Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

30 setembro 2009

Diário de um insatisfeito

Penso-me vazio
Das coisas vazias
Das quais os vazios
Pensam plenos estar.
E este vazio
É tão dorido e solitário
Que não encontro sequer
Um ateu solidário.
E vazio questiono:
Falta-me qual atitude
Para o alcance
Do vazio em sua plenitude?
Talvez, a ciência
Da real resposta
Seja o que os santos
Chamam Virtude.

...........

E em meio deste vazio
Sem eco, pergunto:

Como pode contentar-se
Com uma cela decorada
Quem por milésimo de segundo
Já sentiu sua alma alada?


29 setembro 2009

Letargia Globalizada

Visíveis
Invólucros
Vazios
Desprovidos
De real vitalidade.

Aceleradamente
Buscam em sua
Superficialidade
Transitórios
Valores temporais.

Insensíveis à dor
- Portal da interna realidade –
Seguem vitimas inconscientes
Da sistêmica impessoalidade
Que os transformam diuturnamente
Em meras “coisas descartáveis”
Caso não funcionais à engrenagem.

Renunciam com isso
Às suas individualidades
Em favor do tal
"Mundo globalizado"
E amarrados
Ao mesmo se adaptam
Feitos robôs mesmerizados
A espera de um final
Por ele adoentado.


25 setembro 2009

Contrariando François-Marie Arouet


Certo dia de sua vida, disse Voltaire: 
"O trabalho espanta três males: o vício, a pobreza e o tédio"
................

Certo, digo neste meu dia:

Se Voltaire,
Aqui volta-se,
Espantado ficaria,
Com os males que
Hoje o trabalho propicia:
O vício, a pobreza e o tédio.

Nelson Jonas
.................................................
A escravatura humana atingiu o
seu ponto culminante na nossa época
sob a forma do trabalho livremente assalariado.
George Bernard Shaw

Achei um semelhante

Insatisfação

Que há "alguma coisa" há...
Um não sei o que
Um sintoma de vazio
Uma insatisfação que não explode de medo
Do medo de algo indefinido
Não se pode precisar se é só aqui ou em todas as partes mas, que há "alguma coisa " há.
Uma desesperança...um desestima...
Um encantado desencanto
Uma vontade de parar e nunca mais se mexer.
Uma vontade de se mexer até cair parado.
Uma ânsia de escutar as respostas do que não se pergunta.
Uma angústia de não saber a quem perguntar.
Talvez você não entenda...mas você sente...
Sente no peito...na cabeça...nas mãos...nos cabelos...nos bolsos
Que há "alguma coisa" há
Vaga...indefinível...preenchendo tudo...
Envolvendo tudo...nos fazendo nada...

Hélio Ribeiro

Justificando o injustificável

Toda vez que ouso citar abertamente meus sentimentos de insatisfação diante do itinerário da mesmice, sempre surgem os "consoladores de plantão" que de forma direta ou indireta se posicionam com suas falas conformistas. E o que mais tenho aprendido com isso:

As pessoas adoram citar frases prontas de terceiros para tentar justificar o injustificável: seus contagiosos comportamentos de rebanho.

24 setembro 2009

Cinzas

11h56min; metade do dia nublado está prestes a findar, no entanto, o itinerário da mesmice permanece.

Já não faz mais sentido buscar por escritores com seus apontamentos de como ou não levar a existência e por essa razão, as estantes das livrarias e sebos já não possuem mais o brilho e as cores inebriantes de tempos idos.

Jornais, política, futebol e as vazias conversas de balcão com bafos de leve teor alcoólico, nem pensar.

Das comunidades on-line, nada mais tenho em comum, afinal, nelas, não encontro pessoas assumidamente insatisfeitas como eu. Grande parte de seus membros diariamente dividem postagens repletas de “intelectuais verborréias iluministas”, ou então com sagazes críticas e, em nenhuma delas encontro ecos de insatisfação permanente.

