Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

23 junho 2008

Cortando a vida em pedacinhos mastigáveis

Minha querida Deca, espero que você esteja vivendo bons momentos nesta tarde fria de segunda-feira. Pensei em lhe escrever para compartilhar um pouco dos sentimentos presentes neste exato momento. Como você bem sabe, pelo fato de meu pai ter sido operado e a Ida estar afastada para poder lhe dar o devido suporte, vejo-me preso nesta loja, a qual, há muito tempo já não tem nada a ver com meu projeto inicial. Para todos os lados, para todas as prateleiras que vejo, não há como me ver espelhado e meu sentimento diante da situação é a de ser como um corpo estranho que precisa ser eliminado.

Mesmo os poucos artigos que restaram de nosso projeto inicial, - os incensos, CDs de meditação e relaxamento, as quinquilharias do modismo esotérico e os livros voltados para o autoconhecimento e religião -, perderam totalmente o seu sentido e nada mais importam para mim.

Ficar atrás deste balcão na expectativa da entrada da primeira cliente, acarreta-me um peso duplo. Primeiro por sentir que as horas do dia vão passando sem nada de interessante que realmente toque o meu intimo. E segundo que, se essa cliente esperada aparecer, não sinto o menor entusiasmo em lhe vender produtos que nada significam para mim. Sinto que no quesito "profissão", ainda não encontrei meu lugar.

Sabe, segundo o dicionário "Aurélio", a palavra "profissão", além do sentido primário de ser um meio de subsistência remunerado resultante do exercício de um trabalho, de um ofício, traz em si um significado que condiz com aquilo que sinto com toda a propriedade do meu ser:

o ato ou efeito de professar, a declaração ou confissão pública de uma crença, sentimento, opinião ou modo de ser, uma atividade ou ocupação especializada, e que supõe determinado preparo.

Sinto que, seu primeiro significado relaciona-se com um modo de "sub-existência", ou seja, algo a ser praticado por aqueles que se conformam – ou se quer tenha consciência de apenas "sub-existir". Aqui, atrás deste balcão, não sinto o menor desejo de "professar", uma vez que não creio na necessidade de nada disto (já não tenho mais o menor apreço pela moda, adornos e caprichos passageiros). Depois que compreendi o poder coercitivo da moda e a falácia do que lhe impulsiona (a necessidade de ostentar, conquistar ou manter uma determinada posição social), tornou-se muito desgastante a tentativa de pelo uso de palavras me esforçar para colocar ainda mais "vendas" sobre os olhos daqueles que se achegam por aqui. Não dá mais para "xavecar" as pessoas numa boa, ou seja, já não dá para ser patife. Já não dá para ser um "vende+dor" em busca de novas "técnicas de vendas"... Sem falar que, no mundo da moda, nada existe de original: tudo é cópia e repetição; todo mundo copia todo mundo e, em conseqüência, todos são de segunda mão. Aceitar compactuar disso de bom grado, para mim significa o mesmo que me corro praticando "o poder do agora"mper, ou seja, falsear aquilo que tenho como verdade . Enquanto lhe escrevo isto, minha mente tenta me convencer de que isso é "normal", uma vez que grande parte das pessoas compactua desse modo de ser. Mas lhe pergunto: como viver em paz com isso quando se tem essa dicotomia do ser, essa enorme distancia entre o que diz a mente e o que sente o coração?

No entanto, por mais simples que seja minha existência, a mesma tem seus custos...

Então, surge a questão: onde e como professar o que sinto e o que sou, sem a necessidade de me corromper , tendo garantidas as necessidades da minha já simplificada existência?... Essa é uma questão que sinceramente não quero em mim calar... Sinto que a qualidade da minha existência depende do encontro pessoal direto com esta resposta. Enquanto isso, praticando "o poder do agora", procuro "cortar a existência em pedacinhos mastigáveis"...

Só por agora, por ainda me encontrar com vendas, continuo trabalhando em vendas, professando minha boa vontade de a qualquer momento poder professar aquilo pelo qual fui convocado a existir. E, enquanto vivendo na esperança, aguardo a vinda da resposta salvadora. Até lá, o melhor mesmo é estudar a minha dor para que a mesma não se transforme em re-volta.

Um beijo em seu coração!

JR

PS - Velho e novo testamento, Kardek, Trigueirinho, Jung, Freud. Emmet Fox, Eva Pierrakos, Huberto Rohden. Anselm Grün , Paul Bruton, Thomas Merton. Tao, Buda, Yogananda, Aurobindo, Joseph Campebell. Nietzsche, Eckhart Tolle, Osho, Krishnamurti... Só por este instante, nada importam para mim, estes diversos nomes na estante.


