Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

25 setembro 2007

Suprema Ambição

Eu estava iniciando a leitura do livro "O que te fará feliz", de Krishnamurti, quando por volta das 11:00 horas da manhã recebi uma ligação do Celsão. Para minha surpresa, o motivo de sua ligação estava embasada no mesmo conteúdo do título do mencionado livro, o que demonstrava a total sintonia que estamos atravessando. Por sinal, esses tipos de sincronicidades tem se tornado cada vez mais marcantes em minha vida. Para muitos, talvez uma simples coincidência, mas para mim, um sinal da Grande Vida, de que não estou me desviando do meu caminho.

- Cuidar do Ser, bom dia!

- Fala JR, aqui é o Celsão!

- Grande garoto! Como vão as coisas com você?

- Quer saber mesmo? Está foda! Muito foda, meu irmão!

- O que se passa?

- O de sempre... Falta de energia e de disposição para me enquadrar na formatação que o sistema apresenta. E tem mais, estou ficando de saco cheio de ouvir os conhecidos me dizendo que tenho que ser um cara mais "esforçado", Você já parou para ver no dicionário o significado da palavra "esforço"?

- Não, diga lá!

- A palavra esforço significa "mobilização de forças, físicas, intelectuais ou morais, para vencer uma resistência ou dificuldade, para atingir algum fim". Em outras palavras, agir sem a naturalidade... Por acaso você se esforça para respirar? Esforça-se para que os fios dos seus cabelos cresçam? Esforça-se para que a s suas unhas cresçam? Toma alguma medida para que os seus glóbulos vermelhos continuem se multiplicando?... Qual é a inteligência que existe em ter que se "esforçar" diariamente para fazer as coisas do cotidiano? Onde existe inteligência nisso? Já parou para ver que tanto a palavra "esforço" como a palavra "estresse" possuem o mesmo prefixo, a mesma origem? O que é um cara estressado a não ser um cara com excesso de esforço diário?... Então, qual a inteligência que há em me esforçar para contrariar a minha natureza? Qual a inteligência em me permitir uma ação que só pode me levar à uma erosão mental e conseqüentemente física?

- Interessante!

- Cara, a cada dia que passa, parece que as coisas estão ficando cada vez mais difíceis; quanto mais consciência obtenho, parece que mais e mais o conflito se instala. Eu lhe pergunto: como ser feliz em meio de tanto conflito?

- Celsão, você sabe melhor do que eu, que não tem como eu lhe dar essa resposta, além do que, eu mesmo compactuo dos mesmos sentimentos seus. A cada dia que passa, sinto maior dificuldade em ver sentido para sair da cama pela manhã. Já comente isso com você antes; sinto que todos os dias acordo para me contrariar. O sentido coletivo é o de se levantar para correr freneticamente atrás dos valores necessários para o custeio da subsistência... Sub-existir... Para mim, isso nem chega a ser existência... Só que cheguei a um ponto em que não consigo se quer me conformar nem com a sub, muito menos com a existência... Você pode até achar que é muita prepotência minha, mas... Eu quero VIDA e VIDA com "V" maiúsculo... Quero VIDA com abundância... Quero estar conectado à Fonte da Vida, como um dia já tive a graça de recordar o que é esse estado de bem-aventurança... Vivenciar novamente aquela Energia inominável cujas palavras e símbolos não podem traduzir.

- Sei muito bem por experiência própria o que você está querendo me dizer, portanto, pode poupar suas palavras...

- Uma vez que se experimenta "Isso", é terrificante a idéia de ter que se conformar ou mesmo se esforçar para viver outra forma de vida.

- O foda Jr, é que as pessoas com quem falo sobre isso ou aquelas a quem apresento seus textos, invariavelmente nos rotulam de maníacos depressivos...

