Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 julho 2011

Vazio de que?

Reflexões

É maravilhoso! Não há outra definição, ou melhor, não há como definir o quão gratificante é perceber o desdobramento dos fatos, das situações, por vezes profundamente dolorosas que antes não tinham como ser percebidas, assimiladas, compreendidas. Sempre deixei claro em meus textos, o quanto me ressentia com os constantes ataques de tédio, insatisfação e vazio, sentimentos estes que eram seguidos de uma imperiosa necessidade de preenchimento, e que me roubavam a capacidade de desfrutar a vida, o esplendor de cada momento. Tal imperiosa necessidade de preenchimento foi, inicialmente tentada das mais variedades de formas insanas possíveis, do que, inevitavelmente só podia propiciar mais caos e confusão ao a já instalados. Era uma matemática insana, uma fórmula formada pela dor do vazio, acrescida de alguma forma de prazer imediato, com seu alivio momentâneo, precedido sempre de dor ao quadrado, quando não, ao cubo. Sempre a mesma insanidade de fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes. Nunca, ao longo de todos estes anos, me ocorreu com tanta clareza que eu não tinha momentos de vazio, o que tinha era uma profunda e imperiosa necessidade de "esvaziamento" de tudo que não me era natural, de tudo aquilo que permiti, por falta de maturidade, carregar como valores verdadeiros, como necessidades verdadeiras e que ocupavam o espaço da única e real necessidade: uma vivência direta do Ser que nos faz ser, um estado de comunhão com essa Presença que a tudo traz o seu real valor. Olho para o retrovisor de minha tumultuada existência e vejo os caminhos tortuosos nos quais tentei evitar tal experiência de esvaziamento, tal experiência de deserto, tal experiência de solidão, tão necessária para o encontro e conhecimento de si mesmo. Quantas relações vazias, quantas rodas de euforia delirante, as quais, erroneamente, nomeava como amizade, e em nome das quais, me permiti um ajustamento servil. Sempre um prisioneiro em meio de prisioneiros, totalmente desconhecidos de si mesmos, analfabetos do Ser. Quão longa e dolorosa foi a caminhada para chegar ao "sagrado momento de saturação"... Aquele momento em que se percebe lucro onde antes só se enxergava prejuízo. Aquele momento em que se percebe a riqueza contida na expressão, "antes só do que mal acompanhado" — e isso não se refere tão somente as vazias relações, se é que assim posso chamá-las. Refiro-me a visão da necessidade de estar só, psicologicamente, sem aquela imperiosa necessidade de buscar pela experiência de terceiros, só para poder não fazer frente ao próprio deserto existencial, causado por anos e anos de afastamento de si mesmo, afastamento este que foi sendo sistematicamente instalado através da cultura, da formatação mental que chamam de educação, da formatação em série que chamam de curso superior, do encalacramento da mente que chamam de religião, do afogamento do ser que chamam de obrigações sociais. Nunca pude compreender com cada célula de meu corpo, a sabedoria contida na expressão que diz "que é no vazio fértil de um bambu que a flauta conhece a impessoalidade do Som que dá seu som". Me desesperava quando lia nas linhas de vários homens e mulheres que "deram certo", que a resposta está dentro de cada um. Olhava, olhava e olhava e nada encontrava, a não ser, mais vazio e inquietude. A cada tentativa de olhar, mais vazio, mais inquietude não assimilada, não compreendida, trazendo mais desespero por não entender a lógica de tais sentimentos e de que não tem como um "eu", por si mesmo ver a resposta. A resposta foi surgindo sem a consciência desse "eu". Ela foi tomando seu devido lugar que foi, por decênios, ocupado por um monte de lixo cultural, por um monte de condicionamento, por uma insana expectativa de acompanhar e responder a infinidade de "você tem que", "você deve", "você precisa", que soavam das surdas bocas que me cercavam. Tudo isso por medo do ostracismo, pela doentia necessidade de aceitação, pelo medo de ser diferente, de pensar e sentir diferente, pela necessidade de reconhecimento e de um senso de pertencer, mesmo que esse senso de pertencer, contraria-se as minhas mais intrínsecas necessidades. Foi através do cansaço dessa frases, desse amontoado de falas vazias, de encontros destituídos de almas, com essas bocas que falam demais por não ter nada de impessoal a dizer, e também do peso das máscaras que usava para com elas poder me relacionar, que instalou-se a corajosa necessidade de solidão, de distanciamento e de auto-enfrentamento. 

Não tem preço perceber que não existe essa tal coisa que antes erroneamente eu chamava de "vazio"; o o que existe é uma profunda e empírica necessidade de auto-esvaziamento, esvaziamento daquilo que se pensa ser, daquilo que se pensa necessário ser, o esvaziamento desse insano vir-a-ser. Um retorno ao modo da infância, onde não havia tempo, preconceitos, memória, só uma entrega capaz de superar o medo de novas experiências, um estado de abertura constante ao novo. Agora me recordo de uma frase que me foi dita por um homem que foi muito importante em certo período de minha vida. Em sua sabedoria, com seu português simplório que fazia os menos sensíveis dele caçoarem quando da sua ausência, um dia disse-me, sentado no banco dianteiro de meu carro, em frente da pensão em que morava: "Deus é exatamente do tamanho de seu vazio. Enquanto você insistir em colocar algo para preencher tal vazio, esse tão necessário encontro nunca ocorrerá." Naquele período, devido a fragilidade emocional em que me encontrava, por acabar de ter saído da minha "depressão iniciática",  a qual hoje brinco nomeando-a de "Deuspressão", não havia a maturidade necessária para a compreensão da magnitude de tais palavras. Sei que neste momento ele deve estar sorrindo junto comigo. É ao menos curioso perceber como que a natureza funciona, perceber o tempo necessário para que uma palavra possa dar os frutos. É o "eu" que quer resultados imediatos, que se acha sabedor do tempo certo. Havia também uma senhora que sempre me dizia: "As coisas não funcionam no seu tempo; tudo ocorre no tempo de Deus e, o relógio de Deus, não tem ponteiros". 

Quero agora compartilhar da alegria que sinto, por ter sido agraciado pela coragem de abrir mão dessas relações que não me impulsionavam para este auto-enfrentamento. Pela coragem que me foi dada para me entregar a solidão, para fazer frente ao ostracismo, fruto dos medos oriundos da falta de compreensão por parte das pessoas, líderes dos grupos pelos quais passei e que cumpriram muito bem sua real função. Aqueles que me fecharam as portas, sem consciência, foram os mestres que a Grande Vida colocou em meu caminho, a fim de me direcionar para a possibilidade de novos encontros muito mais nutritivos, tão necessários para a manifestação deste estado de bem-estar e unidade interna, desta autonomia e autosuficiência psicológica, que traz consigo, liberdade com responsabilidade e quem sabe, amorosidade.

