Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 fevereiro 2012

O anulante paradigma "Quem sou eu?"

Em verdade vos digo que,
se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças,
de modo algum entrareis no reino dos céus.
Mateus 18.3

Na busca da compreensão de si mesmo, busca essa iniciada, quase sempre, após um nebuloso período de angústia, dor e profundo sofrimento psíquico, sai o homem batendo em inúmeras portas que lhe prometem soluções fáceis para o imenso tormento que rouba-lhe a alegria de viver. Em cada porta, depara-se ele com novos conhecimentos, conhecimentos estes que, quando observados com profunda dedicação e seriedade, possibilitam o material necessário para o início do "ego-conhecimento", o qual é erroneamente conhecido como processo de auto-conhecimento. Este processo inicial de ego-conhecimento só é possível, graças ao estado de profunda humildade, atingido graças a enorme surra emocional imposta por seus tormentos e conflitos. Somente neste estado de profunda humildade, encontra-se o homem, livre de qualquer forma de resistência ou escolha e, através dessa liberdade, lhe é restaurada a saneadora "capacidade de escuta". Através desta capacidade de escuta — isenta de qualquer forma de resistência ou escolha — passa o homem a receber o necessário conteúdo para o início de sua "desprogramação", para a instalação de um processo de "descolonização de sua mente e coração", de um processo de libertação de toda forma de condicionamento, herdado, adquirido e por si mesmo alimentado dentro de seu limitado e adoentado ciclo parental/social. 

Inicialmente, motivado pela dor — ou mesmo pela lembrança de suas ataques passados — mesmo que o conteúdo do novo conhecimento que lhe fosse apresentado, soa-se como algo completamente estranho, sem sentido e, portanto, de difícil assimilação, por não ver outra opção, o homem a este conhecimento se dedica com total afinco, disciplina e determinação. Então, devido sua seriedade de entrega, sem que se perceba, pela constante prática meditativa sobre tais novos conhecimentos, quando menos espera, vê-se livre dos "tormentos iniciáticos" que o colocaram na senda do ego-conhecimento. A partir de então, começa ele a perceber, com profunda alegria e gratidão, que os medos que até então lhe roubavam as noites de sono, bem como a energia vital para o seu dia-a-dia, não mais exercem poder sobre ele. Ao contrário, a simples lembrança com relação a tais medos, quase sempre é vista como motivo de riso e de profunda gratidão, uma vez que, não fosse por esses medos, não teria encontrado as portas que lhe indicaram uma nova maneira de viver. 

Se a "dor iniciática" tiver sido vivida até o seu limite, se não tiver sido "narcotizada", se não tiver sido aliviada por algum mecanismo de fuga auto-escolhido — o que demostra seriedade por parte do homem —, este perceberá em seu devido tempo, o momento certo de, com gratidão, abrir mão das portas iniciais e seguir, de forma solitária, em direção à conhecimentos mais elevados, capazes de lhe mostrar de forma mais apurada, a sutileza e sagacidade do ego-humano. 

Se inicialmente, o medo e a preguiça eram as influências que podiam impedir o homem de seguir rumo ao desconhecido de si mesmo, agora, seus grandes inimigos passam a ser o orgulho intelectual, a soberba erudição e a estagnante respeitabilidade liderante. Não raro, é neste fétido pântano do "agora eu também sei que sei", que boa parte dos homens perdem a capacidade do exercício da escuta e da entrega incondicionada, as quais são insanamente substituídas pelo auto-engano da "liderança sacerdotal catequista", liderança esta alimentada pelo doença da codependência que mantém estagnados outros homens e mulheres, ainda vitimados pela ação do medo e da preguiça, que impedem o necessário processo de mudanças que traz libertação. 

Assim como a dor iniciática precisou ser levada ao seu ápice, do mesmo modo ocorre com a capacidade de escuta. Sem o ápice de qualquer uma das duas, não há como seguir viagem rumo a desconhecida natureza real do ser que o homem é.  Como pode o homem escutar algo que venha das profundezas do ser que lhe faz ser, quando se encontra preso pelo auto-engano do "agora eu também sei?", quando, por meio deste auto-engano, não se encontra nem se quer disponível para a escuta daqueles com quem mantém superficial contato? Essa poderosa armadilha do "agora eu também sei", quase sempre, coloca os olhos do homem nos limites da exterioridade, sempre voltados para a constatação do fato da insanidade social, o que gera em si, uma perigosa forma de dispersão que impede a continuidade do conhecimento das limitações impostas pelo seu próprio ego, no tocante ao interior de si mesmo. Dessa forma, na estagnante zona de conforto gerado pelo encontro com o "bom", o homem acaba abrindo mão de seguir viagem rumo ao portal do "melhor", o qual antecede o portal final, onde se depara com o paradigma da  "excelência", o qual torna nulo, todo conhecimento prévio adquirido ao longo do doloroso processo de ego-conhecimento. Só então, diante do portal do paradigma da excelência humana, é que o homem pode alcançar o nível do verdadeiro "auto-conhecimento", o qual só ocorre, quando as respostas para as perguntas "Quem sou eu?", "Quem é este que habita este corpo?", dissolvem por completo todo conteúdo observado e absorvido através dos estágios anteriores de ego-conhecimento. 

O amor é criatividade própria

O ser humano nasce para amar. O amor é criatividade própria. E, quando não há amor, surgem as tristezas, os medos, em consequência, toda criatividade é interrompida.