- Pois é! Várias e várias vezes já presenciei esse tipo de reação... Essas pessoas é que se conformam com essa existência sem a menor qualidade de vida, sem tempo para o que é realmente essencial e qualitativo, vivendo e forma acelerada, estressada e repetitiva e eu é que sou o maníaco depressivo... Já ouvi os maiores absurdos que você possa imaginar. Cheguei a ouvir de uma grande amiga, a quem até então considerava uma séria buscadora, a qual se conformou com o estado mediano do conformismo respeitável, qual seria a inteligência em se conseguir o alcance da consciência que tenho hoje... As pessoas preferem não ver com propriedade pelo simples fato de acharem não ter estrutura para ficar com aquilo que é, uma vez que aquilo que é, não ser democrático e não oferecer nenhuma espécie de consolo, conforto ou respeitabilidade.

- Cara, eu fico me perguntando o tempo todo, onde é que vamos parar com tudo isso?

- Francamente? Eu não sei! A única coisa que sei é que este caminho, pelo menos para mim, é um caminho sem volta: todas as pontes têm que ser queimadas. Já vi algumas poucas pessoas chegarem a este ponto e dizerem para si mesmas: "para mim, até aqui está muito bom; não tenho interesse em me aprofundar mais!". Estas pessoas não percebem que, ao optarem pelo o que acham ser "bom", acabam abrindo mão daquilo que é o "melhor". Comigo sinto que não tenho escolha: o lance é seguir em frente... Não dá para morrer na praia... Eu quero VIDA, meu irmão, eu quero VIDA! Quero beber da Fonte da Vida ao invés de me contentar, como a grande maioria, com esses Oasis de crenças, consolos, falsas seguranças e temporária respeitabilidade.

- Eu assino embaixo. Também compactuo dessa "Suprema Ambição". Tem que existir alguma coisa que me faça maravilhar, que me faça perder noites de sono sem perder energia alguma. Quero algo que me dê novamente o encantamento de viver, o desfrute, o maravilhar. Apesar de não ver ninguém vivendo "Isso", sei que "Isso" existe, sei que existe esse estado que não é limitado pelo espaço-tempo.

- Fico me questionando todos os dias o que me falta fazer, ou onde eu possa estar me equivocando. Sinto a cada dia, minha existência se esvaindo em atividades contraditórias, fragmentárias, atividades isentas de Vida e sinto que a grande maioria das pessoas sabem do buraco existente em suas canoas, mas não querem que ninguém fique por aí falando sobre o mesmo. A realidade assusta, meu irmão!

- Porra! Como assusta! Assusta tanto que as pessoas acabam se afastando de pessoas como nós; elas passam a lhe rotular, te deixar de lado, falando mal de você pelas costas pelo simples fato de não compreenderem aquilo que você passou a compreender, numa tentativa de com isso, não correrem o risco de verem algo que possa vir a abalar suas frágeis zonas de conforto. Mas elas são elas! Falar sobre o modo de sub-existir delas não pode de forma alguma me proporcionar por Vida; pode tão somente me servir de consolo e, como bem sabemos, o consolo também é falso...

- Creio que estamos numa sinuca de bico.

- Pois é, Jr!... Se ficar o conformismo pega, se correr a consciência come... Tem que haver uma maneira de sair desse modo dual de se viver.

- Celsão, creio que essa é a grande pergunta que vem motivando homens e mulheres dotados de uma autêntica seriedade. E creio também, que estes ao vivenciarem o insight do "Ah! É então é Isso!", encontraram no compartilhar desse despertar, desse desvelar, um Real Sentido de Vida. Posso até estar enganado, mas, só por hoje, é isso o que me move. Para os outros isso pode até parecer loucura, mas, para mim, essa é a santa loucura, pois ela cura. Não dá mais para viver nesse estado de insanidade mental socialmente aceito e incentivado. O que eles pensam a meu respeito, ou mesmo o que eu penso sobre mim, isso não faz o mínimo sentido. O que faz sentido é aquilo que eu "intuo". Algo no mais fundo do meu ser me diz que essa é a ação verdadeira a ser seguida. Não vou mais me abandonar em favor de uma aceitação doentiamente condicionada... Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante!

