Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 maio 2012

Uma carta para alguém que quero bem


Perceba a enorme rede de condicionamentos que prendem algumas pessoas e a maneira pela qual querem nos "infectar" com tais condicionamentos, os quais tendem a impedir a livre expressão do ser que somos e que ainda se encontra — momentaneamente — sufocado pelas máscaras e fantasias que por décadas insistimos em usar. Sei que é preciso coragem para buscar por pessoas cuja mente esteja bem à nossa frente e que, portanto, com seu modo se ser e estar no mundo, nos desafiem a extração do nosso melhor, que nos deem trabalho de raciocinar sobre uma linguagem que sai dessa trivialidade, dessa banalidade de assuntos que ouvimos todos os dias e que de forma imatura, à eles nos conformamos, permitindo assim, compactuar da estagnação do desenvolvimento de um estado de ser que pode nos brindar com o portal de uma inteligência criativa nunca antes imaginada. Para tanto, isso requer coragem; coragem de assumir a mediocridade da normalidade que está profundamente enraizada dentro de nós, assim como à nossa volta; coragem de não mais compactuar com isso, pois compactuar com isso, se traduz numa falta de respeito e amor, tanto com nós mesmos, como para com àqueles com quem pensamos de fato nos relacionar. Não é fácil a dor da constatação de que, de fato, não nos relacionamos. Se olharmos bem, veremos como é ridícula a forma com que aceitamos viver, nos relacionar, a forma sempre imitativa pela qual nos expressamos. Isso faz sentido para você? Nossos assuntos, na realidade, "não são nossos"; são quase sempre assuntos de uma passado morto, assuntos relativos à alguém que não se faz presente, assuntos de jornal, de televisão e da banalidade e mediocridade de pseudo-artistas de talk-show. Isso soa como verdade para você? Se assim é, então, lhe pergunto: por que diabos, nos conformamos em participar disso? Por que não exigimos o melhor de nós e daqueles que, em nossa inconsciência, acreditamos amar? Por que insistimos em participar desse clubinho de mente limitada, desse coro dos contentes, tão distantes de seus próprios entes? Quer saber o que descobri?... Porque temos profundo medo da solidão!... Isso faz sentido para você?... 

Temos medo de ficar com nossa solidão, com nosso tédio, com nossa intrínseca insatisfação que pede, que clama por plenitude e, como não encontramos plenitude em nossos contatos — o que de fato, nunca encontraremos — tentamos preencher nosso vazio com um monte de coisas vazias... Comida, comida e mais comida, relacionamentos disfuncionais, sexo tão intenso e gratificante como uma porta-giratória, gastos desnecessários com uma tecnologia aceleradamente descartável, com a mania de guardar coisas desnecessárias e, novamente... Comida, comida e mais comida... Churrasco de fim de semana sem a mínima intimidade, regados com bebidas e tvs de plasma com uma programação pra lá de imbecil. Na melhor das hipóteses, com a leitura de alguns livrinhos de frases prontas, que não forçam nosso raciocínio, que não falam muito diferente do que já está sendo dito em nossas redes sociais com sua filosofia falsebookniana, que não aplacam as torturantes falas de nossas questões internas. Isso faz sentido para você? 

Por que isso? Por que aceitamos em trabalhar com qualquer coisa? Por que? Por que fazemos isso conosco? Por que repetimos o mesmo modelo de nossos pais e avós? Por que não olhamos com propriedade para a vida deles e questionamos seriamente se eles foram ou são felizes com o modelo que passaram de herança para nós? Quando olho para essa herança, me deparo com um enorme presente de grego, um enorme cavalo de Tróia social. Não é difícil perceber isso, basta observamos seus sofrimentos silenciosos, afinal, por mais que tentem disfarçar com suas coleções de "tudo bem!", seus corpos os delatam de maneira gritante. Você não percebe isso?

Sei que não é fácil se abrir para o desconhecido que somos nós. Quando fazemos isso, quando ousamos por isso, quando finalmente defendemos esse nosso direito, descobrimos muitas facetas que por vezes, momentaneamente, se mostram sem o menor sentido; não se preocupe, pois é assim mesmo! É natural que a mente, nesse momento, contrataque com uma indevida carga de culpa, remoroso ou autopiedade, ao ponto de causar uma dor tão grande que nos impulsione ao fechamento dos olhos ou então, para a narcotização daquilo que estamos vendo. Se você estiver "vendo com clareza", é claro que vai descobrir coisas nem um pouquinho agradáveis... É natural a mente produzir culpa, medo e vergonha, afinal, ela foi condicionada, desde seus primeiros anos, à esse modo de reação; é óbvio que vai aflorar à consciência, muitas de nossas escolhas equivocadas que, na realidade, nem sequer podemos chamar de escolhas, afinal, como diz a música, "entramos de gaiato no navio", nesse navio social, com um enorme rombo em seu calado, em sua base que se apresenta abaixo da colorida superfície. Não há por que se culpar por isso, afinal, não havia material, não havia base, não havia fundamento lógico, não havia inteligência e, portanto, apenas, reagimos, na maioria das vezes, de forma totalmente equivocada e irracional, à falta de presença e psicologia diante de nossa natural necessidade emocional. 

Mas, lhe garanto: aqui, se não negligenciamos a escuta atenta de nossos pensamentos e sentimentos, "fatalmente" nos deparamos com uma grande oportunidade de transcendência, uma grande oportunidade para o facultar do "despertar da inteligência", para a abertura dos olhos que veem, por detrás desses cansados olhos que pensam ver. 

Não se preocupe se os outros não compreendam o seu momento; isso é muito natural. Também não se preocupe em perder tempo para tentar explicar aquilo que você sente, afinal, se por vezes não é fácil explicar nem para nós mesmos aquilo que sentimos, que dirá explicar para o outro que, além de quase sempre não saber escutar, carrega consigo, uma enorme imagem à nosso respeito? Aqui, acabei descobrindo, à duras penas, que a melhor linguagem, o melhor idioma, é: silêncio!

Descobri que o mais importante nisso tudo, é não negar esse nosso lado sombra... É preciso trazê-lo à luz da razão, à luz do discernimento; percebe? Tenho certeza que você já ouviu isso antes: onde há sombra, quanto maior, maior a luz! 

Amiga, a dor é como uma plataforma exploradora do "petróleo existencial" nesse imenso mar de inconsciência... Sua sonda tem que ir fundo, bem fundo, tem que ser poderosamente cortante... Se for bem orientada, ao deparar-se com um leito fértil expresso por uma mente aberta, tudo subirá com muita energia, com muita força, trazendo ao ar que respiramos, um horrível cheiro e muita sujeira; no entanto, se bem laborado seu conteúdo, este se mostra inquestionavelmente valioso. Portanto, com a certeza vivida na própria pele, por várias e várias vezes perfurada ao longo destes anos de busca é que lhe lanço a validação de seus sentimentos através deste fraterno incentivo:

Aqui é não negar! É se permitir o sentir, afinal, é pelo sentir que o Ser, em ti, silenciosamente, se apresenta! 

Um fraterabraço e um chute nas canelas!

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

30 maio 2012

Conversa nutritiva para Cuidar do Ser

"O pensamento é um movimento no tempo psicológico, que nos rouba a consciência do agora, a unidade entre mente e coração e o consequente bem-estar comum que se apresenta no desfrute da totalidade do viver"

26 maio 2012

Constatação sobre imitação


Segundo Tânia Montoro, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutora em cinema e televisão, "existe um conceito filosófico comprovando que as pessoas em formação imitam o que veem com frequência". Isso me parece ser um fato no que diz respeito ao desenvolvimento emocional/psíquico/espiritual. Nessa esfera, imitação é o que menos falta. Numa terra de cegos, quem tem um olho, facilmente por estes é endeusado, o que torna difícil a "revelação" da verdadeira realidade dos falsos profetas.

Nelson Jonas — nj.ro@hotmail.com



24 maio 2012

Constatações sobre insanidade


Alguém disse um dia:

"Insanidade é fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes".

Digo, agora:

Insanidade é esperar que valores transitórios preencham a profunda ânsia pelo Não Transitório; que valores relativos saciem a imensurável sede de plenitude no Absoluto, onde em última análise, encontra-se a essência da sanidade, a qual põe fim em toda manifestação de esperança.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com 

O lucrativo ciclo da alheia ignorância


A escassez de seriedade, sustenta a ignorância,
que por sua vez, gera sustento em abundância
aos que usam a alheia ignorância, com seriedade.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com 

23 maio 2012

Constatações sobre a passividade popular

Fonte de inspiração: o estado de passividade do povo diante do caos provocado pela greve dos metroviários do estado de São Paulo em 23/05/2012, bem como diante da violenta ação de repressão policial frente aos poucos que tiveram a coragem de se manifestar.

