Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

24 outubro 2007

A ignorância de si mesmo é o único vício


- Boa tarde, JR! Estou precisando conversar um pouco! Está ocupado?
- Olá Luciano, que se passa?
- Ontem aconteceu novamente, pratiquei o sexo pago... Estou tentando colocar em pratica o que temos conversado; apesar de saber que o importante é o agora, não estou conseguindo silenciar a mente. Estou tentando não me julgar e ficar no só por hoje... Mas, a real é que não quero praticar mais isso; sei que hoje é outro dia mas ainda estou sofrendo resquícios do profundo arrependimento instalado logo após o momento do ato.
- Já conversamos que o ato em si não é o problema. O problema não está no ato sexo, mas sim naquilo que a nossa mente fez com ele. Eu estava escrevendo algo parecido agora há pouco.
- Sim!
- Para mim, a questão é: por que não conseguimos ficar com os sentimentos desagradáveis que ocorrem quando se manifesta uma nova maneira de viver?... Por que não conseguimos ficar com esses sentimentos e observá-los? Por que temos a tendência condicionada de buscar por mecanismos de fuga para tais sentimentos?
- É justamente esse tipo de resposta que eu busco!
- Aí está o X da questão... Você quer a resposta... E não tem nada demais nisso, mas, por que a resposta tem que ser IMEDIATA? Por que não consegue esperar pela manifestação da resposta?... Como a resposta não é imediata e o mal estar permanece, queremos novamente nos anestesiar, certo?
- Percebo que tenho melhorado bastante, pois, antes eu praticava sexo pago mais que uma vez por semana e agora, esta sendo a cada 30 ou 60 dias...
- Acorda... Já conversamos que melhora não é transformação e que o ato em si não interessa, uma vez que você pode até parar com esse ato e colocar outro socialmente mais aceitável no lugar, não é mesmo?
- A questão é que mesmo observando o que se passa em minha mente ainda não consigo ver aquele "flash" que me leva para a ação condicionada.
- A questão é: por que não consigo viver com as contrariedades? Por que essa tendência por buscar uma forma de anestésico emocional, mesmo que seja através de uma conversa, um livro ou um sistema de crenças?
- Por favor, explique sem filosofar!... Não sei estas respostas!
- De nada adianta a minha explicação e não se trata de filosofar...
- O que está óbvio para você ainda é muito complexo para mim!
- Você precisa aprender por você mesmo, meu amigo, uma vez que a confusão é sua e, sem essa confusão, você nunca terá sua fusão. Você é que precisa ver o óbvio por você e se descomplexar... Você não consegue que está tentando sair do complexo do sexo pago, para o complexo de deixar de praticá-lo, ou então, pelo complexo de querer contar a quantidade do seu tempo limpo... Isso não é óbvio para você?
- O que me parece óbvio é que você não está sabendo lidar com as suas contrariedades, com o seu vazio, com a sua ansiedade, com as suas inseguranças... Estou errado?
- É exatamente isso! Mas, o que eu quero saber de você, é como faz para lidar com tudo isso?
- Você acredita que o "meu como" possa servir para você?... O que é remédio para mim pode ser veneno para você, não acha? Sinto que você precisa a descobrir o "seu como" por você mesmo! Isso não se trata de filosofia, trata-se de unidade, autonomia e auto-suficiência, afinal, o que se precisa é ser um homem livre!
- Tudo bem, mas você não poderia compartilhar comigo sua experiência?
- Eu tenho procurado fazer isso através da observação dos meus pensamentos, com todas as suas sugestões, com todas as suas manifestações, com todas as suas tentativas de me dizer que ele tem razão naquilo que me sugere... Isso é tão obvio para mim, mas, como você diz, é complexo para você!
- Exatamente!
- O que é um complexo? Segundo a etimologia da palavra, é algo que abrange ou encerra muitos elementos ou partes, ou seja, algo "fragmentado"... Pode algo fragmentado conseguir ver a totalidade dos fatos?
- Creio que não!
- Creio que é preciso ver a totalidade da sua forma fragmentada de pensar e isso só cabe a você. Nem mesmo o melhor profissional da saúde mental poderá fazer isso em seu lugar. Um complexo é algo confuso, ou seja, algo que em si mesmo possui um fuso... É preciso ver por si mesmo esse fuso.
- Conheci poucas pessoas que possuem o sincero desejo de trabalhar essas questões sexuais e afetivas. Como estou muito longe, pouca gente quer falar sobre isso e com aqueles que conversei, todos falam que está tudo bem, que já não praticam mais e que tudo está certinho... Tenho feito tudo o que eles têm me sugerido e vejo que, para mim, a coisa tem sido muito lenta e que em meu processo ainda ocorre muito sofrimento...
- Essas malditas comparações!... Não percebe você que as comparações nos fazem para com as ações? Além do mais, quem te garante que essas pessoas estão realmente limpas? E, estar limpo de um padrão comportamental especifico pode ser compreendido como recuperação?
- Aprendi a deixar de usar drogas com um semelhante dizendo para mim como hoje estão fazendo para se manterem longe dos padrões compulsivos por drogas químicas... Tem mais um lance que está pegando muito...
- O que irmãozinho?
- Estou sendo deixado de lado... Hoje, em minha região, vários dos meus antigos companheiros estão evitando de compartilharem suas experiências comigo.
- Isso não seria uma espécie de condicionamento? Será que você terá que fazer igual como nos Narcóticos Anônimos para se ver limpo dos seus padrões de adicção sexual?
- Então, essa é a minha grande dúvida: quem me garante que elas estão de fato limpas? Tenho uma leve impressão de estão fazendo uso de um discurso meio furado! Quanto ao fato de ter que conversar, é o que antes funcionou para mim, é só o que eu conheço!
- Digamos que essas pessoas estejam de fato fazendo uso de um discurso furado, o que isso mudaria em sua vida? Por acaso, entender a verdade do outro pode mudar a sua realidade? Percebe a importância da questão? O que pode mudar a sua realidade não seria a compreensão do seu próprio complexo? Você sabe o que significa a palavra "complexo" dentro da área da saúde mental?...
- Não.
- Conjunto de representações ou idéias estruturadas e caracterizadas por forte impregnação emocional, total ou parcialmente reprimidas, e que determinam as atitudes de um indivíduo, seu comportamento, seus sonhos, etc.
- ok!
- Preste atenção... Idéias estruturadas... Qual é a natureza exata de uma idéia?
- Pensamentos.
- Idéias estruturadas, não seria, em outras palavras, pensamentos que estruturam nossas ações?
- Sim.
- Então, o que lhe parece mais óbvio? Contar o tempo sem a prática de um padrão de comportamento especifico ou, procurar usar o tempo para compreender essa estrutura complexa que é o seu próprio processo de pensar e agir?
- O lance me parece ser o viver no agora!
- O que é insanidade segundo os grupos anônimos?
- Insanidade é fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes.
- Segundo a etimologia da palavra insanidade: Falta de juízo; loucura, demência.
- Sim!
- Insanidade mental... O que existe na mente?
- Pensamento.
- Você já leu o folheto do triangulo da auto-obsessão de Narcóticos Anônimos?
- Sim sempre o leio!
- Pois estou escrevendo sobre isso... Só que num novo paradigma. Veja: está claro para você que o problema é o pensamento e não o sexo e/ou a droga?
- Sim.
- Então, o triangulo da auto-obsessão, para mim, passa a ter uma nova dinâmica: sofrimento + memória + imaginação.
- Nessa hora do vazio, não vejo o pensamento chegando para poder observar e fazer outra escolha...
- Por favor, acompanhe! Há o desconforto, certo?
- Certo.
- Não sei como lidar com o novo desconforto, certo?
- Prossiga. Não sei mesmo!
- Surge então a memória do alivio proporcionado pelo prazer sexual ou químico, certo?
- É assim mesmo!
- A imaginação de como repetir esse alivio se manifesta, certo?
- Acontece isso.
- O pensamento se compulsiona em como conseguir repetir a experiência que com o tempo se transforma num hábito, certo?
- Espera um pouco...
- Memória e imaginação é pensamento, certo?... Por favor acompanhe; não deixe o pensamento entrar agora... A imaginação de como repetir esse alivio se manifesta, certo?
- Depois disso acontece um espaço de tempo onde todos há minha volta estão ocupados, aí surge mais possibilidades de eu praticar sem correr risco de ser pego.
- O pensamento se compulsiona em como conseguir isso... Esquece os outros! Por favor, o lance é ai dentro de você e não fora! Acompanhe!
- Certo!
- Não sei como lidar com o novo desconforto, certo?
- OK!
- Surge a memória do alivio proporcionado pelo prazer sexual ou químico, certo?
- OK.
- A imaginação de como repetir esse alivio se manifesta, certo?
- OK.
- O pensamento se compulsiona, cria a compulsão mental, em como conseguir isso... Certo?
- Está certinho, é assim mesmo que acontece!
- A compulsão deixa de ser mental e passa a ser física, certo?
- OK.
- Nesse instante é que o bicho pega... Pode vir até Jesus que você chuta a bunda dele e vai praticar não é assim que acontece!
- Isso mesmo!
- O que acontece então?... Novamente a mente começa: por que usou? Por que recaiu? Por que fez novamente?... Ela começa a criar pensamentos de auto-julgamento, certo?
- Assim mesmo! Parece que estou assistindo meu filme!
- Esses pensamentos de auto-julgamento, culpa e vergonha causam desconforto, certo?
- Como é ruim sofrer!
- Não sei como lidar com esses pensamentos, com esse desconforto, certo?
- Isso!
- Começo então a novamente pensar, a imaginar como fazer para parar de sentir o mal estar causado pelo sofrimento, certo?
- OK.
- Não consigo pensar em mais nada a não ser em como parar de sofrer, certo?
- Sim.
- E não acho respostas para isso através do PENSAMENTO certo?
- Só me vêem na mente pensamentos do que fazer para mudar...
- Sim, mudar o que é para aquilo que eu penso que deveria ser... Então, a coisa fica tão grande que o pensamento busca novamente pelo alivio imediato, certo?
- OK.
- Então estamos presos no triângulo da auto-obsessão mental... Se é o pensamento quem cria a dor, quem cria a idéia de uso, que critica a idéia de uso ou a falta do uso... O que é que eu preciso realmente saber deter: o uso de um determinado padrão de comportamento de escolha ou o uso indevido do pensamento por não estar iluminado pela ação da inteligência? Sim, por que não existe inteligência alguma na prática de qualquer padrão de comportamento compulsivo, não acha?
- Não sei!
- Então, sugiro que você passe a usar o seu tempo para saber por si mesmo a resposta para esta mais que importante pergunta.
- Preciso mais disso!
- De que adianta podar diariamente as folhas de uma erva daninha se mantemos suas raízes podres? A erva daninha pode ser o sexo, a droga, o trabalho compulsivo... Mas, qual é a raiz disso tudo?... Precisamos ir diretamente na raiz e aprender como cortá-la...
- Me dê um instante, chegou um cliente! Não desligue!
- ok.
- Desculpe-me! Por favor, prossiga em seu raciocínio!
- O que você faz quando um cliente entra na sua loja? Qual é a sua atitude? Você deixa ele fazer o que bem quer dentro da sua loja? Qual a sua atitude? Não presta toda atenção nele, de forma holística, por inteiro? Se ele é um comprador de confiança você lhe dá crédito não é mesmo? Caso contrário, não trata de dispensá-lo o mais rápido possível? Por que não agir assim com o "freguês" que é o pensamento querendo se "alojar" em sua mente?
- Interessante!
- É possível um cliente roubar sua loja se você está prestando toda atenção nele? Tem como ele lesar você uma fez que você está consciente de tudo que se passa ao seu redor, dentro da situação presente?... Para mim, o mesmo se dá com relação ao pensamento... É um "freguês" querendo fazer algazarra dentro da mente...
- Exatamente, bem colocado!
- Veja, se você observa com atenção um cliente mal intencionado, não precisa fazer mais nada: ele mesmo se toca e vai embora, não é assim?... Ele poderá até buscar por ajuda de outro companheiro para novamente na sua loja e tentar lesá-lo, não é assim?
- Faz sentido!
- A meu ver, assim é o pensamento...
- Você o observa, ele foge e volta com mais outro... E você vai observando, observando, observando...
- Então tenho que odiá-lo?... Pois odeio clientes assim!
- Você não precisa odiar o freguês inoportuno precisa?... Veja, o ódio é pensamento... Você primeiro pensa sobre o cliente e depois sente (senti+mental). Se você vai observando, observando, observando... Esse cliente nunca mais volta, não é assim? Mas ele precisa SABER QUE ESTÁ SENDO OBSERVADO PARA NÃO MAIS VOLTAR, certo?... Conhecimento é a única virtude e ignorância é o único vício
- Ele nunca mais pensa em voltar, por vezes nem mais passa na frente da loja!
- Você acha que com o pensamento as coisas são diferentes?
- Não!
- Então, está respondido o seu "como"?
- Está!
- Viu isso por você mesmo?
- Sim!
- Veja, nossa conversa, ao meu ver foi riquíssima!
- Ao meu ver também!...
- Posso transcrevê-la num texto, mantendo obviamente o seu anonimato?
- Era isso que eu estava querendo dizer que aprendo com o semelhante!... Claro que pode!
- Acho que ela poderá ser útil para outras pessoas que ainda sofrem!
- Como disse antes, por aqui, vários estão se afastando de mim... Tenho tentado me aproximar mas já não existe a mesma afinidade de antes!
- Isso é natural, uma vez que a sua forma de "pensar" está deixando de ser compatível com a forma condicionada deles. Também passei por isso e já vi outros companheiros também passarem pelo mesmo. Hoje a noite faremos reunião on-line dos pensadores compulsivos anônimos às 21:30 pelo MSN, por que você não participa?
- Com certeza gostaria de participar!
- Ótimo, quando for começar lhe adiciono! Gostaria de poder continuar ao telefone, mas, agora tenho que trabalhar. Fique de olho no "freguês"... Espero que você tenha uma ótima tarde repleta de bons momentos!
- Obrigado pela atenção. Uma boa tarde para você também e até breve!
- Obrigado...Fui!