- ... Do que ter aquela velha opinião formada a toda instante... É isso mesmo! O lance é ser maluco beleza! Nada de me "esforçar" para ser um sujeito normal e fazer tudo igual! ... Mas eu te pergunto: como conseguir isso? Como estar no mundo sem ser do mundo?

- Cara, o que é remédio para mim, pode ser veneno para você... Vejo que essa resposta é única, pessoal e intransferível... Continue voltado para dentro de você; quem sabe, a qualquer momento o "Ah! É Isso!", ocorra com você. Caso contrário, já sabe o que lhe espera, uma vez que já se encontra diante de seus olhos e, por isso, não vai precisar de muito esforço para constatar. Agora tenho que desligar. Cuide bem do ser que lhe fazer ser e SEJA!

- Valeu Jr! Um abração! Na quinta te vejo na padaria Polar para aquele café filosófico!

- Inté!

24 setembro 2007

Curtas

- JR, eu fico me questionando quanto ao por que dessa busca frenética que as pessoas travam pelo avanço tecnológico. Por que as pessoas precisam estar sempre com o computador mais veloz? Eu fico vendo cada coisa... Primeiro eles criam um MP3 de 100MB, depois de 250MB, depois de 500MG e agora de dois 2 Gigas para ele encher de MP3... Você alguma vez conseguiu ouvir os 250MB de música que você colocou no seu aparelho de MP3?

- Não!

- Está vendo?... Os caras inventam um monte de necessidades desnecessária! Colocam trinta milhões de música e acabam nunca ouvindo nada! Mesmo assim, enquanto não conseguem o modelo mais moderno, não conseguem sossegar o facho. É que nem o computador... Pegam o de última geração e ficam felizes por uma semana! Bacana! Mas para que? Só dá para ler com calma um texto por vez! De que adianta o micro ser mais possante se a sua capacidade de leitura é sempre a mesma?

- Isso é verdade!

- Porra meu! Fala para mim uma coisa...

- Diga!

- Por que você quer um computador ultra-rápido?... Já sei: por que é bom e é mais legal!... Mas para que?...

- Celsão, tem pessoas que realmente precisam de uma máquina mais possante devido o tipo de profissão que exercem. No entanto, a grande maioria, são apenas adictas de tecnologia, são verdadeiros viciados em "Novocaína", o anestésico do novo.

- Eu vejo que as pessoas a cada dia que passa ficam mais e mais viciadas no supérfluo, JR!

- Isso me parece ser um fato, Celsão!

- Eu já notei que as pessoas estão com pressa, mas na real, elas não estão fazendo nada com propriedade!... É verdade, não é brincadeira não! Repare bem! As pessoas estão só correndo e não sabem para onde e o porquê... O que você mais escuta é que as pessoas não têm tempo para nada por que estão sempre apressadas... Tanta tecnologia e não sobra tempo nenhum para elas! Tem alguma coisa errada, cara!

- As pessoas estão ligadas no automático! Isso é tão verdadeiro que quando se pergunta como elas estão, já se tornou corriqueiro ouvir a seguinte resposta: "Estamos aí na correria!"...

- E o pior é que elas ainda acham bacana usar essa expressão! Tem gente que não vê nada mesmo. As pessoas estão tão aceleradas que nem ao menos conseguem se questionar se existe ou não outra alternativa de vida que seja saudável... Elas estão tão comprometidas emocionalmente com esse modo aceleradamente insano de viver que não conseguem sacar nada!

- Olha Celsão, apesar de concordar com você, não vai dar para continuar nossa conversa agora cedo... Tenho que correr para o banco!

- Não falei! Até tu Brutus?