27 fevereiro 2012

O limiar da observação consciente

Busque um estado de observação consciente que desconfia, adverte, deixa de lado e segue além dos velhos padrões comportamentais de pensamentos, sentimentos e reação; que não se identifica com a mecânica trama de busca de distração, produtora de inconfessáveis anseios e medos, a qual é fonte de inesgotável conflito, com sua consequente perda de energia vital. Busque um estado de observação consciente capaz de trazer a libertação de toda forma de apego, que liberte da ilusória e somática identificação corporal; um estado de observação, cujo foco encontra-se no Ser, no Sopro que nos habita e pelo qual, somos. Busque esse estado de observação consciente que nos liberta da escravidão causada pelo indevido foco nas ocorrências externas, em efêmeras e transitórias buscas egocêntricas que não resistem à ação do tempo e espaço. Busque um estado de observação consciente que não se apega aos limites impostos pelos nomes, palavras e formas; que não está restringido pelos conceitos, idéias, aparências, ocupações contraditórias, a transitoriedade dos desejos, as expectativas e sensações e que, não dá realidade, ao fluxo das constantes imagens, auto-induzidas, que surgem na tela da mente condicionada. Busque um estado de observação consciente que aponte para a percepção direta de que a única realidade, que não é limitada pela ação do tempo, portanto, não transitória, é o Ser no qual somos; realidade esta que, em última análise, é o único estado capaz de lhe brindar com segurança real, fluidez, frescor, felicidade e liberdade de idéias, ações e ilusórios desejos. Só então, o buscador e a busca, cessam de existir. Observe e absorva, isso, por si mesmo.  

24 fevereiro 2012

Sobre conversas de balcão

Nas eufóricas e egocêntricas conversas de balcão, estas quase sempre pautadas nas últimas notícias do jornal, todos demonstram saber tudo a respeito de tudo. No entanto, pelo estado de seus corpos, a falta de brilho no olhar e a grande quantidade de garrafas vazias sobre o escuro batente de mármore, da realidade de si mesmos, de seus pensamentos e sentimentos, desconfio que nada sabem. 

23 fevereiro 2012

Sobre o processo de dispersão mental

O eu, o ego, está sempre preocupado com o ponto de vista de outros egos, de outros eus, em relação ao seu modo de ser, pensar, se expressar e agir. Essa constante preocupação provoca a ansiedade e impede a livre expressão de ser — ainda que adoentada pela identificação ilusória com as exigências descabidas geradas pelo próprio ego. O ego cria o conflito e, ao mesmo tempo, cria também a distração, a dispersão, a qual nos impede de ir até o fundo do conflito, atingindo sua raiz — que é o próprio ego — e assim, compreende-lo e dissolve-lo de uma só vez, sem a necessidade da ideia de tempo — que também é fruto do ego — para que ocorra a necessária eliminação do domínio do ego. Esse tirano sustenta o conflito por meio de lembranças e projeções e, nesse movimento no tempo, impede a compreensão que só pode ocorrer quando, plenamente, holisticamente, nos encontramos no agora. Através desse constante fluxo de lembranças e projeções que ocorrem na ponte do tempo passado-futuro, medos egocêntricos se instalam e, se não estamos atentos, minam nossa energia vital, em consequência, nos quedamos letárgicos, paralisados. Nesse estado de letargia, nada de criativo pode  se manifestar, somente a repetição do passado, com algum tipo de mecanismo de fuga, resultante de nossas experiências passadas, agravadas por suas repetições. Por sua vez, esse mecanismo de fuga, resultante do passado, nos mantém no passado, nos mantém no ciclo vicioso do ego com seus resultantes e inevitáveis conflitos. O que não percebemos é que o vício não está no mecanismo escolhido para que a dispersão ocorra, mas sim, no próprio ato da dispersão. Mesmo a luta, o enorme esforço para a superação do vício quanto ao mecanismo de dispersão escolhido, em si, já é uma forma de dispersão que causa profunda perda de energia. A meta desse processo de dispersão está em impossibilitar um encontro com a Verdade, um encontro com a Realidade, um encontro com aquilo que de fato somos, quando libertos da identificação ilusória com o herdado ego parental/social, por anos por nós alimentado e cultivado, devido nosso estado de inconsciência. A dificuldade maior se encontra no fato de que esse processo de dispersão, além de ser profundamente ligeiro, é também profundamente sutil. Para que ocorra a percepção dessa velocidade e sutileza do processo de dispersão gerado pelo ego, a mente precisa estar calma, ou seja, livre de conflitos, caso contrário, esse movimento de dispersão acaba passando de modo imperceptível e, com isso, dando continuidade a uma existência, destituída de vida, devido a identificação ilusória com o ego. Sem a percepção desse mecanismo de dispersão egocêntrica, torna-se impossível uma vivência plena do agora e, sem a vivência plena do agora, a genuína criatividade, a liberdade e a felicidade não passam de desconhecidos pratos em nosso menu de comidas requentadas. 

22 fevereiro 2012

Qual a resposta certa para o sofrimento humano?