22 outubro 2007

O que estamos buscando?

Segunda-feira; 09h30min de uma manha nublada.
Na padaria, um senhor, contrariava os vários pedidos expostos na prateleira, folheando o jornal matinal, sobre o canto esquerdo do balcão do caixa.
Ao meu lado, um jovem com não mais que 30 anos de idade, com grossas correntes e pulseiras de prata, tênis com enormes amortecedores na cor amarela, visivelmente ansioso, anda de um lado para o outro, falando num tom ardido em seu celular de última geração...
- Mas eu já falei para aquele baiano do cacete, o que é que você quer que eu faça... O cara até que é gente boa, só que está pisando na bola desta vez... Eu não sei por que essa gente vem para cá... Eu sei disso! Deviam ficar por lá!... Não vai dar... O que você quer que eu faça?...
Apoiando-se com os dois cotovelos, curvou-se sobre o balcão, com sua mão esquerda apoiando o celular contra o ouvido e com a mão direita coçando o cabelo espetado repleto de gel. Era visível o seu desespero...
- Mas eu já falei com ele agora há pouco!... Não tem nem meia-hora!... O que você quer que eu faça?... Meu irmão, tudo bem se dependesse de mim!... Acalme-se! Você está cobrando do cara errado!... Já pisei com você antes?... O que você quer que eu faça?... Só se eu mandar "subir o gás dele"... Posso te ligar em dez minutos?... Já te ligo já, deixe-me fazer algumas ligações. Fica na boa que resolvo tudo... Você sabe que pode contar comigo!... Ainda hoje, sem falta, pode ficar tranqüilo!... Eu sei disso!... Pode deixar que eu vou dar um jeito nisso! Valeu irmão!...
Após desligar o celular com uma expressão que mesclava medo e raiva, colocou o mesmo sobre o balcão e levou as duas mãos entrelaçando os dedos na parte posterior da cabeça, provavelmente refletindo na delicadeza da situação em que se encontrava e num modo de resolvê-la. Diante de nós, Osmar, o balconista da padaria, apressadamente lavava o acumulo de copos, xícaras e pratos acumulados dentro da pequena pia de inox, deixados pelos primeiros clientes da manhã.
Eu somente observava a cena ao mesmo tempo em que saboreava uma média quente com um pão com manteiga na chapa.
De repente, o rapaz virou-se para nós, como se fossemos íntimos amigos, colocou novamente o celular no suporte de couro preso em sua avantajada cintura e, em alto som exclamou:
- É hoje que eles me matam!... Se não me matarem, vão acabar me deixando louco!...
Com um olhar muito além da padaria, colocou as mãos na cintura e começou a andar em círculos no mesmo lugar. Quando parou, voltou-se novamente para nós e disse:
- Quer saber? Seria melhor que me matassem de fato!... Quer saber? Já estou farto de toda essa merda!... Melhor morrer no quinto dos infernos do que continuar nessa vida de merda!... Com certeza, hoje é o meu dia!...
Sem que houvesse tempo para qualquer comentário de nossa parte, ele passou a mão na ficha de consumo que estava sobre o balcão, apressadamente virou-se em direção ao caixa, deixando para trás um copo de suco de laranja, quase que intacto. Osmar, atenciosamente até que tentou:- Cidadão? Não quer que coloque o suco numa embalagem para viagem?
- Deixa quieto!... Se eu beber essa merda agora, aí sim é que meu estomago vai pro saco!
Não era nem mesmo 10h00min da manhã de uma nova semana e uma cena dessas se apresentava diante de mim. Enquanto silenciosamente observava o jovem no estacionamento da padaria, preparando-se para partir numa enorme e reluzente moto, em minha mente, vários questionamentos se passavam...
O que estaria acontecendo de tão grave para que, logo cedo, um jovem ficasse naquele estado?
Como que as pessoas se permitem viver nesse estado?
O que aconteceria com esse jovem no decorrer do dia?
Apesar do meu sentimento de tédio e incompletude, que logo ao abrir dos olhos se apresentaram, senti-me aliviado por não viver uma realidade semelhante aquela vivida pelo jovem rapaz.
Apesar do alivio, bateu-me também o sentimento de tristeza por ver que aquele rapaz desejava mais a morte do que a vida. Como já estive em situação semelhante em tempos idos nem um pouco saudosos, sei muito bem o que isso significa.
Hoje, apesar de todo tédio e da insatisfação, quase sempre consigo ver lucro onde os outros vêem prejuízo. Essa situação serviu para fortificar ainda mais a certeza que a muito tempo corre em minhas veias: o mais importante é buscar por Vida, e Vida em abundância.
Torço para que a inteligência amorosa e criativa se manifeste na mente daquele jovem... E na minha também!