Manhãs de segunda-feira

As manhãs das segundas-feiras tornam-se extremamente pesadas e um tanto nubladas quando não existe paixão pelo que se faz. Não importa a intensidade dos raios solares, quando não existe a paixão, o enamoramento, a expressão de vida pessoal, única e intransferível, as manhãs das segundas-feiras são sempre nebulosas. Elas trazem consigo o sentimento de desajustamento que torna os movimentos pesados e destituídos de graça. Não há como se dançar a canção da vida quando se tem os movimentos atados, não há como haver leveza, beleza e graça.

São nas manhãs de segunda-feira que esse atordoante sentimento de inquietude e incompletude se faz mais acentuado, uma vez distante de toda forma de atividade de distração e divertimento, podemos sentir com profundidade o sentimento em ação que nos torna conscientes de estarmos paralisados no tempo-espaço.

Dizem até alguns conformistas que "devemos" nos apaixonar por aquilo que temos diante de nós, por aquilo que temos ao nosso alcance. No entanto, como se conformar com as quirelas de um incomodo e escuro galinheiro, quando no mais fundo de nosso intimo, um sentimento abafado clama pelas alturas e a luz solar? São nas manhãs de segunda-feira que este sentimento abafado no peito torna-se quase que um grito desesperador.

Como já expresso no dito popular, "a quem mais é dado, mais lhe é cobrado". Creio que o sofrimento do homem é proporcional a sua capacidade de visão, uma vez que o homem vê a vida a partir da consciência adquirida. Uma vez consciente de uma realidade que transcende tempo-espaço, impossível de ser descrita pela limitação das palavras, como se contentar com as flores de plástico, o ar condicionado, as luzes fluorescentes, quando a consciência clama pela natureza, o ar puro e a luz solar?

Como expressar a vida em ambientes moribundos repletos de mortos-vivos?

Como se contentar com atividades de galinhas quando se sabe ter alma de águia?

Como se libertar da míope visão de galinha e potencializar o olhar quilométrico da águia que habita em nós?

São nas manhãs de segunda-feira que as galinhas se reencontram apertadas nos coletivos, nos monitorados galinheiros com suas redes binárias de virtualidade, ansiosamente contando os minutos e segundos para, estressadas, voltarem para seus galinheiros suadamente alugados ou pagos com longos meses financiados.

Bem-aventuradas as águias que despertaram do sono da identificação de serem galinhas, pois é delas a graça, a beleza e a liberdade dos vôos nas alturas...

E assim, de segunda em segunda, nós ainda galinhas, literalmente enchemos nossos sacos à custa do esvaziar de nossas almas!

21 setembro 2007

O Sonho de Jonas

Essa parece ser a feliz sina dos que se chamam JONAS... Tiro meu chapéu!

11 setembro 2007

Vampirismo familiar

- Fala Celsão! Prometeu que vinha e veio mesmo! Você é mesmo um dos meus!

- Promessa é divida brother!

- Então? O que me conta? Quais são as novidades?

- Estamos ai na correria... Parece que a coisa está ficando cada vez pior! Está muito difícil de conviver ai fora, é um esforço danado para não ser engolido pela influencia de terceiros, pela normose operante que prolifera por todos os cantos.

- Nem me fale!

- Cara, hoje estou muito puto! Ainda bem que tenho amigos como você para poder pensar alto.

- Fique tranqüilo, desembucha que a consulta hoje é de graça! Que bicho está pegando!

- Família, cara, família! Sempre a porra da família!

- Que foi agora? Continuam fazendo cara feia por causa do seu modo de vida?

- Quanto a isso eu já não estou mais me lixando... Cada dia que passa, sinto cada vez mais que a família é um dos maiores empecilhos para o real desenvolvimento humano...

- Até aí, assino embaixo!

- Pior cara, que a família não tem nada de familiar! A não ser o consangüíneo, não existe nada de familiar entre eu e os membros da minha assim chamada "família"... Vivemos vidas completamente antagônicas... O que eles buscam não tem nada a ver com as minhas aspirações, meus valores, meu modo de ser e interagir. Não existe nenhuma relação verdadeira entre todos nós; é apenas um joguinho de interesses... Uma série de cobranças e expectativas descabidas. Não existe um real interesse pelo bem estar comum, sempre existe interesses pessoais em questão.