Nelson Jonas R. de Oliveira

A falácia dos rótulos


De que vale ao homem andar com "o" carro do ano, com a moda do momento, o último modelo de celular, ser portador dos mais variados tipos de lançamentos — seja lá de qual área — se em sua mente, de forma 100% inconsciente, ferrenhamente se apega a valores seculares destituídos de real valor? Para que servem esses valores que sustentam como sagrados, se os mesmos limitam sua originalidade, sua autenticidade, sua capacidade de ver a vida por si mesmo, sua capacidade de livre expressão, sempre tolhidas pela doentia necessidade de ajustamento, de conformismo e de uma aparência de respeitabilidade? De que vale ter todo esse aparato tecnológico de ponta, — quase sempre criador de uma escravidão que torna a mente preguiçosa e tacanha — se tais aparatos em nada apontam para a formação de uma "mente de ponta", uma mente livre em si mesma, não condicionada, não ajustada, não limitada por tais arcaicos valores?... De que vale tudo isso? De que vale ao homem se manter preso a uma falsa respeitalibilidade, cuja essência, cuja base se encontra na hipócrita perpetuação das aparências que em nada condizem com a Realidade dos fatos, internos e externos, em que vive e que o faz refém dos peculiares e disfarçados medos de que tal realidade fragmentada, possa ser exposta a luz da Verdade, tanto diante dos outros como de si mesmo? Que referencia real pode existir entre o verdadeiro amor, o verdadeiro respeito e esses desgastados rótulos socialmente praticáveis — Sr., Sra., mamãe, papai e outros tantos? Desde quando a palavra pode substituir o real sentimento? O sentimento real, não necessita de palavras. Só as aparências, precisam das palavras. E quem vive das palavras, quem vive das aparências, na verdade, não vive: só aparentemente, existe!

Nelson Jonas R. de Oliveira

30 julho 2011

Sobre o não ter filhos


Perguntaram-me nesta semana, se eu não sentia o desejo de ter um filho. Pude constatar o espanto do  meu interlocutor, ao ouvir a segurança da minha negativa quanto a esse desejo. Ele, com enfase me respondeu que isso era uma pena, visto que muito se aprende com o trabalho de se dedicar ao outro. Fiquei em silêncio, uma vez que, não há como transmitir ao outro o que é ter sido fecundado pela Grande Vida, no ventre que somos, a possibilidade de fazer-se crescer como obediente filho do Ser que nos faz ser, sendo. Mal pode ele imaginar, o quanto trabalhosa e responsável se faz tal paternidade, de muitos desconhecida.

Nelson Jonas R. de Oliveira 

Sobre as relações disfuncionais


Quando se tem a coragem de abrir mão das relações disfuncionais — relações que não nos impulsionam para a revelação da realidade que somos — as funcionais aparecem e, sem grandes alardes, cumprem sua benfazeja função de "disfuncionalizar" tudo aquilo que por sôfregos decênios se teve como funcional. 

Nelson Jonas R. de Oliveira

A utopia das palavras do não-lugar


Nesta semana, dizia um amigo meu — e com toda razão — que vivo num estado de utopia. Tentando me alertar, trouxe-me um dvd sobre esse assunto e disse-me ainda sobre o significado da palavra utopia: "não-lugar". Deixou clara a sua preocupação comigo por achar que não vivo dentro daquilo a qual ele tem por real. Pois bem, na realidade, faço parte desta minoria abençoada por essa necessidade de transcendência de si mesmo. Vivo a grande utopia de fazer ascender a realidade de uma chama num coração que pensa e de um cérebro que sente o qual, através da limitação das palavras tenta expressar aos outros a beleza manifesta por esse coração em chamas, quando em momentos de profunda presença em solidão. Essa é a grande utopia capaz de estabelecer a comunhão do encontro de todos os caminhos no não-lugar, onde não mais existem caminhos nem buscas; encontro esse, só acessível aqueles que se permitiram a demolição de tudo aquilo que tinham por realidade.

Nelson Jonas R. de Oliveira

29 julho 2011

A difícil e negligenciada arte de escutar


Como é difícil manter a comunicação com as pessoas quando estas tomam como pessoal tudo aquilo que ouvem. Quase sempre, diante de tal postura, o que é dito é tomado como uma imposição, afronta, ofensa pessoal. Qualquer idéia expressa que não esteja  em conformidade com o script social pelo qual é regido o estilo de vida da pessoa, logo é tomada como uma imposição ou então, numa rebeldia destituída de inteligencia. Não há como ocorrer uma real comunicação, um entendimento quando não existe o filtro que impede o "eu" com todo seu pacote de ideias, memórias, preconceitos, achismos, pontos de vista, condicionamentos, crenças e tudo mais que o compõem. Não há como se ver nada — a não ser o julgamento — se o que está sendo dito bate ou não com aquilo que já está estabelecido como verdade e que, na maioria das vezes, sustenta uma zona pessoal de conforto, onde não é requerido nenhum tipo de aprofundamento pessoal. Quando isso ocorre, se ambas as partes não estiverem atentas (ou pelo menos uma), corre-se o risco de um confronto pessoal e não o compartilhar de idéias, o que quase sempre acaba levando para o isolamento mental e até físico. É imperativo que em tais situações, — onde o "eu" está presente — que nos escudemos em velhos rótulos que justificam e impedem a reflexão. Não ocorre o escutar que vai muito além do que o "debatente" ouvir. Quando a comunicação — se é que podemos chamar isso de comunicação — ocorre desse modo, não há como transcorrer sem que seja truncada, não há como haver espontaneidade e naturalidade, uma vez que precisa passar pelo desgastado filtro do intelecto. E o que é visto — se é que algo é visto a não ser os próprios preconceitos — é visto como julgamento ou afronta do qual é preciso se defender. Nessas situações, ocorrem toda forma de distorção. Todo "A" será inevitavelmente interpretado como qualquer letra que não seja o "A". O resultado dessas comunicações é um profundo desgaste, devido o fato de não ocorrer um verdadeiro encontro. Quando a comunicação ocorre no nível das palavras, não há como ocorrer uma real comunicação, só mero ajustamento ou confronto de idéias e é preciso muita maturidade para que não se instale a ferrugem do melindre, da autopiedade, e do vitimismo retaliador. A personalidade, o "eu" que é todo o conjunto das experiências, memórias, condicionamentos, não deixa que ocorra tal encontro. Quando este "eu" está presente, o que pode ocorrer é apenas superficiais contatos sempre embasados na respeitabilidade esperada pelo script social, o que não passa de um modo político de se relacionar. Portanto, é sinal de inteligência, se manter calado quando se percebe qualquer forma de resistência que impessa o escutar distituído de julgamentos, escolhas e ajustamentos, uma vez que nosso intelecto é facilmente "arranhável". Este, quando arranhado, pode se mostrar profundamente separatista; é dele que brotam todas as formas de retaliações, inimizades e, não raro, trágicas situações. Portanto, há uma grande sabedoria no dito popular: "falar é prata, escutar é ouro". Investir na capacidade da escuta, talvez seja um dos maiores patrimônios, senão, a mais importante arte a ser experienciada nesta truncada existência humana.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Transição - Rama Ruana