19 outubro 2007

Automatismo Verborrágico















- Bom dia, JR!
- Bom dia Paulo César! Tudo bem com você?
- Sim, tudo pela ordem!
- E a sua senhora? - Na correria; está trabalhando em dois lugares: aqui próximo de Santana, e também num consultório na Vila Madalena. Está bastante cansativo para ela, mas, fazer o que, né? Do jeito que as coisas estão ultimamente, tem mais que se virar quando surgem as oportunidades. Ainda mais agora que o meu mercado deu uma caída como nunca. Antes eu tinha serviço quase que todo dia e, o pior, é que não tinha horário. Sabe como é, quando se trabalha com filmagem de parto, não se tem hora marcada, a não ser quando é cesariana. Só que as coisas caíram muito nestes últimos meses por causa da máfia dos hospitais. O que tem me ajudado é a minha aposentadoria, se não, era ela quem estaria vestindo as calças masculinas lá de casa. É chato de falar, mas, a real que estou vivendo é essa. Mas, isso logo logo se arruma. Não vim aqui para lamentar os meus problemas, afinal de contas, como já dizia minha finada avó, roupa suja se lava em casa. E aí? Você viajou no feriado prolongado ou ficou por aqui?
- Ficamos por aqui! Não gosto de sair nesses períodos, pois é mais estresse do que outra coisa. Se paga bem mais caro por tudo, além de ser pessimamente atendido, isso sem contar no absurdo movimento das estradas. Feriado para mim é por aqui mesmo!
- Você tem razão! Sabe quantas horas levei para chegar até Santos?
- Não faço idéia!
- Três horas e meia, isso porque sai daqui bem de madrugada. Teve um amigo meu que levou quase que oito horas preso no trânsito.
- Pois é!
- O Litoral estava lotado! Pena que choveu o domingo todo, mesmo assim, tinha muita gente na praia querendo fazer valer o feriado. Você é que está certo!... O lance é viajar fora de temporada... A praia fica só para você e os barraqueiros disputam para lhe atender da melhor maneira e garantir sua presença na barraca deles durante a semana...
- Verdade!
Breves instantes de silêncio...
- Eu te falei? Fiz o motor do Fiat, agora está zero bala! Estava querendo vendê-lo, mas agora, vai ficar na garagem mesmo. Fiz tudinho: tirei os vazamentos, troquei as borrachas das portas e os estofados... Está novinho, com aquele cheirinho de carro novo. Tem mais, daqui três anos, já não preciso mais pagar pelo IPVA... Agora vai ficar lá na garagem, uma vez que o pessoal só quer pagar o preço da tabela.
- Sei!
- Você precisa ver, o carro está uma delicia. Qualquer hora paro com ele por aqui para que você possa dar uma voltinha!
- Ok!
Novos momentos de silêncio...
- Você assistiu o jogo da seleção?
- Não acompanho mais futebol há muito tempo!
- Pena!... Não viu nem o drible do Róbinho?
- Vi sim. Os canais não paravam de repetir isso o tempo todo. O que um jogador hoje faz uma vez a cada seis anos, Garrincha, Pelé e outros mais faziam em todo jogo.
- E os gols do Kaká?... Cara, que frango do goleiro... Mais parecia que o Kaká havia devolvido a bola para o goleiro e ele deixou passar... Tanto que ele nem quis comemorar...
- Sei...
(...)
Novos momentos de silêncio...
- E então?... Está preparado para o lançamento do novo Shopping?... Passei por lá e está ficando cada vez mais lindo... Os caras investiram uma nota preta naquele prédio... Só de vidro ali na frente, não faço nem idéia de quanto gastaram. Disseram que a maioria das lojas ancoras estarão nele, sem falar nas quatro salas de cinema... Será que isso não vai afetar de maneira significativa o comércio aqui da região? Afinal de contas, daqui até lá dá para se ir a pé em menos de quinze minutos... Você deveria ter pego uma loja lá! Até que não estava tão caro não! Estavam vendendo os pontos comerciais a partir de R$ 120.000,00. O fogo é o aluguel: em média, R$ 6.000,00; só não sei se nesse valor já está ou não incluso o valor que eles cobram pelo marketing do shopping. Mas acho que seria para você um ótimo investimento!
- Sei!...
(...)
Agora um momento de silêncio mais acentuado...
- Sabe o que assisti neste final de semana na TV a cabo?
- Não faço a mínima idéia! - Uma matéria super interessante na Discovery... Era sobre a importância da Lua para o Planeta Terra. Sabia que se não existisse a Lua, a Terra não teria a rotação que tem? E a Lua é que protege a Terra contra os meteoros e asteróides. Você precisava ver que interessante. Devia ter gravado para você!
- Sei!...
(...)
- E aí? Tem assistido muitos filmes novos?
- Não muitos!
- Qual foi o último que você assistiu?
- Somos Todos Um...
- É bom?
- Interessante!
- Melhor que "O Segredo"?
- Até o Programa da Xuxa é melhor que esse filme...
- Como assim? Você não gostou?
- Deixa pra lá!
- Achei muito interessante... Tem coisa lá que se colocar em prática, vira mesmo!... Lembra muito a neurolinguistica!...
- Sei!
(...)
- Pô! Já ia me esquecendo... E a descoberta do Dinossauro Argentino, você viu?
- Fiquei sabendo aqui no balcão da loja. Não preciso assistir televisão... Esses assuntos corriqueiros têm sempre um "dinossauro brasileiro" que vem aqui para me informar!
Risos espalhafatosos...
- E esse calor? Está com jeito de que vai chover no fim de semana! É sempre assim... Sol durante a semana e chuva no fim de semana, ai, o que sobra é o shopping mesmo... Dá uma raiva!
- Sei!...
(...)
- Bem, não quero atrapalhar os seus estudos! Vou nessa que eu ainda tenho que passar no Banco. Outra hora passo com mais calma e trago o carro para você dar uma olhada, belê?
- Ok!
- Tchau, Jr! Fica com Deus!
- Até mais Paulo César!
Longos momentos de fecundo silêncio...
(...)
Onde estão as pessoas realmente dispostas a manterem conversas nutritivas, daquelas que são realmente qualitativas para a compreensão de si mesmas bem como do mundo em que estão inseridas?
Por que será que a maioria insiste nesse automatismo verborrágico que só serve para produzir um tensionamento dos músculos das costas?
Por que será que as pessoas só se interessam por esses assuntos periféricos que só servem para alimentar seus egos? Por que se interessam somente por essas tolices? Será que não percebem que a única alegria que conseguem com isso tipo de conversação, é a da fuga momentânea de suas próprias realidades solitárias e vazias? Por que não se atrevem a um mergulho no ser que as faz ser?
É incrível como a grande maioria das pessoas não se dão conta do quão superficial que são os seus assuntos. São verdadeiros papagaios a disparar frases e frases irrefletidas. Algumas delas são tão compulsivas por esse falar desconexo, que acabam mesmo falando sozinhas pelas calçadas ou pelos cantos de suas casas. São pobres vitimas de suas mentes enfraquecidas, repletas de uma incessante repetição de palavras que nada tem a ver com as suas atividades do momento. Suas falas são como que "socialmente programadas" pela bateria de informações dos noticiários de TV. Elas se descarregam durante o dia em conversas banais e sentam-se diante dos seus aparelhos de teleilusão para novamente carregá-las e dar continuidade ao processo de automatismo verborrágico. Suas falas são tão programadas e automáticas, do mesmo modo que as cenas aéreas de Copacabana que sempre passam em todas as novelas da Globo.
É uma necessidade tão grande de falar apenas por falar, que não é preciso anos de psicologia para poder perceber a grande necessidade de serem notadas. E, o pior de tudo é que estas pessoas não se percebem que acabam sempre falando demais por não terem nada a dizer. Se você se aquieta e as observa atentamente com o seu olhar fixo em seus olhos sem brilho, percebe facilmente que estas pessoas falam demais para demonstrar que nada sabem sobre aquilo que falam. Se você as questiona um pouquinho mais a fundo, deixam claro que não escutam aquilo que falam e que, portanto, são dirigidas pelas palavras.
Pior ainda é quando sou abordado por aquele tipo que dispara uma fala apressada, compulsiva e emocional... Essas, além de não escutarem a si mesmas, não escutam nada do que você lhes fala... Estão tão presas dentro de si mesmas, que é humanamente impossível a menor manifestação de um contato real com outro ser humano.
E a inquietude delas diante do silêncio por parte de seus interlocutores?... Até parece que essas pessoas sofrem de uma profunda alergia diante do silêncio... Pode-se ver claramente em seu olhar, o quanto que vasculham suas memórias para ver se encontram algum tipo de assunto que possa dar continuidade para as suas conversas periféricas e afastar momentaneamente o silêncio. Não percebem que ao fazerem isso alimentam ainda mais o governo de suas vozes mentais que as impedem de experimentarem o que é ser realmente "um" consigo mesmas e com um outro ser humano. Essas pessoas são o resultado de um aglomerado de vozes sociais que insistem em governar suas vidas, mantendo-as num anônimo modo de vida de desordem, o qual tentam esconder com suas posses, aquisições ou então, com o dito automatismo verborrágico.
A maioria dessas pessoas não tem se quer o menor flash de consciência, que possa trazer luz sobre a sua fragmentação interna, daquilo que realmente se passa em seu interior, em suas mentes, com todas as suas conseqüentes manifestações emocionais e físicas. São como "bonecos de corda", movidos pela "pilha de pensamentos compulsivos" e, a pior constatação, é que para muitas delas, essa "pilha" dura até os últimos suspiros de suas existências sem vida. São verdadeiras "cabeças duras", vitimas da débil aceitação de scripts sociais que as mantém distantes de relacionamentos nutritivos, uma vez que seus "papagaios interiores" lhes impedem de um encontro real com outro ser humano.