Meu sentimento sobre a busca de respostas...

19 junho 2008

Sobre escrever e criticar

Para mim, escrever tem sido uma prática fascinante e, acima de tudo, profundamente reveladora. Uma vez atento me é possível perceber as próprias nuances, os sentimentos, os motivos e o espírito que me move a tal prática. A cada dia que passa venho aprendendo muito a respeito de mim mesmo, seja escrevendo, seja observando minhas reações aos comentários feitos a cada texto postado. E, através dos comentários acabo aprendendo também um pouquinho a respeito das relações humanas.

Há algum tempo, quando sofria profundamente com o tédio e a insatisfação, descobri na escrita, uma espécie de "fio terra emocional", algo semelhante aquele pino colocado sobre a tampa da panela de pressão que a impede de explodir. Sou como essa panela de pressão: hoje, sem um pino, posso explodir e causar danos a mim mesmo bem como aos que me cercam. Posso garantir que, das válvulas de escape que já utilizei em minha vida, a escrita tem se mostrado a mais funcional e inteligente.

Durante anos e anos fiquei apenas observando a coragem dos outros ao expressarem suas idéias e, quase sempre, minuciosamente em busca das possíveis contradições dos autores. Tecia minhas conclusões e criticas sobre os mesmos e não sobre os textos por eles escritos. Até então, nunca havia me passado na cabeça que é humanamente impossível analisar um ser humano através de um punhadinho de letras. Um ser humano é infinitamente mais complexo do que seus textos. Nos mesmos, um autor consegue traduzir apenas um ponto de vista e, um ponto de vista é apenas um minúsculo ponto de sua visão. Quando lemos um texto, não temos como ver as reações emocionais e somáticas do autor. Não temos como sentir suas vísceras...

Talvez eu consiga expressar melhor este ponto de vista, dando como exemplo a disparidade existente entre o original de uma obra literária e o resultado dela quando transformada em filme. Por mais holística que seja a visão do diretor, este nunca conseguirá traduzir aquilo que o escritor tentou transcrever.

Segundo Ezra Pound, poeta, músico e crítico estadunidense, o mau crítico se identifica facilmente quando começa por discutir o poeta e não o poema. E nos dizeres de Osho, na verdade, quem consegue criar, cria; e quem não consegue criar, critica. Pessoas não criativas se tornam grandes críticos. É fácil criticar poesia, mas é difícil escrever poesia. É fácil criticar uma pintura – você pode criticar Picasso, mas não consegue pintar como Picasso. É fácil criticar tudo.

Hoje, sei muito bem a enorme diferença existente entre ser um critico e ousar escrever suas idéias, visões e sentimentos. Tenho visto o quanto é difícil estabelecer uma real comunicação com o leitor, uma vez que cada um de nós possui uma história, um fundo psicológico, o qual obscurece nosso mundo de relação. O mesmo acontece com a escrita... Tenho percebido o quanto é difícil ser original, não permitir que esse mesmo fundo, com suas vozes, cores e letras macule a tentativa de expressar o sentimento letrado.

Quanto aos críticos, existem alguns que me rotulam como incoerente, por não manter sempre a mesma visão em meus escritos. Ora, penso que se fizesse isso, ai sim estaria sendo incoerente, uma vez que estaria me distanciando dos motivos que me levaram a escrever. Isso seria o mesmo que exigir da natureza, que todos os dias se apresentassem da mesma forma: a mesma temperatura, as mesmas nuvens, a mesma pressão do ar, a mesma calmaria, o mesmo mar sem revoltas... Sou fruto da mesma natureza, portanto, feito de oscilações... Escrevo aquilo que sinto no momento e não tenho comigo o menor compromisso "intelectual" de manter a mesma postura de ontem.

Ao contrário de alguns críticos, não me sinto "completo", não me sinto "pronto": sou um ser em construção. E, como ser em construção, não desprezo as experiências dos outros, o que não significa que seja dependente das mesmas. Como tenho colocado em meus textos, gosto de trocar figurinhas sem colar. Gosto de trocar com as pessoas e sinto que isso nos enriquece, afinal de contas, uma das mais antigas características humanas é a capacidade e a necessidade de se expressar e compartilhar. É por isso que tento expressar pela escrita, o ponto de vista extraído dos vários contatos do meu cotidiano. Em meus textos, tento expressar um pouquinho dos meus sentimentos e daquilo que, naquele momento vejo como verdade (e na grande maioria das vezes, como os demais seres humanos, aquilo que vejo, tenho dificuldades de colocar em prática).

