Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 junho 2012

O que estamos buscando?

Conversa entre Deca, Nestor e Outsider em 30/03/2012

28 junho 2012

Observar, sem absorver para absolver o Ser que somos


Observar os movimentos da mente, das emoções, dos sentimentos, de forma totalmente neutra, sem escolher, sem rejeitar, sem querer alterar a qualidade daquilo que se observa; apenas observar de forma passiva, sem se identificar, sem correr para alguma forma de reação com base no arquivo de memórias e conhecimentos. Ficar aqui e agora, só na observação daquilo que se passa... Testemunhar o movimento da mente na ponte do tempo, nessa constante e ininterrupta ação julgadora com base no passado, criando imaginações, conjecturas, quase sempre separatistas, num futuro distante. Verificar o modo como o “eu”, o “ego” tenta de toda forma dispersar a vivência direta do aqui e agora, onde se encontra a possibilidade de contato consciente com o ser que somos; esse ser que é totalmente livre de ansiedades, medos, apegos, ressentimentos, melindres, autoenganos, que é totalmente incapaz de fazer como o “ego”, o qual faz uso de outro ser humano apenas para a satisfação de suas exigências autocentradas, descartando as mesmas, de forma inconsequente, após a conquista de sua satisfação insatisfatória.

Observar como a mente faz uso até daquilo que está sendo observado como forma de instalação de conflito por meio da identificação. Quando olhamos para o passado, o qual teve toda sua estruturação alicerçada num modo de ser totalmente dominado pelo governo do pensamento condicionado, logicamente, erros e enganos serão uma observação constante. Uma mente governada por uma rede de condicionamentos é uma mente que não tem espaço para a manifestação de uma consciência amorosa e, portanto, não tem como saber por experiência direta o que seja amor; tudo o que essa mente busca é pelo auto-interesse, pela busca da segurança, do poder, do prestígio, do reconhecimento social e validação de terceiros e pela satisfação dos nossos instintos naturais, totalmente deturpados pela ação do egoísmo, pela ação da rede dos pensamentos condicionados. Esse tem sido o modo de vida da quase totalidade da raça humana. Observar essa constatação de como vivemos até então, inicialmente, tende a se mostrar algo muito doloroso, algo muito conflitante, uma vez que, o pensamento condicionado, ciente de que, por meio dessa observação pode ter seu império ameaçado, apodera-se do conteúdo dessa observação, absorve-o como material necessário para a continuidade de sua espiral de conflitos separatistas, fragmentadores. A partir disso, lança de forma automática — ou seja, sem que solicitemos por isso — uma poderosa e acelerada avalanche de imagens e falas que, se não houver um estado de "alerta presença", tem o poder de causar a identificação, a qual dissimina toda forma de letargia ou de ansiedade, ambos acompanhados de vários sintomas torturantes. O que se pede aqui, novamente, é a consciente prática de observação de todo movimento do conteúdo mental, emocional, psíquico, sem qualquer tipo de identificação reativa, sem qualquer espécie de fuga; apenas ver, apenas observar, mesmo que difícil e doloroso, apenas observar. A mente vai pular, a mente vai gritar, vai exigir por reação; ela precisa disso, é seu alimento, é sua continuidade; ela é sagaz, sutil, enganadora, com um forte poder de enredamento.

Como até então, a maioria de nós, nunca havia desenvolvido essa capacidade de se entregar para o processo de observação, de forma autônoma, ou seja, sem a necessidade de buscar por doações psicológicas de fora — até mesmo na ideia psicológica de um Deus salvador —, é muito natural que neste momento, a mente insista nesse movimento de recorrer ao “achismo”, à “experiência de terceiros”, ao que diz o “livro do outro”, para ajudá-la na compreensão do conflito por ela mesmo criado. No entanto, aqui é preciso perceber que esse é um dos mecanismos da mente pela qual tenta garantir a continuidade de seu domínio, uma vez que, quase sempre, acaba fazendo uso do que é ouvido, de forma limitada, por parte de outro ser humano, para criar ainda mais conflito, ao conflito já anteriormente instalado. Nesse momento, se faz extremamente necessário fazer frente ao adolescente impulso de recorrer ao livro, ao grupo espiritualista da qual se faz parte, ao psicólogo, ao mentor espiritual — seja lá qual for a atual “droga anestesiante” de nossa escolha, para evitar a dor que se instala diante do processo de observação. Aqui se faz necessário a consciência de que, como diz o músico-poeta, “fugir da dor é fugir da própria cura”; é preciso pagar o preço de se abrir para o desconhecido de nós mesmos, reunir forças para fazer frente a esse processo, o qual a mente, para se defender de sua ação, nos apresentará como sendo um processo que aponta tão somente para uma forma insana de masoquismo. Precisamos ter a consciência de que rotular e justificar é uma de suas “insanas proezas”. No entanto, se analisarmos bem, veremos que, o que podemos chamar de masoquismo é se permitir a continuidade dessa identificação limitante com o “eu”, com o “ego”, com essa “voz incessante dentro de nossa mente”, profundamente castradora e separatista, a qual nos impede o descobrimento daquilo que, nos grupos anônimos, convencionou-se chamar de “aquisição da capacidade de amar”, ou, se preferir, de “contato consciente com Deus”.

Claro que o que se pede aqui não é de forma alguma, uma prática serena; por isso que afirmo ser este momento, o grande estado de prontificação que separa os adultos dos adolescentes psicológicos. Quando nos abrimos para esse estado de prontificação para a observação de todo material do conteúdo mental, emocional, psíquico, começamos a perceber que, por mais dolorido, por mais difícil que seja fazer frente a esse “processo curativo”  — de forma autônoma  —, a dor sentida nesse processo de observação, “também passa” e, quando da passagem da mesma, uma energia até então nunca experimentada, uma presença nunca antes vivenciada, a qual traz consigo um sentimento de maturidade, em nosso interior, bem no centro de nosso plexo cardíaco, — algo parecido com uma chama quente  — se manifesta de forma amorosa e pacificadora, trazendo consigo, o material necessário para a compreensão de nós mesmos e, assim, a possibilidade de "absolvição de nossa real natureza". Para isto, é preciso estar farto de tanto correr, é preciso estar farto de tanto reagir, é preciso estar farto de tanto mendigar por atenção de terceiros; é preciso ter caminhado muito, mesmo que de modo trôpego, pelo imenso deserto do real, para se perceber pronto para a consciência de que, aqui e agora, a atenção precisa ser nossa. Seja lá o que se apresentar, com atenção, observar...

Nessa observação sem escolhas é que, de forma milagrosa, sem o esforço de uma ação externa de nossa parte, vamos aos poucos percebendo a manifestação de um estado de ser, dotado de certa autonomia e autosuficiência psicológica nunca antes imaginada; uma nova capacidade de confiar em nosso poder de percepção, em nossa capacidade de fazer frente a cada desafiante situação. Um "estado de presença" começa a tomar conta do ser que somos; uma nova visão de nós mesmos e do mundo que nos cerca, agora nos brinda com um profundo sentimento de responsabilidade pela manutenção da integridade recentemente agraciada, o que acaba nos dando a capacidade de não mais opinar em questões alheias e de não mais entrar  —  como fazíamos de forma automática e reativa —, num compulsivo e separatista ciclo de controvérsias públicas. Começamos a perceber, sem esforço, o momento emocional, psíquico, daqueles que nos cercam; começamos a perceber como nunca antes, as dores de um mundo totalmente dominado pela separatista e fragmentadora rede de condicionamentos, da qual também por décadas, nos vimos prisioneiros. Uma sensibilidade compassiva  — que nenhuma relação tem com nossa antiga emotividade neurótica  — toma conta de nosso olhar e coração, chamando-nos então, para a responsabilidade de nossa participação através de alguma forma de trabalho evolutivo, onde cada momento — ao contrário da rotina de outrora —, mostra-se como uma enorme possibilidade de gratificante aventura. O sentimento de inveja é substituído pelo sentimento de alegria diante das conquistas de novas "moradas de consciência" por parte de nossos confrades fraternos caminhantes. Deixa de operar em nós, o antigo processo formador de imagens, o qual nos impedia o desfrute de uma verdadeira intimidade, tanto com nós mesmos, com o nosso próximo, como com a natureza na qual somos parte integrante.

Em vista disso, caro confrade desperto, é que lhe lançamos o convite para a ousadia gratificante:

"Observar, sem absorver, para absolver, a realidade do Ser que somos"...

Bem haja excelência no agora que é você!

Um fraterbraço e um chute em suas canelas!
Outsider44 

26 junho 2012

Em busca de transcendência

Da inverdade da paixão pelo desejo,
ao desejo da paixão pela Verdade.

"Bem aventurados os puros de coração,
porque eles verão a Deus...
...Quando o olho for único,
o corpo inteiro será luz"


A concepção num lar de inverdades encobertas dá início a um processo de corrupção, o qual leva ao embotamento mental e ao abafamento do instinto intuitivo e do criativo, os quais só podem ser recuperados por meio de um incondicionado "processo de escuta". Isso nos deixou bem claro, Willian James, considerado por muitos como o pai da Psicologia Transpessoal, num de seus textos, como se segue abaixo:

"A 'prática' pode mudar nosso horizonte teórico, e isso de maneira dupla: pode levar-nos a mundos novos e assegurar-nos novos poderes. O conhecimento que jamais alcançaríamos, se continuássemos a ser o que somos, será atingido em consequência de poderes mais altos e de uma vida superior, que podemos lograr moralmente."

Caro confrade desperto, ao entrar nesta sala e ao se decidir percorrer o conteúdo de nosso Blog, antes, pedimos para que se certifique muito bem, de que você esteja buscando unicamente, tão somente, pela Verdade; que esteja igualmente pronto para assumir as posturas que lhe serão exigidas mediante o conhecimento da mesma, tendo em vista que, toda verdade percebida e não assumida, produz em nós, assim como no mundo que nos cerca, ansiedades, doenças, conflitos e corrupção. Esta sala nos apresenta um conteúdo o qual nos possibilita aquilo que poderíamos chamar de uma espécie de "tratamento de choque intensivo", o qual é capaz de erradicar — desde que para isso estejamos prontos — toda forma de inverdade que possamos estar trazendo conosco. A capacidade psíquica que distingue os adultos dos adolescentes, se faz perceptível pela abertura  à desilusão da pior verdade, do que à ilusão da melhor mentira. Portanto, aqui é preciso ter em mente que a Verdade não é democrática, não é negociável; como nos dizeres de Gandhi, "a verdade é dura e cortante como diamante, mas também é doce como a flor de pessegueiro".  