28 julho 2011

Imaturas crianças assustadas

Máscara

É triste ouvir o relato das crenças disfuncionais das pessoas... Muitas acreditam ser necessário para viver, fazer uso de várias máscaras. Usam-nas por tanto tempo, que sem que se percebam, acabam se identificando como sendo as mesmas. Elas não vivem; representam. Elas não comungam; consomem. Elas não tem amigos; apenas convenientes, priorizados e superficiais contatos momentâneos. Elas não desfrutam dos sonhos; se assombram em pesadelos, os quais tentam amenizar com a dependência de drogas químicas, sagazmente tidas como lícitas. São adeptos da indústria da moda que amolda, mesmeriza e adultera seus corpos; pagando caro para desconhecer autenticidade e naturalidade. Trocam o silencioso caminhar pelos bosques, pelas esteiras eletrônicas nas barulhentas academias. Desconhecem os poderosos filtros internos capazes de fazer frente a massiva e perfurante propaganda — diabolicamente propagada por todos os lados —, que os impulsiona freneticamente em direção contrária de seu próprio interior, causando uma angustiante ansiedade por necessidades desnecessárias. Por serem dependentes do crédito alheio, são fáceis vitimas dos conglomerados de crédito e seus juros abusivos, aos quais inconscientemente sustentam. Elas falam em amor, quando na realidade é apego. Confundem felicidade com euforia. Elas não sabem o que é liberdade; são escravas dos infinitos medos — que de si e dos outros — inutilmente tentam disfarçar. E o pior de tudo, com sorrisos químicos e cirúrgicos, justificam tamanha anormalidade auto-imposta. Entopem seus poros com propriedades da ciência cosmética, para tentar disfarçar a falta de Consciência ética a qual produz, por si, Real Propriedade. Acumulam diplomas em áreas especificas, mas permanecem analfabetas crônicas de sua própria realidade. Em busca de ilusória segurança, colecionam carnês e apólices de seguros. Adquirem transitórios bens de consumo — em nome dos quais se consomem — abrindo mão do intemporal "Bem" que toda transitoriedade consome. Olham para o modo de vida pautado na simplicidade voluntária como uma utopia ou — aos olhos dos outros — um possível atestado de irresponsabilidade e incompetência pessoal. Por causa do seu irrefletido acúmulo de conhecimento, só vêem prejuízo, onde na verdade, um lucro de outra qualidade, se faz incessante. São imaturas crianças assustadas, brincando de ser responsáveis adultos seguros, deixando de herança ao mundo que estão ajudando a destruir, outras crianças assustadas repetindo da mesma cartilha, agora tecnologizada num mundo de vazias relações virtuais.


Nelson Jonas Ramos de Oliveira

25 julho 2011

Simão do deserto

Direção: Luis Buñuel
Ano: 1965
País: México
Gênero: Drama
Duração: 45 min.
Sistema de cor: p&b
Título Original: Simón del Desierto
Título em inglês:Simon of the Desert

Sinopse: O diabo tenta, a todo custo, fazer com que um homem muito religioso desça de uma coluna na qual subiu para ficar mais próximo de Deus. Porém, a toda tentativa, Simon reconhece os disfarces do diabo. Até que o ele resolve levar Simon para uma boate da Nova York dos anos 60.



Preciosa constatação


Quando um prisioneiro do sistema encontra amigos de fé e de força de caráter maiores que as suas, sua vida se torna mais suportável. A simples associação com outros confrades o auxilia a enfrentar melhor as horrorosas pressões do exterior. A aceitação recíproca e a percepção partilhada podem ter o mesmo poder estimulante. O medo que o persegue, ao estabelecer contato nutritivo, se transforma em confiança, em, quando menos, uma outra pessoa. E quando isto se converte em certa identidade com uma confraria ativa e operosa, desaparece a perda temporária de energia íntima. Se ele não encontrar uma confraria assim, se não alimentar com paixão o contato com a mesma, ou pelo menos com uma personalidade com quem se identificar de forma nutritiva, o sistema com toda sua hipnótica filosofia exótica pode levar a melhor.  

Inspirado nos dizeres de Joost A.M. Merloo 

Quando um prisioneiro do sistema encontra amigos de fé e de força de caráter maiores que as suas, sua vida se torna mais suportável. A simples associação com outros confrades o auxilia a enfrentar melhor os horrores do exterior. A aceitação recíproca e a percepção partilhada podem ter o mesmo poder estimulante. O medo que o persegue, ao estabelecer contato nutritivo, se transforma em confiança, em, quando menos, uma outra pessoa. E quando isto se converte em certa identidade com uma confraria ativa e operosa, desaparece a perda temporária de energia íntima. Se ele não encontrar uma confraria assim, se não alimentar com paixão o contato com a mesma, ou pelo menos com uma personalidade com quem se identificar de forma nutritiva, o sistema com toda sua hipnótica filosofia exótica pode levar a melhor.  

Inspirado nos dizeres de Joost A.M. Merloo 

Iluminado ego espiritualista

Entre o bem e o mal

Acho no minimo, cômico, a fala de pessoas que afirmam terem alcançado a "iluminação", o "despertar", o "estado búdico" — ou seja lá qual for o nome de sua preferência, — de que livros, escolas, instituições e até mesmo o tempo, em nada possam ajudar na realização desse momento único, especial e intransferível.  Já ouvi isso muitas vezes. Penso que esse tipo de informação revela um infeliz momento de desinteligência. Tento me explicar. Para mim, isso é o mesmo que afirmar que um garoto no primeiro ano escolar, não precise seguir seu curso acadêmico para obter o diploma de um especifico curso superior. Essas pessoas parecem se esquecer que, foi graças a somatória da participação nos vários lugares em que buscaram respostas para seus sofrimentos e também, através do contato com grandes "homens e mulheres que deram certo", os quais, infelizmente, só é possível por livros, que deu-se o enorme trabalho paulatino de descondicionamento mental, sem o qual não é possível a manifestação de novos níveis de consciência, com suas libertadoras percepções. Estas pessoas iluminadas esquecem que o estado de abertura mental, que o estado de receptividade a novos estados de consciência, que a compreensão e a assimilação a que chegaram, não se fez da noite para o dia. É muito fácil, depois de anos e anos de dedicada paixão — e por vezes dolorosa —  busca dessa "superação de si mesmo", afirmar que tudo está contido no agora e de que não é necessário nenhum tempo, muito menos esforço para se "fazer achável pela Verdade" (imagine só um professor dizendo isso ao seu aluno da primeira série: nada de esforço! Sua formação acadêmica encontra-se aqui e agora! Basta silenciar e buscar num espaço sem palavras!)... No mínimo estranho, não é? 