Já dizia o finado poeta: ... "tuas idéias não correspondem aos fatos"... Não me sinto na obrigação de ser coerente ou mesmo de ter respostas para tudo e para todos. Estou aberto e me permito a mudança de visão há qualquer segundo. Procuro ser eu mesmo, mas sem ser sempre o mesmo e olha, posso garantir que isso não é nada fácil. Aliás, acho mesmo que a mesmice – com perdão da palavra - é uma merda. Creio que já não sou mais vitima da "síndrome da jovem guarda": a mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores o mesmo jardim... Isso não cabe mais no meu universo...

Gosto demais de duas frases, entre tantas colhidas ao longo dos anos, que resumem bem o que sinto a respeito da contradição e os críticos, as quais uso para encerrar este texto. A primeira vem de Roberto Crema, num seminário da Unipaz e diz respeito a contradição: "contradigo a mim mesmo por que sou vasto!". E a segunda, sobre os críticos, é de um dramaturgo inglês, Brendan Behan, a qual tomei conhecimento através de um texto de Paulo Coelho: "Críticos são como eunucos em um harém. Teoricamente eles sabem qual a melhor maneira de fazer, mas não conseguem ir além disso".

Agora, cá prá nós: difícil mesmo é deixar de lado o condicionamento de ficar tecendo receitinhas de como os outros devam ou não levar as suas vidas, de ficar apontando um dedo e opinando no modo de ser do outro, esquecendo-se de que três dedos sempre ficam voltados para nós... Será que fui muito critico nisto?


18 junho 2008

Fotografias

Ontem, tarde da noite, enquanto Deca descansava no sofá, com nosso cachorro Krish deitado bem ao lado de seus chinelos, eu separava antigas fotos minhas para anexá-las num álbum on-line. Entre elas, deparei-me com várias cenas de momentos infantis, as quais me reportaram para uma viagem de pensamentos, sentimentos e questionamentos.

Em cada criança fotografada, uma expressão perdida para muitos: a inocência, a vontade de superar obstáculos, a espontaneidade, a alegria nas coisas simples da vida, a descontração, a leveza do ser, a naturalidade, a capacidade de, enquanto acordado, sonhar "coloridos sonhos"... O contato com a natureza, com a mãe terra... O estado de "maravilhamento", o desejo de lançar-se ao desconhecido, a diversão na simplicidade... O sorriso descontraído, a alegria de ser livre para alcançar as alturas... A liberdade das garras do tempo, a capacidade de viver com toda intensidade o presente momento, o aqui e o agora... Para a criança, não existe o ontem e nem o amanhã, só a intensidade do agora...

Havia também outras fotos de adultos, - nas quais me incluo -, que traziam consigo um pesado contraste diante das fotos dos infantes... O olhar perdido no tempo... O olhar da tristeza pela falta de direção... O olhar da busca de sentido para uma vida sem sentido devido a perda da capacidade de sentir... O período em que meu corpo se mostrava fragilizado pelo que hoje chamo de a minha "abençoada depressão iniciática"... Além de vários registros de longos períodos e viagens pelo país a fora em busca de respostas para o ser que sou.

Fiquei me questionando do por que ao longo dos anos, despercebidamente trocamos a alegria dos diálogos com nossos "Heróis imaginários", pelo monólogo estressado e aflito de nosso algoz mental? Por que trocamos a capacidade de cantar por todos os cantos, pela incapacitante mania de resmungar solitariamente por tudo e por todos pelas calçadas ou pelos espaços vazios da casa? Por que trocamos o arrebatamento e as cartinhas de amor, por casamentos de fachada e interesses egocêntricos, repletos de controle, ciúme e solidão a dois? Por que trocamos os carinhosos momentos de mãos dadas pelas calçadas, o hall's de cereja depois da pipoca do cinema, pela distancia da novela da televisão da sala e os maçantes comentários futebolísticos na televisão do quarto? Por que trocamos a alegria de se aventurar no desconhecido, de lançar vôos cada vez mais altos e respirar novos ares, pela tristeza e o mofo dessas pútridas zonas de conforto?

E revendo atentamente as fotos dos adultos, deparei-me com inúmeros sorrisos forçados e raríssimos dotados de espontaneidade... Apenas negativos revelados que não revelam o negativo"...



14 junho 2008

Comprometimento

- Fala JR!

- Bom dia Dalton! Que te traz tão cedo por estes lados? Caiu da cama?