17 outubro 2007

Resposta a carta de uma internauta

Boa tarde Marlene, paz e bem!
Foi muito bom você ter tomado a liberdade de escrever para você mesma e também para mim! Isso sim é coragem!
Espero que você também tenha a coragem de ousar se expor, não para o mundo, mas sim, PARA VOCÊ MESMA. Quando conseguimos realizar essa façanha, tão importante e ao mesmo tempo tão negligenciada por muitos, o fato de se expor ao mundo torna-se irrelevante. Creio que a dependência emocional é o de menos, quando se cresce num ambiente, seja familiar ou social, extremamente condicionante. Não fomos criados para usar o pensamento como um servidor de confiança, ao contrário, crescemos de maneira tal em que o pensamento coletivo e pessoal nos tornou escravos. Somos escravos do pensamento, muito antes de sermos escravos de uma dependência qualquer, seja ela emocional ou física, uma vez que toda dependência tem sua NATUREZA EXATA no pensamento que por sua vez, gera uma série de sentimentos torturantes.
Muito antes de você se relacionar, 24 horas por dia, com a doença de um dependente químico, lhe pergunto: a quantos anos você vem se relacionando com a própria doença na qual lhe tornaram com o seu próprio consentimento? Para mim, talvez essa seja a grande questão! Tenho certeza que, com o passar da carruagem, você verá que o relacionamento com um adicto, foi a sua maior BENÇÃO, pois fez você se deparar com a sua própria realidade solitária... Ele só serviu de eco para a sua própria fragmentação interior, falo isso com conhecimento de causa, vivida na pele.
Não somos tão somente co-dependentes de uma relação qualquer, mas sim, o que é extremamente pior: co-dependentes de uma maneira socialmente aceita de ser guiados por pensamentos coletivos condicionados. Não fomos incentivados a observar o mundo POR NÓS MESMOS, segundo o que dita a nossa intuição. Nossa mente condicionada está sempre lá a DETURPAR TUDO, a CONTAMINAR TUDO, roubando a beleza e a sensibilidade do ETERNO AGORA. Na real, ouso dizer que nunca se quer EXISTIMOS, somente SUB-EXISTIMOS. Nossa real natureza nunca veio a tona e a dor da co-dependencia é um grito desesperador da inteligência amorosa que reside em nós, sufocada pelos nossos condicionamentos.
Eu fico PROFUNDAMENTE FELIZ, por ler em seu depoimento que você hoje se encontra num grande estado de vazio, pois...
É somente no VAZIO FÉRTIL de um bambu que a flauta pode descobrir seu próprio som. Já está mais do que na hora de você descobrir seu próprio tom, seu próprio som... Está na hora de assumir seu próprio som nesta enorme orquestra sinfônica chamada VIDA. Não tenha medo de desafinar! O importante é dar seu som... Muitos vão querer que você toque conforme é regido por poucos... Ouse ser você e dar o seu som.
Minha experiência é que somente jogando fora, TODOS OS SISTEMAS DE CRENÇAS, que erroneamente damos o nome de RELIGIÃO, é que podemos encontrar nossa verdadeira religião. A palavra religião vem de “religar”, e o que precisamos religar é a nossa capacidade de estar ligados com a INTELIGÊNCIA AMOROSA E CRIATIVA. A religião de forma alguma pode ser coletiva, não pode ser organizada, ela é um processo único, pessoal e intransferível e que se manifesta, tão somente, quando ousamos sentar com a nossa dor, com o nosso vazio... Costumo brincar que, se existe um Deus, ele é exatamente do tamanho do nosso vazio e que, enquanto insistirmos em colocar algo para tapar esse vazio, mesmo que seja a crença, com seus dogmas e chavões, esse Deus nunca poderá se manifestar.
Saiba que Cuidar do Ser, é um estilo de vida, única e pessoal e que cada um tem que descobrir dentro de si mesmo. Este site visa somente fermentar as suas possibilidades pessoais intransferíveis.
Outra coisa: o importante não é o vazo, mas sim a essência do seu conteúdo... O vazo quebrado em caquinhos, é o seu EGO, portanto, não chore por ele. Quer saber, é melhor mesmo não juntar nada dele, mas sim, deixá-lo de lado. Só assim você poderá conhecer algo que está além de tudo aquilo já formulado pelo seu pensamento, algo que não pode ser deturpado pela PALAVRA, que em sua essência É pensamento.
Espero de coração que você não consiga se "REstaurar", pois a restauração é a continuidade do passado. Eu espero de coração que você opte pelo ressuscitar, ou seja, por experimentar o NOVO, o INUSITADO, e pela primeira vez em sua vida entrar em contato com a realidade do significado da palavra felicidade, que nada tem a ver com aquilo que você acredita ser felicidade.

Que aquilo que você é em sua essência abençoe não só a você e a sua família, mas sim, a grande família que é a raça humana.

Seja Mais que Marlene, seja o Ser que lhe faz Ser.

Um abraço fraterno
Nelson Jonas

Piratas de Plantão

Há uma pomba branca, solitária, tudo observando sobre um dos fios de alta tensão. O sol está absurdamente quente para uma manhã primaveril e mesmo na sombra, a roupa causa bastante desconforto. Do outro lado da rua, uma senhora por volta dos 60 anos de idade, provavelmente avó, sob a enorme sombrinha colorida, leva uma pequena criança para a escolinha, ambas, com o olhar distante. O ar está bastante seco, acentuando o acumulo de pó, o que ocasiona ardência nas vistas.

Abacaxis, bananas, laranjas, mandiocas e uma enferrujada balança manual, são transportadas num desses carrinhos de construção, oferecidos de casa em casa por um simpático vendedor ambulante, com sua bermuda folgada, camisão totalmente aberto e um par de chinelas bastaste desgastadas.

Enquanto eu iniciava a escrita deste texto, encostado no batente da vitrine da loja, ele chegou com aquele seu jeitinho recatado de sempre.. Calça jeans, puxada ao máximo na cintura, sapatos bem lustrados, poucos brancos cabelos bem alinhados, no bolso da camisa pólo a pequena caderneta de anotações de seus assuntos preferidos e no pulso, o velho relógio de estimação deixado por seu pai...

- Salve, salve, JR! E aí? Suando para fazer suas contas?

- Que nada, apenas escrevendo um pouco sobre o meu cotidiano...

- Cotidiano de paulista se resume no samba para pagar contas... É só correria...

- Não se pode generalizar Sr. Mauro!

- Com você é diferente?

- Com certeza, sambo bem menos que muitos por ai. O meu samba é do tamanho das minhas escolhas.

- Não é bem assim não. Tudo aqui é imposto, e, diga-se de passagem, quanto imposto. Desculpe a palavra, mas... Raça de políticos de merda! Os caras estão tentando acabar com a CPMF e o Ministro já diz que se isso ocorrer, vai ter que aumentar a carga tributária... Agora mesmo estou indo ao banco para pagar contas... Pagar, pagar e pagar... Por menos que se queira, tem sempre conta por debaixo da porta logo pela manhã. Está cada vez mais difícil de se viver aqui em São Paulo, pois as autoridades políticas desta cidade, ao invés de procurarem facilitar as coisas, estão a cada dia que passa embaçando mais... Você já regularizou a fachada da sua loja? Eu ainda não fiz a minha e nem sei se eu vou fazer... Os caras inventam cada uma que vou te falar.

- Não é o Sr. que vive dizendo que cada povo tem o governo que merece?

- Nem sei não se é bem assim! Eu não escolhi essa corja que está ai... Por acaso você escolheu o atual prefeito?

- Não!

- Pois nem eu! E olha só o presentinho que ele deu para nós comerciantes... Isso aqui é um verdadeiro lixo... Por fora, bela viola, por dentro pão bolorento. Os caras só se preocupam com fachadas... Não estão nem ai com o que realmente é de primeira necessidade pública. Não gosto nem de parar para pensar nesse assunto, pois o mesmo me ataca o fígado. Esse país não tem mais jeito mesmo... Você tem acompanhado as peripécias de Brasília?

- Para que? O Sr. ainda insiste em perder tempo com isso? Não sabe que lá tudo termina em pizza? Está todo mundo de rabo preso... É pura perda de tempo... Quer saber? Eles não estão nem ai para a sua observação televisiva, muito menos com os problemas sociais. A preocupação é se impor cada vez mais. Vivemos um momento de desmoralização política como nunca antes na história da nossa nação. E o que se pode fazer? Vamos, diga-me!... Estamos no país da impotência, onde os verdadeiros problemas sociais não merecem espaço de destaque nas manipuladas revistas semanais, no entanto, dão destaque de quatro páginas para o roubo de um "rolex" de uma "celebridade global", onde o cara se diz ter vergonha de ser paulista por ter seu relógio roubado... É muita mediocridade, você não acha? Será que não existem problemas bem maiores do que o roubo de um "rolex" para que se possa sentir envergonhado de fazer parte de uma determinada comunidade? Será que um apresentador "global" desconhece a realidade na qual sua cidade está inserida? Se conhece, alguma vez procurou apresentá-la de forma efusiva, ou ao contrário, seu trabalho também faz parte do processo de mediocrização nacional, que impede com que as pessoas abram os olhos para o estado de loucura a que estão se submetendo?... Só decidiu abrir a boca porque pegaram seu brinquedinho de estimação? Por que não abriu a boca antes? Por que a palavra é dada somente para a minoria das "celebridades globais" e não para a imensa massa de "anônimos globais"?... Neste país, dá-se bastante evidência para roubos a mão armada, desde que seja com revolver calibre trinta e oito e diante de todos a luz do dia. No entanto, os mega-assaltos feitos a mão armada com canetas de precisão, nos aposentos de um gabinete qualquer...

