Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

28 abril 2009

A crença é um veneno para a inteligência

O homem tem vivido na estupidez porque todas as religiões do mundo enfatizam somente uma coisa: a crença. E a crença é um veneno para a inteligência. O novo homem que eu visualizo, não terá nenhum sistema de crenças e não terá nenhuma fé. Ele será um buscador, um investigador, um questionador. Sua vida será uma vida de descobertas tremendas, descobertas no mundo exterior e descobertas no mundo interior... Se o novo homem não nascer, não haverá esperanças para a humanidade.
Autor: Osho - Do livro: O Novo Homem - Ed. Gente - página 33
Foto: Nelson Jonas

15 abril 2009

Passa Gelol que passa!


- E aí cara, como andas?

- Fala ermano! Beleza? Então; existindo ou vivendo com intensidade?

- Estou aqui na casa de minha mãe... É véio... Acho que estou mais existindo do que vivendo... E você?

- Como diz um velho amigo, muita transpiração e pouca inspiração!... Mas, vivendo o que se apresenta, da forma que é!

- E você, anda freqüentando os anônimos? Faz tempo que não te vejo por lá!

- Não freqüento mais... Águas passadas! Foi bom enquanto não vi a falsidade de tudo!... Ali, ou você se amolda ou é atirado na jaula dos leões! E onde existe qualquer forma de amoldamento, só pode existir o que é falso! Não freqüento mais... Muita mesmice, nada novo!... Não generalizando, mas, ali se encontra muita gente desonesta com ares de espiritualizados. É muita hipocrisia, muito bafo de boca de palanque e doença de bastidores.

- Tenho ido em algumas reuniões perto de casa, mas, confesso que a maioria me dá um terrível sono... É sempre a mesma coisa. É bem como você sempre falou: parece que a gente assiste sempre o mesmo filme, com os mesmos atores com suas falas repetidas e os mesmos sorrisos amarelos.

- Tenho para mim, que não só os anônimos, mas também muitos grupos e religiões são necessários na faze infantil da espiritualidade. Os que insistem em permanecer lá, se tornam medíocres. Não se prenda a primeira visão da palavra "medíocre". Tenho por esta palavra, "aquele que se contenta com o estado mediano". Em outras palavras, aceita sair do inferno, permanecer purgando e não alcançar o céu.

- Faz sentido!

- O que mais vejo nesses grupos é como diz uma música de um falecido poeta, Taiguara: "Só encontro, gente amarga mergulhada no passado, procurando repartir seu mundo errado, numa vida sem amor que eu aprendi"... É o que se constata por lá. Muita gente vomitando o mesmo passado, com ar de glória por tê-lo superado, mas, não percebem que não tem nada de novo para falar... E falam demais por não ter nada a dizer! É isso!

- E você ainda fica na loja?

- Não mais! Estou me dedicando a fotografia.

- Interessante... Lembro-me de ouvi-lo dizer que gostava de fotografar. Com está sendo esta nova experiência?

- Muito boa! Dez!

- E a Deca? Está com você?

- Sim! Ainda trabalha no mesmo escritório, mas, nossa meta, é trabalharmos juntos num estúdio que aos poucos estamos montando.

- Poxa veio, me passa seu novo telefone. Ligo qualquer fim de semana. Você ainda faz aqueles encontros com o pessoal ai na sua casa?

- Não! Parei com tudo! Cheguei a conclusão que é pura perca de energia. Acho melhor cada um em seu quadrado, como diz a música (se é que aquilo é música!).

- Vai ver que é por isso que você se encontra melhor.