- Nada! Vim recarregar meu cartão do ônibus e aproveitei chegar até aqui para te trazer o cd com as estampas. Desculpe-me por não ter lhe trazido na semana passada como havia prometido por telefone. Espero que você não fique chateado comigo; você entende... Estou sobrecarregado, lá na firma acaba tudo caindo em cima da minha mesa. Tenho que bater o escanteio, correr para a área para tentar cabecear e depois, ainda voltar para defender a zaga que, como sempre, vive descoberta.

- Entendo! Quanto a não ficar chateado... Bem, hoje estou de boa, mas, na semana passada, fiquei extremamente chateado com todos vocês. Você tem idéia do prejuízo e contratempo que me causaram?

- Cara, não fique chateado comigo, afinal, lá eu não tenho poder de mando, sou apenas mais um funcionário. Você tem que falar direto com os homens. Já te disse!

- Quer saber? Desencanei! Sou grato pela oportunidade que me deram, mas, minha experiência com eles deixou muito a desejar.

- Não fala assim cara! Os meninos são gente boa, só que estão meio atrapalhados. É preciso levar na macioata, no banho maria... Fica frio! A firma lá promete muito e quem ficar vai cresce junto com ela.

- Desculpe-me Dalton, mas, quem gosta de viver de promessa é romeiro. Desde que começamos nossa relação comercial, os meninos já deram mancada comigo mais que uma vez. Como disse a eles, desde o inicio vesti a camisa da empresa. Houve total comprometimento de minha parte, no entanto, não posso dizer que vi o mesmo da parte deles. Digo isto sem ressentimentos. Como disse, sou grato pela oportunidade que me deram, mas, perdi o pique de criar para eles. Você sabe, desenhista precisa trabalhar livre, leve, solto, sem nenhuma preocupação na cabeça. Como posso querer criar para eles se não sinto firmeza e muito menos comprometimento por parte dos donos da empresa? Até agora, nunca conseguiram cumprir com o palavreado. Sendo assim, fica muito difícil.

- Você está fazendo uma idéia errada deles, JR! Posso lhe garantir.

- Dalton, sei muito bem o que estou lhe falando, afinal de contas, desde que fiz o primeiro site para eles, já estamos trabalhando há mais de um ano e, sinto lhe dizer, sempre furaram com os prazos, tanto no que diz respeito a entrega do material como na hora de fazer os pagamentos. Assim fica muito difícil. Fala-se uma coisa na mesa de reunião só que no percurso da carruagem fazem um caminho voltado somente para a própria direção... As coisas não funcionam assim. É preciso ter em mente que a vida é uma estrada de mão dupla. Uma relação só é uma relação quando ambos os envolvidos saem dela energizados.

- Insisto para que você leve na maciota, pois pode se dar muito bem com os meninos.

- Desculpe-me, mas, seu modo de pensar não condiz com os fatos... Para mim, uma boa viagem tem que ser boa na saída e também durante o percurso do itinerário... Esse lance de gozar só no final, para mim não cola. Além do mais, o que você pensa sobre uma empresa que leva mais de um mês para apreciar um book de cinqüenta estampas e, depois desse período, manda um funcionário ligar para dar a informação de ter aprovado apenas cinco delas?... Você quer que um cara que está dentro do mercado de confecção, estamparia e loja, há mais de 20 anos, acredite que apenas 10% do seu trabalho é vendável?... Se a qualidade dos desenhos apresentados foi tão precária, por que levar mais de um mês com o book nas mãos? Por que não liberá-los para serem trabalhados para outra marca? Detalhe: vendi as demais estampas em apenas dois dias para um concorrente de vocês, que nem sequer pestanejou.

- Que bom! Fico contente por você!

- Dalton, já conheço bem esse mercado, aliás, um dos motivos de anos atrás ter deixado de trabalhar com confecção foi justamente pela falta de comprometimento e seriedade para com os desenhistas... Os caras enrolam, copiam os trabalhos na cara dura e acabam soltando os mesmos em outras praças. Pedem para você desenvolver muito mais do que eles necessitam e não se comprometem com o montante palavreado. Sem falar no vai e volta dos cheques e na forçada para barrigar os prazos. Não se preocupam em fazer um negócio que seja bom para ambas às partes, ao contrário, espremem o quanto conseguem. Posso ser até utópico, mas, acredito que devam existir firmas que queiram realmente fazer uma boa parceria e que não fiquem apenas no bafo de boca. Ainda acredito que o ser humano não tenha perdido de tudo sua capacidade ancestral de "repartir" o necessário. O pior de tudo é perceber que a maioria dessas empresas não precisa manter essa postura, a qual já virou um vicio do sistema: pressa para pedir, procrastinação para aprovar e enrolação na hora de pagar. Enquanto você não entrega o pedido, chegam a ligar várias vezes te pressionando, depois de entregue, nunca estão na firma e, se estão, instruem suas secretárias com desculpas que vão desde "reuniões com fornecedores" ou ter que "correr com a esposa para o médico". Quer saber? Não estou mais a fim de fazer esse jogo e ainda ter que ficar fazendo caras e bocas de felicidade.