Constatações sobre a cachoeira de greves


Domingo, depoimento da rainha dos baixinhos; quarta, greve do sindicato dos metroviários do maior centro comercial do país. Já no centro do país, a cachoeira de greves de depoimentos, com ajuda da mídia e sindicalistas, passa baixinho. Enquanto isso, os reis do povo, riem!

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

21 maio 2012

Constatações sobre o poder da observação


Quando começa-se a observar e pela observação dá-se a superação "desse" que busca por valorização, por aceitação, que busca por satisfação nas coisas e situações, que sente-se "atingido, perseguido, desvalorizado", só então, pela compreensão desse — que é o mesmo que observa — a vida passa a ter um real sentido e valor: Consciência.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

Constatações sobre frases de auto-ajuda


Boa parte das curtas frases de auto-ajuda, compartilhadas nas redes sociais,
na realidade, só ao ego ajudam; não cumprem o papel de desmascará-lo.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

Constatações sobre anjos e demônios


Alguém disse certo dia: 

"Amigos são anjos que nos deixam em pé, quando nossas asas têm problemas em se lembrar como voar"...

Penso que, amigos também são como demônios que nos atiram ao magma da verdade, quando imaginando ser como bondosos anjos, de olhos fechados, insistimos em voar junto às perigosas nuvens do auto-engano, onde inevitavelmente, dolorosos problemas sempre se apresentam...

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

18 maio 2012

Constatações sobre o tempo


Tempo não é dinheiro... Tempo é vida!

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

17 maio 2012

Ondes estão as outras moscas da sopa?


Existem perguntas que insistem em não se calar; você busca, busca e busca, limpa, limpa e limpa o que ofusca a expressão da consciência, para chegar num ponto em que você fica numa total solidão por não ter com quem compartilhar, por não encontrar eco humano, não encontrar nada que lhe aguce, que lhe desafie a ampliação de percepção. Você olha ao seu redor, observa em seus contatos estes, quase sempre superficiais — não por sua escolha, mas em razão do medo do outro — e só se depara com superficialidades, com trivialidades, com transitoriedades, as quais, em nada lhe desafiam. Então, inevitavelmente surge a pergunta: qual o sentido de tudo isso? Qual a razão de tudo isso? Em vista disso, para quem realmente é sério, não há como evitar o surgimento da questão: Qual o sentido da vida? Quando você olha para a maioria do trajeto humano e se depara com uma vida de sofrimentos, de necessidades, de compromissos que impedem o desfrute da vida em sua totalidade e, no final, um doloroso desenlace, quase sempre mal assistido clinicamente, como não se perguntar qual o sentido de tudo isso? Como não se instalar uma profunda insatisfação, um profundo descontentamento com tudo que se apresenta?...

Você olha para um lado e não se depara com um real sentido para caminhar em tal direção; você olha para outro lado e no mesmo, também não faz sentido a menor ação. Você olha para o seu passado e percebe que, insistir em perpetuá-lo, também não faz o menor sentido e, conjecturar quanto ao futuro, menos sentido ainda. Você se depara com o agora e, em si mesmo, não se depara com nada que aponte para uma real conexão, para um sentido de pertencer, de estar realmente ligado, integrado. Você olha para as pessoas, sai em direção delas, ansiando por contato, no entanto, bastam apenas poucos minutos para constatar que, devido seus enormes condicionamentos, a melhor escolha é se manter em silêncio, caso contrário, o risco de abalamento de egos é eminente. Você constata, sem o menor esforço, que a grande maioria das pessoas ao seu redor, ainda se encontram prisioneiras daquilo que você, com muito esforço, há anos já deixou pela estrada da vida. Você se depara com uma linguagem que há muito, em você, já ficou para trás. Nesse momento há também a percepção de que você não tem o direito de desmembrar uma linha de raciocínio a qual possa abalar aquilo que para o outro ainda faz pleno sentido, aquilo no qual o outro ainda deposita sua fé, sua frágil segurança psicológica. Definitivamente, você constata que, a não ser que você seja questionado, esse não é o seu papel. Nesse caso, a melhor linguagem é o silêncio, como resultado, o encontro só se faz através dos corpos físicos, mas sem o menor encontro de mente, coração e consciência. Tem momentos que chega a dar desespero encontrar por pessoas que, logo no início da conversa você percebe que ela é uma coleção de frases prontas, de onde ela tira uma aqui e outra li, mas dela, da sua própria visão de mundo... Olhar e dizer: "é isso aqui que estou vendo"... Ah! Você não acha!... Cada um é responsável pelo seu modo de ver o mundo e eu penso que a relação é justamente isso: a gente poder trocar o modo como estamos vendo e interagindo com o mundo, compartilhar como estamos participando, o que estamos fazendo e aquilo que estamos vendo que não é legal, compartilhar o que estamos fazendo para chamar à consciência de que isso não é legal, para que juntos possamos pensar em como, de fato, mudar isso.

Não raro, se você nesses ambientes, sem ser questionado, ousa expor seu modo de ver e estar na vida de relação, você acaba sendo mal compreendido e, consequentemente, de forma silenciosa, rotulado de forma pejorativa, além de passar a ser visto através de uma imagem preconcebida, a qual impede o contato com aquilo que você realmente é, com aquilo que você realmente sente. São esses rótulos e imagens resultantes de preconceitos herdados que impedem a manifestação de um real encontro. Quando isso ocorre — o que no meu caso parece ser uma constante — surgem na mente as seguintes questões: será que aquilo que estou falando não tem nada a ver com a realidade? Ou então, onde estão as pessoas com as quais eu possa me deparar com ecos questionadores? Será que tudo aquilo que vejo não passa de uma visão equivocada? Será irrealidade? Ou será real aquilo que vejo, assim como real, a falta de capacidade de visão destas pessoas com quem tento me relacionar?

Não é nada fácil quando bate essa necessidade interna de comunhão, essa imperiosa necessidade de conexão, de troca, de autêntica comunhão com outro ser humano, de uma autêntica relação — não essa relação que nunca avança além das trivialidades midiáticas do cotidiano; para mim, esse tipo de conversação, nada mais significa, não tem real poder de nutrição. Então, você sai de manhã em direção à padaria, fica ali degustando seu café, ouvindo as repetidas falas, os assuntos de sempre, as mesmas coisas, as mesmas piadas, as mesmas inflamadas discussões futebolísticas...  Não há como não surgir a questão: como é que esses homens, quase todos com mais de cinco décadas, conseguem ver sentido em compartilhar das mesmas histórias, dos mesmos assuntos, das mesmas coisas que, em si, não trazem nenhuma alteração qualitativa?... O que o gol de fulano ou ciclano, o título do time X ou Y, pode trazer de real qualificação existencial? Qual o poder que isso tem de mudar qualitativamente nossa deficitária realidade social?... Para estas pessoas, isto talvez possa ter algum sentido mas, para mim, não há mais como me identificar com isso; foi bom até os meus 18 ou 20 anos; nestes meus 48, não faz o menor sentido, não há como dedicar tempo para ficar vendo 22 garotos — na maioria, mal letrados — correndo atrás de um montante de borracha cheia de ar. Olho em volta e fico me questionando: onde estão esses outros que olham para tudo isso e também não veem o menor sentido e que fazem o questionamento, "será que não tem nada além de tudo isso?"

Para onde olho, só vejo o falso... Olho para a política organizada, só vejo o falso... Olho para os profissionais sistemas de crença organizada — que erroneamente a sociedade chama de religião — e só vejo o falso... No modismo, outra falsidade também... Você pode estar se perguntando: "então, o que é verdadeiro para você?"... O verdadeiro para mim é tudo aquilo que aponte para a revelação da Verdade... E cadê essa Verdade que não se manifesta de forma mais contundente? Então, vou vendo pedacinhos por pedacinhos e não encontro com quem compartilhar o que vejo, para ter um retorno se aquilo que vejo, pelo outro também é visto e, portanto, possa se mostrar com algum fundo de verdade, de realidade. Você quer encontrar por outras pessoas para ter a certeza de que não esteja vendo o mundo de forma equivocada, no entanto, onde estão essas pessoas para você poder trocar ideias sobre isso que está constatando? Como encontrar por retorno, por um feedback, com o qual se possa ampliar ainda mais a capacidade de visão? Como encontrar pessoas capazes de entender exatamente aquilo que você está tentando expressar, sem ofuscar aquilo que é dito através de antigas crenças, imagens, símbolos ou outro tipo de preconceito? Onde encontrar pessoas que já não se iludem mais com a busca de entretenimento, com a busca de distração, com a busca de mais e mais conhecimento, por pessoas capazes de fazer frente ao estado de não-ação, no qual a meditação se faz possível?...

