Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

09 fevereiro 2012

É possível o esvaziamento da mente?


O pensamento, com seu não solicitado e ininterrupto movimento de formação de imagens e monólogos, impede a percepção plena, holística do único momento que existe: o agora. Você se senta para meditar e o fluir das vozes, imagens, fundos musicais, disputas em situações imaginárias, entre outras coisas mais, disparam em acelerado. Parece impossível um estado onde a mente permaneça totalmente silenciosa, sem a ocorrência de nenhuma imagem ou som. O pensamento está sempre causando dispersão, cujo conteúdo, na maioria das vezes, não possui nada de real, são assuntos banais, totalmente destituídos de sentido. 

Imagine você, em sua casa, um possante aparelho de som, o qual tem o poder de ligar e desligar, por sua própria conta — independente de seu comando — sempre nas horas mais inconvenientes, inapropriadas, trazendo sons que nem se quer são de seu agrado, falas que não lhe dizem respeito. Imaginou? Então, agora lhe pergunto: Seria possível a manifestação de silêncio? Seria possível a manifestação de uma noite de sono profundo? E o que seria desse aparelho, devido ao inadequado uso prolongado, depois de alguns anos? Com certeza pifaria, não acha?   Com certeza, ocorreria um curto-circuíto causando danos irreparáveis. Pois é assim que vejo a mente humana — onde o estresse — é esse curto-circuíto, que fatalmente ocorre e sem aviso prévio. 

O pensamento está sempre insistindo de que a solução para os conflitos, para a constante instabilidade interna, a falta de paz e sossego, esteja sempre em algo externo, em outro lugar que não seja o aqui e agora que somos, com o conteúdo de nosso interior. Insiste na idéia de que você — por si mesmo — é incapaz de conseguir a façanha do auto-conhecimento. Para o pensamento, um livro, um texto, uma conversa, um filme, qualquer coisa proveniente do externo — nada que venha de você mesmo — pode solucionar seu constante e disfarçado estado de ansiedade. Aprendemos isso logo na infância, com a experiência da chupeta: coisas externas podem silenciar, ainda que temporariamente, nossas incontroláveis ansiedades. 

É impressionante a constatação diante do poder dispersivo da mente, poder este que causa uma espécie de torpor, de transe hipnótico, o qual nos impede o estado de atenção plena nas ocorrências do agora. Uma de suas manifestações que causa a dispersão, está na eleição de "inimigos externos" que devem ser combatidos com todas as forças. Uma vez eleito um "bode expiatório", o pensamento cria todo tipo de imagem, cenas de discussões, falas bem articuladas que, na maioria das vezes — para o bem estar geral — ficam apenas num nível mental. Já pensou se todas as pessoas ao seu redor externassem tudo aquilo que passa em suas mentes? O problema maior ocorre, quando, pela distração, dá-se o processo de identificação com os conteúdos da mente. No entanto, você já se apercebeu da quantidade de tempo e energia que desperdiçamos quando enredados por essas conflituosas tramas mentais? Fica ai a questão e o convite para a reflexão.

Aqui com meus botões, chego a seguinte constatação: se me é impossível esvaziar a mente de todos os achismos, de todas conjecturas, de todo processo formador de imagens e sons, então, torna-se impossível o preenchimento através Daquilo que É Real.

Um fraterabraço!
nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!