A mente com seu constante fluxo de imagens — não solicitadas — impede a vivência plena do presente momento, do agora. O constante fluxo de pensamentos se intercalam entre momentos vividos, lembranças, projeções imaginativas e preocupações referentes aquilo que possam pensar ou dizer diante do nosso comportamento, diante do nosso modo de pensar, sentir e agir. No entanto, não é difícil a constatação de que, nesse movimento autocentrado, nada há de realidade. O estado de observação é um poderoso antídoto contra a instalação do processo do que chamo de identificação reativa. O pensamento, o ego, o eu, com seu mecânico e aceleradíssimo e auto-induzido movimento, insiste com imperiosas sugestões e influências de identificação que, uma vez ocorridas, tornam-se fonte de inesgotáveis conflitos pelos quais o ego, o processo de pensar, retroalimenta-se. Esse acelerado movimento auto-induzido é a ferramenta pela qual o ego, o eu, se defende do processo meditativo, o qual, segundo inúmeros "homens e mulheres que deram certo", pode levar a percepção direta, ou seja, não dependente de terceiros, de um estado de natureza totalmente destituída do ego com todo seu acervo de medos e ansiedades. No entanto, se faz necessário muita atenção para que não ocorra a perda do foco e desse modo, cair naquele estado de torpor mental, quase que hipnótico, proveniente do processo do movimento do pensamento, o qual sempre ocorre na ponte do tempo, passado-futuro. Quando no processo meditativo, a mente sempre tenta influenciar a identificação para alguma forma de atividade externa, qualquer uma que, uma vez identificada, impeça a continuidade do processo meditativo e, dessa forma, inviabilize a possibilidade da percepção de um estado livre dos movimentos da mente. O ego, que se mantém através do constante fluxo da atividade mental, não tolera a menor possibilidade de um "estado de entrega", um estado de apenas "ser". Ele nos impele à um constante estado de ação, de atividade centrada no externo. Ele insiste que não há nenhum tipo de lógica e muito menos praticidade neste tipo de "ativa inatividade" e, por isso, grita por uma "ativa atividade". O ego não acredita que possa ter algum dinamismo salutar no estado de passividade ativa. Ele insiste em ser o agente solucionador de toda forma de conflito e confusão — por ele mesmo causados — e, dessa forma, sustenta um ciclo vicioso de atividades reativas, as quais lhe garantem a sua manutenção e continuidade. A insanidade facilmente percebível é que, o "agente descontrolador", é o mesmo que tenta manter-se livre de qualquer forma de descontrole emocional. Diante disso, as perguntas que surgem são:

Qual a possibilidade de um estado de observação de todo movimento do ego, do eu, seja através do constante fluxo mental ou através dos constantes impulsos dos sentidos, emoções e sentimentos, livre de qualquer tipo de identificação reativa?

Qual a possibilidade de um estado de observação, um estado de atenção onde, através dele, o observador, o ego, o pensamento, possa ser dissolvido de imediato, sem a identificação com a ideia da necessidade de um movimento no tempo — como um processo evolutivo — para que tal dissolução possa assim ocorrer?

Fora a meditação, haveria algum tipo de ação capaz de eliminar de imediato, de uma só vez, nossa adoentada, atormentada e dependente personalidade psíquica?

Para o pensamento, para o ego, o eu, não faz sentido algum dedicar tempo e energia sobre essas questões. No entanto, em vista do crescente e gritante estado de sofrimento humano, causador de infinitas formas de somatização, pergunto:

Que descoberta seria mais importante para a raça humana do que  percepção direta das respostas certas para estas perguntas?

18 fevereiro 2012

Sobre desespero

Amigo: em seu desespero, Deus, espera-Se.

nj.ro@hotmail.com

17 fevereiro 2012

Sobre máscaras e carnaval


Quando o homem parece estar perto de rasgar suas máscaras, 
chega outro carnaval.

A grande revolução outsider

Uma exemplificação da eliminação da irreal natureza

A emoção mais bela que podemos experimentar é a mística. Ela é a propagadora de toda verdadeira arte e ciência. Aquele para quem essa emoção é estranha... está, por assim dizer, como morto.
Albert Einstein

A transformação da consciência humana, sempre foi marcada por alguma grande revolução. Entre as últimas que nos proporcionaram muitos avanços — e também enormes retrocessos — podemos destacar a revolução industrial, a revolução tecnológica, cibernética e informacional. Sinto que, não muito longe, adentraremos, com ajuda dos erros e acertos destas últimas grandes revoluções, na mais importante e qualitativa revolução: a revolução consciencial. As últimas revoluções foram de extrema importância para que fosse possível a potencialização do milenar embrião da revolução consciencial. A indústria, a tecnologia e a informática, facilitaram como nunca antes, o acesso e o livre intercâmbio de mutantes conteúdos de consciência. Talvez, essa revolução teve seu início, muito antes que estas últimas, no período em que o nosso irmão pré-histórico, elevou ao ar, pela primeira vez, um pedaço de madeira em chamas, descobrindo assim, o fogo e a sua importância. A partir de então, o germe desta revolução consciencial tem sido alimentado por poucos homens e mulheres — os outsider's —, que além do despeito do grupo a que faziam parte, em nome de honrá-lo, decidiram inclusive, de bom grado, abrir mão de suas existências. Chegamos até aqui e, por maiores que venham a ser as tentativas de controle, por maiores que sejam as formas de retaliação, por parte daqueles que temem a explosão desta revolução consciencial, sinto que não há mais como deter seu crescimento, instalação e manifestação. A rede de outsider's, a cada momento, se amplia em quantidade e qualidade. E você, que agora se depara com este artigo, cabe a liberdade de assumir ou não, seu devido lugar e dividir conosco, a responsabilidade de sustentar e manter acesa, a pequena chama que faz parte de seu DNA, chama esta que sempre esteve presente, muito antes de nosso primeiro ancestral. Se você aceitar este desafio, com sua ajuda, juntos, seremos então capazes de honrar uma antiga e, por muitos incompreendida, máxima do espírito:

"Crescei e multiplicai-vos e enchei as ás águas do mar da consciência; e que os pássaros da felicidade e liberdade se multipliquem sobre a Terra!" 