Para mim, não faz mais sentido buscar por distração, por ocupações para "matar o tempo", arrumar atividades só para não ficar sem fazer nada; no entanto, me questiono: qual o sentido de ficar sem fazer nada o tempo todo? Como dizia o poeta, "Paz, sem voz não é paz, é medo!" Digo: Paz sem transbordamento social, uma paz que não se manifeste localmente, pensando globalmente, não é paz, é comodismo egocentrado!... Para mim, não dá! Não faz sentido! O problema é que sinto uma energia interna tão grande, a qual minha limitação de inteligência, até o presente momento, impede a visão de onde canalizá-la de forma que eu sinta que faça um real sentido, tanto para quem essa energia é dirigida, quanto para meu interior. Para mim não faz o menor sentido ir atrás de um curso profissionalizante qualquer, como uma forma de dar um sentido ao tempo. Percebe? Ai surge a pergunta: onde estão essas pessoas que sentem algo parecido, que sentem semelhante inquietação, que possuem semelhante tipo de necessidade de aprofundamento, em que as questões acontecem de forma automática, que se apresentam não por meio de um esforço cerebral, mas sim, das regiões mais profundas de seu ser? Questões essas em que você percebe que a grande maioria não possui o mínimo interesse por elas; além de não terem o mínimo interesse, elas não possuem se quer, o tempo necessário para se dedicarem na meditação sobre essas questões, de tão financeiramente comprometidas que estão, devido a irracional identificação com o bombardeio de mensagens publicitárias a que diariamente são submetidas e as quais tão facilmente, sucumbem sem o menor senso crítico, incentivadas pelo orgulho familiar.

Alguns conhecidos, afirmam com segurança, que não estão nem um pouco interessados no contato humano, que se pudessem, viveriam totalmente isolados, desfrutando do atual bem estar que encontraram — nunca antes sequer imaginado — mediante o processo de autoconhecimento. Confesso que esse tipo de comportamento, para mim, não faz o menor sentido. Sinto que a vida é relação, portanto, não vejo como me satisfazer no comodismo isolacionista de meu ambiente, afirmando que tudo é lindo, que tudo é amor, que tudo é "Love", que tudo é uma "brincadeira divina", enaltecendo o brilhante estado de mente atingido por alguns poucos homens e mulheres ou então, de forma contrária, ficar criticando o sistema, enquanto dele tenta extrair alguma coisa, sem dar nada de si, sem tentar nele interagir ativamente como uma ferramenta fomentadora de consciência. Quando bate esse tipo de sentimento, sai debaixo!... Não é fácil! Porque não é fácil, nem ao menos explicar para as pessoas o que vem a ser a qualidade desse tipo de sentimento, uma vez que elas, sequer um dia passaram por isso; suas angústias existenciais ficam somente no nível do material, do psicologicamente "correto", angústias essas vividas e por mim descartadas há muitos e muitos anos... Já corri e consegui isso que elas buscam; já sofri a desilusão, já senti o gosto de cinzas que ao consegui-lo, isso deixou em minha boca... Você busca por algo que, após consegui-lo, logo perde seu encanto... Logo, quando me deparo com alguém seduzido pelo canto da sereia, como posso eu que um dia também nisso acreditei, virar para o outro e forçá-lo o prematuro desencanto? Não tenho permissão para isso! O silêncio é a melhor linguagem; não há como dividir quando o outro só quer somar! Não há como dividir sua visão de mundo e, mesmo quando você tem oportunidades de dividi-la, raramente você se depara com um retorno coerente. 

Em vista disso tudo é que surgem as perguntas: Será que tenho que mudar o meu discurso? Será que o mesmo se faz muito arrogante?... Tenho alguns conhecidos que já chegaram a me rotular como um desses "rebeldes revolucionários", um deles até me rotulou de modo explicito, como um "comunista",  alguém que quer derrubar todo o sistema para conseguir um modo de vida fácil, bastante preguiçoso. Não foi necessário muito esforço para perceber que minha linha de raciocínio se apresentava como algo ameaçador diante de seu conquistado modo aburguesado de ser, ameaça essa que fez com que ele deixasse de me procurar para nossas conversas nutritivas. Ele, assim como outros tantos, defendiam seus excessos alegando que os outros não conseguiam o mesmo sucesso que ele, devido a falta de esforço e por puro comodismo. Nunca os vi questionando sequer uma vez, se os outros tinham tido ou não a mesma oportunidade que eles haviam tido, se haviam ou não nascido em semelhantes berços, com a abertura para a aquisição de uma cultura capaz de proporcionar um efetivo desenvolvimento psicológico; sempre o mesmo discurso escapista que impede um aprofundamento de questionamento que coloque em xeque o excesso de privilégios capitais em favor de uma enorme gama de direitos coletivos humanos há muito negligenciados. Não raro, desses que não avançaram para a percepção de que o  mundo é consciência, para a percepção do acúmulo de seus excessos materiais, ouço desculpas do tipo: "não há nada de errado nisso, uma vez que estamos no mundo da matéria". Claro que isso soa como algo profundamente natural para aqueles que ainda se encontram condicionados pela irrealidade da identificação com a matéria e com a consequente expressão sensitiva corporal. Para essas pessoas, ainda presas na ilusória identificação material, claro que um tipo de fala como a minha, logo incita o medo diante da equivocada ideia de ter que abrir mão quanto aos seus "bens patrimoniais" para a aquisição de alterados estados de consciência. O fato é que, com dinheiro ou sem dinheiro, com ou sem "bens patrimoniais", todos um dia teremos que deixar esta existência e, diante disso, a pergunta que fica é a seguinte: "No que realmente faz sentido correr atrás?"... Para essa pergunta, já recebi como resposta — claro que de alguém cujo modo de vida é bastante aburguesado —, "que ficar filosofando não coloca comida no prato". Diante de tal resposta, surgiu a seguinte questão: "E se todos dedicassem o mesmo tempo que dedicam à busca de transitórios bens patrimoniais, à busca de poder, reconhecimento e prestígio, dedicassem ao estudo da filosofia e dos incontáveis problemas existenciais humanos? Será que não teríamos um modo de vida mais qualitativo e igualitário? Será que a vida não se apresentaria mais fácil e, portanto, realmente prazerosa? Será que os direitos não seriam vistos antes dos privilégios? Será que, ao invés de ver o outro como um trampolim de acesso à irrefletida capacidade de consumir, não veríamos o outro como uma oportunidade de partilha e comunhão?" Fica ai a pergunta para reflexão.


Silenciosamente eu fico observando o acelerado desespero da grande maioria das pessoas; e os que vivem essa aceleração, devem estar vivendo-a porque não devem estar fazendo questionamentos com profundidade, porque se todos começassem a questionar de fato, de certo isso que se apresenta ai, entraria em colapso, pois todos tomariam consciência de que não faz o menor sentido. Não faz sentido nenhum! No entanto, como não há tempo e espaço para o questionamento sério, a coisa fica como está, ou melhor, complica-se cada vez com mais intensidade. Ninguém quer pensar juntos, ninguém quer olhar pra tudo isso com propriedade... As pessoas não estão tendo tempo para desfrutarem a vida; elas ficam umas tantas horas "enlatadas" no transporte público e depois ficam o dia inteiro dentro de um escritório, onde muitos, desconhecem as cores dos olhos de seu patrão. Mal sobra tempo para as demais necessidades. E se permitem isso sonhando com a futura aposentaria... Então, dá para aceitar que isso é normal?... Será que é normal ver à todos como concorrentes e dar um jeito de arrancar deles alguma coisa para conseguir um privilégio a mais?...  Eu não consigo ter no meu coração, que essa busca do "mais", que essa busca incessante pelo "mais, mais e mais" seja o sentido da existência; não consigo ver isso como normal. Não consigo ver inteligência nesse modo operante de vida onde, para conseguir ter "mais, mais e mais" eu preciso fazer com que você e o outro tenham "menos, menos e menos".

