Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

Aviso

Este texto, uma pérola rara da autoria do Prof. Huberto Rohden, retrata bem os meus sentimentos:

"Muitos dos leitores que tiveram a coragem de avançar até aqui, estarão escandalizados com as “heresias” que o autor apresentou. Para esses vou acrescentar umas palavrinhas de explicação e, quiçá, de reconciliação.

Meus caros amigos “ortodoxos”. Eu não tenho intenção alguma, como, aliás, já frisei no prefácio, de lhes arrancar do coração uma “fé” sem a qual a sua vida seria horrivelmente frígida e insuportável. Pelo contrário, recomendo-lhes sinceramente que conservem e cultivem a sua “fé”, enquanto dela necessitarem para sua tranqüilidade e consolação interior. Esse apego ferrenho ao que apelidam a sua “fé” é sinal certo de que dela necessitam ainda; que sem ela seriam infelizes, como que suspensas no vácuo, sem base sólida sob os pés. Ninguém deve abandonar uma idéia ou uma doutrina antes que o possa fazer com espontânea naturalidade e sem nenhuma dilaceração interior. Enquanto uma fruta está muito presa à haste, é sinal, geralmente, de que ainda não está madura. Só se deve abandonar uma idéia ou uma doutrina quando se pode fazê-lo sem nenhuma violência psíquica, sem nenhuma hemorragia moral, com espontânea facilidade e verdadeira alegria de espírito, porque isto é prova de que chegou o tempo da maturidade e que a alma está pronta para um novo passo, rumo ao reino de Deus.

Quando o bicho da seda chegou ao termo da sua vida de lagarta, enclausura-se num casulo de fios de seda, que tira da própria boca, não para ficar sempre nesse invólucro, mas para proteger o seu misterioso sono de crisálida contra possíveis inimigos externos, e, destarte, preparar tranqüilamente o seguinte estágio da sua evolução. Seria insipiência não querer enclausurar-se no casulo protetor — e insipiência não menor seria não querer, a seu tempo, romper o sedoso invólucro a fim de atingir a sua metamorfose final de borboleta alada.

Enquanto o leitor sentir a necessidade interna de repousar dentro do seu lindo casulo, tecido da substância da sua filosofia e teologia, não saia desse abrigo acolhedor. Não se esqueça, todavia, de que qualquer casulo de humana teologia e exegese, por mais lindo e sólido, não passa de um “meio”, e não é um “fim” em si mesmo, e tem de ser usado tanto quanto servir para a consecução do fim supremo e último do homem, que é o pleno conhecimento, amor e posse do reino de Deus. Seja, pois, o leitor sincero consigo mesmo, tanto no “conservar” como no “abandonar” qualquer sistema de pensamento, de conformidade com o seu destino supremo. Não idolatre, não se enamore, não se agarre fanaticamente a nenhuma filosofia, teologia ou exegese. Deus é absoluto e definitivo, mas todos os nossos conhecimentos sobre Deus e seu reino são relativos e em constante evolução.

Não pense, pois, o caro leitor que eu lhe queira arrancar as muletas de que se serve para andar nos caminhos de Deus. Use as suas muletas enquanto lhe forem necessárias nessa longa jornada — mas não se esqueça de que elas são um meio, e não um fim em si mesmas. Bem sei que é melhor andar de muletas do que ficar estendido à beira da estrada. Nada tenho contra suas muletas; tolero-as enquanto necessárias — estou interessado unicamente em ajudá-lo a adquirir saúde perfeita, em encher de vigor espiritual a sua alma. No dia e na hora em que meu ignoto amigo tiver adquirido essa saúde e esse vigor, não lhe darei ordem para jogar fora as suas muletas — porque o amigo já as terá abandonado espontaneamente e correrá jubilosamente nos caminhos do reino de Deus.

No caso que o irmão em Cristo não possa ainda compreender o sentido desta linguagem simbólica, nem tenha a coragem e a humildade de aceitar o que lhe digo, não se irrite nem se revolte contra o autor — mas retire-se freqüentemente à intensa oração e abisme-se profundamente na comunhão com Deus...

E compreenderá...

Com os meus mais sinceros votos de que você seja livre, leve e solto!


Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!