- E quanto ao projeto de você ir à empresa uma vez por semana para nos dar um curso das técnicas de Photoshop e Corel Draw?

- Dalton, olhe bem aqui na minha testa e me diga se nela está escrito "trouxa"?... Você acha mesmo que eu iria até lá e ensinaria o que sei para o setor de criação de uma empresa que não demonstrou o mínimo de comprometimento e seriedade para comigo?... Que valor seria justo cobrar pela experiência de mais de vinte anos de mercado, sabendo que não existe nenhum comprometimento com você?... Se tivesse visto da parte deles o mínimo desejo de manter uma saudável relação comercial, teria imensa satisfação de compartilhar graciosamente com vocês desenhistas um pouco do conhecimento adquirido nestes anos, do mesmo modo que fiz quando passei o dia com vocês na empresa.

- Nem me fale! Com você, aprendi em um dia o que talvez levasse anos para aprender...

- Pois é! Pena que os meninos não souberam valorizar isso.

- Fico chateado por isso!

- Ficou chateado por quem? Por mim ou por você?

- Pela situação em si. Acho que todos perderam com isso. Tenho certeza que você poderia somar para a empresa, bem como a empresa para os seus conhecimentos.

- Não tenho dúvidas quanto a isso. Com certeza, poderíamos trocar muitas figurinhas sem colar.

- Por que você não tenta falar com eles novamente?... Joga aberto!

- Dalton, acho que você não entendeu: há muitos anos que já não estou mais a fim de jogar... Hoje, estou em busca de boas relações comerciais. Há muito que estou comprometido comigo mesmo a não corromper e a não me permitir ser corrompido. Eu não corrompi nossa relação comercial, foram eles que a romperam ao não demonstrarem seriedade e respeito para com as necessidades do ser humano que sou. Agora não tem mais jeito: esse álbum eu já fechei!

- Certeza?

- Por mais que não se queira reparar nas emendas feitas, um vazo quebrado é sempre um vazo quebrado... Compreende? Penso que uma das coisas mais sagradas do ser humano é a sua capacidade de fazer escolhas. Eu escolhi "perdoar", ou seja, doar aquilo que o pensamento julga como perda e seguir em frente, com a certeza de se um dia novamente cruzar com eles em meu caminho, não precisar mudar de calçada ou então alimentar rancor. Um dos meus maiores patrimônios é saber que hoje posso andar de cabeça erguida por onde for.

- Posso ficar tranqüilo? Tem certeza de que não está chateado comigo?

- Nem com você e nem com eles.

- Que bom.

- Mas, e com você? Está tudo bem?

- Sim! Com Jesus na frente e Deus no coração, tudo só pode dar certo!

- Que bom!

- Bem, agora que já nos falamos, vou nessa. Vou aproveitar a manhã para passar no shopping e conferir as estampas nas vitrines. Sabe como é: no mundo da moda nada se cria, tudo se copia!

- Sei!... Dalton, mais uma coisa...

- Diga!

- Estou enganado ou os donos da empresa também são "seguidores de Jesus?"

- Sim, lá a maioria da galera caminha com Jesus.

- Sei... Vá com Deus!

Enquanto observava Dalton seguindo cabisbaixo pela calçada, com a mão nos bolsos dianteiros, em minha mente ficou a certeza da realidade explicita na frase de uma camiseta: é muito mais fácil dizer que se anda com Jesus no peito do que ter peito para viver do modo como Jesus andou...





10 junho 2008

Vitimismo Crônico

- Bom dia JR!

- Bom dia Carlo! Quanto tempo! Que houve? Por que sumiu do pedaço?

- Antes de tudo, este é o Anibal, um antigo colega de trabalho!

- Muito prazer!

- O prazer é todo meu, Anibal!...

- Sumi por que fui chamado para dar aula noutra região. Não sei se cheguei a lhe comentar, mas eu havia prestado exame para professor do estado. Passei e agora fui chamado para dar aula numa escola bem prá lá da periferia de Osasco.

- E está contente com a mudança?

- Não sei não se valeu à pena... Perco mais de cinco horas do meu dia só para me deslocar de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Tenho que tomar três conduções, sendo que as mesmas estão sempre abarrotadas... É uma briga danada para poder entrar no ônibus. Se não quiser ir de ônibus, tenho que me sujeitar àqueles adrenados perueiros...