- Isso nem pensar, JR! Eles até mostram um pouquinho, mas num instante, o próprio sistema televiso, que também tem seu rabo preso, acaba abafando o caso...

- Então? Por que perder tempo com isso? Diga-me, o que é possível ser feito? O Sr. acredita ser possível mudar esse sistema? Ele é muito mais complexo do que se possa imaginar... Acho que o grande lance é descobrir um modo de vida, onde se possa compactuar o mínimo possível na manutenção desse sistema. Não se pode fazer um cavalo beber água enquanto ele quer cevada...

- O povo tem o governo e os impostos que merece!...

- Será mesmo que merecemos esse governo e esse monte de impostos por eles atribuídos?

- Você não votou neles?

- Votei, mas não foi isso que eles prometeram... Por isso que digo que não vale a pena se iludir com a política. A própria fonte dela é a corrupção organizada. O poder nas mãos deturpa tudo... Eu penso que o lance está na educação. É a educação que é fundamental, ou seja, é ela que funda o mental. Não existe uma real preocupação com a educação em nosso país; estamos vivendo uma grande crise de base educacional. É na educação e na cultura que reside o problema humano. Um país em que a diversão tem mais espaço do que a educação, o que mais se pode esperar? Um país onde cada um pensa em levar vantagem, o que se pode esperar? Sabe, outro dia estava assistindo um programa onde passava relatos de sobreviventes do holocausto. Num determinado momento uma das sobreviventes entrevistadas disse que naquele período de guerra, a cultura de roubo era natural, pois se tratava de uma maneira de sobreviver... Agora eu pergunto ao Sr.: qual a diferença daqueles tempos com os tempos atuais? Vivemos em constante estado de guerra, só que não declarada... Há a guerra por um espaço no transporte, numa colocação no mercado de trabalho, por um atendimento médico, por uma vaga numa escola pública, ou numa Universidade Federal, onde os ricos são sempre privilegiados... Faça um levantamento de quantos dos alunos de uma Faculdade Federal vem do sistema de ensino público e quantos vêm de escolas particulares... Temos uma cultura que favorece os já favorecidos e que oprime cada vez mais os desfavorecidos... Há uma constante contrariedade de valores... Quanto mais se tem mais se quer e eu te pergunto: quem é que fabrica isso? Não é a mídia através dos seus diversos "usuários de rolex"?... O Sr. já teve a oportunidade de assistir o filme "A Lista de Schindler"?

- Sim.

- Há uma cena em que um dos generais de um dos campos de concentração, logo pela manhã, diverte-se atirando nos "seus" prisioneiros no intervalo de cada tragada do seu cigarro... Um patrão compra no mesmo mês duas Zafiras e resmunga para dar R$ 100,00 de aumento no salário de seu funcionário... Fica diante de um computador fazendo análises do mercado financeiro, estudando como cortar custos na empresa, pressionando os funcionários enquanto se diverte com jogos na Internet... Estamos ou não estamos vivendo tempos de guerra?

- Isso foi sempre assim e sempre será... Quem pode mais cobra mais!

- E quem pode menos, como faz?

- Alguns, no desespero, ou talvez na malandragem, procuram um "usuário de rolex" dando sopa no congestionado trânsito da capital!

- Pois é! Mas, diga-me, o que o Sr. manda?

- Nada, não! Passei por aqui para roubar um pouquinho da sua energia. Como digo sempre...

- Já sei:...Esta loja não é a Eletropaulo...

- ... Mas está cheia de energia! Isso mesmo!

- Ainda bem que eu não cobro por ela, não é, Sr. Mauro?

- Só faltava você querer cobrar por isso... Do jeito que o ser humano está, acho que não falta muito para tamanha insensibilidade!... Acho que o ser humano está fazendo da frase "tempo é dinheiro", uma máxima.

- Oras, não seja tão negativo!

- Não tem nada de negativismo nisso; são fatos! Posso dizer isso com bastante conhecimento, afinal de contas, são 72 anos neste maledito planeta... Ninguém tem mais tempo para nada... É incrível, principalmente nestas duas últimas décadas, como o ser humano tem se tornado ganancioso... Nada é de graça, agora tudo tem o seu preço. Não duvido nada, daqui alguns dias, algum espertinho do governo querer patentear a energia solar e começar a cobrar por ela também...

- Já pensou?

- E vou mais longe... Daqui alguns anos, eles vão querer inventar um imposto sobre a qualidade do ar, isso tudo por causa dos altos níveis de poluição... Ninguém consegue fazer mais nada sem um carro, até parece que o mesmo é uma extensão do corpo humano... Para se ir a padaria, tem que se ir de carro. Para ser ir ao jornaleiro, tem que se ir de carro. E o maior dos contra-sensos: vão de carro até a academia e ficam andando cerca de 45 minutos numa esteira eletrônica... Pode uma coisa dessas?

- É a moda!

- É moda mesmo... No meu tempo, a moda era fazer Cooper... As coisas estão mudando muito rapidamente... Está ficando difícil de acompanhar essa mudança toda. Cada dia que vou ao banco, tem sempre uma mudança no sistema e sempre para tornar a coisa cada vez mais impessoal. Acredito que dentro de alguns anos, se continuar assim, o ser humano vai ser um escravo das máquinas tecnológicas e, o contato humano verdadeiro vai ser tão escasso, que é bem capaz que o homem ganancioso, ao se perceber desse fato, comece a cobrar por isso. Se bem que já fazem isso hoje em dia... Já viu quanto cobra um profissional da saúde mental por alguns poucos minutos da atenção de seus olhos e ouvidos?... É assustador o quadro que estamos pintando para as gerações vindouras. Ainda bem que não vou ficar muito tempo por aqui...

- O Sr. hoje está bastante depressivo!

- Não tem nada a ver com depressão... Isso são fatos! Só não enxerga quem não quer enxergar!

- O Sr. acha que é para isso mesmo que a humanidade está caminhando?

- Humanidade?... Onde?... Você acha mesmo que podemos usar o adjetivo "humanidade" para qualificar esse amontoado de gentalha egocêntrica? Ninguém está nem ai com ninguém! É cada um por si e Deus por todos – se é que essa coisa chamada Deus, exista mesmo. Deve ser um Deus bem fraquinho, ao ponto de criar um ser tão interesseiro como este. É incrível, mas, hoje, tudo tem seu preço. Acho que o mundo todo está bastante doente e, doente da mesma doença...

- Que doença Sr. Mauro?

- A maldita "Lei de Gerson"... Ainda bem que ela foi inventada no Brasil, pois se fosse obra dos americanos, se pagaria um preço muito mais alto por ela!

- Quanto a isso, não tem problema algum... Os chineses a pirataria rapidamente e o Brasil a colocaria nas diversas bancas espalhadas pela 25 de março e outras regiões centrais.

- Quer saber? Não sou contra os camelos! Eles têm mais que existir mesmo! Se eles cobram o preço que cobram, porque temos que pagar um preço absurdo pelas mesmas mercadorias numa loja qualquer? Por causa dos impostos é que a pirataria está sendo imposta...

- Isso é bastante complexo e contraditório... Cada um tem um ponto de vista com relação a isso...

- Sim o ponto de vista de cada um varia de acordo com o montante de notas que carrega na sua carteira... Quero ver se o cara com alto poder financeiro teria a mesma opinião quanto a pirataria se estivesse no lugar do menos favorecido... Diga-me uma coisa: você nunca comprou nada falsificado?

- Claro que sim!

- E nem que se me dissesse que não, estaria dizendo a verdade. Hoje, mesmo de forma inconsciente você está o tempo todo comprando coisas pirateadas... É no posto de gasolina, é na farmácia, é no mercado, é na auto-escola, é por toda parte... A "Lei de Gerson" e a Lei do "Jeitinho" estão por toda parte... Mesmo sem perceber, você está pagando por elas... E tem mais uma coisa: muitos desses caras financeiramente abastados, também praticam a falsificação, e, ao meu ver, a pior delas: eles falsificam o valor e a dignidade do ser humano, através de salários e cargas de trabalho totalmente desumanas. A cada dia que passa o mercado de trabalho espreme mais e mais o ser humano, com salários cada vez menores e com a carga de serviço que deveria ser de duas ou três pessoas. O pior de tudo é que a fila nos departamentos de RH são cada vez maiores e, por isso, as pessoas se conformam com esse sistema de pirataria de "valores humanos"... Todos se submetem a isso devido ao medo de ouvirem aquela frase de uma violência sutil: "se não estiver contente, a porta está aberta!"... Você não vê isso bem estampado na sua frente todos os dias? Estamos cada vez mais prisioneiros de nossas próprias invenções, de nossos impostos, de nosso sistema de trabalho, ou melhor, do próprio sistema. Apesar de sermos constituídos de carne, sangue e ossos, estamos a cada dia que passa, mais e mais parecidos com máquinas de produção em série. E isso não é pirataria? Isso é um verdadeiro processo mundialmente constitucionalizado de extorsão, uma prática do crime organizado, com base na CLT, onde se pode constranger alguém, mediante a "violência branca" aplicada através da grave ameaça psíquica do medo do desemprego... Tudo isso é feito para se ter o poder de obter para si ou para uma determinada "corporação", indevida vantagem econômica... O pior de tudo, é que nós somos os piratas de nós mesmos, uma vez que tanto individual como coletivamente, toleramos que se isso seja continuamente praticado, uma vez que não ousamos fazer algo em relação contrária. Por todo o mundo o que se vê é uma ruptura cada vez maior dos valores humanos, da degradação da espécie, através de toda espécie de constrangimento ilegal... É ilegal pagarmos impostos e não termos direito a uma "verdadeira educação", a saúde, a transportes públicos com qualidade, a uma moradia decente... Isso seria o mínimo. Mas não... Tudo nos é imposto através de pacotes e modelos pré-estabelecidos... E o pior, é que a grande maioria acredita ser livre por poder escolher aquilo que já foi previamente escolhido por alguns poucos... Escravos neste imenso navio pirata chamado "capitalismo selvagem"... É uma verdadeira selvageria o que estamos fazendo com nós mesmos e o que estamos deixando como legado para as novas gerações.