Se queremos saborear a doçura da Verdade, é preciso que "estejamos prontos" para fazer frente ao conhecimento da irreal realidade que apresentamos à nós mesmos e ao mundo, isso por meio da ação de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, crenças, preconceitos, manias, tendências e inconfessáveis neuroses, bem como do espírito que move nossos diversos tipos de relacionamentos. Para que isso se mostre possível, se faz necessário ter-se caminhado por anos e décadas, naquilo que chamamos de o "deserto do real" — ter sentido na pele, as dores resultantes do tédio e da insatisfação com sua mesmice operante —  e, por meio desse doloroso e entediante caminhar, se mostrar profundamente "sedento por plenitude", consciente que essa plenitude não pode ser adquirida por meio de valores finitos da horizontalidade, mas sim, dos valores da Verdade, estes encontrados em última análise, no mais profundo de nossa interioridade, de forma direta, visceral e intransferível. Portanto, aqui, humildade é o que possibilita esse "estado de prontificação", o qual traz consigo, tanto o poder de observação direta, sem escolhas, como o resultante silêncio meditativo, características do estado de ser que precede a ação direta da bem-aventurança da Verdade. Sem o preenchimento das indispensáveis condições espirituais, não há como saber por experiência direta, o significado "Daquela Coisa Inominável" que nos brinda com a verdadeira liberdade do espírito humano, bem como com Felicidade, Liberdade e o estado de Amor-compaixão. Portanto, para que possamos viver a ação direta da Graça da Verdade, se faz previamente necessário que já tenhamos superado o antigo estado de entorpecimento do espírito, com sua característica alergia reativa ao auto-conhecimento, esta caracterizada por um estado de surdez psíquica e emocional.

Sem esse trabalho de base, sem a prática de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, qualquer movimento ou prática que aponte para um possível contato com a Verdade, não passará de um ilusório e narcísico escapismo místico estratosférico — o qual nos mantém temporariamente com a cabeça nas nuvens cor-de-rosa do torpor da ilusão espiritualista e com os pés atados pela grossa e intrincada rede de condicionamentos autocentrados na busca da aquisição materialista, na inconsequente satisfação dos instintos ou na estagnante procura por respeitabilidade social.

Sem a ação imprescindível de um minucioso inventário  daquilo que temos por verdade, não há como se manifestar a consciência de todo processo como fomos "degenerados" e, sem essa conscientização, torna-se impossível a adoção das necessárias atitudes capazes de fazer frente ao "processo curativo" capaz de nos brindar com as qualidades genuínas e não corrompidas do gênero humano, nas quais se encontra uma capacidade da faculdade do uso mental e intuitivo, de forma tão criativa, nunca antes sequer imaginada. Esse "processo curativo" nos liberta da ilusão de preenchimento de nossa profunda ânsia interior, através de falíveis e passíveis criações do exterior, percepção essa muito bem relatada nas palavras de Willian Law:

"Embora DEUS esteja presente em toda parte, Ele só está presente para ti na parte mais profunda e central de tua alma. Os sentidos naturais não podem possuir a Deus nem unir-te a Ele; na verdade, tuas faculdades interiores de entendimento, vontade e memória só podem procurar alcançar a Deus, mas não podem ser o local de Sua habitação em ti. Existe, porém, em ti uma raiz ou profundeza da qual emanam todas essas faculdades, feito linhas que partem de um centro, ou feito galhos que parte do corpo da árvore. A essa profundeza dá-se o nome de centro, fundamento, fundo da alma. Tal profundeza é a unidade, a eternidade — eu diria quase a infinidade — de tua alma; pois é tão infinita que nada pode satisfazê-la, nem dar-lhe descanso senão a infinidade de Deus".
Outsider44


Amor e centramento são a mesma coisa

Parte II - partilha Deca

24 junho 2012

23 junho 2012

A ativa da memória eufórica ritualística

Fugir da dor é fugir da própria cura

Não Fuja Da Dor
Titãs

Não tome comprimido
Não tome anestesia
Não há nenhum remédio
Não vá pra drogaria

Deixe que ela entre
Que ela contamine
Que ela te enlouqueça
Que ela te ensine

Não fuja da dor
Não fuja da dor

Não tome novalgina
Não tome analgésico
Nenhuma medicina
Não ligue para o médico

Deixe que ela chegue
Que ela te determine
Que ela te consuma
Que ela te domine

Não fuja da dor
Não fuja da dor

Querer sentir a dor
Não é uma loucura
Fugir da dor é fugir da própria cura

Um recado para você que está chegando

Nossa maior ambição: ser simplesmente o que somos

21 junho 2012

A importância da prática de momentos de ócio, silêncio e solitude

Dando Boas Vindas à Dor Original



Bom dia amigos! Espero que vocês, ao se depararem aqui, com este áudio, estejam vivendo bons momentos, com excelência no Agora; que todo esse material que a gente tem aí, disponibilizado em nosso blog http://pensarcompulsivo.blogspot.com, possa de alguma maneira estar facilitando a compreensão desse novo paradigma para o qual nós estamos apontando, paradigma esse, que é um síntese das mensagens contidas nos princípios espirituais dos Doze Passos das Irmandades Anônimas, mais as observações feitas através de Jiddu Krishnamurti e também, o último tripé dessa síntese que veio sendo formado através do estudo da arte — muito além do mito romântico —, mas aprendendo a fazer uma leitura psíquica, arquetípica, noética, poética, a qual  nos dá uma nova visão de mundo e uma nova seta orientadora em busca dessa experiência, dessa possibilidade dessa experiência que traz a síntese entre mente e coração; que pacifica nossos instintos degenerados pela ação do egoísmo, pela ação da rede do pensamento compulsivo condicionado; que coloca os nossos instintos naturais em seus devidos lugares; que pacifica nosso desejo, que reorienta o nosso desejo para essa busca de síntese entre masculino e feminino, entre ying e yang; essa experiência a qual denomino, "Experiência Religiosa", e que os anônimos denominam de "Despertar Espiritual" e que Krishnamurti chama de "Percepção Pura", "Despertar da Inteligência Criativa", e tantos outros nomes que ele procurou colocar para não ficar formando um rótulo ali, mas, tentar apontar isso que as palavras acabam sendo profundamente limitadas para acessar.

Então, é com esse impulso no coração, que a gente começa conversar aqui, um pouquinho com vocês, sobre um compartilhar dessas nossas experiências em cima dessa prática, dessa tríade que a gente está tentando trazer até vocês, nesse nosso blog, nesses nossos textos, nessas nossas falas, que ocorrem muito espontaneamente, sem serem organizadas. Em geral, logo que acordo, tem se deparado alguma fala que sinto necessidade, alguma abordagem que sinto a necessidade de estar compartilhando com os companheiros, ok? Então, o que nós estamos trazendo aqui, não se trata de material colhido de livros, se bem que lógico, os livros também fizeram parte da compreensão que a gente está chegando e tentando compartilhar com vocês; mas trata-se de experiências diretamente vividas na pele, e é isso que a gente quer trazer aqui, sem o menor intuito ou segunda intenção de se criar aqui uma autoridade psicológica, um mestre, um professor — um dono de grupo, como já ouvi aí —, um guru... Nada disso! Nós estamos aqui, como o próprio Krishnamurti dizia, como dois amigos, num bate-papo de fundo de quintal; estamos aqui como dois amigos sentados num parque, conversando sobre a vida; essa que é a idéia! Não tem nenhuma autoridade psicológica aqui, não tem ninguém pronto, não tem ninguém realizado, não tem ninguém iluminado, não tem ninguém dotado de uma super-sabedoria, da qual você possa recorrer e continuar com esse "vício" de buscar fora de si mesmo, a resposta para aquilo que é criado dentro de si mesmo, pela falta de compreensão de si mesmo.  Então, essa é que é a proposta deste nosso grupo, deste nosso blog, dessas falas que a gente vem aqui compartilhar com vocês. Ok?      

Então, assim: hoje, logo às 5 e pouco da manhã, enquanto a Deca se trocava para ir para o serviço, eu ali, ainda deitado na cama, me veio a necessidade de compartilhar hoje com vocês, um pouquinho sobre a experiência da necessidade da compreensão do desejo, do processo do desejo; a compreensão que traz a reorientação, que coloca o desejo em seu devido lugar; uma vez que, na não compreensão do desejo, a dor está sempre lá!... A dor já esteve antes do desejo, produziu o desejo e, após o desejo, ela apresenta como resultado, inevitavelmente, a mesma dor elevada ao quadrado. E assim nós vamos aumentando, de dor em dor, o exponencial, dessa dor; dor essa que, na nossa experiência, já se apresentava lá, em nossa família disfuncional. Nós viemos aí, percebendo, com ajuda de várias experiências de outros companheiros, bem como das observações contidas em alguns livros que vou citá-los aqui para vocês, um deles se chama "O Drama da Criança Bem Dotada: como os pais podem formar ou deformar a vida emocional de seus filhos", cuja autora é Alice Miller, e aqui no Brasil ele saiu pela Summus Editorial. Um outro livro também, muito interessante, que a gente pode ver retratada essa questão da "Família Disfuncional", é um livro de John Bradshaw, que se debruçou muito em cima dos materiais de Alice Miller, e o nome desse livro é "Volta ao Lar: resganto nossa criança interior ferida", que se não me engano, aqui no Brasil saiu pela Editora Rocco, ou Rosa dos Ventos; e, desse mesmo autor, um livro que eu considero fundamental, que se chama "Curando a Vergonha que Nos Impede de Viver", de John Bradshaw também e a Editora é Rosa dos Ventos. Então, esses três livros — esse alguém quiser algo mais presencial — existe uma irmandade que trabalha muito bem, eu não vi irmandade trabalhar essa questão tão bem, como a irmandade do CODA, que é os Codependentes Anônimos; eu não tenho aqui de cabeça o site mas, com certeza, se vocês buscarem pela Internet, vão encontrar material deles, os codependentes, que inclusive, muito de seu material de base, veio das experiências de uma alcoólatra que é a Melodie Beattie, do livro "Codependência nunca mais — como deixar de cuidar da vida do outro e cuidar de si mesmo"; esse é também um livro muito, mas muito mesmo interessante. Todos esses livros que estou indicando para vocês, são livros muito utilizados, inclusive, em centros de tratamento para comportamentos obsessivos compulsivos, tais como o álcool, drogas, o comer compulsivo, a dependência emocional afetiva e sexual. São livros assim, todos os livros que a gente estiver aqui indicando para vocês, são livros com muita seriedade, são livros que não vão fazer coceguinhas no seu ego, com certeza, são livros que vão te dar karatês Críticos, chutes Búdicos, rasteiras macumbáticas, marteladas cósmicas, para ver se faz um trinca na parede do orgulho, faz uma trinca na parede da negação. Gosto muito de uma frase que ouvi no filme, "Beleza Americana", em que o rapazinho que era um usuário de drogas, vira para uma mocinha lá e fala assim: "Olha, não podemos nunca subestimar o poder da negação!"... Uma frase que tem aí uma verdade incrível! Se nós estamos coma  mente aberta e os ouvidos abertos — não os ouvidos, os ouvidos externos, mas o ouvido do coração, esses nossos ouvidos psíquicos — se eles estão abertos, se nós estamos holisticamente sentados à frente de um aparelho de TV ou de um cinema, tentando entender o que os artistas, o que o diretor, o que o escritor daquele filme, daquele roteiro tentou trazer para nós, nós colhemos materiais que se mostram, realmente, fundamentais.