- Mas, se me permite a curiosidade, o que te fez largar um emprego há menos de quinze minutos de caminhada da sua casa por outro onde Judas perdeu as botas e as meias?

- Não foi nem pelo salário... Segurança e estabilidade... Sabe como é, uma vez no estado, segurança de emprego garantida... Mas começo a achar que não valeu à pena não, além do mais, os alunos de lá me tiram do sério. Alguns deles são verdadeiros diabos. Tem hora que tenho vontade de descer a mão na orelha dos fedelhos. Educação é algo raro no meio daqueles pirralhos. Eles te enfrentam na caruda enquanto o resto fica numa gargalhada só. Tenho medo de a qualquer momento perder minha cabeça e acabar fazendo merda. Para mim está sendo uma experiência horrível. Não que os alunos da rede particular não aprontem as suas... Mas, aqui eram apenas alguns mimadinhos do papai, enquanto que lá, 90% são endiabrados. Vou te falar: ser professor aqui no Brasil, usando a frase que você sempre usa, é só prá quem tem saco roxo!

- Que tal tentar que ver as coisas por outra ótica: pensar neles lhe desafiando a ampliar sua psicologia humana, ou, quem sabe, como seus professores de paciência e tolerância?...

- Pode ser, vai saber!... Tem dias que fico me questionando o que é que estou fazendo com a minha vida...

- Essa é uma excelente pergunta. Por falar em pergunta me permite uma?

- Sim, claro!

- Você tem certeza que realmente ama a arte de ensinar?... Sente que nasceu para isso?... Sente prazer em pensar no seu trabalho fora do horário de expediente? Gosta de se dedicar ao estudo de como melhorar a qualidade da própria atividade?

- Hoje, com certeza lhe digo que não! Escolhi pelo magistério numa época muito turbulenta de minha vida... Pensando melhor, quando é que minha vida não foi turbulenta?

Nesse momento, nossa conversa foi delicadamente interrompida por Anibal, que silenciosamente ouvia a tudo enquanto apoiado no sombreiro da loja:

- Se vocês me dão licença, vou deixá-los conversando e aproveitar para passar na farmácia. Estou em horário de almoço e já já tenho que voltar para a escola. Jr, foi um prazer conhecê-lo. Carlo sempre me falou muito bem a respeito das conversas que mantinha com você. Quando tiver um pouco mais de tempo, passo por aqui.

- Tempo... Anibal, o tempo somos nós que o fazemos para aquilo que amamos. Até a próxima, lhe desejo bons momentos!

- Carlo, a gente se vê lá na escola. Até mais.

- Até!... Onde estávamos?...

- No questionamento da sua vida turbulenta...

- Sim, você sabe, já lhe falei sobre isso... Pai militar, mãe neurótica, irmã esquizofrênica... Acha possível viver num ambiente como este e desfrutar de qualidade e harmonia?...

- Não sei, só posso responder pelas minhas experiências. Posso afirmar por experiência própria que a exposição excessiva a um ambiente disfuncional, contaminado por uma energia opressiva, acaba minando o desenvolvimento da inteligência emocional de qualquer um. A grande sacada está em não se entregar ao vitimismo, mas sim, ver o que podemos fazer com tudo isso, a fim de tornar nossa história uma espécie de catalizador quântico.

- Falar é fácil! Difícil é colocar em prática!

- Sim, afinal, a grande maioria das pessoas está condicionada ao vitimismo.

- Nisso você tem razão... Eu mesmo me pego várias e várias vezes reclamando da vida sem ao menos ter um real problema.

- Isso parece ser uma das características humana... As pessoas parecem que não tem mais o que falar, então, se está sol é porque está sol, se está chovendo é porque está chovendo, se está ventando é porque está ventando... Se estão desempregadas é porque estão desempregadas, se estão empregadas é porque estão descontentes com o emprego. Se estão sozinhas é por causa da solidão e se estão se relacionando é porque estão empurrando o relacionamento com a barriga. Se não fazem sexo é porque não fazem sexo e se fazem muito sexo é porque o parceiro só pensa naquilo. Vai entender!...

- É bem assim mesmo!

- Eu não entendo... As próprias pessoas se colocam nas situações de que reclamam e, ao invés de tomarem uma atitude proativa preferem derramar seu vitimismo nos ouvidos daqueles menos atentos. Essa vitimização é também um grande processo de vampirização... Já percebeu como você acaba saindo literalmente sugando depois de meia hora de conversa com um vitimista anônimo?

- Sim, tem algumas pessoas que são verdadeiros vampiros emocionais.