Se for para me conformar em ter que viver dessa forma e, após os meus 50 anos, com o corpo bastante obseso, matar meu tempo numa padaria, enquanto bebo cerveja, inflamadamente discutindo futebol ou superficialmente discutindo ações políticas ou programas de talk-show, eu prefiro que a vida me leve hoje; que a vida me leve embora agora mesmo se for para eu me conformar em comentar novelas, sintomas de doenças físicas ou problemas referentes aos convênios médicos que nenhuma conveniência apresenta. Eu de fato quero ter a resposta direta de qual é o sentido de uma existência, de onde faz sentido colocar toda a energia vital que temos e que, ao ali colocá-la, algo de bom em nós se manifeste. Não algo que seja somente para poder colecionar bens transitórios; não creio que o sentido de uma existência seja dedicar tempo e energia vital em busca do que não seja essencial. Em vista disso é que me pergunto: onde estão esses outros que pensam e sentem de forma semelhante? Não é possível que só eu esteja sentindo isso! Se existe uma enorme massa que vê sentido nisso tudo que está ai, nessa normalidade operante, onde está a massa, por menor que seja, que olha para tudo isso e que não vê o menor sentido de colocar sua energia vital e dedicar tempo na busca dessas coisas transitórias? Que querem "algo mais", que querem algo com "mais conteúdo", que querem algo pelo qual realmente valha a pena debruçar horas e horas sobre esse algo? Onde está essa massa que busca pela revelação da consciência, por um modo de vida alicerçado numa comungante inteligência amorosa? Que percebem a degeneração, a decadência desenfreada que se apresenta diante do atual e corruptivo modo de vida socialmente aceitável? Que percebem a insustentabilidade desse modo de vida e que sentem a necessidade de fazer algo de maneira assertiva para a manifestação coletiva dessa consciência? Onde estão esses que sentem a necessidade de uma autêntica comunicação, ao mesmo tempo que sofrem com a dificuldade de entendimento diante de seu modo de se comunicar? Em quais arquibancadas da vida podemos nos confraternar semanalmente, sem que para isso, tenhamos que pagar por ingressos com valores abusivos, ou ser debandados de forma violenta pela ação de uma polícia à serviço dos interesses de megacorporações disfarçadas pelo Estado? Onde estão aqueles que anseiam por uma manifestação interna, por uma amplitude de consciência capaz de causar um transbordamento ético na sua atuação externa? Onde estão os homens e mulheres que não se envergonham de soltar a voz e expressar abertamente seu profundo descontentamento diante do padrão comportamental socialmente aceito como normal? Onde estão aqueles que pelo uso da escrita ou através de outra manifestação artística ousam expor sua independente visão de mundo, conspirando assim pelo despertar da inteligência coletiva? Onde estão aqueles que sentem tudo isso para que eu possa me sentar com eles e assim não me sentir tão sozinho?... Porque eu não vejo muita inteligência em ter que me relacionar com o outro através de uma máquina, através de e-mails, através de frases rápidas em redes sociais, como o Facebook por exemplo; não vejo inteligência nisso! Só por hoje, sinto falta de pessoas com quem possa trocar sobre a realidade que estou vendo, para me certificar de que essa visão não está sendo uma visão equivocada. Sei que isso é uma dependência psicológica minha e que a mesma precisa ser superada; no entanto, nunca podemos superar aquilo que aos outros e a nós mesmos, insistimos em não denunciar.

Então é assim: não tenho ainda uma resposta interna, não cheguei ainda à um estado interno capaz de silenciar todos esses questionamentos; não tenho isso! Também não tenho mais condições de me inserir em tudo isso que já vi ser falso; como posso dedicar meu coração, minha energia vital em favor disso que vejo como falso, que não agrega valor nenhum ao outro ser humano, que não pode dar em nada,  a não ser no facultar de ilusões que geram exploração e corrupção? Como posso fechar meus olhos e calar minha voz se trago comigo esse impulso de compartilhar com o outro? Como posso fechar meus olhos e me conformar em viver uma vidinha só voltada para meu umbigo?... Seria muito mais fácil não ter consciência de tudo isso mas, mesmo que assim pudesse ser, não ter a capacidade de visão, de modo algum optaria por isso. Em vista disso, finalizo com uma última pergunta: onde estão as outras moscas para cuspir nessa mal cheirosa e desnutrida sopa?

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

16 maio 2012

Constatações sobre educação


A educação está voltada para que o homem encontre um bom emprego e não para que encontre a si mesmo; ela está voltada para a busca da estabilidade mercantil e não para o desabrochar da inteligência com sua consequente estabilidade emocional, a qual se traduz num ativismo amoroso de responsabilidade social. A educação não prepara homens de mente livre mas sim, ajustados escravos à serviço de corporações, estas protegidas pela pressão e vigilância do Estado. A educação não estimula o homem a ser responsável por sua própria visão de mundo, ao contrário, força-o ao conformismo à uma visão de mundo herdada da tradição local. Não é nada fácil, numa sociedade de escravos, responder pelo seu direito de escolha pela liberdade; sempre haverá olhares atentos para a oportunidade de forçá-lo ao pacífico ajustamento escravagista. A sociedade não tolera homens ociosos, conscientes da importância de se permitir o desfrute do tempo de modo meditativo, de modo questionador quanto aos valores por ela estabelecidos; para a sociedade, homens dotados desse tipo de consciência questionadora, tornam-se profundamente perigosos para a manutenção de seu sistema estabelecido e, com ajuda do Estado, dificultam-lhe as facilidades existênciais. A sociedade valoriza ao máximo empreendedores geradores de empregos com base em salário mínimo, ao mesmo tempo em que desvaloriza homens formadores de consciência libertária.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

14 maio 2012

Retiro de silêncio


Enquanto eles cobram
Seus retiros de silêncio,
Sem deles nada cobrar,
Em silêncio, me retiro. 

Nelson Jonas — nj.ro@hotmail.com

Constatações sobre respeitabilidade


Tenho percebido que, em boa parte dos agrupamentos humanos, para você fazer parte e ser pelo grupo respeitado, precisa abrir mão, tanto da individualidade quanto do exercício da inteligência.

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

08 maio 2012

Vamos dançar, enquanto é tempo?


Na sociedade, estabeleceu-se como algo natural, em relação ao outro, vê-lo como uma mera engrenagem de interesse financeiro, como um trampolim para uma fonte de renda melhor; em meio de abraços com sorrisos amarelos, fica o questionamento solitário de como conseguir arrancar algo daquele a quem hipocritamente se abraça. Isso, para mim, mostra-se algo humanamente impossível, isso fica muito difícil. Para pessoas com este tipo de sensibilidade, a existência torna-se ainda mais difícil, uma vez que consegue-se perceber, sem muito esforço, que as demais pessoas não nutrem um real sentimento por elas, de quem só se aproximam quando dela estão precisando algo; se eles não precisam de algo por meio dela – seja tecnicamente ou financeiramente – as  mesmas estão condenadas ao ostracismo.

 Uma pessoa realmente sensível, de forma alguma consegue compactuar com esse insano script social, uma vez que para essas pessoas, a preocupação maior é com o bem estar psíquico, emocional. No meu caso, a vida já se apresenta bastante simplificada então, vivo com pouquíssimo dinheiro, não vivendo com menos ainda porque a sociedade impõe um monte de coisas a um alto custo. Tudo é muito caro! As pessoas questionam, mas não questionam com propriedade e por causa disso, se coformam muito facilmente em arcar com um custo de vida que a cada dia que passa, se mostra mais e mais desumano. A grande maioria, por estar tão ligada, tão hipnotizada, nem sequer questiona isso: eles pagam e o outro que não tem condições de pagar... Que se dane! Eles conseguindo pagar, está tudo bem! E todos embarcam facilmente nessa filosofia de vida, que transforma à todos em meros concorrentes e, o pior de tudo, acabam defendendo tamanha insanidade com unhas e dentes. Eles preferem defender seus privilégios do que brigar pelo direito coletivo. Então, tudo acaba funcionando assim. Poderíamos ter um excelente sistema de saúde público, mas há uma cultura que aceita ter que pagar por um plano de saúde; todos aceitam e aceleradamente "se viram nos trinta" para pagá-lo. O mesmo ocorre no que diz respeito a educação e o transporte público. Aliás, isso vale prá tudo. Então, a vida se torna muito cara pelo simples fato de ninguém questionar com aquela seriedade e propriedade que incita à ação contraria a atuante conformação. E à você que questiona, eles acabam rotulando como alguém invejoso, um fracassado, alguém que não é responsável, alguém acomodado, eles arrumam vários rótulos, mas não se preocupam em meditar sobre o conteúdo de suas ideias.

 Então, de fato, a vida poderia ser muito mais fácil para todos, mas se tornou difícil porque ninguém tem interesse em questionar nada, uma  vez que o questionamento, acaba desfazendo a estrutura de toda zona de conforto. Se você começa a questionar, a explanar sobre essas questões, em geral, as pessoas disfarçam e mais do que depressa, acabam saindo de perto ou então, tentam mudar de assunto. Outros, com menos energia ainda, encostam o corpo em algum canto e lá, adormecem (ainda mais). Se você insistir, em outra ocasião, com certeza, esquecerão do seu nome. As pessoas não suportam perguntas fundamentais que apontam para reflexão, elas querem conversas socialmente repetidas, óbvias, de passados pintados com uma alegria cor-de-rosa que nada tem a ver com as nuances de cinza de uma triste realidade servil. Reflexão não dá ibope, o que dá ibope é mediocridade. 

