O que seria do morango se quisesse trazer consigo o gosto do abacate?
Você já viu o canto triste da Araponga anunciando que na terra vai chover? O que seria da Araponga se quisesse cantar como Sabiá?
O que seria do violino se quisesse dar o som de uma bateria?
O que seria de Freddye Mercury se quisesse cantar como Pavarotti?
O que seria de Charlie Chaplin, se quisesse ter sido Hitler?
A beleza da natureza é que nela, nada se repete; tudo é original.
O que seria do brilho da Lua se quisesse trazer consigo o brilho do sol?
O que seria do Mar se quisesse virar sertão?
Descobrir seus sons, resgatar sua originalidade perdida...
Ser capaz de sentar-se com suas dores; traduzí-las e nelas, deparar-se com uma matiz de singulares cores...
Podemos trazer o discurso mais belo, mas se o que se diz, não for nosso, nos distanciaria de nosso próprio curso.
Se queremos ser livres, precisamos abrir mão de nossas muletas psicológicas.
Precisamos deixar de macaquear as falas alheias; precisamos ousar ser uma luz para nós mesmos... Ascender a lamparina que somos, o luzeiro que somos, com nosso próprio azeite.
A experiência alheia deixa a nossa própria ciência, na espera.
Temos de florescer onde a Vida nos plantou, como a Vida nos plantou.
Não podemos exigir de nós mesmos, de modo descabido, apresentar ao mundo, aquilo que não somos.
Descobrir nosso ar; descobrir nosso tom; descobrir nosso gosto...
Abrir mão de ser lagarta literária, para ousar os vôos de uma borboleta libertária...
Descobrir em nós, o tom que alegremente nos espanta, e que os ouvidos da alma alheia, encanta!
Ousar permanecer silencisoamente inoperante, até encontrar EM SI, algo, realmente relevante.
Isso é que faz de nós, capitães de nossa alma e que faz com que a mesma se aqueça e estremeça, em nosso centro coronário.
É preciso ousar por isso! Pois morrer, sem saber o que é isso, é o mesmo que não ter vivido.
Ousar por essa Presença que, EM SI MESMA, é Energia Pura, é Puro Amor, Compaixão Pura.
Nem sempre o discurso que nos impacta, é aquele que o SI MESMO, em nós, contacta.
Deixar de lado nosso imenso "livrismo" e encontrar no centro que somos, a impessoalidade de nosso lirismo.
Resgatar em nós, nossa dimensão noética, cuja impessoal poética, se traduz numa cortante ética, cuja pureza de beleza, ultrapassa em muito, a mais requintada das cosméticas.
Ousar deixar de ser uma pessoa de segunda mão, para descobrir em si, uma mão que ultrapassa os limites da pessoa.
Momentaneamente ser parte da Confraria dos Despertos, para em seu fecundo tempo, deixá-la, e pelo mundo a fora, sair liberto.
Isso é o que agora trago comigo, é isso que agora e sempre, conspiro para ti...
Deixar de lado a fala viciosa e recentrar-se, em si, numa lucidez contagiosa.
Em vista disso, em excelência, ben haja!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!
Outsider44