- Como assim?

- Por exemplo: nenhum dos meus irmãos me procura para saber como realmente está a minha vida, minha saúde, não me procura por que sentem prazer de estarem comigo, ao meu lado. Sempre que me procuram é que estão precisando de algo que só eu posso solucionar para eles, de modo gratuito. Sou para eles, uma espécie de tapa-buracos, um despachante gratuito. Suas visitas se limitam ao tempo que levo para solucionar a questão que fez com que eles me procurassem; assim que resolvida a questão, soltam aquele sorrisinho amarelo, dão um beijinho de Judas e vão embora. O pior, é que vivem falando pelas costas a respeito do meu modo de ser. Quer saber? Já estou de saco cheio desse tipo de "vampirismo familiar"... O pior de tudo é que se eu for realmente quem eu sou, expressar meus sentimentos, soltar um "não", ainda tem a coragem de me rotular como "egoísta e carrancudo". Sou egoísta por defender meus direitos abertamente, mas eles não são egoístas por buscarem seus interesses egocêntricos de forma velada (velada só no pensamento deles).

- Sei muito bem do que você está falando!

- Cara, não tem nada de nutritivo neste tipo de relação... Fazemos um jogo, dizemos aquilo que todos desejam ouvir, as palavras devem ser medidas, os modos... Não tem a mínima condição de ser você mesmo... É um saco! Rouba toda a energia... Pior é constatar a co-dependência da parte da minha mãe! Essa é uma tonta! Ninguém se preocupa de verdade com ela, com seus sentimentos, com seu bem-estar... Só a procuram para filar o almoço de domingo, sem ao menos se darem ao trabalho de lavar a própria louça, ou então, quando precisam que ela troque um chequinho... E tem mais: pelas costas, ainda descem a lenha no comportamento da velha! Eu fico me perguntando: será que ela não enxerga isso, ou sua solidão é tanta, que acaba fingindo que não vê? Cara, é só auto-interesse puro! Ninguém está nem aí para ninguém. Você só é querido se tem alguma coisa de valor material para dar, caso contrário, você passa a existir somente nas datas sociais, onde não dá para você ser descartado.

- Sei!

- Cansei, JR! Não estou mais com estrutura física e mental para agüentar tamanha hipocrisia e vampirismo. Estou a fim de começar a usar aquele aparelhinho que você inventou: o Fodômetro!

- Eu também percebo que não existe nada de familiar no chamado "seio familiar", pois cada um vive valores e crenças totalmente antagônicas. Não existem mesmo uma genuína preocupação entre os membros. Ao contrário, existe muito ressentimento e sentimento de culpa, os quais ninguém se atreve a trazer a tona. É um peixe podre que mata a autentica intimidade entre os seres humanos. Por exemplo, aquilo que já conversei com você, nenhum dos meus irmãos, pai ou mãe já ouviu e, tenho certeza de que se começasse a falar, não teriam a mínima disposição de compartilhar. Somos verdadeiros estranhos, cujo parentesco encontra-se somente no fator sanguíneo e no sobrenome do RG e CPF. Fisicamente, documentariamente somos da mesma linhagem, no entanto, na psique, no emocional, ou se preferir usar a desgastada palavra "espiritual", somos de classes totalmente diferentes. Não existe nenhum conjunto de gêneros afins, nenhuma linguagem, nenhuma unidade espiritual, muito menos inclinação. Saímos da mesma raiz, mas somos frutos totalmente diferentes. Há muito tempo que já rompi com essa dependência psicológica com eles e percebo a cada dia que passa, que estamos nos distanciando cada vez mais. Se olhar de olhos bem abertos, o que se constata é um aglomerado de pessoas de péssimo relacionamento interpessoal, com objetivos muito divergentes, alguns dormindo na mesma cama e vivendo sonhos separados, ligados somente pela conta conjunta... É um verdadeiro baile de máscaras!