Agora, todo aquele que é sério, que é sensível, que ainda traz dentro de si o fogo da paixão, acaba tendo que fazer uma escolha e pagar o preço de seguir seu coração. Uma pessoa séria, sensível, não terá medo de abrir mão daquilo que não é essencial, daquilo que não aponte para o real, que não aponte para um insight que apresente um modo muito mais inteligente de se relacionar com a vida. Se você olhar para a vida da maioria dos homens e mulheres que foram reconhecidos pela sociedade – quase sempre bem além de seu tempo – você verá que todos eles passaram por sérias dificuldades para manterem sua simplificada existência. Não foram poucos os que tiveram que experimentar a vida pelas ruas e parques, ou anestesiando suas angústias referentes à dificuldade de compreensão de suas idéias pela mente alheia, em meio de bares e tabernas. Parece-me que o preço de entrada para uma vida voltada para a consciência e a verdade, é um preço muito alto. Inicialmente, não é nada fácil se aventurar por esse caminho, uma vez que, também fomos condicionados dentro desse sistema de pensamento e ação; quando começamos a balançar, a própria mente tende a nos impulsionar para a adaptação popular, a criar a confusão interna que diz que você está totalmente equivocado, que você tem que se ajustar, que você tem que se adequar, que você tem que fazer alguma coisa qualquer, menos, continuar meditando num modo diferente de se relacionar com o mundo. Ou então, diante dos medos gerados pelo questionamento, a mente tende a nos impulsionar para algum tipo de compulsão que produza a distração, que produza o esquecimento, que prometa por prazer imediato, algo que nos anestesie e impeça a continuidade do raciocínio lógico. E várias são as formas de anestesia que a sociedade nos apresenta: religião profissionalizada, sexo, comida, jogo, compras, trabalho compulsivo, esporte, drogas químicas socialmente aceitas ou não, livros de auto-ajuda que em nada ajudam... Pode funcionar por um tempo, no entanto, logo se mostram totalmente ilusórias. Tem muitas pessoas que são alcoólatras, dependentes químicas, dotadas de uma profunda sensibilidade, com a qual não conseguem lidar, o que acaba gerando um enorme sofrimento que as impulsionam para a boca, para os bares, para a zona, ou para os lucrativos bancos da crença organizada...

Não dá para você falar abertamente a realidade daquilo que você sente, que você vê, que você pensa, a forma como você vê o mundo. Se você ousar, corre o risco de ser preso ou internado numa clínica psiquiatra qualquer. Se você falar abertamente, aí que você cai no ostracismo mesmo; ai que você perde todas as chances de ter alguma coisa, o mínimo necessário para um modo digno de estar na vida. Isso é o que chamam viver no fio da navalha: viver fingindo que está identificado com o mundo, sem se perder no mundo e conseguir encarar e superar o mal estar quando você não pode ser autêntico. Diante disso é que consigo entender a frase dita nas missas cristãs a qual, por muitos é repetida de forma mecânica e sem o devido alcance de seu simbolismo: "Enquanto vivendo na esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador"... Enquanto não "baixar" uma ideia, uma consciência luminosa, não tem salvação, não tem libertação de tamanho sofrimento existencial. Em resultado disso, a vida não tem qualidade, a vida parece ser uma constante purgação. Enquanto não surge a ideia pela qual você veio à esta vida, enquanto não se apresenta a ideia da vida para você, a qual foi sufocada pela exposição de décadas de condicionamentos, não há possibilidade de saber o que é vida, o que é vida em abundância. Então, é preciso tirar todo condicionamento estabelecido na mente, para que essa ideia possa vir à tona; quando ela vem à tona, quando se descobre a própria fala, quando se descobre a mensagem pela qual se encarnou – e ai ela vai ter propriedade, ela vai ter força, ela vai ter sua energia própria, ela vai criar seu próprio ativismo – então é bem capaz que o outro que sofre em silêncio, também queira buscar por isso que você conseguiu – buscar por consciência – e é só ai que ele vai te escutar com propriedade. No entanto, enquanto isso não se apresenta, enquanto isso não se faz notório em você, enquanto isso não transfigura em seu modo de estar na vida de relação, enquanto você é só uma repetição de belas mensagens, enquanto você é só uma cópia, você é só mais um escravo com um discurso diferenciado neste sistema profundamente desumano, no qual você tem que ganhar seu sustento com o suor de sua testa egocentrada e não com a doçura da Graça manifesta.

 Se você notar bem, mesmo dentro do sistema, só quem é original tem sua vida facilitada. Quando alguém apresenta algo de original, o sistema facilita sua vida, bancando casa, saúde, educação e transporte, não só pessoal, como também da família. Não é assim? Não? Quando o sistema vê alguém que traz algo novo – e que é de interesse para o sistema –, o que ele faz?... "Temos que ter esse cara conosco! Vão lá e cubram qualquer oferta! Segurem ele, tragam-no para nós!" Esse, certamente não é o meu caso, uma vez que quero a minha vida o mais autônoma e simples possível. Há muito percebi que quem paga a banda escolhe a música e dita como você deve dançar. Há muito já percebi que quanto mais propriedade externa você tem, menos tempo para propriedade em si mesmo, você tem; sobra menos tempo para você estar com você mesmo, para buscar aquilo que você realmente ama. Quanto mais propriedade você tem, mais preocupação terá para manter essa coleção de propriedades que se desgastam pela ação do tempo (diga-se de passagem, tempo este que se apresenta cada vez mais curto). Por isso que não vejo nenhuma inteligência em ser um colecionador de propriedades rapidamente cambiáveis; propriedades que se desgastam com o tempo, que rapidamente saem de moda e que desvalorizam de forma absurda. Você compra um carro financiado por, digamos, R$60.000,00, quando termina de pagá-lo, o mesmo custa pouco mais do que a metade do valor financiado. Percebe a loucura que é? Viver preso em coleções de financiamentos? E a sociedade exige que você tenha uma casa, ou melhor, duas ou três, a casa de praia, a casa de campo, tem que ter o filho numa boa escola particular, tem que ter o melhor plano de saúde, deixar de andar em parques para pular ao som das caras academias... Ai eu lhe pergunto: sobra tempo para mais o que? Percebe?

Então é assim, isso que estou falando com você, já é uma grande percepção. Só que ainda falta o despertar de um estado de consciência maior, que é toda inteligência, propriedade e energia amorosa, capaz de apresentar e atrair o outro para os questionamentos fundamentais que apontam para isso. Sem essa inteligência, o outro nunca vai dar a devida atenção para esses questionamentos. O problema está em que muitos de nós não conseguimos aguentar a enorme pressão inicial que se encontra na retirada da desidentificação com o sistema, muitos não aguentam ser fiel a essa voz da consciência que aponta para a falsidade de se entregar para a identificação com esse sistema servil escravagista, com esse disfarçado sistema prisional de liberdade assistida. Muitos não conseguem atravessar o enorme deserto, não conseguem se libertar das enclausurantes dependências emocionais, não conseguem abrir mão da necessidade de validação social, não conseguem pagar o preço necessário para se deparar com aquilo que é original, com aquilo que é verdadeiro, com aquilo que é a razão de um viver correto. Sem isso, o imanifesto não se faz manifesto. E aqui, é muito importante não estar esperando por nenhum tipo de apoio da sociedade. Veja como a sociedade é maluca... Se você chegar para sua família, que é uma expressão da sociedade, e dizer que está decidido a se dedicar seriamente para se tornar um excelente médico e que, para isso, terá que se dedicar por um ano ou dois, totalmente para os estudos, é bem capaz que consiga contar com o apoio de alguns de seus membros ainda ligeiramente sensíveis. Em caso positivo, se conseguir vencer seus concorrentes na prova do vestibular, o governo financiará seus estudos por cinco ou seis anos. E quando você se formasse, todos iriam dizer que "você é o cara". Agora, se você disser que se encontra perdido, que está diante de uma crise existencial e que precisa de um tempo, alguns meses, um ano para se encontrar e que portanto, não se vê em condições de se comprometer com nada mais, que sente uma espécie de "alergia interna" diante da adaptação à sociedade, que sente uma grande energia interna na qual não consegue ver sentido em entregá-la para algo mecânico e superficial, o que faz com que você inicie e logo pare com várias atividades, com certeza, lhe encaminharão para um analista, para um médico, um psiquiatra qualquer. Isso se não o colocarem para fora de casa. No mínimo, você passará a ser rotulado como um vagabundo, um problemático, alguém que não quer nada com nada, percebe? Agora, se você tiver a sorte de experimentar um insight e, através dele conseguir algum tipo de sucesso segundo a condicionada visão social, pode ter certeza que, mais do que depressa, os mesmos que antes lhe rotulavam de maneira pejorativa, serão os primeiros na longa fila de bajuladores com seus inconfessáveis interesses. Agora, se você optar por uma vida de simplicidade, que aos olhos deles se assemelha à mendicância, pode ter certeza que, se cruzarem com você pelo caminho, desviarão o olhar ou se esconderão no outro lado da calçada. Não vão querer que os outros venham a saber que você faz parte da família. Não é assim?

