e da insatisfação das quais agora você se ressente; a insatisfação, o deserto... Nesses quadros, a imagem de Jesus sempre apontava para o coração? Você se recorda? Isso é um arquétipo do que agora você vivencia; sua coroa de espinhos criada pelos violentos ataques dos pensamentos mentais já cravou em sua mente; já fez sangrar o que precisava sangrar; agora é momento de renascimento, de ressurreição da consciência que você é, em seu devido lugar, outrora ocupado por uma imagem, por um ego. Caro confrade, você agora vive dores de parto, um parto delicado, que requer cuidados, zelo, silêncio, carinho, colo e, só você é que pode dá-lo. Isso é o que chamamos de momento de "prontificação", ou seja, estar pronto, mental, emocional e fisicamente para o "derrame dessa Inteligência Integrada", a qual se fez presente em vários homens e mulheres, entre eles, Krishnamurti. Isso é o que tentamos relatar em nosso 11º Passo: "Procuramos, através da percepção intensa do momento presente e do contato com a energia de nosso corpo interior sutil, abrir um canal conducente para um acesso consciente com o Não Manifesto, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade."... Percepção intensa do movimento presente, sem qualquer forma de resistência... Sem fugir, sem brigar, sem retalhar, sem comparar, sem justificar... Só observar, em silêncio e em entrega. Se isso ocorre, essa energia calorosa aumenta, consumindo condicionamentos, medos, angústias, ansiedades, isolamento, incapacidade de amar, instalando assim, uma profunda necessidade de entrar em contato com os outros, em querer "VÊ-LOS" pela primeira vez de forma incondicionada, com uma profunda capacidade amorosa de perceber e aceitar o momento psíquico daquele ainda plenamente identificado com a limitante e fragmentadora dimensão mental. Aqui, a vida de relação ganha uma nova dimensão, dimensão esta dotada de possibilidades de qualidade quânticas nunca antes sequer imaginadas. Portanto, PRONTIFICAÇÃO é a palavra; percepção do sopro que lhe habita, retomar seu ritmo no sopro que é você, percepção dessa energia vital bem ai no centro cardíaco, aceitação das dores corporais como parte de um processo de realinhamento energético e de descondicionamento celular.
Caro confrade, outra coisa que se fez muito importante e da qual já íamos esquecendo; sugerimos que você passe a observar seu condicionamento alimentar. Isso se mostrou também fundamental neste processo de retomada da consciência real que somos. Há uma lógica nisso; percebemos que era preciso nos manter o mais ociosamente possível, nos desgastar menos possível, nos dedicar à momentos de repouso observador, diminuir as atividades externas, nos recolhendo o máximo possível, algo como que um retiro sabático e, nesse retiro, tomar a consciência da necessidade de alimentos leves afim de NÃO TER QUE GASTAR MUITA ENERGIA ATRAVÉS DO PROCESO DE DIGESTÃO; passamos a ingerir muita água e nos alimentar com mais frutas e legumes; diminuímos muito a quantidade de carne — não a deixamos de comer — mas percebemos que a mesma demora e exige muito mais ENERGIA VITAL PARA SER PROCESSADA. Percebemos que as frutas e água nos deixavam mais "leves" e com o espaço entre os pensamentos bem mais fluído. Passamos a evitar ao máximo a gordura, não por questão de estética corporal, mas sim, pela consciência de que a mesma embotava as nossas células corporais, requisitando das mesmas, uma maior quantidade de energia vital. Caminhadas passaram a fazer parte do nosso dia e vimos que isso também fazia parte de um processo também feito por Krishnamurti. Um maior centramento e acúmulo de energia vital foi se instalando, uma clareza mental foi se instalando, um estado de presença consciente foi se instalando, uma nova fala foi se instalando, em outras palavras: CONSCIÊNCIA tornando-se consciente de si mesma.
Caro confrade, você está no lugar certo e no momento certo! Só é preciso abrir mão de qualquer forma de resistência, não pelo esforço, mas pela consciência... Não é o eu quem faz as obras, mas o pai — o princípio amoroso inteligente — no qual somos, quem faz a obra. Você nos parece estar num momento muito fecundo; parece ser um "defunto bom!", parece estar no ponto, pronto para morrer antes de morrer! Você parece estar farto para tudo isso que é ilusório e pronto para o conhecimento do REAL. Se é isso que você busca, tão somente o conhecimento da verdade que é você, estamos juntos para trocar figurinhas sem colar. Estamos juntos para trocar experiência quanto a este caminhar por esta terra sem caminho. Sugerimos que, quanto antes possível, busque pelo seu ritmo, pela observação do sopro no qual você é, sentando-se em silêncio contemplativo... Retomar o ritmo, oxigenar a mente e, o mais importante: DESENTULHAR!... Você já tem tudo o que precisa ai com você, nesse agora que é você, então, mãos no colo e coração na massa! Descanse no ser que é você! Pegue-se no colo e encontre ai, aquilo que busca! Você e o mundo merecem isso!
Um fraterabraço e que haja excelência no AGORA QUE É VOCÊ!
Outsider44