15 fevereiro 2012

Excitante desafio


Mais do que nunca, agora é a hora de aceitar o excitante desafio: tempo de silêncio, solitude e receptiva passividade — livre do acúmulo e anseio por conhecimento.

nj.ro@hotmail.com

Deixa isso pra lá


Quando alguém diz algo de negativo em relação aquilo que pensam que sou, não há motivos para expressar nervosismo. Do mesmo modo, quando dizem algo de positivo em relação aquilo que pensam que sou, também não há motivos para manifestar orgulho. Nervosismo ou orgulho só é possível quando não sei realmente o que sou; se sei o que sou, se sou consciente quanto a real natureza do que sou, não me importo com aquilo que pensam ou falam. Só nessa consciência, sou livre de qualquer traço de emotiva dependência. 


Medo da vida


Muitos são aqueles, que pelas estradas da vida, se encontram "viajando", sempre preocupados com a possibilidade de que nos futuros quilômetros, um dos pneus possam vir a estourar. Ficam presos no interior de suas mentes, hipnotizados com  semelhantes e estressantes monólogos: 

"E se acontecer como daquela vez, há dez anos atrás, quando, sem estepe, tive que ficar por horas, num canto escuro da estrada mal sinalizada, à espera de um socorro seguro? E, caso fure, o que farei se os parafusos da roda estiverem emperrados? E se eu trocá-lo e, mais adiante, o estepe venha a furar antes que eu encontre um local seguro onde possa concertá-lo?... 

E, sem que se percebam, assim passam pela existência, sem vida, totalmente desatentos, sem a capacidade de apreciar o presente da beleza que se apresenta, sempre, no perímetro presente.

Títulos e rótulos


Grande parte das pessoas foram formatadas para darem demasiado valor aos títulos e aos rótulos, em consequência, existem neles e, para eles. Os títulos e rótulos lhes são muito importantes — eles encobrem e artificialmente "embelezam" a superficialidade de uma vida cujo fundo, é medo. Sem os rótulos, sentem que nada são. Se ousassem, uma vez que fosse, das as boas vindas ao medo, ao nada, descobririam para sua surpresa, a realidade daquilo que são. E, nesse estado são, talvez, com inefável alegria e simplicidade exclamariam: "Ah! Sou Isso!"  


Gosto é gosto


Quanto mais escuto sobre os desejos humanos, mais fico em dúvida se devo rir ou chorar. Dias atrás, fiquei sabendo que existem pessoas dispostas a desembolsar algo próximo a R$700,00 para, pelo curto período de 15 minutos, darem uma volta atrás do volante de um Camaro ou de uma Ferrari. No entanto, estas mesmas pessoas, com certeza, não sentem a minima disposição para investirem menos de 5% desse valor, para se dedicarem a leitura de um bom livro que as livraria de inúmeras ilusões. Inclusive, a do Camaro e da Ferrari. Fazer o que? Gosto é gosto e não se discute. Inclusive a caríssima consequência: o amargo preço do desgosto que fatalmente chega — para alguns somente momentos antes da morte — da ilusão de que estavam realmente vivendo.

Sobre as sandices do ego

Com relação as sandices do ego, o corpo — que por elas é por demais afetado — é o último a perdoá-las. O problema é que, muitas vezes, não há tempo e nem condições para restaurar sua naturalidade saudável.

14 fevereiro 2012

Sobre a alimentação correta


Perguntaram-me o que penso a respeito do movimento chamado "viver de luz". Penso que, o importante não é saber se você vai viver se alimentando de carne, vegetais ou de prana. O importante, antes de tudo, é saber se você está vivo, o que significa, desperto.

Meu negócio é dinheiro!


Quanto mais responsabilidade financeira assume o homem, mais ele precisa abrir mão de sua naturalidade e da ociosidade. Sem ociosidade, sem a vivência da passividade dinâmica, como pode ele, ver algo diferente ou ver o falso do meio em que se encontra inserido? Como poderá ver algo de original, como poderá ser uma  fiel expressão da criatividade? Como poderá deixar de ser uma cópia, ainda que levemente modificada? E, sem ser uma fiel expressão da Fonte de inesgotável criatividade, como poderá ele, superar seus mais profundos medos e, pela superação dos mesmos, ser livre para, pela primeira vez em sua vida adulta, com entusiasmo celebrar a Vida? Quando um homem não celebra a vida com entusiasmo mas, a empurra por causa dos deveres e responsabilidades, o que mais pode ele vivenciar além de rotina, tédio, insatisfação e constante fluxo de ansiedade? Como pode o homem, quando não se encontra em harmonia com o natural fluxo da Vida, ser livre do silencioso e disfarçado estado de tensão, oriundo de seus inconscientes medos? Como poderá superar o herdado vício de estar em constante atividade? E, sem se permitir salutares momentos de repouso, como pode o conhecimento do Ser, a presença do Ser, a calorosa chama do Ser, em seu coração, fazer pouso? 

Sobre o ato de contrariar


Alguns dizem — e não estou preocupado quanto ao porque de dizerem isso — que sou sempre do contra. Não vejo nisso nenhum problema, muito menos qualidade, de fato, acho isso bastante natural. Qualquer um que comece a exercitar a capacidade de fazer o devido uso de sua mente será capaz de exercer o bom-senso que, em última análise, sempre aponta para aquilo que é verdadeiro. Para isso, basta acordar.

Sobre ser humano


Grande parte dos seres que se pensam humanos, estão mais interessados em adquirir saúde financeira e proprietária do que em desadulterar sua saúde física, mental e emocional. Eles não possuem a consciência de que, só esta desadulteração, pode ser capaz de lhes proporcionar a mais rica das propriedades: a de genuíno ser humano. 