- Cara, você é mais irmão para mim do que o meu próprio irmão. Você não tem o menor tipo de auto-interesse sobre mim; sempre demonstrou boa vontade em saber a respeito do que sou e de como estou. Nunca fiquei por tantas horas com um irmão meu, assim como fico com você. E a pior das constatações é esta: quando saio daqui, saio revigorado e quando saio dos "malditos almoços de domingo", saio totalmente acabado, de ressaca e a segunda é uma verdadeira rebordosa.

- Conheci vários dependentes químicos que cortaram os laços com os familiares, pois toda vez que entravam em contato com algum deles, acabam não sabendo lidar com as cobranças e as próprias reações emocionais os levavam a voltar ao uso do químico.

- Faz sentido! Toda vez que tenho um atrito com eles, me bate uma puta compulsão por sexo ou por comida!

- É triste constatar esse fato, não é Celsão?

- Cara, se é! Mas tenho que mais uma vez dar à mão a palmatória para você: é um baita vampirismo socialmente aceito e incentivado. Eles não querem que você abra os olhos! Querem você dormindo, um perfeito humanóide e não um ser por excelência.

- Você sabe que feriado foi comemorado nesta última sexta-feira?

- Sim: a independência do Brasil...

- Quando você vai decretar a sua? Está esperando por um príncipe de outros mares? Ligue-se!

- O lance é andar com colar de alho e crucifixo no pescoço!

- Mesmo assim você ainda corre o perigo de uma cunhada sua pedir uma cabeça de alho do seu colar, ou então o crucifixo para usar numa festa de casamento...

- Fazer o que, né Jr, família é prá essas coisas!

10 setembro 2007

O Pálido Ponto Azul

Manipular ou desmanipular-se? Eis a questão!

Não podemos conhecer a identidade dos anônimos manipuladores planetários. No entanto, podemos observar como nos identificamos com seus condicionamentos, pelos quais, muitos neste planeta, anonimamente se permitem serem por eles manipulados. É por meio dessa observação que se distingue o adulto do adolescente.

Do irreal ao Real

Aplique sua observação na direção do despertar da inteligência amorosa e criativa, pois a mediocridade e a normose não precisam da sua atenção voluntária; elas são a resultante natural da sua renúncia à excelência do ser.

09 setembro 2007

Uma Estética sem ética

Uma estética sem ética

Nunca estivemos vivendo uma época em que a preocupação com a estética sobrepôs-se de tamanha forma a preocupação com a ética como nos dias de hoje. Revestimos nossas bocas com dentes de porcelanas, mas temos a alma cariada. Nos vestimos de "marcas famosas" para esconder dos outros nossas "marcas desconhecidas" originarias de nossa educação medíocre, disfuncional e estúpida. Fazemos lipoaspirações das gorduras do corpo, mas mantemos nossas mentes com a gordura do embotamento dos condicionamentos e preconceitos disfuncionais oriundos da tradição familiar e social. Investimos nosso tempo e dinheiro em benfeitorias estéticas, mas não nos damos o tempo e a seriedade necessária para a formação de uma consciência apurada e assim nos mantemos num estado de mediocridade, insensibilidade e pobreza de espírito. Lustramos a porcelana, mas não trocamos a água estagnada do vazo.


07 setembro 2007

Nutrindo-se com sopa de letrinhas

O dia amanheceu com uma beleza indescritível; o céu de um azul vivo, sem uma nuvem se quer, fazia ofuscar as vistas e todas as flores pareciam se entregar aos fortes raios solares.

Krish, nosso pequenino e negro cão, como de costume, refestelava-se à sombra do canto direito das escadas da entrada de nossa casa, enquanto que Tuca, nossa maritaca, parecia querer brindar a beleza da manhã através da sua barulhenta cantoria.