Não é preciso ser um grande sociólogo para perceber o quanto que o mundo está bastante doente. A grande maioria está profundamente contaminada por esse inquestionado e insano modo operante, que transforma à todos num código de barra, numa pilha descartável, como foi mostrado numa cena do filme "Matrix"... Quando sua energia acaba, eles lhe descartam, sem a menor possibilidade de reciclagem, colocando uma nova pilha em seu lugar. Não é assim? Você pode me perguntar então, qual é a resposta para tudo isso... Bem, eu não tenho a resposta para ninguém, só posso falar aquilo que sinto em meu coração, o qual me diz que tenho que pagar o preço que for necessário, que tenho que abrir mão do que for necessário, uma vez que não tenho condições de me ajustar, de me conformar ao sistema, participar de um cabidezinho de emprego qualquer, ser mais um que pela ação do medo busque se encostar no Estado, através de um emprego público qualquer, onde por anos serei mais um prestando um atendimento mau humorado, por não fazer aquilo que realmente amo; para mim isso se mostra totalmente inviável, não dá. Eu acredito ser possível o despertar para aquilo pelo qual fui chamado para esta terra; quero saber qual foi o meu chamado, qual é a minha participação aqui. Com certeza, não estou aqui para passar férias no planeta Terra ou para ficar colecionando carnês para pagar, adquiridos por compras estabelecidas através de desejos impostos por terceiros desconhecidos. Pode ver que muito do que você tem para pagar ao final do mês, foi imposto por terceiros; é quase tudo imposto. Eles não perdem tempo de colocar preço em tudo. Não me admiro se, daqui há poucos anos, não começarem a colocar preço no metro cúbico de ar, na exposição e consumo dos raios solares e lunares. Homens desconhecidos se apropriam de tudo e lhe apresentam as contas e o pior de tudo, é que de forma inquestionada, enquanto gritam gol, amém ou só Jesus salva, todos se conformam ao pagamento imposto. Porque todos os imbecis aceitam, você também é obrigado a pagar, pois se você não entra no jogo, eles acabam com você.

Ninguém questiona nada com a devida seriedade. É comum escutar a seguinte frase: "Se eu pensar nisso, acabo louco!" Não é mesmo? Em vista disso, vou vivendo como cantava Beto Guedes: "Eu não tenho compromisso, eu sou biscateiro, que vive a vida como um rio que desce para o mar; vivendo naturalmente como deve ser, não tenho hora de partir, nem hora de chegar..."  O problema é que a cada dia que passa, as coisas se tornam cada vez mais caras; não é com qualquer biquinho que se consegue segurar as pontas e o Estado, está cercando, dificultando, cerceando cada vez mais a liberdade de ação; é uma grande inversão de valores, onde o cidadão deve viver para o Estado, que por sua vez vive para o empresariado e não para o cidadão. É uma ciranda acelerada e inquestionada onde, se você não paga, a fila anda e o próximo paga. Mesmo tentando se organizar socialmente, fora a pesada ação do estado, sempre tem os "fura greve", dispostos a pagar o ágio para ter o produto entregue às escondidas na mesa de sua casa, sem o menor constrangimento diante da necessidade dos menos afortunados. Em meio de toda sua loucura e rebeldia, com certeza, acertadamente dizia Cazuza: "A burguesia fede!... Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia"... Não é fácil a tomada de consciência, o condicionamento é muito forte, a cegueira é muito grande, o sonambulismo é incalculável. Não é assim? Então, o que falta aqui é um estalo, uma inteligência maior, que aponte para uma visão maior, capaz de desmanchar a mediocridade de visão. Não se assuste com a palavra medíocre; uso-a para definir essa visão de meio campo. A grande maioria não tem visão nenhuma, pode até soar como prepotência de minha parte; e dos poucos que tem visão, raros são os que não fazem uso da mesma para obter maiores privilégios às custas da exploração da grande massa de sonambulos. Sair do sono para a visão mediana, sem o alcace de uma visão suprema é que nos mantém no deserto do real. Essa é uma situação terrível, uma vez que não dá mais para se conformar com o estado de sonolência social, quando se tem, por menor que seja, a experiência de um lampejo de luz.

Em vista disso, lhe pergunto: você acha que isso que estou colocando é loucura? É uma espécie de romantismo barato? Será que faz sentido esse imposto modo operante de sobrevivência, esse disfarçado modo operante de branca guerra social? Esse modo de sobreviver que nos expreme, que nos rouba todo o tempo, onde não sobra tempo pra nada? Esse modo de vida em que se coloca um filho no mundo e por não sobrar tempo pra acompanhar seus passos, acreditar que dá para compensá-lo através da matéria e presentinhos de tecnologia barata? Com férias financiadas no país do Mickey Mouse?... Tudo por causa da culpa por não ter tempo que propicie autêntica intimidade? Não vejo sentido nisso! E não é nada fácil viver com esse modo de ver a vida, porque não se encontra com quem conversar, uma vez que a grande maioria está inserida nisso. Não interessa os meios pelo qual você vai conseguir o seu sucesso... Não interessa! O lance é não questionar nada, mas conseguir sucesso! Dane-se, se em resultado disso, seus filhos futuramente apresentem um debil modo de vida; se serão psicologicamente incapazes de fazer frente aos futuros desafios da vida. Dane-se se seu casamento será mais um casamento de fachada. O que importa é a ostentação de sucesso, veja bem, não é nem mesmo preciso o alcance do sucesso, o que importa é o poder de ostentação, conseguido através do pagamento das contas atrasadas, evitar a busca e apreensão, mas que não evitam o solitário estresse da situação e sua  indevida transferência para terceiros. Nada disso importa, se você tiver sucesso, todos estarão aplaudindo e sabe por que? Porque enquanto você tiver sucesso, eles poderão usufruir de você, eles poderão sugar seu sangue, até quando você tiver "bala na agulha", até quando tiver o "poder de consumo". Caso contrário, nem se lembrarão que você existe! Isso soa estranho pra você?

Agora, se você já se apercebeu de tudo isso, como é possível fazer uso do "fodômetro", esquecer tudo que viu e se entregar de corpo e alma aquilo que sabe ser falso? Como dizer tudo bem e passivamente se entregar ao conformismo estagnante? Como? De que jeito? Sinto muito lhe dizer mas, se você for como eu, o lance é ir pra fogueira... Não sei no que isso vai dar, só sei que prá lá eu não posso mais! Continuo aqui, no que parece ser uma espécie de espera de um milagre, representado por uma ideia que faculte a libertação do poderoso controle do sistema. Vivo à espera de um "click" que faculte algo diferente do que até agora se apresenta, porque o que está ai, não dá... Eu não banco! Tudo é muito falso, é uma servidão escravagista, ferrenha, em navios negreiros de lata com catraca movidos a carregados cartões eletrônicos, entendeu? Os que detem o poder não te dão nem condições dignas de ser escravo (se é que pode haver dignidade nisso!) O sofrimento diário é terrível e eu não consigo entender como que todos podems aceitar de modo tão silencioso. Como aceitam participar dessa guerra branca social, como aceitam de bom grado guerrear com o vizinho do lado, ainda de madrugada, no abarrotado ponto de ônibus, depois na abarrotada estação do trem ou metrô... Eles aceitam brigar entre eles, ao invés de brigar com aqueles que fazem deles escravos... Ai chegam no local de trabalho e brigam com o colega do lado ao invés de brigar com aquele lhes exploram através de uma carteira de trabalho registrada pelo metade do valor real de seu salário... E se submetem a ficar por oito ou dez horas, sem ao menos saber como está o tempo lá fora, para de mal humor, continuar a guerra no trajeto de volta ao lar... Que vida é essa que todos aceitam sem perceber que a vida real está passando? O mais interessante é perceber que, quando uma pessoa morre, entre seus conhecidos, sempre haverá um que fará a seguinte afirmação: "É! Esse pelo menos descansou! Está melhor que nós!" Será que ninguém mais percebe isso? As pessoas se conformam em trabalhar em qualquer coisa para não terem que se deparar consigo mesmas, sempre sonhando com dias melhores no futuro, em seus dias de aposentadoria, quando pensam em viver a vida de fato. Eles aceitam dedicar 35 anos de trabalho forçado, sem a menor paixão, para depois disso, com a mente e corpo embotado, destituídos de energia, tentarem a vida verdadeira. Só que quando chega esse período, como não há mais energia para nada, o que se percebe, é que boa parte do tempo é gasto para falar de doenças, exames médicos, os valores e o péssimo atendimento de seus planos de saúde já em rota de extinsão. É isso que se vê na maior parte dos encontros das pessoas na faixa da terceira idade: elas se encontram, não para falar do desfrute da vida, mas sim, para falar de planos de saúde, ofertas dos jornais de supermercados e sobre os exames que estão fazendo. Você também não percebe isso? E ai? Como é que eu posso me adaptar à isso? Como posso aceitar isso para a minha realidade? Como posso fazer parte disso numa boa? Se eu já vi o falso de tudo isso, como posso me permitir fazer o mesmo? Se me permitir isso, devo aceitar-me como um hipócrita. Eu não quero fazer parte disso! Você quer? Então? Você não sofre quando vê um ente querido preso nesse modo de vida? Não sofre quando percebe que não tem uma inteligência amorosa capaz de apontar de forma assertiva a falsidade desse modo de existir? Não sofre ainda mais quando percebe que ainda não dispõe de um modo de estar na vida, sem de alguma forma, compactuar com tudo isso? Claro que o outro não pode colocar fé em tudo isso que de forma insegura você aponta, uma vez que ainda não conseguiu libertar nem a si mesmo.