Então, voltando na questão do desejo, nós percebemos que o desejo é um impulso para a fuga do que é, para a fuga do que estamos trazendo conosco: o vazio, o tédio, a insatisfação, a angústia, a solidão. Nós não tivemos uma educação psíquica que nos ajudasse a fazer frente à esses sentimentos, ao invés de fugirmos deles. Então, nós descobrimos aí, talvez, pela primeira vez, com aquele "melzinho na chupeta", ou então, com "o bico da mamadeira", que objetos e situações externas poderiam aplacar aquela nossa inquietude, aquela nossa insatisfação, aquele nosso tédio, aquele mal estar causado pela dor resultante do abafamento do ser que somos.

Então, nós viemos a perceber ao longo dessa caminhada, que essa dor, está aí presente, desde a nossa família disfuncional, ou seja, uma família que não cumpriu a função de nos preparar psiquicamente para a compreensão de nós mesmos, para a compreensão da natureza, assim como, da vida de relação. A maioria de nós que chegamos a esses grupos trazendo conosco os grandes conflitos causados pela excessiva exposição à um padrão comportamental qualquer, todos nós percebemos que viemos de famílias onde o nível de imaturidade parental deu início a transferência de valores arcaicos, de valores disfuncionais, através, quase sempre, de uma educação profundamente autoritária, baseada na comparação, na retaliação, na imputação de vergonha; educação autoritária essa, que perverte o senso de valor e a integridade da criança. Essa chamada "educação", se olharmos com mais profundidade, nós vamos poder perceber que ela não passa de um sistema de "coerção mental", um sistema de coerção mental à um senso de valores preestabelecido pela tradição, e que não foi devidamente questionado. E, esse senso de valores e essa coerção mental, transforma o aprendiz indefeso, num autômato passivo, submisso e útil à um sistema estabelecido para o consumo imediato e inconsequente; e que, para poder consumir, acabamos nos consumindo, pelo fato de não termos mais o tempo necessário para o ócio criativo, meditativo; para o desfrute daquilo que somos, da natureza e dos mais próximos que nos são significativos. E, devido à esse processo de coerção mental, dá-se um processo de "embotamento mental", o que faz com que nos tornemos presas fáceis, marionetes de manobras sociais, como já falei, orientadas para o consumo. Não há uma preocupação real da sociedade, com a qualidade e desenvolvimento psíquico dos seres humanos; pela qualidade e desenvolvimento emocional dos seres humanos; pela qualidade e desenvolvimento de uma inteligência amorosa e criativa. Não!A sociedade se preocupa muito mais em formar "robozinhos em série", competidores em busca de um serviço "mais rentável"; é essa que é a preocupação: criar seres autômatos, consumistas inconsequentes; que sejam "funcionários" e não seres dotados de executar um processo de pensamento dotado de bom senso, razão e lógica, estes, iluminados sempre, pela luz de uma inteligência amorosa e criativa. Então, dentro dessa família disfuncional é que começou todo esse processo de dor, que vai descobrir em seu devido tempo, seus "objetos anestesiantes de escolha".

É importante ressaltar aqui, que essa constatação, do ambiente, do mapa psíquico nosso, não tem aqui nenhum interesse em causar aqui um processo de autopiedade, de vitimismo, ou mesmo de querer procurar "bodes expiatórios" para a nossa atual incapacidade de nos reger sem o governo do pensamento condicionado.  Não, não! Não é nada disso! Nós viemos a perceber também, que nós somos "Adulterados, Adultos, Adulterantes", que sofreram o processo de adulteração na mão de outros adulterados, adultos, adulterantes. Então, em outras palavras, nós somos prisioneiro entre prisioneiros; as pessoas significativas de nossa existência, com certeza, tentaram dar o melhor que elas tinham para dar, mas, não havia nelas uma consciência plena do seu grau de condicionamento. Então, sonâmbulos no meio de sonâmbulos; é isso o que a gente veio a perceber durante essa nossa caminhada.

Então, nós percebemos que esse processo de coerção mental que transformou a nós em autômatos passivos, submissos e profundamente "mecanicamente úteis" à esse sistema estabelecido que vem acabando com a qualidade de vida psíquica dos seres humanos, assim como com a qualidade desse maravilhoso planeta, esse condicionamento, esse sistema de coerção mental, de embotamento mental, ele se deu através de um condicionamento gráfico e midiático. Boa parte de nós crescemos em frente desses aparelhos tecnológicos como a televisão — e hoje nós temos aí a Internet —, os aparelhos de celular; vários aparelhos aí, o MP3, sei lá... Me fogem agora os nomes! Mas, pelos quais, essas mensagens condicionantes vão se apresentando... Através de uma enorme série d símbolos, sinais, sons, paladares, que transmitem um grande número de padrões que se transformam em reflexos condicionantes sempre que somos expostos à um dado estímulo; estímulo esse, que permanece durante muito tempo, totalmente inconsciente. isso é o que hoje chamamos de "gatilhos emocionais e sensórios", por exemplo: hino, bandeira, mapas, alimentos, brinquedos, embalagens, jingles, aromas, cheiros.... Sem que percebamos, eles vão disparando nosso processo reativo inconsequente, onde só produz reação e nunca uma ação consciente no presente momento; sempre uma repetição da fuga da dor ou da busca do prazer que vem lá, através de uma "memória eufórica e ritualística", Essa memória eufórica e ritualística não traz consigo nem um pouquinho de bom senso, nem a luz da razão e da lógica, muito menos uma inteligência amorosa e criativa.

Então, nós percebemos que num outro momento, além desse condicionamento gráfico e midiático, através desses aparelhos tecnológicos — as revistas também —, nós tivemos a continuidade dessa programação mental através do "programa de ensino"... veja bem: "programa de ensino"... Eles não mentem para nós!Eles colocam aí; eles estão dando o aviso... "Faz favor! Você não lê a bula, o problema é seu!"... "Você não confere a bula, você não vê do que é formado isso aí, então não venha reclamar depois!" Então, eles estão nos avisando que eles vão colocar um programa de ensino, que não tem nada a ver com "educação". Educação vem de "educare", que significa, "ajudar extrair de dentro". Ao contrário: nosso programa de ensino vai enchendo a gente de quinquilharias que não servem para nada. Eu pergunto para você: quando a dor da depressão, quando a dor da angústia, quando a dor da inveja, quando a dor do ressentimento bate aí na porta da sua mente e coração, o que você faz com a história de Dom João Sexto e sua família real? O que você faz com a tabela periódica? O que você faz com os esporângios, gametas, com as bacias hidrográficas, com os tipos de nuvens, o que você faz com isso aí? Com as leis da física... O que é que a gente faz?  Então, nós tivemos aí um sistema de ensino que só prepara nossa mente cartesiana, científica, matemática, cuja única habilidade é nos tornar "funcionais" para o sistema. Uma educação aí, um programa de ensino que não desperta a inteligência que vê, por detrás desses olhos que pensam ver. E, do mesmo modo que na nossa família, também é uma educação baseada na comparação e punição, à exposição da vergonha tóxica, que acaba levando ao "abalamento do espírito e o enfraquecimento da vontade". A comparação — que acaba causando essa assim chamada "vergonha tóxica" —, repito, ela acaba levando ao abalamento do espírito e o enfraquecimento de nossa vontade; nós passamos a achar que nunca temos o suficiente, que não somos tão bons quanto, e assim vamos abafando a potencialização dos talentos que trazemos conosco. Não existe pessoa sem talento!... Eu tenho me deparado com vários adultos aí, adulterados, adulterantes, que vivem reclamando que não sabem de seu talento, que não tem aptidão para nada... Isso não é verdade! Isso não é verdade!... Isso são repetições aí, de vozes de seres que, talvez, nem estejam mais presentes aqui neste espaço tempo, mas que continuam dentro de nosso espaço psíquico, abafando a nossa originalidade, nossa autenticidade, nossa espontaneidade e nossa criatividade. Observem uma criança e vocês vão ver!... Ela é totalmente livre, espontânea, criativa, desapegada; isso aí vai vindo, todas essas limitações vão chegando através dessa exposição excessiva à esses sistemas, à esses ambientes, cuja atmosfera se baseia na comparação, na ansiedade, no medo e na exposição da vergonha tóxica. Então, esse abalamento do espírito e o enfraquecimento da vontade, trazem consigo um sistema de influência tão bem organizado, que acaba levando o ser humano à domesticação e à submissão à esse sistema, que é um sistema de doutrinação forçada ao ajustamento, ao servilismos escravagista. Tudo isso vai ampliando as capas de dores que tiveram seu início lá na família disfuncional. Ok?