Não creio ser possível abandonar os desastrosos efeitos de anos e anos de consistente exposição a um sistema profundamente condicionante, cuja base está alicerçada em várias manifestações de medo — medo do desamparo, do ostracismo, do não pertencer, da solidão, de não reconhecimento, entre outros milhares — medos estes que embotam por completo a mente e a percepção — sem que este abandono necessite do "tempo de maturação", a qual facilita a percepção do falso e do verdadeiro. Em outras palavras, aquele que quebrou a perna, precisa fazer uso das muletas que facilitem seu caminhar, pelo tempo necessário, até que se sinta o suficientemente forte, para largá-las, sem retrocessos e, mesmo com andar inicialmente vacilante, seguir caminho, agora, bem mais atento aos perigos de tropeços e dolorosas quedas. 

Tenho visto também, por parte de afoitos buscadores da Verdade, o perigo da identificação com esta ideia que descarta o tempo de maturação necessária,  o perigo de se agarrar — sem a mínima reflexão — na experiência destes "seres iluminados", e através dela, sair por aí, justificando toda forma de comportamento insano destituído de uma real inteligência. Estes afoitos buscadores justificam através do manto da espiritualidade manifesta através de frases como  "só o agora é que importa", toda forma de insanidade e, através destas justificativas e desse manto da espiritualidade, escondem de si mesmos a experiência da Verdade. E o pior de tudo, sem que se deem conta, passam a tagarelar um discurso que, apesar de bonito, não outorga verdadeira transformação do espírito humano. Nada mais triste do que presenciar pessoas completamente fora de si recitando palavras de conteúdo espiritual ou religiosa... As casas de saúde mental estão repletas de "Jesus Cristos, Marias e Maomés"... Pior ainda, são aqueles que, ao abrirem mão de suas bases de sustentação — ainda que doentias — por ainda não estarem aptos para a recepção de estados de consciência de tamanha carga, ficam com sua psique aos frangalhos, chegando mesmo a estados de profunda loucura, a ponto de atentarem contra a própria existência sem vida. 

Não acredito nessa história de que esse encontro com a Verdade ocorre no "Agora" e que livros e lugares não tenham validade alguma para que essa Verdade se manifeste. Creio que essa experiência benfazeja é o resultado de toda dedicação, de toda paixão a esta Verdade, em cada "agora" da caminhada pessoal. Tudo na natureza é um processo, tudo tem seu próprio tempo cronológico de maturação. Se existem saltos quânticos, precisou-se de tempo hábil para a construção do "trampolim" pelo qual tais saltos possam ocorrer.

Penso que os "senhores iluminados" precisam ter em mente, a consciência de que o ser humano, como uma lampada, não pode suportar mais do que a sua própria amperagem. Precisam ter em mente que se relacionam com pessoas ainda presas de fortes condicionamentos, entre eles, o entendimento da palavra. Se a palavra do outro, em direção a Verdade, deixada em forma de livros e instituições não tem nenhuma serventia, — se o tempo não tem nenhuma serventia, — então, oras bolas!... Com todo respeito: que estes atuais seres iluminados deixem de dirigir aos buscadores da Verdade, suas próprias palavras, seus próprios vídeos, seus livros e textos, seus satsangs e workshops, suas receitas de felicidade e de bem viver. Não permitam que outros percam seu "desprecioso tempo" com suas palavras, afinal, palavra por palavra, qual a diferença? Ou por acaso, teriam as palavras dos atuais iluminados, mais influência em direção a Verdade, do que as palavras de outros transmissores de relatos de experiências pessoais quanto a busca da iluminação? 

Sinceramente, não sinto muita inteligência nisso, muito menos amorosidade. O que sinto diante de tais afirmações é um profundo desrespeito e falta de sensibilidade pelo momento alheio. Se esse tipo de comunicação for resultado da iluminação, então, que eu permaneça em silêncio em minha escuridão.  

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

24 julho 2011

The Sunset Limited

Realizador: Tommy Lee Jones
Argumento: Cormac McCarthy
Intérpretes: Samuel L. Jackson, Tommy Lee Jones

O telefilme “The Sunset Limited” produzido pela HBO conta a história de dois homens que, fechados num apartamento e com um passado completamente diferente, se vêm envolvidos num intenso debate sobre o valor das suas existências. O papel desses dois homens são interpretados, nem mais nem menos do que os conceituados e premiados actores Samuel L. Jackson e Tommy Lee Jones. Na trama, o evangélico ex-condenado Black (Jackson) salva o professor ateu White (Jones), que ia se jogar na frente de um trem do metrô do Harlem, o Sunset Limited. Começa então a peça de fato, com os dois no apartamento de Black - que se recusa a deixar White sair - discutindo religião, vida e morte. Sensacional e imperdível!

23 julho 2011

Constatações sobre a busca


Enquanto poucos repousam no Interior,
A maioria se consome, no Capital.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

22 julho 2011

Nós, os Kamikazes Sociais


Vivemos uma sociedade formada por subalternos Kamikazes anônimos. Assim fomos criados desde a infância através de um sistema de educação que, em nome da materialização das egocêntricas exigências do Global Império Capitalista, nos direciona para o desapercebido "suicídio do Ser". Todos fomos educados para a uma moral forçada de auto-imolação pessoal, através da exposição sistêmica de anos e anos de disciplina que leva a um modo de vida conformista,  ajustado a servidão moderna, que faz do homem um mero colecionador de objetos inanimados, um medíocre copista, um suicida de seu impessoal poder criativo, sempre voltado para si mesmo e, quando muito, para os do próprio teto. A inquestionada obediência e disciplina à engrenagem do sistema capital, impera acima da meditação quanto as reais necessidades humanas. A percepção do homem é tolhida através de pequenos agrados, bonificações, títulos e conquistas transitórias, cujo alto custo da manutenção delas resultantes, o mantém na acelerada rota suicida, a qual procura sempre justificar com ares de realização. Sem esta percepção, o homem torna-se apenas uma peça facilmente substituível desta engrenagem produtora de um modo de vida suicida a longo prazo. A justificação de tal modo de vida insano e suicida é sistematicamente alimentada através de ferramentas de guerra fria, em especial, o sistema de mídias "desinformativas" que hipnotizam seus espectadores com "hinos patrióticos diários" cuja pauta é o desespero, a violência, o pânico, a escassez e as estimativas com números que não condizem com a realidade. É através desses "hinos patrióticos" que somos formatados para a ideia de ajustamento e normalidade diante de tal modo insano de vida. É através deles que passamos a acreditar que a vida é uma guerra a ser travada e que cada um ao nosso lado, é um inimigo em potencial, com o qual fingimos nos relacionar, escondendo atrás de nossos sorrisos amarelos — ou brancos de laboratório —, nossas armas de destruição em massa de desconfiança e auto-interesse. E em nome da  inquestionada adequação aos interesses corporativos sociedade anônima, a cada dia nos tornamos fáceis vitimas-vitimizadoras da contagiosa e estressante fúria coletiva suicida.  