Agora, se você descobre algo novo, que te dê condições de ser um homem realmente livre, não dependente do sistema, não ser um escravo no coro dos contentes... Porque hoje a escravidão é diferente, eles não colocam mais correntes nos seus pés e nas suas mãos... As algemas agora estão no celular de última geração, com sistema andróide, no rádio, nextel e nas demais parafernalhas tecnológicas, pelas quais exercem o controle sobre sua mente e seu modo de viver. O empregador quer você à disposição da empresa por 24 horas; você tem que estar com o celular na cintura o tempo todo, só que ele só paga por oito horas de trabalho por dia. Eles não quer saber de pagar para você pela assessoria dada após o horário de serviço. E a maioria aceita isso porque a empresa disponibiliza um "brinquedinho" de ponta com a qual pode tirar algumas fotos e compartilhar em suas redes sociais. E se você ousar dizer que não vai atendê-lo após o horário do serviço, se ele perceber que você não quer se comprometer "full time" com a empresa, no dia seguinte, você é convidado para uma visita ao temido departamento pessoal. E pode ter certeza que, um outro trouxa, alegremente ocupará seu lugar com seu aparelho de celular. É interessante notar o ar de importância com que as pessoas atendem suas ligações comerciais... Como elas gostam de ostentar o quanto são importantes e atarefadas, o quanto vivem para o seu trabalho; essa é uma moeda que conta muito dentro do meio social, isso gera credibilidade, respeitabilidade, afinal, "meu nome é trabalho e meu sobrenome, hora extra"... Então? Parece loucura o que estou comunicando? Tem jeito de se adaptar sem corromper a mente e o coração?

Tenho um conhecido que também está ai na caminhada pela busca de um modo de vida pautado na simplicidade voluntária, que sempre nos recorda o seguinte: "Se você permitir, sem o menor constrangimento, tem sempre alguém disposto a pendurar em seu pescoço um carnê ou uma nota fiscal"... Mesmo quando você morre, tem sempre alguém apresentando uma conta referente a mensalidade de onde jogam seus restos mortais. Está bom prá você? Tem a mensalidade para alguém da família pagar... Pois é meu irmão! Mas ninguém vê isso e se vê, acaba tirando como normal. Até para morrer o Estado torna tudo mais complicado. Tudo faz parte de um grande pesadelo que nos impede o desfrute da vida. E tem jeito de aceitar isso? Bem, até agora, eu não consegui. Com certeza, posso afirmar que eu não sou um sujeito normal. Eu não consigo me adaptar, eu não consigo me ajustar à isso e estou pagando um preço alto por assumir essa postura. Porque aquele que não se ajusta, não consegue "uns coros de rato" para fazer o mínimo possível. Fica tudo muito limitado. O sistema complica tudo. Se você não está vendo, parece que fica mais fácil. E dá raiva quando você olha em volta e percebe que todos estão seduzidos pelo canto da sereia; quase todos estão até o pescoço dentro disso. Eu olho para os meus parentes e não vejo um nome se quer que viva algo semelhante; todos eles fazem um enorme esforço para serem vistos como membros da família que "deram certo", como "alguém de sucesso", alguém "que está bem", alguém que conseguiu formar "uma família doriana". E, nesse andar da carruagem, o que mais percebo é um monte de adulto criança brincando ao lado de suas crianças adultas, precocemente sexualizadas e adaptadas ao consumismo. Todos mecânizados, tecnologicamente dependentes, escravos de marcas, comportamentos e modismos, vivendo sem liberdade nenhuma. São escravos da nova era. Se amanhã o sistema começar a vender "saco de peido", vai todo mundo correr atrás, porque virou moda! Alguém ditou que é moda, então todo mundo quer comprar. E o pior de tudo: passaram a gostar, porque se você não gostar, se você ousar ser diferente, você não é normal!

Como você pode se libertar disso tudo, eu de fato, não sei; consciência parece ser a melhor resposta. A maioria dos homens e mulheres que ousaram questionar tudo isso, passaram pelo mesmo perrenho pelo qual estou passando e a maioria que vi não aguentando o tranco, acabou estagnando, se vendendo para o sistema, ficando sem energia para nada. Você sabe: água parada, apodrece. A energia vital parece evaporar, os olhos ficam sem brilho, os corpos obesos, a palavra repleta de superficialidade. Quando você se entrega ao sistema, você tem que se afastar das pessoas que estão no sentido contrário, senão, a consciência acusa. Para fazer isso numa boa, você precisa de fato, apagar sua consciência.

Você me pergunta como evitar isso? Também estou buscando por essa resposta. A mente insiste em buscar por adaptação, em buscar pelo ajustamento que produz respeitabilidade em detrimento da liberdade. A mente pede para aceitar qualquer migalha expressa juntamente com uma cesta básica, para alguém que fica com um lucro maior do que o da rede de supermercados. A mente pede para você voltar a fazer aquilo que estava quase te matando internamente, corroendo sua consciência. Não mais se prostituir, é uma verdadeira via cruxis, é a jornada do herói, é a trilha menos percorrida. Só que o sistema está cada vez mais poderoso... Você pode tentar se esconder no meio da caatinga que até lá já tem alguém, algum "coroné", algum político bigodudo, metendo preço em tudo. 

E se você se atrever a sair lá fora, abrir o peito, dar a cara pra bater e expressar aquilo que, por observar, absorveu, se tentar ser um facilitador de consciência, a polícia, que é pau mandado do Estado a serviço das grandes corporações, numa cadência armada, desse o cacete em você e pode ter certeza que não vai aparecer uma só vogal no horário do jornal nacional... Eles metem spray de pimenta na sua cara... Jogam gás de efeito moral naqueles que tentam mostrar a imoralidade da moral estabelecida e cegamente aceita pelos que dormem. Dá para entender um troço desses? Dá para entender? Quem deveria estar defendendo o interesse da maioria, está covardemente defendo os interesses de uma minoria de banqueiros, empresários e megacorporações.

Então, as coisas estão bem complicadas! O negócio está complicado! Se você também está vivendo isso e, como eu, ainda não encontrou sua resposta, só posso lhe dizer o seguinte: força irmão! Que a força esteja com você! O que ajuda é buscar por mentes que pensam na mesma direção, fazer uns "fios terra"com essas mentes, porque senão, em pouco tempo, acaba-se lá, na antiga servidão. E ai, uma coisa puxa a outra... Se você não dá aquilo que o sistema quer, o sistema queima o seu filme; ele consegue fazer com que você não seja nunca levado a sério. O sistema quer que você se conforme a qualquer coisa, que você trabalhe feito um burro de carga em qualquer coisa, que não exerça sua faculdade de questionamento e reflexão. Você tem é que trabalhar! Não interessa se você está feliz ou não, se está fazendo ou não aquilo que ama! Você tem é que trabalhar! Melhor trabalhar com qualquer coisa do que ficar em casa sem fazer nada! Pensar na vida não paga conta, não coloca pão na mesa. As coisas sempre foram assim, quer você aceite ou não; se funcionou com nossos avós, se funcionou com nossos pais, tem que funcionar com você também. Eles podem não falar isso abertamente, mas seus olhares e o movimento de seus corpos, denunciam a crença nesta insana filosofia que à todos impede de viver.

É através dessas histórias, onde todos se apoiam e aceitam isso, que a guerra esta ai... Todos se degladiando no trânsito... De que modo você pode estar no trânsito, pacificamente, se você já sai de casa, contrariado, completamente infeliz, rumo ao trabalho? Uma grande massa de contrariados motorizados, vivendo semanalmente aquilo que não amam, se forçando por causa da enorme pilha de contas e descontando no trânsito sua falta de coragem para chutar o pau da barraca. Ao invés de todos pararem e gritarem: chega!.. Você também sente isso?... Eu também sinto isso!.. Então, se ambos sentimos isso, deve ter alguma coisa errada!... Se estamos todos sentindo a mesma contrariedade, porque insistimos em perpetuar isso tudo sem o mínimo questionamento?... Vamos parar!... Vamos parar geral! Vamos rever esse sistema!... Vamos rever nossa falta de exercício de consciência!... Vamos criar um modo diferente de viver, pois assim não está dando, nós estamos todos morrendo! Se não for por nós, vamos então pensar em nossas crianças, pois talvez, ainda haja tempo para a mudança, talvez elas ainda não estejam totalmente condicionadas, totalmente mecanizadas!... Mas não! Pela ação da ignorância ou do medo, ninguém ousa parar essa velha música destituída de melodia e real harmonia... Ninguém se debruça sobre questionamentos fundamentais. Ninguém apresenta algo próprio, só sabem repetir notícias de jornal, de telejornal, de coisas ouvidas em conversas de balcão; eles não apresentam nada de autêntico, de original, nada que vale a pena ser levado para casa, no qual possam meditar por alguns dias sobre o que foi por eles falado. Não é assim? E ai? É isso que você quer para você? É isso que você quer para seus filhos?... Você faz uma pergunta para essas pessoas, os olhos delas chegam a virar porque nunca se depararam com perguntas fundamentais; não sabem nem por onde começar uma linha de raciocínio. Se você insiste um pouquinho mais elas começam a apresentar a letargia do sono. Já percebeu isso?