Então, esse sistema de ensino, esse programa de ensino, o qual eles erroneamente chamam de educação é baseado num sistema de medo hipnótico, o qual acaba criando uma apatia que faz com que a grande maioria se submeta à qualquer sugestão por parte das pessoas que representam autoridade. A nossa "rebeldia natural" sempre foi castigada, sempre foi abafada. Não houve, pelo menos no ambiente que vim, tanto parental como educacional, Não houve a presença de adultos não adulterados, capazes de exercitar uma observação e uma escuta atenta da rebeldia desses adolescentes e dessas crianças que estavam aos seus cuidados. Qualquer manifestação de espontaneidade e originalidade, que batesse contra ao estabelecido, era rotulado por rebeldia à ser "reformada"; antigamente havia até os chamados "reformatórios"... Olha só a palavra que eles usavam!... Reformatórios!... E ninguém parou para meditar sobre as palavras, porque não fomos ensinados à meditar sobre as palavras; ao contrário, nós fomos distanciados do dicionário; deram-lhe o nome de "pai dos burros", que é justamente para que o ser humano tenha "vergonha" de se aproximar dele; tenha vergonha de dizer "Eu não sei! Eu preciso saber! Eu quero buscar; deixa eu saber aqui!"... Então, nós ficamos aí com a compreensão muito superficial das palavras e, quem não conhece as palavras, se torna facilmente manipulável! Quem não tem uma verdadeira educação psíquica  se torna um ser facilmente sugestionável, facilmente manipulável! 

Então, a educação que passaram para nós — que não tem nada a ver com educação —, ela é voltada para uma inquestionada aceitação do sistema de crença, através, de um sistema de pressão mental, que leva ao enfraquecimento da curiosidade e da vontade; o que tem como resultado, a instalação de um "estado de conformismo", estado de conformismo esse, que mina a capacidade de manifestação de um estado criativo; isso aí traz uma profunda confusão de conceitos, contradição de ideologias e crenças. Qualquer manifestação de resistência mental — o qual é tida por rebeldia —, é castigada em nome do ajustamento à essas "verdades sistêmicas" que diariamente são gravadas na mente do aprendiz que ainda não dispõe da faculdade do bom senso,  da lógica e da razão; ele ainda não tem a sua estrutura psíquica, o seu embasamento psíquico totalmente formado. Então, através dessas "verdades sistêmicas" — eles dão o nome de verdade à isso, esse conjunto de tradições —, dá-se o impedimento de qualquer outra forma de interpretação da realidade (assista o filme "A encantadora de Baleias); porque, uma vez que o espírito aberto para a indagação e o questionamento,  ele é um espírito aberto para a dissensão, para a dissidência. Então, nós temos medo de dizer, temos medo de ser rebeldes e de exercitar a dissensão à valores que contrariam o que diz o nosso coração; temos muito medo de ficar expostos, não é mesmo? E esse medo vai criando maior ampliação daquela capa de dor original.
 
Essa educação aí, que a gente veio recebendo, tanto nos ambiente parental, como cultural, como nas escolas, ela impede a formação de um estado de percepção da realidade, o que acaba criando uma espécie de "transe", o qual facilita a instalação do sistema de identificação com o sistema, e isso se dá através do método da repetição diária. E o interessante é que eles dão para esse sistema, o nome de "grade" do sistema de ensino. Na realidade, está sendo instalado aí, a rede do pensamento condicionado e isso aí vai acrescentando mais dor àquela dor original da família disfuncional. Tudo isso que a gente está explicando é para tentarmos entender, compreender a formação, a origem do desejo; compreender o seu ciclo vicioso. 

Então, o que a nossa experiência tem demonstrado é que, a prolongada exposição, do aprendiz, da criança indefesa, psiquicamente vulnerável, a prolongada exposição dela à tal sistema educacional — que na realidade é um sistema de formatação — transforma a criança numa máquina de pensar reflexo condicionada, reagente a predeterminados padrões; a função desse sistema é condicionar e moldar o espírito do aprendiz, o espírito da criança, de modo a confinar-lhe o entendimento num limitado conceito totalitário do mundo, transformando essa criança, num autômato mental, que já não exerce mais a capacidade do pensamento, mas é pensada, ela é totalmente controlada por essas vozes que são vozes, imagens de símbolos que ficam arquivados ali nas células da memória, no nosso fundo psicológico (assistir o filme: "Sobre o Domínio do Mal", com Danzel Washington). Então, se a gente tiver que resumir, essa família disfuncional, essa cultura disfuncional, esse sistema de ensino disfuncional, não prepara o homem para a independência psicológica e para a maturidade emocional; ao contrário, eles acabam "amestrando" o ser humano, fazendo dele um instrumento dependente e dócil, na mão daqueles que detém o poder, seja o governo como o empresariado, ou as religiões; acabam tornando o ser humano menos apto para o enfrentamento de novos e inesperados desafios, e um agente da manutenção e continuidade  do círculo sistêmico. Devido a sua capacidade de percepção estar totalmente adulterada, todo ser humano vai defender àqueles que o tornam cativo daqueles que tentam, de alguma forma, através de alguma expressão artística, mostrar o quanto que somos prisioneiros dentro de nossas celas bem decoradas, em condomínios fechados, atrás de sistemas de segurança. Veja só como que vivemos num processo de profundo medo e ansiedade e como que acabamos defendendo aqueles que estão nos tornando cativos.
           
(continua)

20 junho 2012

Um Poder Superior chamado observação

Bom dia caros confrades despertos, poetas quase mortos, resgatados para a experiência curadora da Grande Vida! Que esta fala encontre a todos com excelência no agora, mesmo que esse momento de excelência se mostre momentaneamente desestruturantemente estruturante. 

Gostaria de estar falando um pouco a respeito da ampliação gradual daquilo que em anônimos, convencionamos chamar de a importância na crença em um Poder Superior para a possibilidade de recuperação. Inicialmente, em meu caso, quando cheguei em anônimos, não mantinha nenhum tipo de crença em valores absolutos; não alimentava a mínima relação diária com qualquer ideia de Deus. Se havia um Deus, o mesmo era a manifestação egocentrada de correr atrás da satisfação, quase sempre de maneira totalmente irresponsável e descabida, de meus instintos básicos, degenerados pela ação da influência da rede do pensamento condicionado, em outras palavras, daquilo que convencionou-se chamar de “egoísmo”. Foi devido ao imenso desespero causado por aquilo que chamo de “depressão iniciática” é que comecei a buscar por uma ideia, um conceito, auto-criado, de uma força que pudesse fazer frente a tamanho sofrimento emocional. Inicialmente, esse poder superior foi para mim, a experiência de cura relatada pelos membros mais antigos. Com o passar do tempo, comecei a criar uma ideia de Deus conforme a minha imagem e semelhança, o qual, apesar de ilusória, serviu ao propósito de iluminar meus primeiros passos no terreno espiritual do que hoje chamo de “ego-conhecimento”. No entanto, com o passar dos anos e com o aumento dos desafios de crescimento consciencial que se apresentavam, foi se tornando claro para mim, a ineficácia de ação daquele Deus criado pela minha adoentada imaginação. Com muito medo é que dei início a um profundo e minucioso inventário da eficácia daquela ideia preconcebida de Deus para a solução dos conflitos, que não mais diziam respeito aos padrões de comportamento de ativa que me trouxeram até as Irmandades, mas sim, referente aos conflitos existenciais que brotavam de camadas mais profundas de um ser de sensibilidade abafada. Foi num ataque de profundo pânico que cheguei ao fundo de poço referente à morte da concepção pessoal de Deus. Não foi nada fácil, me ver completamente só, sem o apoio psicológico de uma ideia de um ser responsável por me manter afastado do desequilíbrio que eu mesmo criava, pela não observação das situações em que estava diretamente ligado. Não foi fácil perceber que, a influência da crença numa ideia de Deus é que me manteve por anos e anos, num estado de “irresponsabilidade emocional e psíquica”, irresponsabilidade essa, manifesta na ideia de jogar no “colo de Deus” os resultados de um modo de vida totalmente insano e reativo, devido ao total sonambulismo causado pela identificação ilusória com a rede do pensamento condicionado, o qual até então, acreditava que era a realidade de minha natureza. Deu-se um longo período de sofrimento psíquico, o qual denomino de “Síndrome de Abstinência da Crença em Deus”; foi um momento de muita instabilidade emocional, o qual, se não tivesse tido a sorte de poder contar com a amorosidade, atenção e presença de minha esposa Deca e de meu companheiro Naian, talvez não teria conseguido fazer frente, uma vez que, nesse período, a mente me bombardeava com a ideia obsessiva compulsiva pela opção de suicídio. Foi mesmo pela ação da Graça que, naquele momento, pude ouvir a fala mansa e suave em meu coração, a qual me dizia que, o que se fazia necessário, era uma espécie de consciente “egocídio” e não de um inconsequente suicídio. Foi com ajuda de meus companheiros, mais a leitura atenta e assídua dos textos extraídos dos livros de Krishnamurti, Osho e Joel S. Goldsmith, que consegui fazer frente às dores da desestruturante estruturante faze inicial de reconexão com o Ser que sou, com a Consciência que sou.

Foi graças a esse período fecundo da morte da necessidade da ideia de Deus para o alcance de uma “pseudo-segurança psicológica”, é que se abriu aquele importantíssimo portal que separa os autônomos adultos responsáveis, dos pedintes adolescentes dependentes. Foi nesse momento que, com a totalidade do ser que sou, cheguei a descobrir que, “a observação sem escolhas, sem julgamentos, sem nenhuma manifestação reativa, se mostrava um Poder Superior, ao antigo modo mecânico de reagir às constantes investidas mentais, emocionais e sensórias que causavam toda forma de identificação reativa, fragmentária, divisória e profundamente estagnante”. Foi graças a essa percepção que consegui me libertar do pesado alçapão que me mantinha no escuro e limitante porão da dependência psicológica, trazendo assim, a luz de um observador capaz de me ajudar no desfrute de uma nova maneira de estar na vida de relação, agora, muito, mas muito mais “antenado”. Foi aqui que descobri que, se existe um Deus, este, é do exato tamanho do espaço de meu vazio e insatisfação e que, se eu insistisse preencher esse espaço, de forma insana — como sempre fizera no passado —, com vários tipos de coisas vazias (inclusive com o vazio da ideia preconcebida de um Deus), nunca poderia ser por tocado em meu interior, por “Aquilo” que os limites da palavra, assim tentam expressar.