- Pois é! É preciso estar atento, tanto para não ser vampirizado como para não fazer o papel do vampiro, afinal de contas, crescemos no meio de um ambiente onde todos estão sempre reclamando ou falando mal de terceiros. O triste é que aprendemos desde cedo a compactuar deste tipo de comportamento inconsciente.

- É verdade!

- Já que você não está contente com a atual mudança de local de trabalho e, além disso, já afirmou não amar aquilo que faz, porque não pensa em se dedicar a fazer outra coisa para custear o seu modo de vida?

- Simples: por que não sei fazer outra coisa...

- Não sabe, ou está condicionado a pensar que não sabe fazer outra coisa?

- Na real, nunca parei para pensar nisso com propriedade.

- Acredito. Aliás, tenho percebido que uma das coisas que o ser humano menos gosta de fazer é pensar com propriedade... A maioria das pessoas está viciada em se deixar levar pelo movimento de seus pensamentos desordenados. E tenho percebido também que, quando você fala para prestarem atenção nos movimentos do pensamento é como se você estivesse falando uma língua de outro planeta.

- É verdade! Eu mesmo tive muita reticência a isso desde a primeira vez que você me falou a respeito e me emprestou aquele DVD do Krishnamurti. Diga-se de passagem, sendo muito franco com você, não consegui assimilar nada, pois com menos de dez minutos de vídeo minha cabeça começou a doer como nunca, parecendo que ia mesmo explodir.

- Totalmente natural... A mente de forma alguma quer se abrir para algo que possa colocá-la em seu devido lugar. Como pode algo que vive exclusivamente do movimento passado-futuro, futuro-passado, se deparar de bom grado com algo que a coloca no presente ativo?... Costumo chamar isso de "síndrome de abstinência da mente devaneante". A mente que está acostumada a vagar em seus devaneios mórbidos começa a criar toda forma de desconforto físico com o intuito de não deixar surgir o observador de si mesma, sem o qual se torna impossível o rompimento do insano processo de identificação com a mente condicionada. Como que uma pessoa vai poder parar de alimentar a desgraça do vitimismo se não se aperceber como vitimista compulsiva? Como poderá deixar de alimentar essa praga se não perceber a natureza exata, a fonte infectada de seus assim chamados "problemas"?

- Fica difícil...

- Pois é! E o pior é que isto é tão simples que acaba se tornando complicado para as pessoas. A maioria prefere sair desesperadamente atrás de uma ilusão a mais que prometa lhes tirar momentaneamente desse estado de vitimismo. Aí, quando o Sr. Tempo chega trazendo a benção da desilusão, ao invés de se mostrarem felizes, se entregam com peso ainda maior ao vicio do vitimismo... Vai entender a mente humana. Chego a desconfiar que essas pessoas desfrutam de uma forma mórbida de prazer ao alimentarem o ciclo compulsivo do vitimismo-ilusão-desilusão-vitimismo. O pior de tudo é que elas não percebem que entra ano e sai ano e permanecem na mesma lamúria.

- Realmente esse é um processo muito louco...

- Bota loucura nisso! Creio que enquanto essas pessoas não se tornarem conscientes daquilo que fundamenta tal comportamento vitimista, não há a mínima condição da manifestação de um modo de vida repleto de bons momentos.

- E você consegue ver um modo de ajudar as pessoas que sofrem disso?

- O que tenho procurado fazer é não compactuar de suas ladainhas. Eu vou cortando logo de inicio e tratando de sair fora. Algumas chegam a me chamar de insensível por não querer alimentar aquilo que vejo como sendo a sua doença. Algumas dessas pessoas fingem estar em busca de ajuda, mas na realidade, a julgar pelos seus atos, o que elas realmente querem é encontrar alguém com quem possam alimentar a danada da autopiedade. Como não tenho a cara de bonzinho do Padre Marcelo, nem a paciência de ficar como ele repetindo ladainhas, trato logo de rodar a baiana. Por amor, não compactuo desse comportamento infantil. Se elas querem buscar por esse tipo de prazer mórbido que vão fazê-lo bem longe de mim. Elas dizem querer fazer algo para mudar a qualidade de suas vidas, quando na realidade, fazem de tudo para não abrirem mão de suas patológicas, enclausurantes e ilusórias zonas de conforto. Creio não ser preciso ser nenhum Freud, Jung ou Gikovate para ver a veracidade dos fatos.

- Pior que, enquanto você falava, não tinha como não me ver em várias dessas situações.