13 fevereiro 2012

Sobre passividade


O estado de passividade é uma arte que deveria ter sido fundamentada ainda no tempo de nossa infância. Infelizmente, o que sempre se apresentou foi uma cartilha de formatação para a acelerada busca de resultados, para a busca da ação, do fazer condicionado. Nunca nos foi ensinado que a ociosidade passiva é um estado fundamental para que a criatividade dinâmica se apresente. Por causa disso, a grande maioria de nós, até hoje, não passa de meros imitadores, publicitários de idéias alheias — quase sempre sem remuneração — sem o menor sinal de originalidade. E é essa falta de consciência e manifestação de nossa originalidade, que no mais fundo de nós, nos rouba a atividade da paz, uma vez que a vida, é constante criação. 

As mensagens chegam por todos os lados

Estava aqui, em plena tarde úmida desta segunda-feira nublada, sentado numa velha e já enferrujada cadeira de praia, daquelas cujo assento é de nylon, meditando a espera de um insigth revelador para as perguntas "O que sou?"  e "Qual é minha vocação?", quando de repente, o som de uma música vindo do carro de nossa vizinha, contrariou de forma poética e românica, as falas do pensamento que insiste em dizer que este estado de meditação não passa de uma viagem, de uma loucura. Tudo se deu muito rápido, o tempo suficiente entre ela frear o carro e desligá-lo diante de sua garagem. Só deu para ouvir, aquilo que era realmente necessário:

"Deixa ser pelo coração, se é loucura, então, melhor não ter razão"

As mensagens chegam por todos os lados; só é preciso estar desperto... E seguir viagem!

Depois disso, a benfazeja quentura na região coronária, voltou a se manifestar com maior intensidade.  


A difícil arte de revelar-se

Quando ninguém se mostra pelo avesso, quando todos mantém hermeticamente fechada a realidade de seu lado "b", torna-se impossível a ocorrência de um real Encontro, de um real comungar, de uma real celebração onde, o que é Solene, se apresenta. Onde a abertura para o solene não se apresenta, de modo algum pode se dar a nutrição emocional. Na maioria dos encontros, de fato, há muita nutrição alimentícia, quase sempre de maneira excessiva, mas, no que tange à nutrição interior, só migalhas. Só uma pessoa sensível não se satisfaz com isso, só uma pessoa sensível é capaz de sentir intensamente, integralmente, o fastio de um encontro destituído de um real Encontro, de um verdadeiro celebrar. A celebração só ocorre quando se apresenta um comum revelar-se. Só uma pessoa sensível não anestesiará através dos alimentos — e por vezes com o álcool e o tabaco — a insatisfação causada pela ausência do revelar-se. Nem se permitirá o modo mais comum e socialmente aceito de se anestesiar, que se dá através das repetidas e superficiais conversas. Uma pessoa sensível abraçará a sua insatisfação e a degustará, em meio a sua solidão perceptiva que aponta para a compaixão. Ela se manterá em profundo estado de silêncio. A compaixão — não o que pensam ser compaixão — traz em si, a necessária capacidade de perceber se há ou não o espaço fecundo para a gestação de um real Encontro. Quando esse espaço não se faz presente, a compaixão se expressa pelo silêncio e a solidão. O não comungar de um encontro que não aponta para um real Encontro é o único modo de comungar, de forma legítima, com aqueles que mesmo presencialmente, interiormente, em nada comungam. Isso só é possível para as pessoas sensíveis. Só uma pessoa sensível é capaz de permanecer calada, envolvida em sua perceptiva solidão, que em última análise, é a essência da compaixão. A compaixão a que me refiro é a capacidade de olhar o outro, independente da realidade dos fatos, com paixão. Só uma pessoa sensível, de bem com sua solidão, é capaz de se manter integra e perceptiva ao ambiente, indo muito além da superfície das aparências. Só esta sensibilidade apresenta a capacidade de ouvir e ver, capacidade esta que ocorre de modo natural, sem qualquer resquício de esforço. Só a pessoa sensível é capaz de perceber a realidade interior, os fervilhantes desejos e motivos ocultos, que movem as pessoas a fugirem de uma autêntica intimidade, quase sempre por meio da infinita rede de superficialidades desnutritivas. Nessa sensibilidade, só há a percepção dos fatos, o que nada tem haver com o comum estado de criticismo interior. Um real Encontro só é possível entre corações maduros, nos quais a sensibilidade está presente. Não me refiro a sensibilidade do pensamento, do ego, do eu, na qual, — como apresenta a triste realidade —, a maioria se encontra envolvida. Não me refiro a essa neurótica sensibilidade que é fruto do pensamento e que, através dela, ocorrem a maioria dos conflitos separatistas. A sensibilidade do pensamento impede a manifestação de uma escuta atenta e, portanto, é responsável pelo impedimento do reverberar, impedimento este que produz toda forma de reação e fuga. O real Encontro só pode ocorrer quando ambos se encontrão na dimensão da sensibilidade do coração, quando ambos estão investindo nessa caríssima viagem que parte da esterilidade e superficialidade de uma mente exteriorizada, para a interioridade e plenitude de um coração centrado, que em essência, é silêncio, solidão e compaixão. A compaixão só pode se instalar ao ponto de um salutar transbordamento, com real e energética vitalidade, depois da pessoa ter demonstrado compaixão por si mesma, não permitindo que os demais — ainda satisfeitos com a superficialidade das aparências — façam de sua mente e coração, um receptáculo para as enfadonhas falas triviais. 