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

16 julho 2011

Constatações sobre bem-estar

Por detrás de um 'tudo bem'
Se esconde o mal que se tem.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira 

Constatações sobre o matar tempo


Quem vive matando o tempo
Não sabe o que o tempo mata.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

10 julho 2011

Os Normais


Eles acham normal, pagar caro por um plano de saúde.
Eles acham normal, pagar caro por um plano de seguro.
Eles acham normal, pagar caro por um tratamento dentário.
Eles acham normal, pagar caro por um sistema de moradia.
Eles acham normal, pagar caro por um plano de TV a Cabo.
Eles acham normal, pagar caro por um  plano de ensino particular.
Eles acham normal, pagar caro por um plano de telefonia e celular.
Eles acham normal, pagar caro por um  plano de previdência privada.
Eles acham normal, pagar caro pelos impostos planejados por terceiros.
Eles acham normal, pagar caro por drogas legalizadas farmaceuticamente.
Eles acham normal, pagar caro por um sistema de transporte público caótico.
Eles acham normal, pagar caro por um lugar para o enterro dos entes queridos.
Eles acham normal, pagar caro por um plano de financiamento de um carro popular.
Eles acham normal, pagar caro por anuidades e os altos juros dos cartões de crédito.
Eles acham normal, pagar caro por adulterações químicas ou cirúrgicas em seus corpos.
Eles acham normal, pagar caro por um plano de Internet e colecionar vazias amizades virtuais.
Eles acham normal, pagar caro pelo sustento faraônico do corrupto sistema da elite governante.
Eles acham normal, pagar caro para poder se abster de votar em partidos criadores de novos planos para se pagar.
Eles acham normal, pagar caro para ficar numa moda sem graça, e de graça, se permitir ser outdoor ambulante.
Eles acham normal, pagar caro para manter relacionamentos imaturos, desprovidos de autêntica e nutritiva intimidade.
Eles acham normal, pagar caro para conseguir um emprego com desumana carga horária que os distancia do convívio familiar.
Eles acham normal, pagar caro para disfarçar seus medos por meio de tantas normas, normalmente aceitas de modo irrefletido.
Eles acham normal, pagar caro por mídias informativas que através do medo, os controlam e os impulsionam ao consumo inconsciente.
E por acharem normal, pagam caro pelo herdado plano que os impede do essencial:
De em sua anormalidade, se acharem.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

08 julho 2011

DIVIDOCRACIA


Título: DIVIDOCRACIA
País de Origem: Grécia
Ano: 2011
Tempo: 74 min.
Direção: Katerina Kitidi e Aris Hatzistefanou

Comentários de Jair de Souza: "Documentário que revela a crise econômico-social pela qual passam os países periféricos da União Europeia, em especial a Grécia. Vemos como as políticas econômicas neoliberais impostas pelos agentes financeiros da UE levam à bancarrota os países de sua periferia e os deixam maniatados às decisões das grandes corporações financeiras extranacionais. O interesse primordial é sempre a defesa dos ganhos dos grandes grupos financeiros dos países mais fortes, principalmente da Alemanha, em detrimento das maiorias populares dos países de segunda linha, como Grécia e Irlanda.

O filme também nos mostra que é possível enfrentar com êxito às pressões dos aparelhos a serviço do capital financeiro mundial (FMI, Banco Mundial, etc.) quando os governantes do país ameaçado têm suficiente dignidade para colocar em primeiro lugar a satisfação das necessidades de seu povo, e não a obsessão por lucros dos magnatas financeiros. É o caso do Equador dirigido por Rafael Correa.

Este documentário expõe a crueldade que move o neoliberalismo em seu afã por ganhar cada vez mais às custas do sacrifício de todos os demais setores da população. Ele também deixa claro que, com a decidida mobilização das maiorias populares, o monstruoso aparato financeiro pode ser derrotado."


Filme - Moebius (1996)


Título Original: Moebius
Ano: 1996
Duração: 88 min.
País: Argentina
Direção: Gustavo Mosquera
Roteiro: Cristiani Pedro, Gabriel Lifschitz, Arturo Onatavia (História: Deutsch AJ)
Música: Mariano Nunes West
Foto: A. Penalba & F. Rivaro
Elenco: Guillermo Angelelli, Roberto Carnaghi, Levy Anabella, Petraglia Jorge
Produtor: Gustavo Mosquera
Gênero: Mistério / Sci-Fi

Sinopse: No futuro não muito distante, um misterioso acidente ocorre no metrô de Buenos Aires. Um comboio de 30 passageiros desaparece no circuito fechado do sistema de metrô. A investigação será iniciada para encontrar a causa dessa desmaterialização. Um jovem topógrafo lidera a investigação com base em alguns mapas perdidos e arquivos. Ele não consegue encontrar o velho engenheiro que concebeu a intrincada rede do metrô, até que aparece uma jovem que vai facilitar a obtenção das primeiras pistas. Tudo parece ser inútil, mas um evento aleatório que vai colocar sua vida em risco o coloca em uma pista impossível, e ele vai enfrentar a surpreendente revelação final.

Comentário: Este filme foi baseado no conto de A.J. Deutsch de 1950 “A Subway Named Mobius” e é o primeiro filme produzido pela Escola Superior de Cinema de Buenos Aires. Seu objetivo foi essencialmente pedagógico. Os jovens estudantes, mais do que procurando por uma experiência de trabalho, passam pela porta principal para chegar ao mágico e maravilhoso mundo da criação do cinema.

