Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

07 abril 2009

Coragem é não agir

O dia amanheceu nublado, igualmente a minha sensação de ser. Por mais ciente que estava dos vários compromissos assumidos para o dia, o corpo resistia em colocar-se de pé.

Ainda sonolento e sobre o olhar silencioso de meu pequeno cão, escovava meus dentes, quando uma enorme sensação de falta de sentido tomou-me por completo. Ela parecia apoderar-se de cada célula de meu corpo, fazendo com que os músculos de meus braços ficassem tensionados como se fossem se romper.

Como de costume, dirigi-me para a padaria para meu café matinal. Casa cheia de rostos que pareciam refletir o mesmo estado de mau humor. Com exceção do dono do mercado, juntamente com dois representantes comerciais, todos permaneciam calados, até mesmo os balconistas. Tomado meu café, segui em direção a banca de jornal, na expectativa de algum novo exemplar com conteúdo fotográfico, algo que pudesse me entreter por alguns minutos que fosse daquele persistente sentimento de vazio e falta de sentido... Para minha tristeza, nada de novidades, o que fez aumentar ainda mais o sentimento de vazio.

De volta a casa, o mesmo ritual: limpar as sujeiras do pequenino cão, preparar sua ração e água limpa. Voltar para a sala, ligar o micro, ficar impaciente com a demora da inicialização do sistema... Iniciar o Windows Live Mail em busca de alguma mensagem interessante e constatar uma verdadeira enxurrada de spans: curso supervisão em call center, extrato da Redcard, anúncio de palestra sobre comunicação e comportamento assertivo, convite para o show histórico do lançamento do novo DVD de um grupo que exalta o samba... Nada com conteúdo que me chame a atenção. Tentei o Flickr, sem novidades. Nos jornais, mudaram apenas os locais dos terremotos e o número de vítimas, os alvos dos sapatos lançados em comicios, os rostos temporários dos candidatos ao milhão do Big Brother e o nome da velha e maior banda de todos os tempos a tocar em São Paulo... É um jogo de repetição que todos insistem em continuar jogando, fingindo não ter consciência de que assim jogam.

Por último, o Orkut, comunidades de leitores de Krishnamurti... Pior ainda, um vomitório só de palavras e mais palavras, um tédio só! Tudo imagem e ninguém revelando o negativo!...

A sensação parece aumentar a cada ação. Impossível ficar parado, o corpo pede por alguma ação. São 10h20m e os músculos já se encontram quase que estourando. É terrível ficar parado observando o vazio, a falta de sentido e as reações corporais. Enquanto observo a extrema necessidade de encontrar por uma ação com sentido, lembro-me de uma fala do filme que assiste ontem a noite junto com Deca. O filme, "Reflexos da Inocência" e a fala do personagem Joe Scot (Daniel Craig):

"Quando criança, eu achava que para ser corajoso era preciso agir. E que para sonhar ou progredir na vida era preciso coragem... Mas é apenas para ficar parado que é preciso ter coragem."...

Como não consegui ficar parado, fiz uso da escrita, numa tentativa de aplacar o vazio. Enquanto escrevo, a sensação alivia. Mas tenho consciência que, ao colocar o ponto final neste texto, a velha conhecida sensação ainda estará a minha espera. E, como cão inquieto correndo atrás do próprio rabo, busco por mais ação.

Lá fora, o dia continua nublado e a lentidão do trânsito assemelha-se a energia dos meus movimentos insatisfeitos... Perdura a sensação de incompletude consciente e a contração dos músculos ao redor do pescoço. O corpo pede pela ação de um relaxante muscular, mas, vai ficar na vontade! E, inquieto, a espera pelo impulso da próxima ação, aguardo o silenciar do som do telefone que insiste em tocar.



Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!