Sobre a normal anormalidade


Tornou-se "normal" e motivo de orgulho, um modo de vida alicerçado na exploração alheia e no auto-engano. Um modo de vida alicerçado na constante exploração do conteúdo interno de si mesmo — a qual aponta para a simplicidade e  verdade —, em geral, é tido como "anormalidade". 

nj.ro@hotmail.com

Sobre os facilitadores de satsang

Não vejo necessidade alguma de ter que ficar ouvindo alguém repetindo sempre as mesmas coisas, que não passam de meras repetições de inúmeras falas seculares, estas intelectualmente bem ajustadas, para "ouvir" ou "presenciar", aquilo que cada um carrega em si. Quem se permiti isso, não tem nada de mente inocente, curiosa e infantil; isso tem haver com a sustentação de autoridade e com a sustentação de um estado de mente dependente.

Sobre reponsabilidade

Sou responsável, tão somente, por aquilo que sou e não por aquilo
que possam pensar e falar sobre a imagem que fazem a meu respeito.

12 fevereiro 2012

Sonambulópoles

Sonâmbulismo. Will Wilson, 1993
Na terra dos sonâmbulos, quanto maior o sono, maior o tombo. 
Ali, alguém desperto, é sinal de pesadelo.

11 fevereiro 2012

Sobre a insatisfação

A insatisfação é a mãe da escravizante ambição. 

Sobre obesidade

A constante alimentação de mentiras produz obesidade.

Sobre "eu te amo"


98,9% dos "eu te amo", 
não passam de velados jogos de interesses. 
As abafadas traições e o alto índice de divórcios que o digam.

10 fevereiro 2012

Uma carta ao mundo


Somos como um envelope fechado com uma mensagem ao mundo em seu interior, cujo medo, impede-nos de abri-lo. E, por não abri-lo, desconhecemos seu conteúdo e, por não conhecer esse conteúdo que somos, sofremos e espalhamos sofrimento por onde passamos. 

09 fevereiro 2012

É possível o esvaziamento da mente?


O pensamento, com seu não solicitado e ininterrupto movimento de formação de imagens e monólogos, impede a percepção plena, holística do único momento que existe: o agora. Você se senta para meditar e o fluir das vozes, imagens, fundos musicais, disputas em situações imaginárias, entre outras coisas mais, disparam em acelerado. Parece impossível um estado onde a mente permaneça totalmente silenciosa, sem a ocorrência de nenhuma imagem ou som. O pensamento está sempre causando dispersão, cujo conteúdo, na maioria das vezes, não possui nada de real, são assuntos banais, totalmente destituídos de sentido. 

Imagine você, em sua casa, um possante aparelho de som, o qual tem o poder de ligar e desligar, por sua própria conta — independente de seu comando — sempre nas horas mais inconvenientes, inapropriadas, trazendo sons que nem se quer são de seu agrado, falas que não lhe dizem respeito. Imaginou? Então, agora lhe pergunto: Seria possível a manifestação de silêncio? Seria possível a manifestação de uma noite de sono profundo? E o que seria desse aparelho, devido ao inadequado uso prolongado, depois de alguns anos? Com certeza pifaria, não acha?   Com certeza, ocorreria um curto-circuíto causando danos irreparáveis. Pois é assim que vejo a mente humana — onde o estresse — é esse curto-circuíto, que fatalmente ocorre e sem aviso prévio. 

O pensamento está sempre insistindo de que a solução para os conflitos, para a constante instabilidade interna, a falta de paz e sossego, esteja sempre em algo externo, em outro lugar que não seja o aqui e agora que somos, com o conteúdo de nosso interior. Insiste na idéia de que você — por si mesmo — é incapaz de conseguir a façanha do auto-conhecimento. Para o pensamento, um livro, um texto, uma conversa, um filme, qualquer coisa proveniente do externo — nada que venha de você mesmo — pode solucionar seu constante e disfarçado estado de ansiedade. Aprendemos isso logo na infância, com a experiência da chupeta: coisas externas podem silenciar, ainda que temporariamente, nossas incontroláveis ansiedades. 

É impressionante a constatação diante do poder dispersivo da mente, poder este que causa uma espécie de torpor, de transe hipnótico, o qual nos impede o estado de atenção plena nas ocorrências do agora. Uma de suas manifestações que causa a dispersão, está na eleição de "inimigos externos" que devem ser combatidos com todas as forças. Uma vez eleito um "bode expiatório", o pensamento cria todo tipo de imagem, cenas de discussões, falas bem articuladas que, na maioria das vezes — para o bem estar geral — ficam apenas num nível mental. Já pensou se todas as pessoas ao seu redor externassem tudo aquilo que passa em suas mentes? O problema maior ocorre, quando, pela distração, dá-se o processo de identificação com os conteúdos da mente. No entanto, você já se apercebeu da quantidade de tempo e energia que desperdiçamos quando enredados por essas conflituosas tramas mentais? Fica ai a questão e o convite para a reflexão.

Aqui com meus botões, chego a seguinte constatação: se me é impossível esvaziar a mente de todos os achismos, de todas conjecturas, de todo processo formador de imagens e sons, então, torna-se impossível o preenchimento através Daquilo que É Real.