12 julho 2012

Dos desejos do eu à Vontade do Ser

Reunião transmitida pelo Paltalk na noite de 12/07/2012


Sinto ser os grupos anônimos, um necessário processo de “refamília”, processo esse que nos abre para os estruturantes fundamentos de uma “educação psíquica”, a qual, mediante sua instalação, ao mesmo tempo em que descondiciona nossa mente, a realinha com os níveis sutis de nosso coração. 
Os princípios espirituais contidos nos Doze Passos apontam para a revelação direta de níveis de consciência nunca antes se quer imaginados; são poderosas ferramentas necessárias para a instalação de um “processo de realinhamento e harmonização psíquica, emocional e física”, processo este que nos prontifica para o estado fecundo onde se torna possível a revelação da abarcante “Natureza Real que somos”, natureza esta, totalmente livre dos limites separatistas da imagem, da persona, do eu, do ego, com o qual, a maior parte de nós, por décadas, se viu totalmente identificado e que, por tal identificação, acabou mantendo estagnada nossa caminhada evolutiva consciencial, bem como nossos talentos tão necessários para a exteriorização de nossa real vocação.
Inicialmente, se bem trabalhados estes princípios espirituais quanto o disciplinar de um determinado padrão comportamental obsessivo compulsivo, num novo momento de consciência, estes mesmos princípios, mediante a presença de um estado de mente aberta, podem ser observados em níveis superiores que apontam para um necessário “alinhamento superior” — o qual não parte de nosso desejo e esforço —, pelo qual se dá o resgate e a reorientação de nossa energia vital — outrora desperdiçada com a prática comportamental da ativa —, para o conhecimento e a prática amorosamente responsável do serviço evolutivo vocacionado.
Para que tal “alinhamento superior” possa se fazer manifesto, há que se estudar de forma minuciosa e destemida a multiplicidade dos medos e desejos que parasitam nossos corpos psíquico, emocional e físico; medos e desejos esses que nos habitam — de forma totalmente indevida — desde a mais tenra idade e que, com o passar dos anos, à eles fomos acrescentando novas camadas que estruturam a desestruturação do conhecimento direto da realidade que somos, dessa imensurável grandeza que nos habita e na qual somos.
Em última análise, toda forma de sofrimento humano, toda forma de manifestação de conflito humano, encontra-se na inconsciência de nossa negligência de uma escuta atenta e não defensiva, tanto de nós mesmos, como da natureza e do “outro” com quem “pensamos” estar em real contato. Sem a tomada de consciência da gravidade e seriedade de nosso estado de inconsciência, o qual nos impede a escuta atenta da fala mansa e suave que nos habita e na qual somos, é humanamente impossível a descoberta de um “estado de ser” dotado de real sentido, amor, compaixão, felicidade, liberdade, autenticidade, originalidade, sensibilidade curativa e inteligência amorosamente criativa. Sem esse “contato consciente” com a Realidade que somos, estamos fadados à um “estado existencial” cujas frágeis bases se encontram na comparação, na imitação, na desumana competição separatista, no ajustamento servil, comportamentos estes, sempre moldados em arcaicos sistemas de crenças, disfuncionais tradições, modismos, manias, conceitos, achismos e neuroses coletivas. Enquanto não nos abrimos para essa prática da escuta atenta, enquanto essa prática não deixa de ser apenas um “verbo”, uma “idéia”, para passar então, a “habitar em nosso corpo, em nossa mente e coração”, não há como deixar de ser uma pessoa de 2ª mão; alguém que está sempre preso ao imperioso vício de “acumular” conhecimento de terceiros, estes, em sua grande maioria, conhecimento livresco e institucionalizado, portanto, nada tendo de original, nada resultante de um contato consciente com essa inefável grandeza que nos habita. Sem esta escuta atenta que possibilita um estado de “prontificação incorporante”, o único estado de ser que podemos conhecer está na continuidade de um compulsivo ciclo fechado de desequilibrios e infelicidade crônica, estado este que impede a tão necessária “reencarnação” da Consciência Real que somos, esta, até então abafada pela nefasta identificação com a imagem personalista de nós mesmos e do mundo que nos cerca, a qual ao longo dos anos de uma existência sem vida, viemos alimentando, com a ajuda da família e sociedade. Sem que ocorra a bem-aventuraça da “reencarnação” da Consciência Real que somos, não há como ocorrer a percepção pura do real sentido de nossa existência neste espaço tempo, não há como descobrir nossa real vocação, nossa missão no mundo, através da potencialização de nossos talentos adormecidos. Enquanto não “reencarnamos” a Consciência Real que somos, só podemos ser excelentes “mecânicos especialistas”, extremamente técnicos e cartezianos, mas destituídos da sensibilidade e da inteligencia amorosa vocacionada e, como resultado, não há como deixar de experienciar nossos quase sempre abafados sentimentos de tédio, mesmice, rotina e insatisfação, os quais nos forçam ao ciclo compulsivo de desejos, medos e nefastas somatizações.  