- Faz sentido!

- Bem, nossa prosa está muito boa, mas, tenho que ir... O sistema me chama! Quer alguma coisa do banco?

- Umas verdinhas se estiverem sobrando!

- Meu amigo, isso para mim é bastante difícil. Dinheiro comigo é que nem menstruação: aparece uma vez por mês, sempre precedido de muitas cólicas e dores de cabeça e dura somente alguns dias...

- Esse é o Sr. Mauro que eu conheço: sempre gozador!

- Pois é meu amigo, nesta terra de piratas, é preciso colocar um tampão numa vista e aprender a "gozar a dor"...

- Vai ver que é por isso que nas histórias de piratas tem sempre muita bebida por perto... Para amenizar a dor...

- Vai saber! Agora tenho que ir. Transmita um abraço para a senhora sua mãe! Outro dia passo com mais tempo. Até mais ver!

- Até breve e fique de olhos bem abertos... Ultimamente uma gangue de piratas tem procurado atacar pessoas da sua faixa etária na saída da agencia!

- Está vendo? Não disse? Nesta terra, o que não falta são piratas de plantão.. Olhos abertos, meu caro, olhos abertos! Até mais!

Sim, pensei comigo, de olhos abertos, tal como a pomba sobre os fios de alta tensão...


04 outubro 2007

Memórias Distantes

Ele começou o dia ao som de Aeoliah e Mike Rowland. Suas músicas são de uma profundidade tal que lhe transportam para outros estados de consciência; tocam no mais fundo do seu ser, transportando-lhe para memórias distantes de tempos idos de plenitude, unidade e sensibilidade expandida. Em cada um dos seres humanos, até mesmo naqueles cujos condicionamentos tornaram a sensibilidade quase nula, essa eterna lembrança, sussurra diuturnamente, conforme as batidas do coração.

Todo ser humano vem ao mundo como uma página em branco, pelo menos, assim ele pensava. Talvez, em suas células, traga a memória genética, não só de seus progenitores, mas sim, de toda a raça humana. Numa criança recém nascida, existe graça, pureza, delicadeza de movimentos e uma beleza cuja limitação das palavras não consegue alcançar.

Com certeza, uma das maiores experiências da sua vida, foi o de acompanhar de perto uma gestação... Saudosamente gosta de relembrar os momentos em que foi dormir, horas antes da cirurgia que traria um novo ser a este planeta... Ele olhava para aquela barriga, consciente de que o milagre da vida estaria ali para ser presenciado por todos que estivessem com suas mentes livres de regras, conceitos, crenças e condicionamentos, uma vez que aquele novo ser estava vindo ao mundo contrariando as regras sociais de uma gestação... Ele tinha consciência disso, uma vez que, ele mesmo, ao receber a noticia da gravidez, reagiu por instantes, de forma condicionada pela cultura na qual havia crescido. No entanto, bastaram alguns minutos para que caísse na real e passasse a dar as boas-vindas ao ser que estava iniciando seu processo de vir-a-ser.

Já no dia seguinte, na maternidade, ansiosamente aguardava diante da límpida parede de vidro do berçário, que ficava de frente ao enorme salão de espera, onde duas televisões apresentavam os rostinhos dos recém-nascidos aos seus familiares, juntamente com os nomes de seus pais. Enquanto aguardava o término do parto, deliciava-se com os movimentos dos recém-nascidos no berçário e com a reação dos seus parentes. Para ele, era impossível descrever a alegria que sentiu ao ver o rostinho daquele ser pela primeira vez: a perfeição de cada traço, os dedinhos miudinhos com os desenhos das digitais apuradas e as unhas bem delineadas, os lábios brilhantes e a pele clara destacando os vasinhos sanguíneos... Os olhinhos curiosos, filmando a tudo... Tudo ali era virginal, pureza imaculada... Até começarem os condicionamentos...

- É uma menina!...

- É a cara da mãe!

- Que nada, é a cara do pai...

- Não sei não!

- É, mas o narizinho é da vovó e os olhos são do vovô!

- Vocês já viram se aqui no hospital eles furam a orelhinha dela? Precisamos colocar o brinquinho de ouro logo de pequenina!...

- Vocês vão batizá-la!...

- Não sabemos ainda...

- Como não sabem? Tem que batizá-la logo! Deixem de história!...

- Não vemos a hora de apresentá-la para a congregação!...

- Não sei não, mas acho que a mãe não sabe quem é o pai...

- Num momento mágico como este, onde um milagre se apresenta gratuitamente aos seus olhos, é só isso o que você tem para falar? Cara, que pobreza de espírito! Se não tem nada a dizer, perdeu uma grande oportunidade de se manter de boca fechada!... Olhe a vida se manifestando, faça parte desse momento mágico, comungue!

Enquanto isso, ele atônito, observava no final do corredor, um recente avô inconformado, caminhando cabisbaixo de um lado para o outro, apoiado por sua esposa, incapacitado do desfrute do recente milagre da vida por causa da imensa crosta de seus condicionamentos. Ao invés de alegria, seu olhar expressava desgosto e preocupação...

E foi assim, que ele testemunhou a primeira vitória deste ser diante deste mundo condicionado.

Observando isso, num misto de alegria e tristeza, ele se questionava quantas batalhas aquele pequenino ser teria que travar para assegurar sua originalidade... Seria isso possível? Como seria isso possível em meio de tanto condicionamento parental? Como conseguiria manter sua originalidade, quando se é uma vitima indefesa da realização das fantasias, desejos egocêntricos e atitudes divisoras dos adultos?...

Logo, logo, com certeza, ela seria a Alice no País das Maravilhas, a Super Xuxa, a Hellow Kit, uma das Meninas Super-Poderosas, ou então a Branca de Neve com o olhar perdido diante das janelas da vida... E lentamente, incentivada e patrocinada pelo orgulho parental, cada vez mais se distanciaria de suas origens...

Ele sentia na pele a tristeza de ser uma impotente testemunha anônima da instalação sistemática de um processo divisor, que lentamente tende a deflorar sua virgindade psíquica e emocional...

É bem provável que esta jovem criança, ao tornar-se adulta, nunca tenha ouvido se quer falar das músicas angelicais de Aeoliah e Mike Rowland, mas, pelo andar da carruagem, assim como ele, um dia estará sentada num canto qualquer de uma residência, transportando-se para memórias distantes de tempos idos de plenitude, unidade e sensibilidade... Isto se tiver a graça dos imaturos adultos que lhe circundam não conseguirem, com seus condicionamentos, tornar sua sensibilidade nula...

Para ele, esse parece ser o drama da criança bem dotada...

E essa eterna lembrança, sussurra diuturnamente, conforme as batidas do coração do mundo.