Um fraterabraço!
nj.ro@hotmail.com

A crucificação como arquétipo

A crucificação, para mim, — indiferente se houve ou não esse momento histórico —, é um arquétipo que aponta para o momento culminante, atingido depois de uma longa Via-crúcis de autoconhecimento, onde corremos de um lado para o outro, em meio a barulhenta e inconsciente multidão, onde caímos e levantamos — por vezes sob o maldoso sorriso de muitos que dela fazem parte — devido o pesado fardo de nossa existência destituída de real inteligência criadora. A crucificação é aquele momento em que nossos pés estão presos para que não possamos dar continuidade a constante fuga para o externo de nós; nossas mãos estão presas para que não possam mais fazer uso de livros, filmes e tantas outras coisas mais, as quais usamos durante nossa  Via-crúcis  de autoconhecimento. A coroa de espinhos, uma representação da observação do conflituoso e doloroso conteúdo de nossa mente, que nos faz, literalmente, soar, ainda que não seja um suor de sangue, mas um suor psíquico e visceral e não o costumeiro suor de nossa superficial e monótona rotina física. É a representação daquele momento em que, exaustos, finalmente dizemos: 

"Pai, em tuas mãos entrego meu espírito... Em Tuas mãos, Pai e, não mais, nas mãos de nenhum guru, de nenhum lugar, de nenhum sistema de crença, de nenhuma prática — por mais brilhantes que estes sejam — a nada mais que seja exterior a este ser que, em Seu Ser, sou". 

E isto se dá no topo do Gólgota, que no aramaico tem como significado a palavra "crânio"; é a representação do momento de esfacelamento do intelecto, da razão, da lógica e do nosso inconsciente vício de pensar, para a ocorrência da inefável trans-mentalização

nj.ro@hotmail.com

07 fevereiro 2012

Sobre o apego a ideia

Qual o parasita mais resistente?
A bactéria? O vírus? Um verme intestinal?
Uma ideia. Resistente e altamente contagiosa.
Quando uma ideia domina o cérebro,
é quase impossível erradicá-la.
Leonardo Dicaprio - A Origem

Ideias sobre a "ausência do eu" não são, de fato, a ausência do "eu"; são frutos da ilusão e do auto-engano, uma fuga sutil da falta de compreensão sobre si mesmo diante dos constantes desafios, das ocorrências que se apresentam momento a momento. O uso do "e se" — que é conjectura e ideação — é produto do "eu", é fuga dos fatos, fuga do que é e, portanto, é incapaz de produzir a transformação resultante da compreensão da realidade. A sustentação de ideias e não a observação do que é, só pode suscitar divisão, separação e isolamento. Onde há o apego, onde há a cristalização de uma ideia, há também o cessar da escuta atenta e passiva e, em consequência, o extermínio do importante senso de inquirir, através do qual, o não manifesto se apresenta. É preciso, portanto, muitíssima atenção: não se tropeça em montanhas, mas sim, em pedrinhas de areia.    

06 fevereiro 2012

Constatações


É preciso descolonizar a mente para descobrir, em si, o solo fértil de um coração que ama.

Sobre a difícil arte de se comunicar

As pessoas, em geral, estão tão fechadas na superficialidade de seu mundinho egocentrado, tão presas em seus esforços para disfarçar seus sofrimentos e solidão, para sustentar as imagem que fazem de si mesmas e pela qual se relacionam com as imagens que fazem do mundo, — imagem esta causada pelo total desconhecimento de si mesmas —, que torna-se totalmente impossível a ocorrência de uma escuta atenta que possibilite uma autêntica e visceral comunicação, um real encontro. 

04 fevereiro 2012

Sobre o uso da palavra

Até o tolo se passa por sábio quando fica calado - (Salomão)

Você já soube de uma rosa que tenha se preocupado se o seu aroma seria ou não do agrado daqueles que com ela entrassem em contato? Soube de uma rosa tentar adaptar sua fragrância conforme o gosto de alguém? Um pássaro modificar seu canto para alegrar quem insiste em lhe forçar à conformação ao cativeiro? Em vista disso, por que deveria eu fazer o mesmo com relação ao que escrevo e falo? Pois então, feito a ação de um bisturi, que as palavas possam ser cortantes e profundas e, ao mesmo tempo, possibilitarem a tão necessária abertura para um saneador processo de cura. 

03 fevereiro 2012

A difícil arte de comungar

De fato, nunca estamos em real comunhão com nada, nunca estamos em comunhão com a totalidade dos sons, com a natureza, com outro ser humano. Nunca há a total dissolução entre o observador e aquilo que ele tenta observar sem que ocorra a interferência do pensamento. Em toda tentativa de comunhão, sempre permanece um hiato, um espaço que acaba mantendo aquilo que vem sendo chamado de "ilusão de separatividade". A incapacidade de comunhão cria a sensação de separatividade, a idéia de um "eu" e um "outro", um "ouvidor" e os "sons", um "eu" e a "natureza". Não se dá o diluir do observador em nada porque o pensamento sempre interfere com suas imagens, seus monólogos, suas buscas por contendas e suas respectivas emoções. Comunhão — ser um com — comungar — um ar comum com — com a presença do "eu", impossível. No entanto, tudo é um convite para a comunhão, para a meditação, quando não há a interferência do pensamento criando "condições"... O latido do cão diante do menor movimento externo, a recriminação de "seu dono" para que este silencie, tudo é um convite para a meditação.

Não sei se você já vivenciou isso, tentar estar em total comunhão com a totalidade dos sons que se manifestam, se apercebendo paulatinamente até que não existam mais sons específicos, mas apenas, a manifestação do som — nada de som interno ou externo. E, indo um pouco mais fundo, além dos sons, estender para os movimentos das folhas das árvores, o balanço de seus galhos, as cores das flores, do céu, os formatos das nuvens com os raios do sol vindo por trás delas, o pedaço de papel levado pelo vento juntamente com as folhas secas, o casal de adolescentes, com seus uniformes escolares, sentados na calçada, totalmente descompromissados, em suas trocas de sorrisos e carícias. Em geral, estamos tão envolvidos em nossos movimentos egocêntricos, tão mecânicos, automatizados que não percebemos, não nos damos conta de nada disso, nada do que acontece — a todo momento — em nossa volta e, com propriedade. Por não vermos nada com propriedade, , por não ouvir nada com propriedade, não percebemos "graça" em nada, uma  vez que, uma mente egocentrada não consegue ver graça em nada que não seja, por ela, produzida através da imitação. Uma mente egocentrada não consegue ver beleza no que é natural, uma vez que, de beleza e naturalidade, nada sabe. A mente egocentrada se identifica apenas com a complexidade geradora de conflitos e intermináveis problemas, através dos quais, pela ignorante identificação, mantém sua idéia de importância e continuidade. 