Na realidade, enquanto não “reencarnamos” esta Consciência Real que somos, além de continuarmos sendo vitimados por uma incessante rede de desejos — estes, quase sempre, desejos não originais, não oriundos de nosso interior, mas sim, desejos que seguem a tradição parental/social — não teremos a menor condição de viver a realidade da manifestação de uma qualitativa “Vontade Superior”, sem a qual, não há como descobrirmos o significado da verdadeira liberdade do espírito humano, bem como  daquilo que transcende em muito o que convencionou-se chamar de amor. O que hoje chamamos de amor, nada tem a ver com as genuínas qualidades do Amor; Amor não é apego parental, não é ciúme, não é prazer, não é desejo sexual, não é controle, não é posse, não é domínio. Não há como expressar o que é o Amor, só há como expressar aquilo que ele não é; para saber o que é Amor é preciso vivenciá-Lo e, em consequencia natural, expressá-Lo através de seu natural transbordamento ético. Quase todos nós falamos de amor e liberdade, mas, no fundo, no fundo, tememos a responsabilidade que os mesmos trazem em seu borjo; dizemos querer a excelência, mas, em última análise, a grande maioria de nós, conforma-se com aquilo que “pensamos” ser bom (ou o que nossas famílias dizem ser bom). Tudo isto, porque evitamos a ação curativa proveniente de uma “escuta atenta, não defensiva, não comparativa, não negociável”. Se existe algum tipo de “antídoto”, algum tipo de “Poder Superior” à estagnante “neurose do não-ser”, este se expressa através deste tipo de escuta incondiconada, a qual nos “prontifica” para um processo de “desentulho cultural”, sem o qual, não há como se manifestar a beleza, o frescor e a fecundidade criativa do imensuravelmente novo.
Todos os princípios espirituais contidos nos Doze Passos dos Grupos anônimos, trabalham para a reorientação de nossos desejos, para o realinhamento de nossos desejos deturpados pela ação de uma emaranhada rede de pensamentos condicionados pela cultura e tradição; eles possibilitam o recentramento no ser que somos, bem como a revelação de nosso desejo essencial: o conhecimento consciente da Vontade Superior que trazemos em nós e, pela qual, somos. No entanto, o conhecimento consciente desta Vontade Superior, só se faz possível se, anteriormente, dá-se o necessário trabalho de “reparação”, de “inventariar”, momento a momento, os condicionantes entulhos culturais que nos impedem de viver a realidade que somos e que nos forçam a continuidade da alimentação e defesa de uma auto-imagem falsa, a qual nos mantém estagnados num modo de existir sem o conhecimento direto do significado da expressão “Vida em Plenitude”. Todos trazemos no mais íntimo de nosso ser, aquilo que podemos chamar de um “desejo essencial”, desejo este que não se limita ao mundo das formas e a dimensão temporal. Tenho certeza que, você leitor, sabe muito bem o que significa isso que aqui, agora expresso; você pode até não saber explicar aquilo que lhe pede esse desejo essencial, mas, de fato, pode sentí-lo, a todo momento, escondido nessa constante inquietude que lhe impulsiona para algo mais, algo mais esse, que você nunca poderá encontrar na temporalidade do mundo das formas. Para tanto, se faz necessário inventaria de forma minuciosa e destemida “o que é que realmente buscamos”, “o que é que nos faz perder noites de sono ao mesmom tempo em que potencializa nossa energia vital”; perguntar “para que e para quem acordamos a cada dia”; no enfrentamento incondicionado e destemido destas perguntas e que podemos nos deparar com nossa resposta divina, a qual pode nos curar de nossa “disritimia do ser”, causada pela “disritimia do ter e do vir-a-ser”.
Através de nossa experiência, podemos afirmar que nossos conflitos existênciais se dão pela teimosia de atendimento dos insanos desejos de nossa personalidade viciada, em detrimento dos desejos dos Ser que somos; nossa mente nos pede por coisas finitas diametralmente opostas aos valores infinitos expressos pelos mais profundos anseios de nosso coração-amor-compaixão. É na continuidade de nossa imatura teimosia que se proliferam as raízes daninhas de toda manifestação de neuroses fragmentadoras e separatistas. Toda vez que insistimos em fechar nossa escuta atenta para esta fala mansa e suave que nos habita em nosso centro cardíaco sutil — e na qual somos — , consequentemente, damos continuidade as falas e imagens desconexas de nossa mente, as quais nos impelem ao ajustamento servil, nos afastando de nossa realidade interna; em consequencia, não há como deixar de somatizar o desequilíbrio causado por nossa falta de escuta à nossa profunda voz interior. Como nos dizeres de Jean-Yves Leloup:

“Quando mentimos a nós mesmos, quando fugimos de nossa vocação, quando renegamos o nosso ser essencial, ocorrem consequencias nefastas, não somente para nós mesmos, mas também para nosso ambiente... Não ser você mesmo, não escutar o seu desejo mais profundo, acarretará consequências sobre o outro — é bom que o saibamos. Estar em harmonia consigo mesmo, escutar a sua voz interior, mesmo se esta voz tem exigências que nos fazem medo, é bom para nós mesmos e não acarretará consequências nefastas para o nosso próximo.”
Tenho afirmado através das falas e textos que nos vêem em momentos menos esperadossem que os mesmos sejam “pessoalmente organizados” que, muitos daqueles que se deparam com os mesmos, se encontram naquele período fértil que convencionamos chamar de “período de 40 anos no deserto do real”, período este que nos apresenta o divino portal que separa os adultos dos adolescentes espirituais. Neste portal, já não há mais espaço para as imaturas escolhas de narcotização da consciência que somos, através do alimentar de infundados e inconsequentes desejos influenciados por uma enorme e intrincada rede de condicionamento social. Neste precioso momento de nossa caminhada por esta assim chamada “terra sem caminho e sem mapas psicológicos”, onde a única bussola se encontra em nosso coração util, para aqueles que se encontram “realmente prontos”, a única possibilidade que se apresenta à nossa frente é a de, com boa vontade e mente aberta, ser uma pacífica testemunha da abertura do imenso mar de nossa inconsciência, testemunhar esse que nos aponta para a travessia da irrealidade de nós mesmos, rumo ao sólido e fecundo solo da Natureza e Verdade que somos.
Não raro, para nossa tristeza, neste momento da caminhada, temos constatado que muitos são aqueles que, insanamente, preferem a fuga para o ajustamento ao servilismo escravagista da “normalidade social”, o qual os mantém num estado de analfabetismo quanto a realidade de si mesmos. Aos que tristemente optam por isso, a única possibilidade que se apresenta, se faz através do isolamento emocional e físico, o qual resulta num estado de mediocridade, aceleradamente e visivelmente debilitante. Por mais que estes “fugitivos da realidade de si mesmos” tentem disfarçar através de um estressante e narcísico colecionar de posses, poses, aceleradas e caras práticas externas, ou em raros caos, pela busca do velho conhecimento dogmático-esotérico-metafísico, os cacoetes de seus obesos ou anoréxicos corpos cansados — por vezes, cirurgicamente adulterados —, juntamente com suas repetidas falas, estas sempre embasadas num passado morto que nada de real acrescentam, bem como a falta de brilho em seus olhares exaustos, o qual tentam disfarçar com caros e irrealistas cosméticos, acabam sempre denunciando a ausência de Vida em plenitude em sua rotineira e mecânica existência, e que, em última análise, nada de qualitativamente estruturante deixa de herança para a tomada de consciência das futuras gerações.
Como o próprio título deste texto nos sugere, tudo na vida faz parte de um grande processo, o qual, na maioria das vezes, não estamos devidamente conscientes. Olhando para o nosso passado, se somos realmente sérios, podemos ver com facilidade que o medo e o desejo sempre estiveram presentes e que os mesmos, até determinado momento, serviram de ponte para as necessárias experiências formadoras de novos níveis de consciência. Inicialmente, nossos desejos e medos se encontram na esfera da limitante e condicionada busca de aceitação e validação parental/social. Somente depois de chegarmos ao fundo de poço causado pelos “naturais e certos” desencantos e desilusões, é que se manifesta em nós, um desejo de níveis muito mais sutis que já não se encontra mais na esfera do tempo e da forma: o desejo de ir muito além da herdada idéia de deus ou da crença numa imagem auto-criada de deus, para “a vivência direta da Realidade Inefável de Deus”. Este é um momento muito delicado, confuso e dolorido em nossa caminhada, um momento em que não somos bem vistos por aqueles que — como nós em nosso inconsciente passado —, ainda se vêem prisioneiros de imagens, crenças e conceitos referentes a deus. É natural aqui, além do medo do ostracismo, sermos também assolados pelo medo de estarmos ficando loucos, quando, na realidade, o que vivenciamos é aquilo que muitos místicos chamaram de “a loucura que a tudo cura”. Neste momento, perfeitamente elucidado nos dizeres do princípio do 11º Passo dos grupos anônimos, nosso único desejo está em aprofundar nosso contato consciente com Deus, não mais para fazer dele algo como um gerente bancário/imobiliário ou um agente matrimonial, mas para tão somente tomarmos conhecimento de sua Vontade soberana em relação a nós, rogando forças para realizá-la, uma vez que, sua Vontade sempre contraria os interesses umbigóides de nosso ego. Os desejos do eu, do ego, são sempre exclusivistas e autocentrados, visando sempre privilégios pessoais, não levando em consideração o que é de direito coletivo. Já essa Vontade Soberana, visa tão somente o bem estar comum, onde de fato, estamos incluídos, desde que tomada a devida consciência, muito além de um níve mental, de que somos todos um. Enquanto nos limites do eu, do ego, da persona que fomos sistematicamente incentivados a acreditar que somos, nossa visão permanece sempre num modo dual, separatista, isolacionista e profundamente competitivo. Quando nos chega a conciência da Consciência Real que somos, adentramos numa nova visão, visão esta que supera em muito a antiga visão dos olhos que pensavam ver e que, por pensar ver, continuavam a pensar de forma reativa. Já com a instalação dessa consciência da Consciência Real que somos, nossa visão passa a ser profundamente abarcante, comungante e profundamente solidária.
Outsider44