03 outubro 2007

Os capitalistas de plantão

Os capitalistas de plantão vivem às custas dos que se submetem a serem por eles explorados: querem tudo para ontem, mas com pagamento sempre no amanhã, e de preferência, um amanhã no máximo parcelado.
Eu ainda estava limpando a loja quando ele, com seu branco sorriso contrastando com suas profundas e escuras olheiras, surgiu pela porta de entrada. Por volta dos 40 anos de idade, apresentava o corpo um tanto obeso para a sua altura mediana. Quando lhe conheci, mantinha um físico invejável, uma vez que surfava sagradamente, todos os finais de semana. Agora, seu surf era feito de 2ª à sábado, percorrendo a rede de lojas para quem presta serviços. Suas escolhas fizeram com que trocasse as límpidas e borbulhantes ondas do litoral de Ubatuba, pelas poluídas, barulhentas e congestionadas marginais da capital Paulista. Apesar do seu sorriso inicial de sempre e de sua compulsiva e efusiva temática capitalista, seu semblante e sua linguagem corporal tornavam notória sua realidade insegura e conflitante.
- E aí, meu irmão? Beleza?
- Bom dia Juninho! Como foi seu final de semana?
- Massa! Na correria, mas tive um churrasco que valeu a pena... Conheci uns caras poderosos. Vai pintar muita coisa boa na área. Só para você poder ter uma idéia melhor, um deles tem apenas 26 anos de idade e já está com um patrimônio poderoso; olha só a força do cara: já está com escritório no Uruguai, na Argentina e está abrindo um outro na Venezuela. O cara trabalha com sonorização de alto nível. O cara é fodido! Fica frio que vai pintar muita coisa para você também, irmão... Estou vendo primeiro para a minha esposa. Se entrarmos lá, se prepare que a coisa vai bombar! Desculpe-me por não ter passado aqui no sábado como havia combinado com você, mas, você sabe, uma oportunidade de estar com uns caras desse porte não se pode desperdiçar.
- Tudo bem! Só acho que você poderia pelo menos ter me ligado para me avisar...
- Desculpe-me cara, mas, eu estava adrenado demais! Sabe como é, não sabe? Fica tranqüilo, irmão; você sabe muito bem que comigo você não perde! – Risos...
- Não perco, mas também não ganho, não é mesmo?
- Para com isso! Fala sério! Está me estranhando? Você sabe muito bem que eu sou o cara!
- Não se leve muito a sério, Juninho; estou apenas brincando com você!
- E ai? Aquela arte ficou pronta? Os caras piraram com o seu estilo... Fica frio que vai pintar muita coisa daqui até o começo do ano e você vai ser sempre o meu braço direito. Estamos juntos, eu cresço e levo você junto comigo. Pode acreditar! Você vai ser o meu “Lombarde” e eu vou ser o seu “Silvio Santos”.
- Entendo! Eu fico no anonimato e você leva a fama!... Por mim tudo bem, desde que o meu venha sempre no dia certo e conforme o combinado.
- Fica tranqüilo, não tema, pois com Juninho, não há problema!
- Olha lá! Quem gosta de promessa é romeiro! Desse jeito você um dia ainda vai virar político profissional...
- Estou falando sério! Não sou bafo de boca não! Você me conhece ou não?
- Olha Juninho, comigo funciona que nem o Jack, o estripador: gosto de ir por partes. Acho que cortar a vida em pedacinhos mastigáveis torna as coisas muito mais fáceis de serem digeridas. Deixemos os planos do futuro e fiquemos com aquilo que está rolando no aqui e agora.
- Que é isso, meu irmão! Tem que pensar grande cara!... Você não sabe como é que as coisas funcionam?... Você é do tamanho dos seus sonhos! Não pode pensar de forma limitada! Tem que sempre pensar grande! Você é aquilo que pensa! Você precisa assistir o filme “O Segredo”... Muito massa!
- Já conheço, inclusive, já cheguei a trazer o livro para um cliente amigo nosso... Filminho de sessão da tarde... Mas, e aí, o que é que você manda?
- Cara, estou na correria! Estou implantando uma pesquisa de mercado e ainda tenho que correr todas as lojas para orientar os gerentes. Sabe como é, do jeito que está a concorrência do mercado, é preciso dar sempre o tiro certo. Não se pode dar tiro na água. A coisa aí fora está ficando cada vez mais brava, é nego comendo nego, tem que se matar um leão por vez. Estou tendo uma oportunidade de ouro nessa rede de lojas que peguei para trabalhar a parte de marketing... Tenho que mostrar serviço logo de cara, não há espaço para oportunidades perdidas... Estou trabalhando uma planilha poderosa e acho que em mais uns dias, já estou com ela nas mãos... Com ela, teremos o controle de tudo nas mãos... Estou também agilizando uma nova maneira de captação de rendas para implementar ainda mais os valores para o marketing... E quem vai pagar são os fornecedores... Tem que se estudar tudo... Cada metro quadrado da loja vale ouro... Sabe como é, quando se tem nas mãos uma rede, o poder de mando é bem maior... A galera está fazendo de tudo para conseguir seu espaço no mercado... Tem que se aproveitar isso...
- Aproveitar... Sei! Parece que esse é o “mantra” mais utilizado pelos homens de negócios...
- Fazer o que? Infelizmente, é assim que a coisa funciona: quem tem mais pode mais... Quem paga a banda escolhe a música a ser tocada!
- Coitado dos músicos!
- Fica frio que quando você começar a ver a cor do dinheiro na sua mão, tenho certeza que vai começar a ver as coisas por outro ângulo...
- O que você está querendo dizer com isso, Juninho?... Por um acaso você anda lendo Zibia Gasparetto? Acha que realmente tudo e todos tem seu preço?...
- Deixa isso pra lá! Vamos falar do que realmente interessa. Então? A arte para o cartão de crédito personalizado da loja já está pronta?
- Já sim, desde sábado como havia lhe prometido.
- Já está gravado em CD?
- Sim!
- Posso levá-lo?
- Sim!
- E a arte do boton? Já começou a bolar? Tem que correr com isso, pois também tem a arte do crachá e dos adesivos. Eu já te passei?
- Só do boton.
- Cara, está vendo? Estou tão adrenado que me esqueci de te falar. Tem muita coisa pela frente. Pode acreditar, não vou te dar sossego nem um só dia. Trampo é que não vai faltar!
- Ok! Você trouxe o valor combinado pela arte do cartão de crédito?
- Não; podemos acertar tudo no final? Vamos fazer um pacote, um bem-bolado...
- Parece que as coisas não mudam mesmo... Parece funcionar assim em todo lugar. Desculpe-me, mas, não trabalho dessa forma. Comigo é toma lá, dá cá!
- Cara, para trabalhar com as redes tem que ter jogo de cintura, tem que ser flexível, se não, a coisa não vira!...
- Você está querendo dizer que eu devo ser um cara manipulável?
- Nada disso! Tudo é um jogo... Você precisa saber jogar... É preciso muita inteligência para participar desse jogo.
- Não creio que a palavra correta para esse caso seja inteligência, uma vez que não vejo inteligência nenhuma nessa forma de se permitir ser controlado. Chamo isso de sagacidade.
- Sei lá! Use o nome que quiser!
- Mas, diga-me mais uma coisa: que jogo é esse que só um cara tem a bola, escolhe o local onde você pode ou não jogar, o uniforme, os participantes e ainda dita as regras do jogo? Sem falar que o mesmo só “joga” se tiver a absoluta certeza, trazida por pesquisas de mercado, parecidas com essa que você acaba de implantar.
- Sim, esse jogo é sempre manipulável! É pegar ou largar! Se você não quiser, está cheio de gente na fila atrás de você.
- Sei! É uma verdadeira arena de gladiadores e ouso dizer, muito mais selvagem do que aquelas dos tempos de Roma. As únicas diferenças é que aumentou em muito o número de “Cesares”, e o nome do Coliseu, que agora, chamam de Shopping Center ou Calçadão.
- Você é foda, cara! Não pode ficar só vendo o lado negativo das coisas... Procure ver o lado bom de tudo isso. Já pensou em quantos empregos diretos e indiretos essas redes acabam criando?
- Criando empregos ou “criados”? São meros criados para a diversão dos Cesares, que não se importam nem um pouco com os leões selvagens do capitalismo. Eles não criam sistemas de empregos, mas sim, sistemas de escravatura branca, oficializada por uma tal de CLT. Ridículo!
- Sabe, cara, na boa: você pode se dar o luxo de pensar assim, por que nunca teve filhos!
- Juninho, essa me parece ser a justificativa mais usada pelas pessoas. É incrível como as pessoas possuem uma postura fatalista. Ou é o destino ou então, é por que Deus quis assim. Parece que é muito mais fácil aceitar do que questionar as coisas.
- Cara, as coisas estão tão aceleradas, que não dá tempo para se questionar nada... É pegar ou largar!
- E essa, Juninho, me parece ser uma das frases mais correntes na boca dos capitalistas de plantão!... Acho que isso continua acontecendo, por que, ao anoitecer, as pessoas chegam tão estressadas de seus “em+prégos”, que não possuem a menor disposição para questioná-lo. Ao contrário, ainda se sentam diante dos “manipulaticiários” da tv, que acabam por assustá-los ou então distraí-los da verdadeira realidade em que sobrevivem.
- Você está sempre questionando as coisas...
- Acho que esse é o grande problema: nunca fomos incentivados a questionar nada. Crescemos numa sociedade que sempre nos forçou a acreditar de forma cega, sem o menor questionamento, uma vez que isso não é do interesse do status quo. Os capitalistas de plantão não querem pessoas que pensem, uma vez que essas pessoas não se permitem serem exploradas. Quanto a arte do cartão de crédito, como lhe disse, já está pronta, mas, como não trabalho com sistema de crédito, não posso lhe creditar a arte do tal cartão de crédito. Você já tem o valor da arte do mesmo e já sabe do valor da minha arte. Se você quiser me valorizar, não precisa gastar palavras com promessas de trabalhos futuros: basta mandar a quantidade de notinhas avaliadas por mim previamente. Comigo não se trata de um jogo, mas de negócios: eu neguei meu ócio pelo valor cobrado, portanto, nada mais certo do que me pagar aqui e agora.
- Sei que você está certo, mas acho muito difícil hoje em dia se chegar a algum lugar de sucesso dentro de tal filosofia.
- Posso lhe fazer duas perguntas: o que significa para você a palavra “sucesso”?... Não sei para você, mas, para mim, nada me parece ser mais condicionado do que a idéia de sucesso. Sucesso é o resultado, a conclusão de algo que se busca, portanto, o que é sucesso para você, para mim, pode ser um verdadeiro insucesso. E a segunda pergunta é um pouquinho mais difícil de ser respondida, uma vez que as pessoas estão quase sempre tão adrenadas que nem sabem para onde estão correndo: o que é que você busca?... Por favor, não me responda, pois as respostas para essas perguntas só cabem a você. Você pode pensar nas respostas para elas enquanto busca pelo valor para o acerto da arte do cartão de crédito.
- Sério mesmo que você não vai me dar a arte do cartão agora?
- Se eu for numa das lojas do seu empregador, pedir por um par de tênis e prometer voltar outro dia para trazer o valor do mesmo, será que ele me daria tal crédito? E se ele dá esse tipo de crédito, por que então gasta tempo, dinheiro e energia na confecção de um cartão de crédito e na contratação de uma financeira particular? Sinto muito meu amigo, mas você terá que voltar outro dia para pegar essa arte. Saber dizer não é uma arte negligenciada por muitos hoje em dia. Não tenho escolhas: tenho que seguir meu coração se não quiser ser jogado aos leões dos capitalistas de plantão. Em nome do meu crédito pessoal, terei que lhe pregar essa arte e lhe negar a entrega da sua arte.
- Cara, eu não acredito!
- Pode acreditar! Sei que a minha maneira de jogar é totalmente diferente, mas é a que eu encontrei para levar uma vida menos adrenada e muito mais qualitativa, por isso que não vivo na correria. Sei por experiência própria que a exposição prolongada a essa espécie de jogo que você está jogando agora, é um jogo onde apenas se perde, mesmo quando ilusoriamente se pensa estar ganhando.
Ao ouvir isso, o sorriso branco desapareceu de seu rosto e seus ombros deixaram de estar altivos. Estendeu a mão sem a aquela energia característica dos homens de negócios. Um simples palavra de apenas três letrinhas foi o suficiente para confirmar sua frágil realidade interna.
- Ok. Então volto depois para pegar a arte. Vou nessa.
- Da próxima vez já estarei com a arte dos botons para a sua apreciação. Lembre-se do que lhe falei antes: não se leve muito a sério! Vai na paz!
Enquanto ele, com um ar desconcertado dirigia-se para o seu carro, veio-me a mente a seguinte reflexão: estamos vivendo uma época sem precedentes em nossa história em que os valores humanos estão sendo deixados totalmente de lado em nome de valores financeiros e virtuais. O "deus" dos capitalistas de plantão parece-me ser a tecnologia e os “padres” os marketeiros e gerentes; a "religião oficial" é o resultado das vendas. A "lei" é ditada pelo mercado; os “templos” são os shoppings centers e os calçadões; a “graça” é o lucro privado sobre a desgraça da exploração alheia; os “dogmas” são as pesquisas de mercado e a “óstia” o cartão de crédito, o qual, para ser digno de recebê-lo tem que se estar impecavelmente limpo.