- Não digo que estou 100% livre disto. É preciso estar sempre vigiando e orando com meus próprios botões, afinal de contas, existe uma forte tendência para nos entregarmos para esse modo inconsciente de ser. Quanto a estas pessoas, por mais que você fale, não conseguem tomar consciência da maneira pela qual são literalmente escravizadas pelos seus pensamentos desgovernados. Elas permanecem reclamando de tudo e de todos, como se os problemas estivessem nas situações externas e não na maneira como internamente lidam com os acontecimentos do cotidiano. Não conseguem perceber que não são os fatos em si que causam o descontentamento crônico, mas sim, a identificação com o fluxo inconsciente de seus pensamentos desgovernados.

- Interessante.

- É como diziam os mais antigos: essas pessoas não conseguem manter a cabeça no lugar... E que lugar é esse a não ser a consciência plena do aqui e agora?... O resto, é balela!... Se você quiser fazer uma experiência interessante... Pergunte para cinco pessoas o que elas têm de novidade... Depois tire suas próprias conclusões. Vejo isso acontecendo todos os dias.

- Você tem razão... Eu mesmo já cheguei aqui reclamando do meu serviço!

- Pois é!

- E quanto aos filmes que você me emprestou? Ficou de vir pegar e sumiu.

- Não esquente, está em boas mãos! Qualquer dia desses passo com mais tempo e, como você sempre diz, trocamos mais figurinhas sem colar! Agora vou nessa. Quero aproveitar para rever a galera da escola.

- Aceita sugestão literária?

- Claro!

- Procure por um destes três livros: Ensinar e Aprender, A Arte de Aprender e Debates Sobre Educação com Alunos e Professores em Banaras. Todos eles são de Krishnamurti, um educador por excelência. Com exceção do livro A Arte de Aprender, os demais você só encontrará pelos sebos. Se não encontrar me avise.

- Beleza! No sábado passo por aqui e conversamos melhor! Valeu!

- Valeu garoto! Mande um abraço para os demais garotos da sua escola; mantenha um olho neles e o outro bem mais aberto no garoto assustado que mora ai dentro! Até sábado!

04 junho 2008

Outonos do ser

Pela manhã, ao abrir minha caixa de e-mails, deparei-me com uma mensagem enviada por uma leitora do blog Histórias para Cuidar do Ser. Sua mensagem trazia as seguintes palavras:

"Para tão profundos temas, e tão relevantes posicionamentos, sinto falta de posts mais atuais. Quero aprender com você, amigo".

De imediato, pude perceber o pensamento, em forma de vaidade, querendo se instalar, mas, como atento estava, não houve identificação alguma com o mesmo. Então, o ligeiro pensamento, - sempre tentando criar conflito -, começou a sussurrar que eu "deveria" me preocupar em escrever todos os dias para não correr o risco de voltar a ser um prisioneiro nas coloridas, espaçosas e ilusórias grades da inconsciência. A observação fez com que estes também seguissem seu rumo, morrendo de morte natural.

Como a manhã iniciou-se com uma gélida garoa fina e agora apresenta um sol esplendoroso, tratei logo de puxar uma das cadeiras da loja para sentar-me ao pé da já não tão pequena pitangueira. Olhando entre seus galhos e folhas, ao contrário de tempos idos, encontrei apenas três pequeninos rebentos ainda bem verdinhos. De imediato, veio-me a lembrança de uma rápida conversa que tive ontem a noite com Deca, enquanto lhe ensinava as primeiras aulas de Photoshop: uma perfeita correlação entre meu momento atual e os poucos rebentos da Pitangueira...

Sinto como nunca que tanto ela como eu, em essência, nada somos diferentes. Vivemos no mesmo espaço tempo e somos frutos da criação. Temos cada um seu próprio tempo de crescimento, poda, maturação e frutificação. Ambos temos um tempo particular de repouso e assimilação e creio que, sem estes, não haveria a possibilidade da manifestação de frutos energizados...

Creio que meu momento presente, traduz-se em tempo de poda e assimilação. Pela primeira vez desde o inicio de minha vida adulta vivo um pacifico outono interior... Como a Pitangueira, observo silenciosamente minhas "folhas mortas" caindo ao chão sem o mínimo esforço de minha parte. E, mesmo em meu momento outonal, assim como a Pitangueira, aqui e acolá, surgem pequeninos e espontâneos rebentos em forma de letrinhas. Se são ou não saborosos e suculentos, não cabe à mim a resposta. Assim como a Pitangueira, só me cabe silenciosamente ser, então, que assim seja!

Agora, a manhã já chegou a seu fim e os raios solares perderam-se por detrás das pesadas nuvens cinzentas que chegam da direção da serra, as quais prenunciam chuva para o fim da tarde.



FRUTIFICAR (para pessoas sensíveis)

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!