A maioria não está vendo nada! E não poderia ser diferente! Isso é fruto de uma educação desumana, voltada sempre para o alto e nunca para aqueles que estão abaixo de você. É sempre uma educação olhando para cima! Não é nunca olhando para baixo, para ver como posso ajudar aqueles que estão por baixo para terem uma melhor forma de criar consciência que por sua vez, gere melhoria de vida. Mas se você falar sobre isso, vão te rotular de romântico, de filósofo, de Dom Quixote a lutar contra moinhos de vento. Vão julgar a qualidade de suas idéias pela qualidade do seu carro ou das mobílias de sua casa. Foi sempre uma educação voltada, não para o compartilhar, mas para o consumir, para o competir, para passar por cima ou então, para o conformismo do obedecer. Não tem espaço para o comungar! É um sistema muito louco!

Penso que o grande lance é conspirar pelo melhor, é confiar que a existência, que a Grande Vida, tem um plano maior ai, tem alguma coisa para nós, temos que confiar e conspirar por isso. Porque é o seguinte, eu não sei você, mas eu estou aqui à disposição da vida... Sabe aquela coisa: "Senhor, fazei de mim um instrumento de consciência!... Vida, faça de mim um instrumento de consciência! Gerando consciência por um modo melhor de vida para todos!"... Não acredito que a vida vai nos deixar na roubada! Não é possível! Tem que se conspirar pelo melhor! tem que ousar ver lucro onde a massa dormente só vê prejuízo. Tem que ousar por algo que faça sentido colocar toda nossa energia vital. O problema é que quase ninguém está preocupado com isso. O lance hoje é a mesmerização; ninguém está se preocupando com a originalidade, o que importa é preço, é o genérico, é a cópia. Isso vale tanto para a matéria como para o mundo das ideias. Não é possível que o real sentido da vida seja só se preocupar com um modinho de vida umbigóide, só voltado para o próprio umbigo, ou no mais, voltado para o umbigo dos seus familiares mais próximos. Isso é como uma tragicomédia bufa, a qual se referia um amigo escritor, Brasigóes Felício: "Vivemos em sociedades de mascarados, somos atores de uma tragicomédia bufa em que todos desempenham seus papéis. No palco de todos da vida passamos os dias a oprimir e sufocar uns aos outros, a pretexto de amá-los e protegê-los"... Numa sociedade que ama a mentira, torna-se difícil o correr atrás da verdade. Se você começa apontar muito para a verdade, ninguém te suporta. Todos querem você com mentiras aceitáveis. Se você tiver mentiras aceitáveis você pode participar do joguinho social; se você viver com questionamentos em direção da verdade, ai não dá! Se você for um hipócrita sorridente você pode participar da esbórnia; se for um amante da verdade, cai fora!  

Finalizando, viver fora do sistema está muito complicado. Viver de olhos abertos não é fácil: "nadar de olhos abertos pode fazer arder os olhos mas, com certeza, impede de bater a cabeça contra a parede, impede de nadar na direção errada".  

Obrigado por ter me acompanhado até aqui!
Um fraterabraço!  

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

05 maio 2012

O idealismo e a caça aos bruxos


A tendência humana de buscar por um modelo "super-humano" a ser seguido, um ser dotado de incorruptível santidade e austeridade comportamental, não passa de um idealismo que denota tanto a ausência de maturidade como de inteligência para o gerenciamento do próprio modo de ser. Além do mais, no que diz respeito a responsabilidade pessoal, única e intransferível de compreender suas inconfessáveis tendências, manias e neuroses ocultas – entre elas o orgulho – os quais criam a descabida exigência do alcance de tal ideal de perfeição, de tal ideal de incorruptível santidade e inabalável austeridade comportamental, qual a validade em ficar especulando a qualidade do comportamento alheio? É muito fácil exigir um ideal comportamento humano quando não se está diretamente envolvido com as situações na qual aquele a qual julgamos se encontra. Como podemos afirmar, sem o menor peso de consciência de que, uma vez inseridos no mesmo contexto histórico social/emocional, no mesmo espaço-tempo, tendo a mesma base, o mesmo background emocional, sofrendo as mesmas influências do ambiente, não agiríamos tal qual ou ainda de pior forma? 

Parece-me igualmente um sinal de imaturidade e falta de inteligência, essa tendência humana – na qual ainda me encontro inserido – de eleger inimigos externos contra os quais levantamos a bandeira de "caça aos bruxos", com base em relativos preconceitos quanto ao que seja idoneidade moral. Achamos muito fácil rotular como hipocrisia o comportamento alheio, principalmente quando nos vemos escudados pelo apoio psicológico de um grupo no qual – "momentaneamente" – somos aceitos (isto até que o grupo faça do indivíduo, seu bode-expiatório com o qual tentam encobrir a própria falta de inteligência e maturidade que acaba por mantê-los num constante estado de dependência psicológica).

Parece-me que, enquanto prisioneiros de ideais de perfeição, não há como experienciar de fato, a realidade do que é e, portanto, não há como se ver livre da tendência dual de se relacionar com os constantes desafios da existência: inicialmente amando, posteriormente odiando, inicialmente idolatrando, posteriormente perseguindo e difamando, inicialmente acolhendo, posteriormente descartando...

Esse modo de se relacionar com base em ideais – os quais são sempre limitados pelo tempo, espaço, tradição – alimenta o enorme e estagnante processo de auto-engano, de auto-distração, o qual se manifesta pela dispersão de foco e energia, cujo resultado, aponta para o impedimento da percepção das próprias pedras de tropeço, entre elas, o orgulho e a nossa social hipocrisia. Como nas palavras do Nazareno:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Assim, também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.” Mt 23:27-28

"E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não atentando tu mesmo na trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão." Lucas 6:41-42

Parece-me que, essa tendenciosa e contraditória mania de caça aos bruxos é uma característica peculiar que aponta para a própria falta de magia original: por falta de luz própria, muitas vezes, de forma impulsiva, irracional e leviana, tendemos ao incitamento para o ofuscamento da magia e da luz alheia. Esse tem sido um movimento característico da raça humana, o qual é sagazmente validado em escritos históricos, sem o devido discernimento de que o contar da história quase sempre é adulterado pelas tendências, manias, condicionamentos, influências políticas e religiosas e os ocultos interesses do historiador ou de quem sustenta seus relatos. Quase sempre, a história que é transmitida geração após geração é a história contada por quem detêm o poder e, com o qual, facilmente manipula a opinião da massa não pensante, destituída de seriedade e do poder de observação. Dessa forma é que tem sido evitado o saneador processo de questionamento dos estabelecidos códigos morais. Um bom mergulho nos fatos históricos nos mostra que aqueles que se viram alvo de criticas e julgamentos por parte de seus inquisidores, nunca tiveram a mesma oportunidade de ênfase e espaço para a defesa de seu modo de ver e estar no mundo, nunca foram ouvidos de forma incondicionada com a devida atenção; eles são silenciados pelos rótulos à eles aplicados pelos que detêm o poder e facilmente aceitos por aqueles que, pelo mesmo poder, de forma consciente ou inconsciente, se permitem serem controlados. Apoiados na superficialidade de alguns pontos, a totalidade do Ser, por quase todos é rotulada e, sem o uso do bom senso, despresada.

A maliciosa tendência de exigir perfeição alheia é um social mecanismo de defesa para dos outros tornar alheia a própria falta da idealizada perfeição. Não existe 100% de verdade; existe a verdade da pessoa, a verdade alheia e A VERDADE e, esta última, quase sempre precisa de décadas, quando não séculos, para atravessar os limites gerados pelo embotamento dos condicionamentos. Como no dito popular:

Quando apontamos o dedo indicador para alguém, mantemos três dedos voltados para nós mesmos, enquanto que o polegar permanece voltado para o Infinito onde, em última análise, em reinos superiores reina a Verdade, cujos nossos condicionamentos e tendências, nunca podem macular.

Finalizando, conhecer a verdade do outro em nada pode nos ajudar no conhecimento da verdade sobre nós mesmos e, só esta tem o poder de nos libertar de nosso bem defendido estado egóico de hipocrisia disfarçada.  

 Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!