02 outubro 2007

Dignidade Aburguesada

Manhã de sol.
Enquanto organizo minha agenda do dia, uma discussão acalorada inicia-se bem ao lado da loja, entre uma jovem gestante e meu vizinho cabeleireiro. Seu salão, durante a madrugada, serve de garagem para o carro do filho da proprietária do prédio. Quase todas as manhãs, apesar da guia da sua calçada ser rebaixada e pintada com o amarelo de atenção, além de ser uma porta de garagem, sempre tem alguém que insiste em estacionar seu carro diante do salão. Já se tornou comum, pela manhã, ver o jovem cabeleireiro ou o proprietário do veículo estacionado em sua garagem, saírem de porta em porta a procura do dono do veículo estacionado de forma extremamente irregular (detalhe: há uma placa de proibido estacionar a cinco metros daquele local). Apesar da placa, como nunca há a presença de policiais neste local, ninguém respeita a sinalização.
Depois de quase quarenta minutos de atraso e a perca do primeiro cliente devido o fato de seu salão ainda não estar preparado para o atendimento, seus ânimos começaram a aflorar.
Numa tentativa desesperada de fazer com que o dono do automóvel aparecesse, ambos começaram a balançar a Pajeiro preta com a esperança de conseguir seu contento através do disparar do seu alarme. Bem no instante em que ambos começaram a balançar o automóvel, a jovem gestante, proprietária do automóvel, vinha pela calçada a passos curtos. Ao ver os dois “marmanjos” balançando seu automóvel, começou a gritar de forma estérica. Apesar de pequenina, sua fúria era gigantesca.
- Quem você pensa que é para colocar a mão na propriedade alheia? Está maluco?
- Você estacionou em local proibido a mais de quarenta minutos, não está vendo? – Disse-lhe apontando para a placa afixada no poste.
- Não interessa! Quem você pensa que é para colocar a mão no meu carro?
- Você está completamente errada e ainda se acha no direito de cantar de galo?
- Você não é digno da vizinhança que tem...
- Meu, você estaciona o carro em local proibido durante mais de quarenta minutos, diante de uma porta de garagem, com guia rebaixada e quer me falar de dignidade? De ser digna da vizinhança... Se você é realmente da vizinhança como não sabe que aqui funciona um estabelecimento comercial? Você não passa de uma burguesinha metida, de nariz empinado que não respeita o espaço alheio porque só consegue enxergar o próprio umbigo. Como que uma pessoa que nem consegue ser honesta com as próprias falhas que comete com os outros pode querer se dar o luxo de falar em dignidade?
- Veja lá como fala comigo, seu calhorda, se não vou chamar a policia para você. Você não tem o direito de mexer na propriedade alheia.
- E você? Tem direito de atrapalhar o que é de propriedade alheia? Quem você pensa que é, sua fedelha?
- Você está falando isso por que sou mulher... Por que não mexe com um cara barbado, seu pedante?
- Meu, você está errada! Por que não cala sua boca, limita-se a um disfarçado “sinto muito” e segue o seu caminho numa boa!... Quer saber, eu devia era ter feito o que minha cabeça pedia... Devia ter furado seus quatro pneus, cuspido em sua maçaneta e arrebentado seu retrovisor... Ou então, ter empurrado seu carro para o meio da avenida... É isso que gente da sua laia merece... Dignidade! Quem é você para ousar falar sobre dignidade? Quem se acha digna de respeito, deve praticar o respeito! Espero que você não se atreva novamente a estacionar seu carro por aqui... Se o fizer, vou procurar fazer aquilo do que você é realmente digna!
- Que é?... Está me ameaçando?... Você sabe quem eu sou? Está querendo encrenca?...
Do outro lado da rua, começou a aglomeração de pessoas e comerciantes locais, que de braços cruzados e sorrisos no rosto, a tudo testemunhavam... As pessoas adoram uma confusão! Ela, sagazmente aproveitou-se do fato de ser mulher e ainda estar gestante, para aumentar ainda mais o clima da situação.
- Você devia mexer com algum cara barbado e não com uma mulher grávida!
- Se liga! Você está a fim de fazer escândalo? Está afim de confusão? Então, agora vai ter o que está procurando...
Ele entrou as pressas para o seu estabelecimento comercial, em busca do seu aparelho de celular. Voltou-se para a calçada enquanto discava para a base da policia comunitária local.
- Espere um momento que já vamos resolver essa questão... Quero ver você dar seu showzinho daqui alguns instantes... Está pensando que o fato de ser mulher e de estar grávida lhe dá o direito de passar por cima dos direitos alheios? Espere só uns minutos... Quer um conselho? Acho bom tratar de procurar umas testemunhas, porque para mim não vai faltar... Estamos fartos de pessoas egocêntricas como você, que se acham donas do mundo, atrapalharem a vida das pessoas e depois anda quererem falar de direitos, dignidade e outras palavras mais. Espere só mais uns minutos...
Nesse instante, a aglomeração de pessoas já estava bem maior e o trânsito já começava a dar sinais de lentidão devido a curiosidade dos motoristas que pelo local passavam. Repentinamente, a jovem gestante fez um movimento circular para ver o que estava se passando. A passos largos e violentos, dirigiu-se para sua Pajeiro Importada, insulfimada. Entrou no carro batendo a porta com violência. Ligou-o apressadamente, saindo acelerando com tudo. As pessoas do outro lado começaram a gargalhar, enquanto voltavam para os seus afazeres. O jovem cabeleireiro, visivelmente perturbado, passava a mão direita sobre o couro cabeludo. Virou-se para mim, que silenciosamente a tudo assistia – se bem que não me faltou a vontade de falar umas boas para a jovem garota – e me perguntou:
- Será possível?... Que fizemos para ter que passar por isso todos os dias? Que bairrozinho do cacete!
- Acho melhor da próxima vez você chamar pela policia. Numa situação dessas, pode acabar sobrando para você... Até você explicar que focinho de porco não é tomada...
- Bem que se eles viessem, valeria a pena chamar. Isso é pura perca de tempo, pois já tentei isso várias vezes. Tem sempre um infeliz para descarregar sua infelicidade em cima dos outros.
- Fique atento para não deixar que o comportamento do outro, faça você alterar seu próprio comportamento. Não vale a pena esperar por aquilo que o outro não tem para oferecer. O lance é usar a inteligência... Pense numa maneira de evitar com que isso se repita. Eu já deixei de esquentar com isso, uma vez que as pessoas não respeitam mesmo o estacionamento alheio. Você pode colocar placa, que ele estacionam assim mesmo e o pior, é que se acham no direito de passarem por cima do que é de seu direito. É um problema cultural... No país de impunidade como o nosso, é falta de inteligência esperar por dignidade e respeito... O lance me parece ser, tomar o máximo de cautela para não ser vitimado por essas egocêntricas criaturas.
- Não é fácil!
- Diga-me uma coisa: o que você estaria fazendo agora se tudo isso não tivesse acontecido?
- Certamente estaria confortavelmente sentado, lendo gibi ou fazendo palavras cruzadas a espere do meu primeiro cliente.
- Pois bem! Sugiro que você desfrute de algumas pitangas e não se leve muito a sério! Não deixe que a normose alheia lhe contagie!
- Não vale a pena mesmo!... Mas que dá vontade de cortar o pescoço dá!
- Se dá! Se eles soubessem o que passa pela cabeça, com certeza pensariam duas vezes antes de invadirem o espaço alheio!
- Agora relaxa! Seja digno do longo dia que temos pela frente!

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!