Sem um olhar profundo, corre-se o risco de se ver em Moebius apenas mais um filme de ficção num subterrâneo qualquer. Muito mais do que isso, Moebius apresenta em suas entrelinhas, fortíssimos arquétipos, representados pelo mergulho nas profundezas da alma humana, nos subterrâneos do Ser que nos faz ser, em busca da compreensão da vida, em busca da iluminação, da descoberta de novas realidades onde se torna claro a ilusão do tempo psicológico e da separatividade, bem como o estado de sonambulismo coletivo e seu modo superficial e apressado de viver. Moebius, insiste fortemente na importância da sensibilidade da escuta e do olhar, sem os quais, torna-se impossível o contato com o inusitado, o atemporal e inefável. Mostra a representação entre a experiência do absurdo, quase morte e da Graça, capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem graça. Moebius apresenta de maneira simples, sem a necessidade de grandes produções, o processo da transformação de uma mente limitada pela sua forma analítica, cartesiana, numa mente que sente de maneira holística.
Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Algumas falas do filme:

"O subterrâneo é sem dúvida, um símbolo dos tempos atuais. Um labirinto onde em silêncio cruzamos com nossos semelhantes, sem saber quem são nem para onde vão. Centenas de rotas, nas quais aproveitamos para estabelecer um balanço, rever uma situação e tentar abordar mais que um trem, uma mudança de vida... É um estranho jogo, no qual submergimos nos mesmos infintos tuneis, sem nos darmos conta de que em cada transferência estamos mudando definitivamente nosso destino. No subterrâneo achei a mais poderosa máquina de olhar, porém nunca cheguei a imaginar o que em pouco tempo iria me ocorrer..."

O que acontece é que nós vivemos uma palavra, onde ninguém escuta, meu querido Prad... Eles não entendem o que está acontecendo... Eles nunca acordarão antes de descobrir que estão adormecidos. O que há com você? Você está assustado, Prad?... Vertigem... Isso é normal. Ninguém pode enfrentar o infinito sem sentir vertigem. Ninguém pode experimentar isto sem sentir uma discordância profunda. Se estamos nos movendo à velocidade do pensamento, como pode alguém estar encantado pela vida?

...Por que eu deveria preferir não ficar aqui nas sombras se lá fora é um mar de surdez, que está nos levando a ser irremediavelmente ingratos? Não pode ser possível que tudo se perca. Que fique aqui em nossas almas.




A essência deste filme pode muito bem ser descrita nestas palavras de Krishnamurti:

"Para galgardes as alturas, precisais começar de baixo. Para irdes longe, deveis partir de perto. Para alcançardes o cume da montanha, deveis primeiramente atravessar as sombras do vale. E assim, ó amigos, porque eu peregrinei pelo vale, porque demorei no meio das sombras, porque sofri e amei, desejo dizer-vos, da plenitude do meu coração, que o caminho direto é o único caminho, e que a união simples é a melhor união. E quando houverdes compreendido esse caminho, quando houverdes realizado essa união, o tempo e todas as suas complicações deixarão de existir. Sereis então vosso próprio Senhor, vosso próprio Deus, vossa própria Luz. E, uma vez realizado isso, todas as outras coisas serão secundárias e, portanto, desnecessárias."

Krishnamurti - A Finalidade da Vida - 1928

06 julho 2011

Constatações sobre felicidade


O que muitos chamam de "felicidade", não passa de euforia momentânea causada pela narcotização através da conquista de objetivos transitórios ou enlaces em imaturas relações.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

filme - Os Delírios de Consumo de Becky Bloom


Os Delírios de Consumo de Becky Bloom
Título Original: Confessions of a Shopaholic
Ano: 2009
• Direção: P.J. Hogan
• Roteiro: Sophie Kinsella (romance), Kayla Alpert (roteiro), Tim Firth (roteiro), Tracey Jackson
• Gênero: Comédia/Romance
• Origem: Estados Unidos
• Duração: 104 minutos
• Tipo: Longa-metragem

Sinopse: Uma crítica leve ao sofrimento gerado pelo comprar compulsivo.  No glamoroso mundo da cidade de Nova York, Rebecca Bloomwood é uma garota adorável, divertida e compradora compulsiva. Ela sonha em trabalhar em sua revista de moda favorita, mas só consegue chegar à porta da revista até, ironicamente, conseguir um emprego como colunista em uma revista de finanças publicada pela mesma empresa. Conforme seus sonhos começam a ser finalmente realizados ela faz um tremendo e hilário esforço para manter seu passado longe do seu futuro.

“Rebecca sou eu. São minhas irmãs. São todas as minhas amigas que já saíram para comprar um chocolate e voltaram para casa com um par de botas. Rebecca é todas as mulheres (e homens) que já se viram parados diante de uma vitrine e souberam, com certeza absoluta, que precisavam comprar aquele casaco e… ai, meu Deus, calças que combinassem com ele!” 
Sophie Kinsella

05 julho 2011

Perguntas para pessoas sérias

  • O que nos torna vulneráveis ao embotamento mental que nos impulsiona ao ajustamento servil?

  • O que nos foi transmitido e ensinado que nos tornou espiritualmente prisioneiros do sistema estabelecido, impossibilitando o despertar de outra realidade existêncial?

  • Quais são as atuais vozes de comando que impulsionam nossa vulnerabilidade, pela qual somos incitados ao ajustamento servil?

  • Quais os gatilhos emocionais capazes de abalar nossa estrutura mental, emocional e física ao ponto de tal ajustamento?

  • Quais os fatores internos e externos que impulsionam o ajustamento ao sistema estabelecido: submissa aceitação masoquista ou desenfreada e inconsequente busca de poder e prestígio?

  • Por que pendemos, tão facilmente para a conformação e ajustamento ao sistema quando somos afetados por sentimentos de privação e insatisfação, seja física ou emocional?

  • Por que boa parte de nossas escolhas não tem como base o estudo e comparação de princípios sadios, mas sim, pela irrefletida influência familiar, esperança de vantagens financeiras ou outros tipos de privilégios que adulteram o que realmente é de direito?

  • O que nos torna incapazes de sustentar nossos princípios? E o que nos faz justificar tal incapacidade através do uso de argumentos pré-fabricados pelo sistema, os quais nos forçam ao agressivo conformismo robótico?

  • Por que resistimos ao tipo de estudo que possa paulatinamente e irreversivelmente ir esgarçando as fortes ligas que nos prendem ao sistema estabelecido? 
Nelson Jonas Ramos de Oliveira

A pérola do ostracismo


Ontem, sofria por causa do ostracismo.
Hoje, nele vejo uma benção para poucos.
É na solidão interna da ostra que surgem pérolas preciosas.
Na sabedoria resultante do ostracismo, descobre-se o lucro, onde a massa só enxerga prejuízo.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

03 julho 2011

Filme - Revolução em Dagenham



A Revolução Em Dagenham
Título Original: Made In Dagenham
Ano de Produção: 2010
Elenco: Rosamund Pike, Miranda Richardson, Sally Hawkins, Bob Hoskins, Richard Schiff
Direção: Nigel Cole
Gênero: Comédia
País: EUA
Bilheteria EUA: US$ 1,0 milhões de dólares
http://www.imdb.com/title/tt1371155

Sinopse: A greve de 1968 nas fábricas da Ford em Dagenham interrompeu a produção enquanto as mulheres protestaram contra a discriminação sexual e lutavam por aumentos salariais. Segundo especialistas, foi uma ação decisiva para que o Parlamento britânico aprovasse o Projeto de Paridade Salarial, de 1970. O filme trata-se de um tributo à coragem das mulheres dispostas a correr riscos para obter a igualdade entre os sexos no ambiente de trabalho.