Há uma leve brisa que não consegue fazer frente à forte temperatura dos raios solares e, mesmo embaixo da sombra da pequenina pitangueira, o calor é bastante intenso, quase que insuportável.

Como parte da minha rotina das manhãs, eu estava apreciando uma boa leitura quando, ela com sua amiga, no mesmo horário de sempre, dirigiam-se para uma das agências bancárias local. Desta vez, quebrando o protocolo da rotineira expressão "bom dia", questionou-me:

- Quantos livros você lê por dia?

Com seriedade no olhar lhe respondi:

- Quantos livros você lê por ano?

Ela bastante surpresa com o teor da minha resposta, um tanto sem graça e tentando esconder sua vergonha diante de sua amiga, respondeu:

- Nenhum! Quer saber? Eu não leio nada!

- Por que você faz isso com você?

- Sei lá! Na real, prefiro ouvir FM.

- Não sente necessidade de nutrir sua mente?

- Não, de modo algum.

Com o olhar reflexivo e coçando a rala barba de meu queixo, lhe respondi:

- Sei! Eu também já fui assim um dia...

Pude perceber pela mudança da qualidade do seu olhar, que a minha resposta lhe deixou meio que fora do ar. Ela virou-se para a sua amiga que apenas observava nossa conversa em silêncio, numa tentativa de perceber o que sua amiga tinha entendido do teor da minha resposta e, como ela não proferiu uma palavra se quer, voltou-se para mim e novamente questionou:

- O que você está querendo dizer com isso?

- Nada não! Estava apenas pensando alto! – Lhe respondi com um leve sorriso.

- Sei! Então tá! Deixe-me ir, pois a fila do banco já deve estar saindo para fora da agência; você sabe como é o banco nas vésperas do dia dez.

- Fique a vontade! Aproveite a fila do banco para pensar no que vou lhe dizer agora... Creio que enquanto você está perdida em seus pensamentos na espera da fila, está desperdiçando uma ótima oportunidade de conversar com homens e mulheres que enxergaram a vida muito mais longe que a mediana humanidade. Creio que não é só de alimento sólido que todos nós precisamos: nossa mente também precisa de alimentos nutritivos; uma sopa de letrinhas de vez em quando, em nada pode lhe fazer mal...

Puxada pela sua inseparável amiga, com um sorriso um tanto sem graça, fez-me um ligeiro aceno e seguiu com seu caminhar acelerado.

Assim como ela, durante minha adolescência, nunca nutri o hábito salutar por uma boa leitura, dessas que nos impulsionam em direção à excelência do ser que somos. Limitava-me quase que diariamente ao colorido das imagens das revistas eróticas ou ao resultado do caderno esportivo de um jornal qualquer, sendo que este último não tanto dedicado quanto às primeiras. Meu hábito pela leitura teve seu inicio com o advento do meu primeiro inverno existencial e confesso que dentro daquela atmosfera nublada com seus inúmeros trovões emocionais, não me foi possível uma boa assimilação do conteúdo. Minha imperiosa necessidade de encontrar respostas para os meus conflitos provenientes de uma adolescente existência sem vida é que gerou em mim esse hábito salutar pelas leituras nutritivas. Hoje, aos meus quarenta e três invernos, já não sinto a mesma necessidade de fazer uso dos livros de terceiros para poder ler o livro que sou.

Ao olhar para aquela jovem, caminhando freneticamente pela calçada ao lado de sua amiga, meu sentimento foi de tristeza. Por não ter desenvolvido o hábito da leitura, talvez passaria uma existência inteira –assim como muitos -, sem chegar nem ao menos no prefácio do livro que é e, desse modo, se boicotando de um dia, conscientemente criar a abertura necessária para o rompimento do anonimato de seu autor, o mesmo que há séculos vem nos brindando com a beleza das manhãs.

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!