Não aprendemos a exercitar a linguagem universal do silêncio — o silêncio da mente, do corpo, dos sentidos — em resultado disso, vivemos em constante desassossego. Não aprendemos a vivenciar momentos de solidão — a solidão que nos coloca frente à frente com nós mesmos, com nossa realidade interna — em resultado disso, fizemos da solidão, motivo de sofrimento. Como resultado dessa incapacidade de viver com a solidão, não tomamos consciência de que nunca estamos sós, não tomamos consciência de que, uma Presença nos habita — sempre em chamas — no centro do Ser que somos, que uma vez, por leve que manifesto, coloca em xeque a realidade daquilo que pensamos ser. 

O movimento da natureza, em raras exceções, não é silêncio. O movimento do que foi criado pelo pensamento, em raras exceções, não é barulho. Em vista disso, para este que agora escreve, se existe uma religião, essa se faz presente, pelo silêncio. Ademais disso, só, ilusão. 

01 fevereiro 2012

A base do silencioso sofrimento

O essencial é saber ver, mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender.

Eu procuro despir-me do que aprendi.
Eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos;
desembrulhar-me e ser eu.

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Para a grande parte dos seres humanos, na infância não houve o encorajar da curiosidade, do senso de questionamento e investigação, livre de qualquer tipo de autoritarismo ou violência psicológica e até mesmo física. Ao contrário, sempre houve um cartilhado esforço ao inquestionável ajustamento ao tradicional, ao estabelecido. Para grande parte dos seres humanos — salvo em raras exceções — o ambiente natural sempre foi destituído de uma atmosfera de real afeição, felicidade e consideração humana. Ao contrário, o que pairava no ar era medo, desconfiança, comparação, vergonha, infelicidade, falta de cumplicidade e a imposição de arcaicos, disfuncionais e abusivos sistemas de crença, o que acabou por impedir o salutar desenvolvimento da livre expressão e da  franqueza emocional. A excessiva exposição a esse ambiente tóxico acabou por adulterar a sensibilidade e, consequentemente, a capacidade de confiança nos relacionamentos. Instalou-se a perda do senso de segurança em si mesmo e nos demais ao redor, o que gerou um modo inseguro e dependente de se relacionar, onde o medo, o ciúmes, a desconfiança, a comparação e não o amor se fizeram a base de quase todas as relações.

A formatação para obedecer, para se conformar, para aceitar tudo sem a menor possibilidade de questionamento, impediu a capacidade do exercício de perguntas fundamentais e do livre raciocínio, isento de qualquer forma de influência. Em resultado disso, boa parte dos seres humanos acabou desenvolvendo uma "profunda alergia" à menor expressão de posicionamento autoritário. Nesse disfuncional modelo de educação — o qual nada tem da essência da educação — através da constante imposição do medo, adulterou-se o importantíssimo desenvolvimento emocional, o que acabou dando margem ao senso de "não pertencer" ao ambiente natural e a família de origem, o que hoje é reconhecido como "síndrome de estrangeiro". Esse senso de não pertencer, de não ser bem vindo, impediu a ambientação, o sentimento de estar 100% a vontade, livre do medo da recriminação, do castigo, da violência ou da exposição à vergonha tóxica. Em raras exceções, a sensação de insegurança não  foi uma constante. Como resultado, deu-se o desenvolvimento de um olhar de desconfiança diante das pessoas psicologicamente significativas, o que sempre impediu a comunicação direta dos pensamentos e sentimentos. Por não sentir os pensamentos e sentimentos respeitados e honrados, desenvolveu-se a rebeldia e o desrespeito, os quais sempre foram expostos as autoritárias — e na maioria violentas — tentativas de abafamento e não a um convite para a escuta aberta, atenta e amorosa que aponta para o encontro, a compreensão e a comunhão. Ao invés de respeito e consideração, o que existia era o medo. O medo e a imposição foram a base da criação. O medo, além de impedir o desenvolvimento da sensibilidade aos sentimentos das pessoas e à natureza, transformou a maior parte dos que a ele foi excessivamente exposto, em seres frios, reativos, calculistas, profundamente egoístas, retraídos, esquivos, resistentes a qualquer tipo de sugestão e incapazes de vivenciar, de bom grado, períodos de solidão. Em resultado disso, não houve o desenvolvimento da capacidade de amar, de forma incondicionada, à tudo e à todos e, sem o desenvolvimento da capacidade de amar, perdeu-se também as demais qualidades do amor que são a humildade, delicadeza, consideração, paciência e cortesia. Em resultado disso, ao invés do livre comungar, instalou-se o ambicioso e inconsequente consumismo, o qual acabou por gerar uma incontável rede de compulsões, as quais além de impedir a atenção plena e o reto pensar, enclausurou a muitos num poderoso círculo vicioso, intercalado pelo imperioso impulso para retroalimentação do mesmo e o impotente impulso para conseguir detê-lo. Em função disso, muitos acabaram se tornando escravos mantenedores de instituições, religiões e pessoas que prometiam por felicidade e liberdade.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!