Ao contrário da grande maioria, o dinheiro nunca me causou paixão, sempre se mostrou um porre. Aliás, concordo plenamente com uma frase que li num espelho de um bar, noites atrás:

“Se dinheiro falasse, para mim diria sempre: adeus”.

Quanto às conversas e jogos comerciais com “tabelas de preços para trouxas”, onde triplicasse o justo valor, para fingir um falso desconto, - você as deve conhecer bem, ou por aplicá-las ou por fingir acreditar nelas – as mesmas, se mostram profundamente cansativas e destituídas de sentido.

Lidar com o “imediatismo pão-durista” da totalidade dos clientes que se apresentam é algo que a cada dia que passa me causa mais e mais asco. Talvez, você ao ler este texto, se ainda estiver na fase dos livros de auto-ajuda que em nada ajudam, tipo “The Secret”, estará me psicoanalisando e rotulando que estou atraindo o que está no nível de minha energia. O fato é que já não tenho mais estomago para isso e a cada dia que passa, ganhar o tal do “pão nosso de cada dia com o suor do meu rosto” está se mostrando um verdadeiro inferno. Para não ter que dedicar muito de meu tempo nesse tipo de atividade desgastante e profundamente alienante é que simplifiquei ao máximo a minha existência. No tocante a vocação, não dá mais para fazer como um pobre ser diante do cardápio de um restaurante, onde este, primeiramente vê o valor do prato e só depois seu conteúdo. Enquanto a grande maioria corre atrás de valores destituídos de real valor, eu busco por conteúdo... No entanto, infelizmente tenho que ser honesto e afirmar que até agora, conteúdo desconheço. E o que é mais triste: tudo e todos à minha volta tem se mostrado profundamente vazios... De Real conteúdo, nada (inclusive eu).

Confesso que não está sendo nada fácil, de cara limpa, sem qualquer tipo de anestésico socialmente aceito, atrás de um pálido sorriso amarelo esconder minha insatisfação diante de uma existência sem sentido... Nada tem se mostrado capaz de tocar profundamente este Ser que me faz ser nesta mesmice sem sentido. Nada!...

Se ao menos encontrasse outras pessoas assumidamente insatisfeitas... Já cheguei a pensar seriamente em fazer um anúncio procurando-as... Por vezes chego a pensar que esse tipo de pessoas são seres em extinção...

O que percebo é que a grande maioria não consegue nem se perceber como um ser insatisfeito, que dirá então, conseguir ficar com o resultado de sua insatisfação... Elas se apóiam em desculpas extraídas das falas de profissionais que afirmam “falta de lítio no cérebro” para poder embotá-las com algum tipo de calmante “top de linha”...

Elas gastam suas economias em lipoesculturas, botox, seios e bundas siliconadas, mas não se atrevem a olhar para a mediocridade de uma existência condicionada. Aliás, nunca como nos dias de hoje estivemos vivendo uma época em que a preocupação com a estética sobrepôs-se de tamanha forma a preocupação com a ética. As pessoas revestem suas bocas com aparelhos e dentes de porcelanas, mas matem a alma cariada. Vestem-se com "marcas famosas" para esconder dos outros suas "marcas desconhecidas" originarias de uma educação medíocre, disfuncional e estúpida. Fazem lipoaspirações das gorduras do corpo, mas mantêm suas mentes com a gordura do embotamento dos condicionamentos e preconceitos disfuncionais oriundos da tradição familiar e social. Investem tempo e dinheiro em benfeitorias estéticas, mas não se dão o tempo e a seriedade necessária para a formação de uma consciência apurada e, desse modo, se mantêm num estado de mediocridade, insensibilidade e pobreza de espírito. Elas lustram suas porcelanas, mas não trocam a água estagnada do vazo que são.

É uma verdadeira “torrente de inconsciente insatisfação”. A grande maioria não tem noção... Será que para você um pouco de tudo isso que estou escrevendo faz sentido?...