10 julho 2012

Dos desejos do eu à Vontade do Ser


Dos desejos do eu à Vontade do Ser

Sinto haver, no ambiente dos grupos anônimos, um necessário processo de “re-família”, processo esse que nos abre para os estruturantes fundamentos de uma “educação psíquica”, a qual, mediante sua instalação, ao mesmo tempo em que descondiciona nossa mente, a realinha com os níveis sutis de nosso coração.  
Os princípios espirituais contidos nos Doze Passos apontam para a revelação direta de níveis de consciência nunca antes se quer imaginados; são poderosas ferramentas necessárias para a instalação de um “processo de realinhamento e harmonização psíquica, emocional e física”, processo este que nos prontifica para o estado fecundo onde se torna possível a revelação da abarcante “Natureza Real que somos”, natureza esta, totalmente livre dos limites separatistas da imagem, da persona, do eu, do ego, com o qual, a maior parte de nós, por décadas, se viu totalmente identificado e que, por tal identificação, acabou mantendo estagnada nossa caminhada evolutiva consciencial, bem como nossos talentos tão necessários para a descoberta de nossa real vocação.
Inicialmente, se bem trabalhados estes princípios espirituais quanto o disciplinar de um determinado padrão comportamental obsessivo compulsivo, num novo momento de consciência, estes mesmos princípios, mediante a presença de um estado de mente aberta, podem ser observados em níveis superiores que apontam para um necessário “alinhamento superior” — o qual não parte de nosso desejo e esforço —, pelo qual se dá o resgate e a reorientação de nossa energia vital — outrora desperdiçada com a prática comportamental da ativa —, para o conhecimento e a prática amorosamente responsável do serviço evolutivo vocacionado.
Outsider44

02 julho 2012

O doloroso e cirúrgico processo de desenlouquecimento


A mente vive em constante viagem na ponte do tempo psicológico, ora em lembranças de memórias eufóricas ou depressivas, ora conjecturando situações de prazer, dor, discórdias infundadas e conflito humano; nesse movimento, a mente rouba-nos a possibilidade da vivência do Agora e, consequentemente, a possibilidade do desfrute da realidade que somos. Essas memórias, conjecturas e projeções nos chegam sorrateiramente, sem a nossa participação ativa, onde, se não há um estado de “presença atenta”, a ocorrência da identificação com a mesma pode potencializar um estado de materialização de suas sugestões e influências, com suas respectivas reações insanas causadoras de enormes fontes de conflitos — por meio dos quais, a mente consegue o alimento necessário para a continuidade de seu domínio, o qual impede a manifestação de um estado de Real Consciência Amorosa. Outra tendência da mente é criar o medo que produz o retrocesso, que produz a trave de tropeço para o alcance de outras moradas de consciência, medo esse criado pela ideia de que a busca, e tudo que foi visto até o presente momento, não passe de loucura, de algo que fará com que acabemos loucos, ou cometendo alguma espécie de loucura. Aqui, é preciso estar muito atento a esse movimento da mente, movimento esse, profundamente entorpecedor, um verdadeiro canto de sereias.