02 julho 2011

Convalescença


Estabelecido
Em meu estabelecimento
Tento me restabelecer
Do que me foi estabelecido.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Os perigos da demagogia hipnótica

Quanto mais o indivíduo se sente como parte integrante do grupo, mais facilmente pode tornar-se vitima da sugestão de massa. É por isso que as comunidades primitivas, que apresentam um alto grau de integração e identificação social, são altamente sensíveis a sugestões. Feiticeiros e mágicos conseguem, muitas vezes, submeter uma tribo toda a seu encantamento. 

A maioria das multidões são influenciadas e hipnotizadas com muita facilidade, porque as expectativas e anseios  comuns fazem crescer a sugestibilidade de cada membro do grupo. Cada pessoa tende a identificar-se com o resto do grupo, do mesmo modo que com o chefe, e isto facilita para este ter o povo sob suas garras...

O susto, o medo e o terror são antigos métodos para produzir hipnose, ainda usados por ditadores e demagogos. Ameaças, acusações inesperadas, bem como os longos discursos e o enfastiamento, podem abismar o espírito e levá-lo ao estado hipnótico. 

Outra técnica corrente é trabalhar com palavras especialmente sugestivas, repetindo-as monotonamente. Desperte a autocompaixão! Diga ao povo que ele foi "traído" e que foi abandonado por seus chefes. De vez em quando, o demagogo trará gracejos, mas poucos. O povo gosta de rir. Gosta também de horrorizar-se e tem especial atração pelo macabro. Conte-lhe histórias sangrentas e deixe-o engolfar-se no tumulto de sensacional tensão. Ficarão todos, provavelmente, tomados de um enorme respeito pelo homem que os assusta e que está disposto a oferecer-lhes a oportunidade de libertá-los do terror emotivo. No anseio de se libertarem de um medo, de boa vontade submeter-se-ão integralmente a outro. 

O rádio e a televisão aumentaram o poder hipnotizante de sons, imagens e palavras... O enorme poder hipno-sugestivo dos vários meios de comunicação em massa e do tremendo abalo que uma irradiação absurda, feita em tom sério pode provocar em pessoas inteligentes e normais. 

Não é somente o poder sugestivo desses meios de comunicação que lhes confere o efeito hipnotizante que tem. Os meios de comunicação produzidos pela nossa técnica fazem do povo uma vata massa participante. mesmo quando estou só com meu aparelho, estou tecnicamente unido a uma enorme massa de outros ouvintes. Vejo-os com os olhos do espírito,identifico-me inconscientemente com eles e, enquanto estou ouvindo, sou uno com eles. Contudo, não tenho com eles contato emotivo direto. É em parte por essa razão que o rádio e a televisão tendem a eliminar as relações de ativa afeição  entre os homens e a destruir a capacidade de pensamento, ponderação e reflexões pessoais. Agarram diretamente o espírito, não dando às pessoas tempo para a conversação calma e dialética com seus próprios espíritos, com seus amigos, com seus livros. As vozes do eter não permitem a libertadora reciprocidade da livre conversação e discussão e,  assim, provocam o máximo de aceitação passiva — como na hipnose. 

Muitas pessoas são hipnófilas, ansiosas por devanear e sonhar acordadas dia e noite; essas pessoas são presas fáceis da sugestão em massa. O discurso prolongado ou o sermão enfadonho ou debilitam os ouvintes e os predispõem para se submeterem ao enfeitiçamento das massas ou os tornam mais ressentidos e mais rebeldes. Os discursos longos constituem um recurso primordial do doutrinamento totalitário, porque o fastio acaba por romper as nossas defesas. Cedemos. Hitler usou, com enorme proveito, dessa técnica de hipnose em massa através da monotonia Falava indefinidamente e incluía longas e tediosas enumerações estatísticas em seus discursos. A oratória inflamada visa a despertar nos outros reações caóticas e agressivas. O demagogo não dá importância aos passageiros ataques verbais que lhe são dirigidos — mesmo a calúnia pode deleitá-lo — porque esses ataques o fazem figurar na primeira página dos jornais e aparecer aos olhos do público e ajudarão a aumentar o medo que lhe tem o povo. É melhor ser odiado e temido do que esquecido! O demagogo se beneficia das prolongadas e confusas discussões a propósito de seu comportamento; estas servem para paralisar o espírito das pessoas e para velar de todo  o que realmente se passa por trás do demagogo. Quando isso dura o tempo suficiente, as pessoas se enfartam, amolecem, só querem dormir e de boa vontade deixam que o grande "herói"  tome conta de tudo. O que vem depois pode ser o totalitarismo. De fato, o nazismo e o fascismo jogaram no medo do comunismo, para ganharem o poder que almejavam...

O barulho áspero e violento provoca fortes reações emotivas e destrói o controle mental. Quando o demagogo começa a esbravejar e a tresvariar, suas explosões tendem a ser interpretadas pelo público em geral como prova de sua sinceridade e dedicação. Mas essas manifestações, na sua maior parte, provocam justamente o contrário e não passam de um elemento de estratégia  demagógica da luta pelo poder... Os dissidentes ficam cada vez mais com medo de serem descobertos. Aos poucos, as pessoas não mais se dispõem a participar de qualquer espécie de discussão política ou exprimir suas opiniões. No íntimo, já se renderam às aterrorizantes forças ditatoriais. 

O demagogo fia-se, para alcançar sucesso, em que as pessoas tomarão a sério as acusações fantásticas que faz e discutirão, como se fosse realidade, o noticiário que ele difunde pela mídia, ou em quem serão atiradas, por suas acusações e imputações, a um tal estado de pânico, que nada mais farão do que abdicar do direito de pensar e verificar por conta própria. Fato é que o demagogo não faz apelo ao que há de racional e evoluído no homem: apela, isso sim, para o que nele é irracional e imaturo por excelência...

É mais do que um verdadeiro crime contra nós mesmos deixarmo-nos envolver em discussões sem fim nem direção e inevitavelmente ultrajantes, com homens que não estão preocupados com a busca da verdade, com o bem social e com problemas reais, mas sim em obter para si mesmos ilimitada atenção e poderio. 

Para se defenderem dos ataques psicológicos contra a sua liberdade, as pessoas precisam, em primeiro lugar, de humor e bom senso.  A aprovação firme ou a muda aceitação de qualquer estratégia provocadora de terror por ter como único resultado a ruína do nosso sistema democrático. A confusão solapa a confiança. Num país como o nosso, em que cabe ao público votante discernir a verdade, é absolutamente necessário um conhecimento geral dos métodos usados pelos demagogos para enganar e embair o povo. 