O que se seguiu então, após a morte psicológica de Deus, foi um estado de maior percepção e visão, um estado muito mais consciente de estar na vida de relação, onde, pela primeira vez nesta existência, o bom senso, com ajuda da razão e da lógica, começaram a dar espaço para a manifestação de uma Inteligência Criativa, nunca antes, sequer, imaginada. Aqui, todo passado foi reavaliado, revisto, como quando se assisti um filme pela segunda vez e se tem a impressão que o mesmo nunca tinha sido assistido com toda intensidade. Novas percepções profundamente fundamentais começaram a surgir a partir de então, entre elas, o grande despertar ao me deparar com as palavras contidas no princípio espiritual do 5 Passo, onde, as palavras “natureza exata”, causaram-me uma espécie de “Derrame de Percepção”; quase que de forma instantânea, deu-se um releitura de todos esses princípios, sejam os Doze Passos, como as Doze Tradições. Agora, a antiga identificação que havia me reunido aquelas irmandade — a identificação com um padrão comportamental específico —, acabou caindo por terra, dando de imediato e de forma holística, visceral, a compreensão de que a “natureza exata”, o “fator X” de toda manifestação de conflito humano, tem sua origem no processo mecânico, reativo da rede do pensamento condicionado. Ocorreu também a visão da possibilidade da formação de um grupo de homens e mulheres, trabalhando conjuntamente, as questões que apontam para o processo de conscientização dos limites enclausurantes da identificação com a rede do pensamento compulsivo condicionado. Como a ideia deste texto, não é o de contar a nossa história, mas sim, apontar para a promessa básica expressa tanto nos princípios espirituais dos grupos anônimos, como nas entrelinhas das observações feitas por Jiddu Krishnamurti, sigamos adiante com as nossa observações referentes ao que convencionamos chamar de “o processo”.

Nossa experiência acabou demonstrando que, para a devida assimilação deste novo paradigma, o qual torna zero todo o nosso antigo pacote de vivências e conhecimentos, se faz necessário que, aqueles que com esse paradigma se deparam, precisam trazer em seu interior, uma profunda inquietude, uma profunda insatisfação, um quase que insuportável tédio diante da mesmice presente em “todas as suas atividades”. Percebemos que, para que este novo paradigma — que aponta para a descoberta pessoal daquilo que somos  —, ou se preferir para a ocorrência de uma “experiência religiosa”, ou aquilo que nos anônimos, em seu 12 Passo, é chamado de “despertar espiritual”, nosso desperto confrade necessita estar farto de buscar por segurança psicológica, tanto em transitórias “posses materiais, emocionais e sensórias”, como em seu desgastado e embolorado pacote de crenças, conceitos, achismos, incertas certezas emprestadas, bem como no conhecimento livresco e institucionalizado. Precisa também ter observado por si mesmo, a falência contida na promessa social de satisfação por meio da conquista de reconhecimento, prestígio social e poder; uma espécie de “alergia” à tudo isso, às repetidas frases de impacto que em nada impactam e que não contatam a realidade daquilo que somos, precisa estar fortemente fundamentada em nossa anima e psique. Percebemos que, se o confrade ainda sente algum tipo de prazer mórbido em alimentar o ciclo vicioso do pensamento compulsivo por meio de profundos ressentimentos, melindres, ciúme, inveja, limitados pontos de vista, com suas imaturas necessidades de atenção, este, ainda não alcançou o tão necessário estado interno de prontificação, o qual somente através dele é possível lançar as bases da estrutura deste novo paradigma. Quase sempre, este confrade que ainda se encontra nesta “morada de consciência”, acaba sendo vitimado por seu inconsequente ataque de birra glorificada, a qual o impele ao doentio isolamento emocional, que nada tem a ver com a fecundidade dos períodos de retiro, silêncio e solidão, tão necessários para a instalação de um modo de vida sóbrio, sereno, equilibrado e feliz, dotado de um real estado de unidade interna entre mente e coração e, como resultado, um modo de ser, onde não mais se faz necessária as antigas influências de doações psicológicas de fora. Foi a duras penas, estas colhidas nas dolorosas e separatistas experiências de “saídas do ser”, que viemos a constatar que, a Inteligência Amorosa e Criativa, não entra em casa suja, não entra em bola dividida. Portanto, se quiséssemos saber por experiência direta, única e intransferível, a realidade vivida por tantos homens e mulheres que, no decorrer da história, foram tidos por santos ou loucos, uma enorme faxina juntamente com a reorientação de nosso desejo, proveniente de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, manias e tendência, se fazia urgentemente necessário. Foi neste momento que, de forma visceral, compreendemos a simbologia expressa num antigo preceito espiritual, o qual nos diz que “não se pode servir à dois senhores”; ou escolheríamos continuar sendo governados de forma insana, pelo conteúdo desconexo de nossa mente, ou então, pela primeira vez em nossa existência, ousaríamos buscar pela excelência do ser que somos, busca essa que teve seu início, quando, pela observação do conteúdo de nosso fluxo mental, com ele deixamos de nos identificar, passando assim, a dar o devido espaço para a escuta atenta da fala mansa e suave, contida desde sempre no Sopro que nos habita, o qual tem sua morada no silêncioso espaço de nosso coração. Foi desse modo que, boa parte de nossos primeiros membros, pela primeira vez em sua existência, começaram a se sentir parte integrante e responsável na imensa tarefa de cuidar do ser, trabalhando assim, pela cura de nossa adoentada humanidade.

Mediante a este estado de percepção, foi que nossa mente começou, sem o esforço de nossa parte, a ocupar seu divido lugar, colocando-se tão somente como uma servidora de confiança, sobre o amoroso governo de uma Inteligência Amorosa e Criativa, a qual se manifesta na Consciência que somos, quando, em silêncio, à ela nos prontificamos. Na escuta atenta dessa “Presença” que nos habita e na qual somos, foi que encontramos a revelação de nosso propósito primordial e comum, que é o de sermos uma ferramenta limpa, afiada e profundamente cortante, para a transmissão de uma mensagem de cura — cuja essência é amor-compaixão —, que em última análise, é a essência dessa Presença Única que somos.

Foi por meio dessa experiência que viemos a constatar que, a Inteligência Criativa está na percepção da insanidade de se permitir a continuidade ilusória da ideia de uma “vida pessoal”, pautada na crença também ilusória do “livre-arbítrio”, quase sempre alicerçada numa estressante e autocentrada espiral de desejos e medos, e na percepção consciente da necessidade de transcender esse modo “umbigóide de ser”, para se aventurar de bom grado, na descoberta de um estado impessoal, que é puro amor, real sentido de viver e serviço não condicionado. Foi por conspirar pelo alcance desse “sagrado portal”, por esse sadio estado de ser, que nos foi revelada uma nova maneira de viver, de estar na vida de relação, tanto com nós mesmos, com a natureza e com demais seres humanos, dotada de infinitas possibilidades quânticas de revelações profundamente estruturantes, nunca se quer, antes imaginadas.

Descobrimos também que, para a possibilidade do estado de humilde prontificação, capaz de criar o terreno fecundo para a ação impessoal do despertar da inteligência criativa, se faz necessário que o amor à Verdade, que a paixão pelo Real, se faça infinitamente superior à qualquer ilusória e infundada exigência psicológica, sensória. Não estamos nos referindo aqui, é claro, a natural necessidade de ter garantido o devido alimento e abrigo. Estamos nos referindo à ilusória busca de segurança psicológica, seja por meio do acúmulo de posses facilmente cambiáveis, seja na busca de prazer imediato, na busca de poder e prestígio, ou então, na tentativa de controle sobre outros seres humanos.

O “processo de despertar” vai trazendo, em boa parte dos casos — o que não significa uma regra —, uma crescente percepção de uma calorosa presença interna, uma espécie de núcleo interno, o qual se faz mais perceptível, na região coronária, cardíaca, presença essa que é indizivelmente abarcante e que traz em si, uma carga energética, profundamente pacificadora, recentrante e amorosamente criativa. Quando essa presença, com sua característica energia, se faz manifesta, silêncio, inação e total entrega, são os estados necessários que permitem a ação impessoal, a qual produz os descondicionamentos de camadas por vezes, ainda de nós, inconscientes. Essa presença, com sua energia amorosa, sem o nosso conhecimento, vai fazendo os “devidos ajustes”, para que possa ocorrer o necessário espaço interno para que a consciência que somos possa finalmente “reencarnar” nesse organismo, há décadas encarnado por uma “persona umbigóide”, o qual, com ajuda da família e tradição cultural, nos identificamos como sendo “eu”, o “ego”.

O estado de abertura e entrega, o qual chamamos de “estado de prontificação”, é que nos afasta da nefasta identificação com a rede do pensamento condicionado, afastamento esse que permite a amplitude do espaço necessário para a manifestação de maior potência qualitativa da consciência que somos. Para que a amplitude desse necessário espaço interno se faça uma constante, se faz necessário a prática da “atenção plena” aos ataques mentais de nosso pequeno ego, com suas exigências, crenças, achismos e limitados pontos de vista. Na ausência desse “estado de atenção plena” — que em sua essência é meditação  — é que se torna possível de repetição, toda forma de recaídas, toda forma daquilo que convencionamos chamar de “saidinhas do ser”, toda forma de ilusória, reativa e separatista reação condicionada.  Tal qual o lema dos escoteiros, se queremos desfazer o laço que em nosso coração impede a manifestação de uma partilha responsável de amor-compaixão, se faz preciso estar “sempre alerta” — o que não significa a vivência de um estado de tensão — no que diz respeito a observação, sem escolhas, do desconexo e automático fluxo de imagens e monólogos recorrentes em nossa mente. É preciso estar atento aos “gatilhos mentais, emocionais e sensórios” os quais “disparam toda forma de ilusória identificação reativa separatista, porque, uma vez disparado qualquer um desses gatilhos, seja ele qual for, não há como deter o dano causado por nossa “egocêntrica munição” — tanto a nós como para aqueles com quem tentamos nos relacionar —, sendo que em muitos casos, tais danos pela adulteração transmitida, se mostram quase sempre impossíveis de reparação.