De fato, não é nada fácil se abrir de forma madura para profundos níveis daquilo que convencionei chamar de “ego-conhecimento” — o que difere bastante da ideia corrente de “auto-conhecimento”. Este momento de inventariar as situações passadas, aponta-nos para o conhecimento do modo como tivemos nossa vida, até então, totalmente inconscientemente identificada com o domínio do ego e suas exigências descabidas, tanto de nós mesmos, como com os demais seres humanos com quem “pensávamos” nos relacionar. Afirmo que “pensávamos” nos relacionar, porque, de fato, nunca houve um real relacionamento; o que havia era um jogo de interesses velados entre duas — ou mais — imagens. É muito natural que assim tenha sempre ocorrido, uma vez que, em nossa sociedade, não somos incentivados a buscar pela verdade, pela autenticidade, pela originalidade, mas sim, para alimentar uma “imagem social”, para alimentar uma “persona” com ares de responsabilidade, a fim de ficarmos, como no dito popular, sempre “bem na foto”. Esse tem sido o modo como por anos e décadas nos “contatamos” com os demais que nos cercam: apresentando sempre uma bela imagem, mas nunca, como nos disse um dia, um querido e distante confrade, com a disposição para a prática de uma honestidade emocional, capaz de “revelar o nosso negativo”. Somente o lado A era apresentado, nunca o nosso lado B e, dessa forma, sempre nos mantivemos em contatos fragmentados, em contatos pela metade, onde, de modo algum, havia a possibilidade da ocorrência de uma autêntica intimidade, esta regida pelas qualidades genuína do Amor, as quais nada tem a ver com a antiga imagem que trazíamos do amor: posse, controle, apego e extensão parental, dependência emocional/física/sexual, medo de abandono e solidão. Não é nada fácil assumir no mais fundo de nosso ser, que, no que diz respeito ao genuíno Amor, Dele nada sabemos e, portanto, a maioria de nossas escolhas e ações — senão todas — fizeram-se fundamentadas, tão somente, nas enferrujadas e pesadas algemas do auto-interesse. Para se olhar isso de frente, sem qualquer tipo de justificativa, há que se ter alcançado aquele estado de “deserto existencial”, onde, meias-verdades, já não apresentam as necessárias condições para saciar nossa profunda “Sede de Vida em Plenitude”. No entanto, aqui, para aqueles homens e mulheres de mente aberta e boa-vontade, outra opção não se mostra possível, a não ser se abrir para a ação cortante e curadora do bisturi da Verdade. Nestes momentos, a prática da observação do movimento da mente em meio de recolhimento em quietude inativa, do silêncio, do centramento no sopro que nos habita e no qual somos, se fez uma importante ferramenta de equilíbrio, o qual passamos a perceber que não se emanava de nosso mente, mas sim, das profundezas de nosso centro cardíaco. A prática do contato consciente com a consciência que somos — em todas as nossas atividades —, passou a ser como que uma “hemodiálise do espírito”, através da qual, encontramos uma desconhecida energia em nosso sangue, com a qual conseguimos fazer frente ao doloroso processo pelo qual “antigos véus de ilusão”, momento a momento, passaram a ser de nós arrancados.   