- Como sempre digo: bafo de boca não cozinha ovo! Ficar falando sem atitude é insanidade! Isso não significa que eu esteja vivendo num mar de rosas! Para ser sincero, tenho vivido grandes perrenhos! As vezes, até parece que a bucha do canhão é maior!... Ficar com o que é sem buscar por qualquer tipo de distração não é mole não! E olha que distração é o que não falta, principalmente neste mundo interconectado... Sempre tem um site, um blog, um Orkut, um fórum pra gente fugir de si mesmo. Antes era só o rádio, a TV e o Jornal... Hoje temos a NET! E como nos tornamos dependentes dela. Estes dias passei uma experiência e tanta... Fiquei cinco dias sem telefone e internet... Pude ver o quanto nos tornamos dependentes da mesma. Se quiser saber o que estou falando, faça um teste: tente se abster da primeira conexão por uma semana... Depois, fique ligado na síndrome de abstinência que isso dá... É um barato. Tenho visto que a net nos dá uma pseudo idéia de relação, de que estamos conectados de verdade... Pura falácia... Só virtualidade mesmo e nada de relação. Pude ver isso no dia do meu aniversário... Vários entraram no meu Orkut, e, talvez para não ficar chato, deixaram a palavra "parabéns". Sumiram as ligações telefônicas... Já sei, você vai dar a desculpa dos altos custos das tarifas!

- Ehehehe!

- Mas sinto cada vez mais que não faz o menor sentido ficar falando sobre o próprio sofrimento ou então, ficar comentando a iluminação de qualquer ser humano e seus pensamentos sobre como fazer para que se encontrar a felicidade! Dá tudo na mesma: distração e perda de energia que não leva a nada, a não ser, ilusão de se estar vivendo, quando na realidade, apenas se existe sem vida com plenitude!

- É, concordo com você!... Ainda bem que você me lembrou... Eu ainda me esqueço muito fácil disso.

- Cristian, cheguei a conclusão que é possível ficar comigo, aliás, para ser sincero, é bem menos cansativo ficar comigo, ouvindo os meus barulhos mentais, do que ficar no meio de um grupo de pessoas não sérias com seu "blababês"....

- Confesso que ainda tenho muita dificuldade de ficar comigo, veio! O pior é que perdi contato com quase todo mundo da antiga! Acho muito difícil ficar sem conversar com as pessoas.

- Já se perguntou o porquê dessa dificuldade? Do porque de você precisar conversar sobre seu barulho mental?

- Na real?... Não!

- Por que temos esse condicionamento de que "temos que" falar e falar sobre nossos conflitos interiores? Papagaio também fala e isso não é sinal de inteligência! Aqui do lado de casa tem uma senhora que tem um papagaio que canta um pedaço do hino do Corinthians... Pior que tem gente que acha graça no hino do Corinthians e outros, mais ainda quando este é cantado por um papagaio... Por que não deixamos de falar como papagaios e partimos para a solitária compreensão de nós mesmos? Por que é tão difícil ficar no vazio da solidão e na solidão de nossos pensamentos?

- Por mais incrível que pareça, eu sempre tento isso... Não depender psicológicamente das pessoas, mas, parece que quanto mais eu tento, mais eu sofro.

- E qual o problema de ficar sentado com esse sofrimento? Como podemos chegar a compreende-lo se insistimos em nos distrair?... Eu sei! Os músculos não deixam... Parecem que vão estourar... Também passo por isso! Confesso quer ainda não consegui! Sempre acabo recorrendo a alguma forma de leitura, quase sempre do krishnamurti. A mente diz que é melhor isso do que as fugas do passado. Mas é balela!

- Eu também acho. Também tem o fato de eu não gostar muito de falar a real sobre os meus problemas... Por mais que você fale sobre isso e escute algo de proveitoso, se não partir para a ação, sem chance... Você está certo!... Essa papagaiada toda enche o saco!

- E bota papagaio nisso! Aliás, o que mais tenho constatado pela internet, é um bando de papagaios letrados... Papagaios krishnamurtinianos e Eckartollianos então, tem dos mais variados tipos e região!

- Pensando bem, véio, correr aos prantos para o peito dos outros é muito bom quando se é criança. Não pega bem um marmanjo como eu ainda em busca de colo!

- Também acho!

- Mas o foda é que eu não consigo ficar só com meu sofrimento!... Meu corpo sempre me vence! Pelo menos é o que tenho vivido até agora!