O estado de atenção plena — sem esforço de nossa parte —, é o que podemos chamar de a “essência da humildade”; prontificação, humildade, reparação, observação atenta e imediata, meditação não reativa, que parecem ser os ingredientes necessários para a possibilidade da ocorrência daquilo que chamamos de “experiência religiosa”, ou, se preferir, como na linguagem dos grupos anônimos, de “despertar espiritual”, ou então, como nas palavras de Jiddu Krishnamurti, “o despertar da inteligência criativa”, o estado de “percepção criadora” ou mesmo, o estado de “percepção pura”. Muitos tem sido os nomes com os quais os homens tem tentado, de forma limitada, simbolizar a manifestação “Daquilo”, “Daquela Coisa”, a qual não pode ser alcançada por símbolo algum. O símbolo, por ser uma expressão do pensamento, e, portanto, uma projeção do conhecido, nunca será capaz de fazer frente à imensidão dessa “coisa” desconhecida, uma vez que o pensamento é profundamente limitado diante da ilimitada realidade dessa Presença de Consciência Amorosa e Criativa. Essa parece ser a essência da vivência religiosa de homens e mulheres que, no decorrer da história, tem sido considerados como anjos e demônios, santos e loucos, mas, como costumamos a dizer, é graças à esses loucos que chega ao mundo a divina loucura que à tudo cura, bem como, a loucura do mundo.  

Segundo demonstra nossa experiência, não há identificação ilusória que não possa ser suprimida, por intermédio de um estado meditativo de atenção plena, de observação consciente, a qual nos libera da antiga necessidade de esforço. Isso precisa ser muito mais do que uma agradável ideia aos ouvidos; precisa ser um estado natural de ser. Quando entregamos aos cuidados de uma observação consciente, os conteúdos desconexos de nossa mente condicionada, é que possibilitamos a manifestação de um espaço interno necessário para a escuta atenta da fala mansa e suave que habita no sopro quente da chama curadora de nosso coração único. Aqui, já não existe mais um “eu” e um você”; cai por terra o que convencionou-se chamar de “ilusão de separatividade”, ilusão essa que abre espaço para a possibilidade de toda forma de reativa, fragmentadora e separatista insanidade.

Gostaria de encerrar esta fala, com um texto da autoria de José Trigueirinho, extraída de seu livro, “Aos que Despertam”, editado pela Editora Pensamento:

Somente em céu límpido e claro podem ser vistas as estrelas. Assim, aqueles que buscam o contato com mundos distantes recebem com gratidão os ventos que dissolvem as nuvens e removem a poeira que obscurece a visão. Aquilo que dos planos internos conduz o ser pode levá-lo a viver provas que, como esses ventos, vêm transformar aspectos da consciência que tolhem o trabalho espiritual. Ventos que, com sua música penetrante, anunciam verdades em símbolos que só o silêncio pode decifrar.
Já é tempo dos homens descobrirem o poder da irradiação puramente espiritual. Quando a energia do ser vai sendo depurada, ela passa a preencher lacunas na aura planetária, passa a curar, a regenerar e transformar. Isso deveria ocorrer de maneira espontânea; todavia, para que na face da Terra possam emergir trabalhos de irradiação vinculados à Hierarquia, é preciso que os homens reconheçam o valor das palavras e se resguardem de usá-las inadequadamente. Então, o som e o silêncio poderão unificar-se; serão percebidos em grau de profundidade que só é possível quando a consciência transpõe os níveis de superficialidade e se liberta dos vícios que adquiriu desta civilização.”   
Bem, é isso que veio para falar!

Agradeço pela atenção dispensada, tanto a si mesmo, quanto ao conteúdo aqui compartilhado. De coração, espero que o mesmo possa se mostrar de alguma forma útil, em seu processo de abertura para novas moradas de consciência, no ser que nos faz ser, sendo.

Um fraterabraço, um beijo em seu coração e um chute em suas canelas! 
Outsider44

19 junho 2012

Abandonando as forças retrógradas


Bom dia confrades despertos! espero que, quando vocês estiverem se deparando com este áudio aqui, vocês estejam vivenciando bons momentos, com excelência no agora; que estejam com uma mente serena e um coração sensivelmente amoroso; que os melindres que nos separam e nos distanciam e nos fragmentam, tenham ficado do lado de fora do aposento em que agora vocês se encontram. Que possamos pegar todo material, toda ocorrência deste momento, para material de salto quântico de consciência; para novas moradas de consciência e não para alimentar nosso birrento, rancoroso, divisor, intriguista "éguinho umbigóide"; profundamente melindroso, profundamente reativo, profundamente birrento, profundamente preconceituoso, profundamente rotulador, profundamente separatista; que nos distancia, não só de nossa verdadeira natureza, como da vida de relação com as demais pessoas que nos cercam. 

Então, para a gente começar esta fala, para começar este encontro de hoje, eu gostaria de dividir com vocês, um pequeno texto da autoria de Trigueirinho, extraído do livro "Aos que Despertam", que foi editado pela Editora Pensamento; o]encontra-se na página 59 e o capítulo desse livro se chama: "Abandonando as forças retrógradas". Vamos lá:

Para que um indivíduo descubra e libere a luz de um mundo ainda ofuscado pelas trevas, é preciso que a luz tenha sido despertada em grau suficiente nele próprio. Um imenso serviço é prestado quando existe no ser a predisposição para encontrar elementos evolutivos em qualquer situação que se lhe apresente. Essa abertura ao que é superior coloca a consciência em condições de assumir as tarefas indicadas pela Hierarquia, e exprime-se como virtudes à medida que o ser se vai aprofundando em níveis de impessoalidade.     
Vivemos um tempo de conscientização madura da realidade, e doa abandono das fantasias. É um tempo de elevação. Aproxima-se o momento em que o solo estará lavrado, e os escolhidos, os auto-convocados, serão chamados a semear os padrões futuros que já deverão ter assimilado. Por isso, é preciso reunir hoje o que há de mais puro e elevado em cada fato e em cada expressão da vida.
A atmosfera psíquica da Terra chegou a um ponto tal de tensão que não é adequado ao homem lidar com os aspectos negativos em si mesmo ou no ambiente que o cerca. Por outro lado, ao perceber o que há de espiritual em cada situação, a energia positiva nela presente dissolve os vínculos com forças involutivas que possam ali existir.
O trabalho de repelir as forças retrógradas está a cargo de consciências excelsas, intocáveis pelas trevas. Aos homens cabe a entrega ao Plano Evolutivo. Sempre haverá algo mais a aprofundarem nela. Quando deixarem de pensar em si, o destino espiritual que lhes está reservado poderá manifestar-se. Para isso é preciso fé.
Esse foi o texto, eu começo sempre o meu dia, começo sempre esse dia que me é apresentado, primeiramente com alguma leitura evolutiva, que é uma maneira de, a cada manhã, não perder o contato com a força amorosa, que se manifesta no Sopro que sou, nessa consciência que sou; porque, foram anos e anos, levantando de forma automática, totalmente sonâmbulo, e me agarrando novamente às máscaras de fantasias daquele "euzinho umbigóide", egoísta, mesquinho, prepotente, arrogante, petulante... Vomitando sabedorias livrescas como se fossem suas; criando disputas, intrigas, fofocas, maledicências; vivendo preso em constante estado de ansiedade, de medo,de angústia, de solidão, de separação, sem saber, nem de perto, nada, nada, nada, do que possa ser a verdadeira realidade consigo mesmo, a verdadeira realidade de uma intimidade consigo mesmo, com a vida, com a natureza e com os demais seres humanos ao meu redor. Então, logo cedo, a primeira coisa que faço, é esse processo de recentramento; a prática da "Presença"; porque, sem a prática dessa "Presença", sem essa consciência amorosa e inteligente, se manifestando, a única coisa que eu consigo, é dar continuidade a esse conflito que permeia a vida de todos, que permeia esse mundo maravilhoso: essa confusão, que é resultado de uma crise de consciência; crise de consciência essa que ocorre devido a nefasta e ilusória identificação, de nós mesmos, como sendo esse "éguinho umbigóide", profundamente melindroso e reativo; profundamente infantil, adolescente e que não conhece nada da verdadeira maturidade emocional e psíquica, que traz uma qualidade totalmente nova à vida de relação.

Então, esta é uma irmandade, uma confraria, em que eu vivo dizendo, que é um "momento" que separa adultos dos adolescentes; os adolescentes birrentos não vão aguentar ficar nesta sala; eles vão fazer como que na infância: vão pegar a bolinha deles, a bonequinha deles e vão sair correndo, porque eles não querem crescer; eles não querem perceber que o problema não está em nenhuma situação externa, que o problema está em nós, no modo como reagimos à tudo aquilo que se apresenta em nosso cotidiano, momento à momento. Os adolescentes, não vão querer saber de estudar os princípios espirituais; eles vão querer saber de defender sua pequenina, egocêntrica, melindrosa e reativa "personalidade", montada ao longo dos anos, num colecionar de imagens, memórias, experiências, que não foram iluminadas pela luz da lógica, da razão, do bom senso e de um coração amoroso. Então, os adolescentes, vão continuar saindo pelo mundo à fora, cuspindo suas certezas incertas, sempre emprestadas da sabedoria livresca, institucionalizada, pela qual passaram; não vão fazer o trabalho, de perceber aonde é que eles precisam tocar realmente; para onde eles precisam direcionar a energia vital que são, a atenção que são.

O problema não está em nenhuma situação externa! O motivo de nossas angústias e sofrimento não está em nenhuma situação externa; está na falta de maturidade psíquica, emocional; essa que, uma vez não presente, faz com que nossa vida, seja uma sequência de conflitos separatistas, que nos distanciam tanto de nós mesmos, de nossa verdadeira natureza, de nossa realidade, daquilo que realmente somos, que nos separa também, dos demais que, amorosamente, abrem suas portas, abrem seu ouvidos, abrem seus corações, para compartilhar um pouco daquilo que tem qualificado o seu dia a dia.