Há poucos minutos, fiquei puto da vida com um recado que recebi de um conhecido pelo Orkut; não propriamente com ele, mas sim, com a situação humana de se contentar com essas balelas de vídeos enlatados que a cada dia que passa prolifera por todos os cantos da rede. Imediatismo on-line... Frases prontas que tem como verdadeiro intuito, distrair para vender... Vender livros, palestras, seminários... Palestras e seminários não! A palavra em português não chama tanta atenção, não vende... Tudo tem que ser cópia americanizada... Neste caso, a palavra correta é “Workshop”... Call to action, mailings lists, brockers, fulfillment, Agreement, benchmarking, business, B to B, B to C, entrepreneur, follow up, leadership, management, trend, advertising, brainstorm, customer care, customer share, commodity, budget, spread... Nada disso faz sentido para mim...

Parece que é PECADO falar abertamente ser um ser insatisfeito. As pessoas quando me escutam dizer isso, demonstram incomodo através de suas reações corporais, e partem logo para o estoque de "conselhos de prateleira", para as "comparações aleijadas", ou então, mudam de assunto. Isso é automático. Não acredita? Faça o teste! Se nada disso ocorrer, pode ter certeza que apelam para a velha desculpa:

- "o papo está bom, mas deixe-me ir, pois estou com pressa... Tenho que passar não sei onde para fazer não sei o que, senão, ficaria aqui para falar de algo que nem sei o que é"...

Também tem sempre um engraçadinho que para fugir da seriedade do assunto vem logo com aquelas piadinhas normóticas:

- "Tá insatisfeito?... Vai trepar!"

E sabe o que respondo?

- Nem trepar está me satisfazendo.

Então a pessoa me olha assustada achando que estou com problemas no relacionamento afetivo, como se isso tivesse a ver com a minha performance ou da minha companheira... Não se trata de performance ou quantidade. Nada tem a ver com o outro, é algo totalmente pessoal, que acaba tirando o poder do maior condicionamento humano, que é o sexo. O instinto sexual é um fato, agora, a idéia secularmente preconizada da realização do ser através do sexo é uma falácia... Sexo tântrico... Piada. E quando falo isso, os defensores do sexo logo gritam:

- Mas o sexo é uma necessidade fisiológica!

Pois é! Percebo que a grande maioria só corre atrás de suas "necessidades fisiológicas"... Mente, alma, espírito, ou seja, lá o nome que se queira dar, nada! Nada do invisível, só do visível.

- E como é que pode o visível preencher essa profunda necessidade do invisível?

E aí, a pessoa emudece, segurando o queixo. Coça a cabeça e diz:

- Pois é! Agora, tenho que ir. A gente se fala outra hora.

E mais uma vez, sob o céu cinzento, feito as cores da minha solidão, deparo-me com a mesmice e a insatisfação.

21 setembro 2009

Percepções

Vaidade,
Vaidade,
Vaidade...
Vai-se a idade
E o Real,
Não vem.

03 setembro 2009

Móveis campos de concentração

07h30min.
Metrô; linha norte-sul.
Valor da passagem: R$2,55, para ter o direito de ser uma das nove ou dez pessoas num m2.
Inicia-se a cotidiana batalha civil.
Em cada estação, pessoas lutam para entrar; outras para sair e grande parte, para no vagão permanecer – mesmo que sem qualquer ponto de apoio.
Em algumas estações, onde a concentração é maior, pessoas, como gado, são enfileiradas em modernos currais. Abrem-se as portas e com elas outro estouro de manada...
Nas paredes dos vagões, adesivos políticos afirmam o governo trabalhando para você, prometendo para 2010, 4,5 milhões de passageiros.
Com dificuldade as portas são fechadas, assim como a expressão do rosto das pessoas, que absurdamente, cotidianamente aceitam esta situação como algo normal.
Enquanto isso, os políticos com seus motoristas particulares, em luxuosos, blindados e arejados carros públicos, confortavelmente lêem as últimas no jornal.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!