Se abrir para um profundo e minucioso inventário no tocante ao nosso modo de estar na vida de relação, quase sempre se mostra profundamente doloroso, uma vez que não é nada fácil se deparar com as facetas do ego que “acreditávamos ser”, se deparar com seus auto-enganos, suas negociatas e autointeresses inconfessáveis, bem como com seus respectivos comportamentos insanos, os quais sempre tentávamos manter afastados da consciência dos demais —  bem como da nossa — a custa de uma enorme perda de energia vital. Quando nos abrimos para esta salutar prática que aponta para um “processo esvaziamento curativo”, a mente contra-ataca, sempre de forma feroz, feito inimigo acuado em suas trincheiras, atacando com sua pesada artilharia de profundas ansiedades, medos e culpas e infinidades de reações escapistas.

De fato, não é nada fácil fazer frente a esta “observação passiva”, pois, em certos momentos, a sensação que nos chega é a de que estamos num processo de “enlouquecimento”, quando, na realidade, estamos nos prontificando para a ação de um “doloroso e cirúrgico processo de desenlouquecimento”, uma vez que, aquilo que seria loucura, seria dar continuidade a manutenção de um modo de ser totalmente baseado na sustentação de uma desgastada e solitária imagem, a qual sufocou por décadas, a possibilidade da potencialização das sementes de nossa integridade, a qual tem por seus frutos, a instalação da consciência de “nossa real natureza”, esta, totalmente livre da antiga e nefasta influência egóica. Para aqueles de nós que aqui chegaram, já não havia mais espaço para a ilusão de que, o por nós tão buscado “estado de unidade interna e bem-estar comum” poderia ser conseguido por meio da manutenção de uma recheda conta bancária, uma vida familiar dotada de respeitabilidade social, o poder e o prestígio ou a satisfação de nossos instintos degenerados pela ação da rede do pensamento condicionado; no mais fundo de nós — naquela região que não pode ser maculada pela ação do pensamento —, sentíamos que, nossa única possibilidade sanidade, estava naquilo descrito por tantos místicos, poetas e santos: uma experiência direta da realidade que somos, não num futuro distante, mas neste eterno aqui e agora. Em vista desta conscientização é que, de bom grado, nos abrimos para o conhecimento da verdade e para a manifestação daquilo que por ela nos era apontado.

Agora pela manhã, as dores que até ontem se apresentavam na região escapular direita, ampliaram-se de modo quase que insuportável, estendo seu raio de ação até o antebraço, o peitoral e a base do pescoço (todos do lado direto). No entanto, apesar da dor, há uma profunda percepção de que a mesma cumpre seu devido papel naquilo que convencionamos chamar de “processo de realinhamento energético”, visto que esta dor tem percorrido várias regiões do corpo, sendo que na maioria dos casos observados, a mesma teve seu início na região lombar, ciática.    

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Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

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Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!