Então, aqui é um local, que eu vou estar sempre falando, e eu sei muito bem, por experiência própria, que vocês não vão gostar nem um pouquinho do que vocês vão estar ouvindo aqui; porque, o que vocês vão ouvir aqui nesta sala, contraria tudo o que você ouve em outras salas; contraria tudo, a maneira como você "acredita" que você "tem que" ser tratado: nós queremos só o sorrisinho, nós queremos só o colinho, nós queremos só o tapinha nas costas, nós queremos só que o outro diga para nós como somos inteligentes e "bacaninhas"... Se é isso que você quer, existem várias salas por aí; existem várias instituições, que não estão preocupados com a realidade "que você é"; que estão mais preocupadas em falar aquilo que você realmente gosta, entendeu? Mas que, em favor disso, mentem a mão na sua carteira. Aqui nós não vamos meter a mão na sua carteira e nem vamos passar a mão nessa sua "personalidade birrenta, infantil e imatura".

Que as nossas palavras sejam realmente cortantes e duras, como bisturi, como diamante; mas que possam propiciar, a abertura necessária na parede do seu orgulho, da sua soberba, da sua arrogância, da sua petulância, para que você possa perceber a irrealidade do sonho que você vive, dessa existência sem vida, sem qualidade, sem intimidade, sem o desfrute da verdadeira liberdade do espírito humano.  O remédio aqui é amargo, é doloroso; aqui é para quem, realmente, quer se auto-descobrir, não para quem quer se auto-iludir, através do "novo"; não há espaço aqui, nesta sala, para isso! Há espaço para perceber que tudo que estiver ocorrendo aqui é para fazer um "espelhamento", para que você possa "se aperceber de suas reações", do seu modo "reativo, mecânico e acelerado de reagir, de disparar vozes, falas, achismos, conceitos dentro do ser que você é"; e que impede de você perceber "Aquilo" que você realmente é.

Esta é uma sala, para todos aqueles, que estão cansados de ficar apresentando somente o seu "lado A" na vida de relação superficial. momentânea; que estão a fim de apresentar aos outros aquele "lado B", que só papai e mamãe e os irmãos conhecem; que só a esposa, os filhos e o cachorro conhecem; Não é? E que só você mesmo conhece quando deita sua cabeça no travesseiro e a culpa, o remorso e a vergonha e o medo, e a ansiedade, roubam-lhe a capacidade de uma noite sem sonhos, sem pensamentos; só o nosso corpo físico dorme, nossa mente é vitimada pelos resquícios de uma vida sem inteligência psíquica. Então, nos sonhos, nosso interior tenta botar ordem naquilo, naquela desordem, que nós colecionamos na nossa vida de relação, momento à momento, em nossa vida diária.

Então, aqui, é uma confraria, que não vai ser muito agradável aos ouvidos daqueles que ainda sofrem da "Síndrome de Peter Pan" ou do "Complexo de Cinderela"... Com certeza, não vai ser nada fácil se deparar, com a realidade dessa irrealidade que apresentamos para nós mesmos e para o mundo que nos cerca. Tudo aquilo que é negado, tudo aquilo que não é trazido à luz, não pode ser transmutado, não pode ser transformado. Então, aqui, você vai ter que fazer uma escolha: puxar o seu banquinho e aceitar o modo como isto aqui está sendo apresentado para você, ou pegar todas as suas mazelas ocultas, todas as suas tendências ocultas, todas as suas manias ocultas, todo o seu sofrimento oculto e abafado com alguma droga de escolha, receitada ou não, e sair por esse mundo de Deus, distribuindo sua doença, aos menos precavidos, infectando os outros com sua doença; adulterando os outros com a adulteração sofrida e que você carrega com você, de modo inconsciente, até hoje.

Então, este que está aqui conversando com vocês, não tem o mínimo interesse de ficar passando a mão na sua cabeça adoentada; eu estou mais a fim de abrir a sua cabeça adoentada, pra ver se entra um pouquinho de luz e você perceba, a insanidade de optar por continuar alimentando esse "serzinho birrento" que você traz aí com você e que te separa da possibilidade de saber o que é uma vida dotada de real amor; uma vida dotada de verdadeiros relacionamentos... Nós dizemos que temos amigos, mas nós não sabemos o que é ter amigos e nem ser amigos; nossa hipocrisia, nos impede de vivenciar isso. O menor risco, nessa "imagenzinha" e nós passamos a ser membros criadores de intriga, de discórdia, de maledicência. Enquanto não percebermos isso, em nós mesmos; enquanto não percebermos que o problema nunca está nas situações externas, mas que o problema está aqui, "no freguês", aqui nesse "cabeção condicionado", profundamente reativo, profundamente imaturo, profundamente infantil, profundamente rancoroso, ressentido, melindroso, e que desgasta uma energia violentíssima para apresentar o contrário, que é um ser dotado de sabedoria, de percepção, de inteligência, de amorosidade, de fidelidade, de companheirismo... Que fidelidade e companheirismo é esse que, no menor risquinho, eu saio vomitando nos ouvidos dois outros que "ainda" me dão atenção, essa maledicência, essa língua venenosa, separatista?

Então, aqui, é um momento em que cada um precisa fazer a sua escolha daquilo que quer para a continuidade de seus anos vindouros, tendo consciência de que não sabemos quanto tempo ainda temos pela frente; não sabemos aonde que está a chama de nossa vela. A vida não é democrática! Ela não nos avisa quando a próxima depressão vai bater em nossa porta, quando a doença fatal vai bater em nossa porta, quando o momento fatal vai bater em nossa porta. E, de modo mecânico e inconsciente, nós continuamos arrastando o mesmo modelo de vida, que tem nos impedido de saber por experiência direta o que é "vida em abundância", o que é vida com qualidade, o que é vida com a possibilidade infinita, quântica, de relacionamentos dotados de amor e compaixão. Nós não sabemos o que é amor e compaixão! O que chamamos de amor, não passa de apego parental, apego sensório, controle, ciúmes, posse... Vivemos uma vida totalmente equivocada!...

Então, amigos... Eu peço á vocês, muita seriedade, muita paciência e muita atenção plena à tudo que ocorre dentro de vocês, em cada linha que vocês leem em nosso blog, em cada fala que vocês escutam aqui. Peço para que vocês percebam como não conseguimos ficar sentados diante desse micro, realmente ouvindo, com a totalidade do nosso ser; percebam como somos facilmente distraídos e desviamos nossa atenção para outras atividades que nos distraem e que, ao nos distrair, corta a percepção daquilo que realmente somos.

A proposta, tanto dos grupos anônimos, como das experiências postuladas, pelas observações postuladas por Krishnamurti, nos apontam para um "processo" de descondicionamento mental, que possa propiciar um estado de "prontificação" e de abertura de nossa mente e coração, para que "a natureza real daquilo que somos", para essa "consciência que somos", possa tomar o seu espaço que agora é ocupado pela identificação ilusória com esse "éguinho umbigóide", melindroso, rancoroso e maledicente; esse "éguinho" vazio, solitário, medroso e infeliz. A proposta final  dos Doze Passos é nos levar à uma experiência direta de Deus, à uma experiência religiosa, sem a qual não tem como saber o que é um estado dotado de amor e compaixão, de total entrega desinteressada à uma consciência maior, amorosa, inteligente e criativa; capaz de trazer à nós, a nossa originalidade, a nossa espontaneidade, nossa criatividade abafada por esses condicionamentos limitantes e profundamente estagnantes, e profundamente separatistas, fragmentadores, que impedem a manifestação de uma verdadeira intimidade com outro ser humano.

Então, esta sala, não é para quem quer continuar se enganando, não é para quem quer continuar fazendo parte do coro dos contentes; esta sala é para quem percebeu que não vive com propriedade, que não sabe o que é felicidade, que não sabe o que é liberdade, que não sabe o que é amorosidade; é uma sala para quem está cansado de mentir para si mesmo e de mentir para os demais com quem entra em contato. Aqui ninguém vai te dar receitinha, aqui ninguém vai te prometer o céu sem o menor esforço; aqui nós vamos é te convidar, te incentivar, para que você ouse, arregaçar as mangas, sair do seu comodismo, sair do seu achismo e derrubar suas zonas de conforto que impedem que você caminhe para novos patamares de consciência. Para isso, não é esta fala que vai te ajudar; é aquele material que está contido em nosso blog, e que está contido nos livros perdidos nos vários sebos pelo país à fora, porque, infelizmente, conteúdos que realmente potencializam transformações psíquicas, não se encontram nas prateleiras das livrarias que só estão preocupadas com seus lucros e não com a qualidade de sua mente; as livrarias estão cheias de livrinhos que fazem cócegas no ego, que acariciam o nosso ego, que alimentam a formação de uma personalidade doentia e competitiva; é isso que nós vamos encontrar: receitas de como ser um vencedor, não receitas de como sermos "comungantes", comungar, respirar de um ar comum... Não! Receitas para sermos um "vencedor", para passar por cima do nosso irmão; é isso que você vai encontrar nas livrarias! Então, livros que potencializem uma consciência que comunga e que não consome, você não vai encontrar nas prateleiras dessas livrarias; você vai encontrar nos sebos e, raramente. Ok gente?

Então, o trabalho, não está nestas falas; estas falas servem apenas de espelhamento, serve apenas para dizer que outro ser humano, cansou de mentir para si mesmo, cansou de bancar que "tudo está bem!", de apresentar coleções de "tudo bem!", "está tudo legal!", "está tudo numa boa!"... Cansou disso!... teve coragem de sentar com o tédio, com a sua insatisfação diante da mesmice, ir fundo e ir descobrindo, percebendo irrealidades que o mantinham afastado dessa realidade, que vem se apresentando momento á momento, num constante crescente. Eu não estou pronto! Aqui não há nenhum ser iluminado! Não há nenhum ser realizado!  As emoções, fruto do pensamento, ainda tentam entrar aqui e roubar o estado de bem-estar comum, alcançado aí, á duras penas, nesse processo de "ego-conhecimento". Estamos aí na caminhada, caminhando juntos, talvez, um passinho na frente, meio passo à frente, mas caminhando! Com uma percepção muito grande do que está ocorrendo na mente, nos impulsos separatistas que esta mente insiste em trazer à cada momento.