- Cristian, ficar com o que é, com o sofrimento, requer uma grande dose de energia e inteligência. Mas quem quer realmente compreender? Quem está a fim de pagar esse preço? Ao contrário, queremos uma ação imediata, tipo aquele spray milagroso que cura instantaneamente os jogadores de futebol...

- Também já reparei nisso... O cara rola de dor por uns dois ou três minutos, ai chega o massagista, mete o tal do spray, ele se levanta fazendo caras e bocas, dá umas três mancadas e volta a correr feito louco junto com mais 21 loucos atrás de uma bola branca, sobre o olhar de outros milhões de loucos, seja no estádio ou pela televisão...

- Não se esqueça do rádio e da Internet... E tem mais: se perdeu, terá vários programas durante a noite e os jornais e balcões da padaria pela manhã... É uma comédia! Uma papagaiada só! Sempre a mesma coisa!

- Também acho... Mas a real é que ultimamente tenho tido uma dificuldade impressionante... Me sinto estagnado, lutando para sair dessa estagnação e isso também me parece loucura... Essa luta para sair dessa estagnação... Pior é que eu não vejo um sentido que aponte para a saída dessa estagnação e ficar com ela é profundamente desgastante, você não acha?

- Eu não acho nada, eu sinto o desgaste! Por vezes me parece que não há inteligência alguma em ficar sentado com esse tipo de desgaste mental... Ficar com o que é, perceber não só a própria mediocridade, mas como a dos demais, enquanto se leva surras e surras do pensamento, é só para homem de saco roxo, como diziam os mais antigos.

- Pois é JR, perceber a própria impotência perante a ação do nosso condicionamento mental é foda! Só uma pergunta: você já fez algum retiro em que a sua intenção era a de ficar com o sofrimento e tal?... Essa idéia vive martelando na minha cabeça... Talvez tenha que fazer um para ver como é que é!

- Ahahahah!...

- Que foi?

- A mente é foda!.. Por que você acha que um retiro num outro lugar qualquer pode mudar algo?

- Ah, sei lá!

- Estou rindo porque eu mesmo já cai nessa! Meu caro, sinto lhe dizer, mas, você pode ir aonde for que sua mente sempre dará um jeitinho para se distrair... Isso é fato! Se tiver que fazer isso, que o faça aqui e agora. Essa é outra manobra da mente! Fuga geográfica! Vá onde for com essa consciência e verá que já esteve ali antes.

- Já estou careca de ouvir que o lance é aqui e agora... Mas minha mente sempre me diz que a resposta estará em algum outro lugar.

- Sei! Noutro livro, noutros braços, noutras camas, noutras mesas, noutro filme, noutra religião, noutro grupo, noutro país, noutro amigo, noutro rosto embotoxado e por aí vai! Prá todo mundo a resposta está em outro lugar! Só que ninguém sabe onde é esse lugar e disfarça pra ninguém saber que o mesmo não sabe! É um joguinho estúpido que insistimos todos em jogar!

- Como diz a Sabrina: ´É verrrdadeee!" Mas o foda é que a minha mente justifica que aqui em casa sempre tem algo que me distrai, que me tira do estado de atenção... TV, sexo on-line entre outros hábitos... Portanto, no retiro poderia me dedicar exclusivamente a ficar com o meu sofrimento, você não acha?

- Claro, você ficaria livre do sexo on-line e passaria a ficar no sexo mental com a garçonete do retiro. Balela!

- Só vou saber quando tiver a experiência!

- Vai fundo, corre e abraça o capeta! Mas já posso lhe garantir que sua mente vai encontrar algo que lhe distraia. Isso você pode ter certeza... Inútil fuga geográfica! Gasto de dinheiro e energia que só resulta em mais frustração!

- É veio, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come!

- Ufa! Pensei que você ia complementar com aquela frase babaca dos que se acham religiosos: "se rezar o bicho foge".

- Não faz meu tipo!

- Também tem aquela outra por vezes estampada em adesivos de carros e camisetas: "Não diga há Deus que você tem um grande problema, diga ao problema que você tem um grande Deus"... Bahhhhh!