Joost A.M. Merloo




Olhe para os lados


Olhe para os lados:

Apure a consciência, abra seu coração, respire fundo... e responda sinceramente:

As pessoas com as quais você convive — em casa ou no trabalho — são inteligentes, sensíveis e honestas; compreensivas, saudáveis e amorosas; livres e cheias de entusiasmo pela vida?

– São?!

Porque, se assim não forem, diga-me: 

O que é que você continua fazendo aí?

O que é que você continua fazendo aí?!

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as!

Edson Marques

01 julho 2011

Filme - A LEI DE HERODES


A LEI DE HERODES



Direção, produção e edição: Luis Estrada.
País: México.
Ano: 1999.
Duração: 120 min.
Elenco: Damian Alcazar (Juan Vargas), Pedro Armendáriz Jr. (López), Delia Casanova (Rosa), Juan Carlos Colombo (Mr. Ramirez), Alex Cox (Gringo), Miguel Angel Puentes (Pancho), Guillermo Gil ( pai), Ernesto Gómez Cruz (governador), Leticia Huijara (Gloria), Luis de Icaza (Alfredo García), Eduardo López Rojas (médico), Manuel Ojeda (garçom), Salvador Sanchez (Pek), Evangelina Sosa (perlita), Isela Vega (Doña Lupe).
Roteiro: Luis Estrada, Jaime Sampietro, Vicente Leñero e Fernando Leon de Aranoa, baseado em uma história de Luis Estrada Sampietro e Jaime.
Música: Santiago Ojeda.
Foto: Norman Christianson.
Diretor de Arte: Solares Salvador Parra e Ana.
Figurino: Fernández Mariestela.

uma comédia dirigida pelo conhecido cineasta mexicano Luis Estrada. Realizado em 1999, o longa é uma metáfora sarcástica e muito bem feita sobre o poder e a corrupção política no México durante o longo mandato do Partido Revolucionario Institucional (PRI).

Em 120 minutos, o filme se ambienta em 1949 - durante o mandato de Miguel Alemán Valdés - e relata a história dos habitantes da localidade mexicana de San Pedro de los Saguaros, um povoado rural habitado por nativos indígenas, que lincham e decapitam o prefeito local com um facão quando na tentativa deste fugir do povoado com o dinheiro público.

O período eleitoral se aproxima e o governador Sánchez (Ernesto Gómez Cruz), não disposto a ver arruinada sua posição por um escândalo político, ordena que Fidel López (Pedro Armendáriz Jr.) o secretário de governo, nomeie um novo prefeito para San Pedro. López decide que o mais indicado até que se realizem as próximas eleições é Juan Vargas (Damián Alcázar), um inofensivo funcionário da limpeza e antigo militante do PRI, que seguramente não será tão corrupto como seu antecessor.

Escolhido por ser pouco inteligente, o então supervisor de limpeza municipal chega à aldeia sem lei, tomada pela corrupção e pela impunidade, com a única intenção de fazer crescer esse pequeno povoado, sem maus pensamentos. Vários métodos são experimentados, mas ao ver que é abandonado por sua sorte, sem verbas nem condições para seguir adiante, e ver que a situação do município não resulta ser como imaginou e que os problemas se amontoam, decide renunciar. Neste momento, somente lhe entregam uma pistola e a Constituição, e dizem que lhe tocou a Lei de Herodes: “ou te calas ou te prejudicas”, e apenas o crime parece resultar.

Assim, toma a Constituição, a coloca em sua velha escrivaninha, ao lado do revólver, decidido a reformá-la, já que havia se dado conta de que ser prefeito era na verdade um negócio rentável, e encomenda a Carlos Pek (Salvador Sánchez), seu secretário pessoal, reformas para governar San Pedro de los Saguaros por mais 20 anos.

O outrora simples e honesto Juan transforma-se no mais abominável tirano, disposto a tudo para conseguir extorquir o dinheiro do povo e perpetuar-se no posto, já que havia descoberto os benefícios do poder e da corrupção. A estas alturas, Juan Vargas já tem acumulada uma inestimável fortuna cobrando impostos dos miseráveis habitantes.

La ley de Herodes, que, originalmente, levaria por título La ley y la pistola, foi rejeitada, a princípio, pelas autoridades cinematográficas, que não lhe ofereceram apoio econômico. Entretanto, uma vez concluída, foi programada ilegalmente em poucas salas, tratando de se evitar sua exibição massiva. A partir de então, a tentativa de veto terminou provocando a renúncia de Eduardo Amerena, o então diretor do Instituto Mexicano de Cinematografía (Imcine), e o conseguinte desprestígio das autoridades cinematográficas mexicanas.

O repentino escândalo gerou uma grande publicidade gratuita para o filme, que se tornou uma das produções mais bilheteiras do ínicio de 2000. Para alguns, sua projeção comercial cinco meses antes das eleições presidenciais de 2000 ajudou, de certa forma, na queda do PRI, o partido que há 70 anos estava no poder, por este ter sido duramente evidenciado no roteiro do filme.

La ley de Herodes – título que faz referência ao que deve ser feito mesmo que não você queira, mas te obrigam a fazê-lo, e deve aceitar pelo próprio bem – denuncia o funcionamento do sistema político mexicano, mas com claras referências a momentos posteriores. Nele se faz referência não somente contra o PRI, mas também contra sua oposição, o PAN e o PRD, assim como a Igreja, como parte de uma mesma classe dirigente. Porém, além da realidade local mexicana, o filme adquire um tom universal na crítica ao burocratismo, à corrupção e ao funcionamento das instituições do Estado a serviço de uns poucos privilegiados.

A pistola possibilita a Vargas intimidar a população. A Constituição lhe permite impor multas, criar novos impostos e obter recursos da população. A mesma Constituição é utilizada no filme para guardar o dinheiro arrecadado, símbolo do uso corrupto que se faz dela.

No ano de 2000, o filme recebeu nove prêmios Ariel de Cinema Mexicano, incluindo Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Ator; Prêmio de Cinema Latino-americano no Festival de Sundance; Prêmios Caracol, da Universidade de Havana, Melhor Edição e Prêmio do Memorial Martin Luther King no Festival do Novo Cinema Latino-americano de Havana; Melhor Fotografia no Festival de Cinema de Viña del Mar; Melhor Ator e Melhor Fotografia no Festival Internacional de Cinema de Valladolid, Espanha; e Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Ajijic, México.

Simplicidade Voluntária

O Poder do Auto-Engano

Quanto mais me encontro com desencontradas pessoas, 
mais impressionado fico com o poder estagnante do auto-engano.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!