Então, o que nós podemos pedir para você, é que tenha paciência consigo mesmo, que dê uma chance ao seu coração, e não de sair repetindo, reagindo rapidamente aos impulsos que sua mente adoentada, condicionada, ao longo dos anos, insiste a fazer de você mesmo. Preste atenção aí, o que é que ocorre dentro de você quando se depara com este áudio, com estes textos; preste atenção aí! Veja o que essas falas, aí na sua mente — que você acredita ser você — ficam pedindo para você. Sem a instalação desse "observador", que observa a si mesmo com um certo espaço, com uma certa distância, a qual impede a identificação reativa, vai ficar muito difícil de você permanecer aqui conosco... Você vai ser mais um que vai sair dessa sala aí, cuspindo lagartas, larvas, cobras, lagartos, não é, a respeito do que ouviu aqui, sem ter tido a menor compreensão da beleza que está sendo colocada á sua disposição, de forma totalmente graciosa; nós não queremos nem o seu "obrigado!"... Nós não precisamos do seu "Obrigado!"... Nós não precisamos da sua gratidão!... Nós não precisamos de um centavo da sua carteira!... Tudo está sendo colocado aqui de forma graciosa... Nós não precisamos nem que você saiba qual é a personalidade que está falando atrás dessa fala, ou atrás desses textos. Então, antes de você sair tecendo os seus achismos, preconceituando, rotulando, causando intrigas, debruce-se na entrelinhas e perceba o que esses símbolos limitantes que são as palavras e as letras, estão tentando apontar para você! Acho que já está mais do que na hora, de você saber por experiência direta,  o que é a verdadeira liberdade do espírito humano!... Saber por experiência direta, o que é uma verdadeira intimidade consigo mesmo, para com outro ser humano e a Vida — essa maravilhosa Vida —  essa natureza maravilhosa, que se apresenta e que você não tem o mínimo de tempo e de percepção para senti-la.

Nós estamos tão acelerados, tão apressados, tão condicionados por essas séries de compromissos desnecessários, os quais assumimos por não ter o exercício do bom-senso profundamente instalado em nós, que não temos tempo para desfrutar de nada; não temos tempo nem para desfrutar do olhar daqueles que nos são mais próximos. Vivemos uma vida mecânica, padronizada, mesmerizada, sem qualidade... estamos profundamente estressados e tentando disfarçar esse estresse com dentes de porcelana, ou com dentes quimicamente adulterados para apresentar um "braquinho"que possa o amarelo de nossa insatisfação cotidiana. Então, aqui, esta sala é uma sala para quem quer pagar o preço, de jogar fora as suas máscaras, arrancar os seus papéis aí, jogar os seus papéis no chão, aí, e descobrir a si mesmo, descobrir a Consciência que é; e depois fazer o caminho de volta e ajudar nesse trabalho de tentar facultar um modo de despertar nosso irmãozinho que ainda dorme, devido a ilusória identificação com essa imagem que ao longo do anos, com o incentivo da família, da educação e da tradição, ele inconscientemente vem alimentado.

Então, é isso o que eu tinha para falar; eu espero que você ouse dar essa oportunidade para você mesmo; trata-se da sua existência sem vida; eu espero que você perceba, que os inimigos não se encontram do lado de fora! Os inimigos se encontram dentro desse seu cérebro embotado, formatado, programado, dividido, fragmentado... O inimigo não está fora!... O inimigo a ser "observado" — nem é para ser combatido —, é só para ser observado, encontra-se dentro, dessas falas mecânicas, dessas imagens mecânicas, aceleradas, que se passam dentro da sua mente, e que de forma inconsciente, você permite um estado de identificação, que rouba-lhe a alegria de viver, que rouba-lhe a energia vital criativa, onde, sem o seu exercício, sua vida não pode deixar de ser uma vida mecânica, imitativa, rotineira, entediante, insatisfatória, causadora de um constante estado de ansiedade, medos infundados, e insatisfação.

Então, nós aqui deste lado, torcemos para que você escolha pela maturidade psíquica, emocional; que tenha coragem de se abrir para perceber esse "eguinho birrento" que está aí... Perceber!... pela percepção do falso, o falso se desmonta — sem necessidade de esforço —; a única coisa que é necessária é um estado de "prontificação"... Estar pronto para ver isso! E, estar pronto para ver isso, significa estar cansado de alimentar os mesmos comportamentos que depois de feitos, você não sabe como lidar com eles; que depois de feitos, acabam destruindo a intimidade que você vinha construindo com os demais. Então é isso que nós queremos trazer para você: a possibilidade de você se deparar com algum material que não faça mais carinho no seu ego, mas que ponha-o ao chão, de modo que não possa ser utilizado mais nada dos fragmentos desse "eu egoísta" que você tem carregado ao longo dos anos.

Então, aqui, é hora de você fazer uma escolha: continuar aí pegando a sua bonequinha, a sua bolinha, não é; o seu carrinho de ferro, e falando "não brinco mais, vou embora!... tem de ser do meu jeito, se não eu não fico!"... Ou se abrir, para aquilo que pode apresentar a maturidade do ser humano. É muito fácil e muito rápido trocar de roupa, mas quanto tempo é preciso para abandonar as máscaras e os papéis que insistimos, há tantos anos e décadas, representar para outro ser humano? Fica aí essa pergunta para você que agora me escuta. Se você está contente com seu modo de vida, nós ficamos contentes por você; se você cansou de contar historinha para si mesmo, nós estamos por aqui, querendo dividir com vocês um material que não vai fazer carinho na sua cabeça! Ao contrário, vai surgir barulho de monte aí! E aí, nós estamos por aqui, para dizer assim: "Oh! Eu te compreendo! Eu também passei por isso! É assim mesmo! Mas continua! vai lá! Volta pra lá! Não foge não! Continua aqui! Vai lá! O que você precisa está aí mesmo — bem no meio do teu coração, muito mais perto do que o sopro que passa no meio das sua narinas —... Não precisa correr para nenhum outro lugar!... Porque atrás das dores que você está sentido aí, se encerram, as sementes da sua integridade, da sua individualidade, que aponta para uma impessoalidade amorosa. Para você conhecer isso, você vai ter que abrir mão desse "eguinho birrento", profundamente umbigóide, que pensa saber o que é o melhor para a vida de todo mundo, mas que não consegue, no entanto, fazer com que você dê um passo no movimento de sua própria vida e se aventurar no desconhecido. Vai ter que largar o colinho da mamãe e do papai e se aventurar no desconhecido de si mesmo... Via ter que encarar seus medos, suas ansiedades, vai ter que questionar os seus achismos, suas certezas, seus preconceitos... E eu te pergunto: Você está querendo ver isso mesmo? Ou está querendo continuar a colecionar mais uma ou outra frasezinha de impacto, que depois você vai fingir que é sua, para apresentar os outros aí, mais uma imagem levemente modificada?  Você vai querer, observar a si mesmo, ou vai querer, continuar com esse "chororô" de que a vida e os outros são os grandes responsáveis pela desdita que agora se apresenta em sua vida?

Nós queremos incentivar você, para que você ouse se aprofundar nesse trabalho de "ego-conhecimento", para que, ao final dessa jornada, em seu momento certo, você descubra a verdadeira sabedoria, que está aí contida dentro desse seu organismo; essa sabedoria que vem trazer uma mensagem ao mundo, da qual você e eu somos apenas mensageiros.

Então, é isso que a gente vem fazer aqui: lançar esse convite! tentar ser pescador de homens e mulheres que sofrem, que estão cansados, cansados, cansados!... De apresentar uma imagem que não engana nem a si mesmo, que não engana nem o travesseiro!... Estamos tentando caçar homens e mulheres que realmente querem ser homens e mulheres e não crianças assustadas em corpos de adultos, percebe?... Criança assustada num corpo de adulto!... Isso é a grande maioria dos seres humanos, brincando de contentes!... Brincando de seres realizados!... Disfarçando a falência interior, com uma coleção de posses exteriores!... Arrotando conhecimento livresco, enquanto são profundamente analfabetos de si mesmos!...

Então, nós estamos aqui, interessados nesse ser humano, que está cansado de mentir para si mesmo, que está cansado de mentir para o mundo e que está procurando um espaço onde possa exercer a honestidade emocional, e que possa "pensar alto", expor alto, a ilusão daquilo que passa em sua mente e coração. Se você é um desses, nós lhe damos as boas vindas! Se você não é um desses, nós lhe damos as boas vindas e convidamos para que saia dessa sala e se debruce um bom tempo, em nosso blog, para ver se cai a ficha e você volte, deixando do lado de fora da sala, suas máscaras, suas fantasias, para deixar de representar papéis e descobrir qual é o papel pra que você foi chamado nesta existência, neste espaço e tempo.

Eu agradeço você pelos seus ouvidos amorosos, pela paciência que você teve, consigo mesmo e para com este que agora faz uso do microfone. Um beijo em seu coração, um fraterabraço e um chute em suas canelas!   
Outsider44

Essa Não É a Sua Vida
Papas da Língua

Roubar
Subtrair uma parte qualquer
Da metade do que não é nada
A não ser um pedaço qualquer
De alguém

Matar
Subitamente apagar dessa vida
Um pedaço que é nada mais
Que uma parte qualquer
Da metade do que não é nada
A não ser um pedaço qualquer
De alguém

Viver
Repetir todo o dia a tarefa
De ser um a mais
Uma parte qualquer da metade
Do que não é nada a não ser
Alguém

Morrer
Simplesmente sair dessa vida
E deixar para sempre de ser
Um a mais e de ser
Uma parte qualquer da metade
Do que não é nada
A não ser
Alguém

Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você
Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você

Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história
Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história

Sentir
Sente-se que a metade
De vinte por cento
Dos vinte milhões de mulheres
No mundo
Não sentem nenhum prazer

Saber
Sabe-se que o total de pessoas
Que sabem o que é o amor
É igual a metade
Dos que já não sabem
O que é amar

Falar
Fala-se que só metade
Dos homens que sabem falar
Realmente não falam aquilo
Que sentem e falam e falam

Pensar
Pensa-se que uma parte
Daqueles que pensam
É só a metade dos vinte por cento
Que pensam naquilo
Que é bom para si

Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você
Números, números, números
O que é, o que são
O que dizem sobre você

Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história
Essa não é a sua vida
Essa não é a sua história

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!