Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 julho 2011

A difícil e negligenciada arte de escutar


Como é difícil manter a comunicação com as pessoas quando estas tomam como pessoal tudo aquilo que ouvem. Quase sempre, diante de tal postura, o que é dito é tomado como uma imposição, afronta, ofensa pessoal. Qualquer idéia expressa que não esteja  em conformidade com o script social pelo qual é regido o estilo de vida da pessoa, logo é tomada como uma imposição ou então, numa rebeldia destituída de inteligencia. Não há como ocorrer uma real comunicação, um entendimento quando não existe o filtro que impede o "eu" com todo seu pacote de ideias, memórias, preconceitos, achismos, pontos de vista, condicionamentos, crenças e tudo mais que o compõem. Não há como se ver nada — a não ser o julgamento — se o que está sendo dito bate ou não com aquilo que já está estabelecido como verdade e que, na maioria das vezes, sustenta uma zona pessoal de conforto, onde não é requerido nenhum tipo de aprofundamento pessoal. Quando isso ocorre, se ambas as partes não estiverem atentas (ou pelo menos uma), corre-se o risco de um confronto pessoal e não o compartilhar de idéias, o que quase sempre acaba levando para o isolamento mental e até físico. É imperativo que em tais situações, — onde o "eu" está presente — que nos escudemos em velhos rótulos que justificam e impedem a reflexão. Não ocorre o escutar que vai muito além do que o "debatente" ouvir. Quando a comunicação — se é que podemos chamar isso de comunicação — ocorre desse modo, não há como transcorrer sem que seja truncada, não há como haver espontaneidade e naturalidade, uma vez que precisa passar pelo desgastado filtro do intelecto. E o que é visto — se é que algo é visto a não ser os próprios preconceitos — é visto como julgamento ou afronta do qual é preciso se defender. Nessas situações, ocorrem toda forma de distorção. Todo "A" será inevitavelmente interpretado como qualquer letra que não seja o "A". O resultado dessas comunicações é um profundo desgaste, devido o fato de não ocorrer um verdadeiro encontro. Quando a comunicação ocorre no nível das palavras, não há como ocorrer uma real comunicação, só mero ajustamento ou confronto de idéias e é preciso muita maturidade para que não se instale a ferrugem do melindre, da autopiedade, e do vitimismo retaliador. A personalidade, o "eu" que é todo o conjunto das experiências, memórias, condicionamentos, não deixa que ocorra tal encontro. Quando este "eu" está presente, o que pode ocorrer é apenas superficiais contatos sempre embasados na respeitabilidade esperada pelo script social, o que não passa de um modo político de se relacionar. Portanto, é sinal de inteligência, se manter calado quando se percebe qualquer forma de resistência que impessa o escutar distituído de julgamentos, escolhas e ajustamentos, uma vez que nosso intelecto é facilmente "arranhável". Este, quando arranhado, pode se mostrar profundamente separatista; é dele que brotam todas as formas de retaliações, inimizades e, não raro, trágicas situações. Portanto, há uma grande sabedoria no dito popular: "falar é prata, escutar é ouro". Investir na capacidade da escuta, talvez seja um dos maiores patrimônios, senão, a mais importante arte a ser experienciada nesta truncada existência humana.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!