- Véio, o papo ta bom, mas vou precisar dar uma limpada no som aqui de casa e daqui a pouco tenho que sair. Manda um abraço prá Deca. Quando eu colocar internet lá no escritório a gente se fala mais!

- A gente fala ou a gente se tecla?... Tudo bem! Beleza! Um abraço e um chute nas canelas!

- Aí!....

- Fala!

- Tem um pouco daquele sprayzinho aí? Fui!



07 abril 2009

Coragem é não agir

O dia amanheceu nublado, igualmente a minha sensação de ser. Por mais ciente que estava dos vários compromissos assumidos para o dia, o corpo resistia em colocar-se de pé.

Ainda sonolento e sobre o olhar silencioso de meu pequeno cão, escovava meus dentes, quando uma enorme sensação de falta de sentido tomou-me por completo. Ela parecia apoderar-se de cada célula de meu corpo, fazendo com que os músculos de meus braços ficassem tensionados como se fossem se romper.

Como de costume, dirigi-me para a padaria para meu café matinal. Casa cheia de rostos que pareciam refletir o mesmo estado de mau humor. Com exceção do dono do mercado, juntamente com dois representantes comerciais, todos permaneciam calados, até mesmo os balconistas. Tomado meu café, segui em direção a banca de jornal, na expectativa de algum novo exemplar com conteúdo fotográfico, algo que pudesse me entreter por alguns minutos que fosse daquele persistente sentimento de vazio e falta de sentido... Para minha tristeza, nada de novidades, o que fez aumentar ainda mais o sentimento de vazio.

De volta a casa, o mesmo ritual: limpar as sujeiras do pequenino cão, preparar sua ração e água limpa. Voltar para a sala, ligar o micro, ficar impaciente com a demora da inicialização do sistema... Iniciar o Windows Live Mail em busca de alguma mensagem interessante e constatar uma verdadeira enxurrada de spans: curso supervisão em call center, extrato da Redcard, anúncio de palestra sobre comunicação e comportamento assertivo, convite para o show histórico do lançamento do novo DVD de um grupo que exalta o samba... Nada com conteúdo que me chame a atenção. Tentei o Flickr, sem novidades. Nos jornais, mudaram apenas os locais dos terremotos e o número de vítimas, os alvos dos sapatos lançados em comicios, os rostos temporários dos candidatos ao milhão do Big Brother e o nome da velha e maior banda de todos os tempos a tocar em São Paulo... É um jogo de repetição que todos insistem em continuar jogando, fingindo não ter consciência de que assim jogam.

Por último, o Orkut, comunidades de leitores de Krishnamurti... Pior ainda, um vomitório só de palavras e mais palavras, um tédio só! Tudo imagem e ninguém revelando o negativo!...

A sensação parece aumentar a cada ação. Impossível ficar parado, o corpo pede por alguma ação. São 10h20m e os músculos já se encontram quase que estourando. É terrível ficar parado observando o vazio, a falta de sentido e as reações corporais. Enquanto observo a extrema necessidade de encontrar por uma ação com sentido, lembro-me de uma fala do filme que assiste ontem a noite junto com Deca. O filme, "Reflexos da Inocência" e a fala do personagem Joe Scot (Daniel Craig):

"Quando criança, eu achava que para ser corajoso era preciso agir. E que para sonhar ou progredir na vida era preciso coragem... Mas é apenas para ficar parado que é preciso ter coragem."...

Como não consegui ficar parado, fiz uso da escrita, numa tentativa de aplacar o vazio. Enquanto escrevo, a sensação alivia. Mas tenho consciência que, ao colocar o ponto final neste texto, a velha conhecida sensação ainda estará a minha espera. E, como cão inquieto correndo atrás do próprio rabo, busco por mais ação.

Lá fora, o dia continua nublado e a lentidão do trânsito assemelha-se a energia dos meus movimentos insatisfeitos... Perdura a sensação de incompletude consciente e a contração dos músculos ao redor do pescoço. O corpo pede pela ação de um relaxante muscular, mas, vai ficar na vontade! E, inquieto, a espera pelo impulso da próxima ação, aguardo o silenciar do som do telefone que insiste em tocar.



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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!