Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 maio 2012

Ondes estão as outras moscas da sopa?


Existem perguntas que insistem em não se calar; você busca, busca e busca, limpa, limpa e limpa o que ofusca a expressão da consciência, para chegar num ponto em que você fica numa total solidão por não ter com quem compartilhar, por não encontrar eco humano, não encontrar nada que lhe aguce, que lhe desafie a ampliação de percepção. Você olha ao seu redor, observa em seus contatos estes, quase sempre superficiais — não por sua escolha, mas em razão do medo do outro — e só se depara com superficialidades, com trivialidades, com transitoriedades, as quais, em nada lhe desafiam. Então, inevitavelmente surge a pergunta: qual o sentido de tudo isso? Qual a razão de tudo isso? Em vista disso, para quem realmente é sério, não há como evitar o surgimento da questão: Qual o sentido da vida? Quando você olha para a maioria do trajeto humano e se depara com uma vida de sofrimentos, de necessidades, de compromissos que impedem o desfrute da vida em sua totalidade e, no final, um doloroso desenlace, quase sempre mal assistido clinicamente, como não se perguntar qual o sentido de tudo isso? Como não se instalar uma profunda insatisfação, um profundo descontentamento com tudo que se apresenta?...

Você olha para um lado e não se depara com um real sentido para caminhar em tal direção; você olha para outro lado e no mesmo, também não faz sentido a menor ação. Você olha para o seu passado e percebe que, insistir em perpetuá-lo, também não faz o menor sentido e, conjecturar quanto ao futuro, menos sentido ainda. Você se depara com o agora e, em si mesmo, não se depara com nada que aponte para uma real conexão, para um sentido de pertencer, de estar realmente ligado, integrado. Você olha para as pessoas, sai em direção delas, ansiando por contato, no entanto, bastam apenas poucos minutos para constatar que, devido seus enormes condicionamentos, a melhor escolha é se manter em silêncio, caso contrário, o risco de abalamento de egos é eminente. Você constata, sem o menor esforço, que a grande maioria das pessoas ao seu redor, ainda se encontram prisioneiras daquilo que você, com muito esforço, há anos já deixou pela estrada da vida. Você se depara com uma linguagem que há muito, em você, já ficou para trás. Nesse momento há também a percepção de que você não tem o direito de desmembrar uma linha de raciocínio a qual possa abalar aquilo que para o outro ainda faz pleno sentido, aquilo no qual o outro ainda deposita sua fé, sua frágil segurança psicológica. Definitivamente, você constata que, a não ser que você seja questionado, esse não é o seu papel. Nesse caso, a melhor linguagem é o silêncio, como resultado, o encontro só se faz através dos corpos físicos, mas sem o menor encontro de mente, coração e consciência. Tem momentos que chega a dar desespero encontrar por pessoas que, logo no início da conversa você percebe que ela é uma coleção de frases prontas, de onde ela tira uma aqui e outra li, mas dela, da sua própria visão de mundo... Olhar e dizer: "é isso aqui que estou vendo"... Ah! Você não acha!... Cada um é responsável pelo seu modo de ver o mundo e eu penso que a relação é justamente isso: a gente poder trocar o modo como estamos vendo e interagindo com o mundo, compartilhar como estamos participando, o que estamos fazendo e aquilo que estamos vendo que não é legal, compartilhar o que estamos fazendo para chamar à consciência de que isso não é legal, para que juntos possamos pensar em como, de fato, mudar isso.

Não raro, se você nesses ambientes, sem ser questionado, ousa expor seu modo de ver e estar na vida de relação, você acaba sendo mal compreendido e, consequentemente, de forma silenciosa, rotulado de forma pejorativa, além de passar a ser visto através de uma imagem preconcebida, a qual impede o contato com aquilo que você realmente é, com aquilo que você realmente sente. São esses rótulos e imagens resultantes de preconceitos herdados que impedem a manifestação de um real encontro. Quando isso ocorre — o que no meu caso parece ser uma constante — surgem na mente as seguintes questões: será que aquilo que estou falando não tem nada a ver com a realidade? Ou então, onde estão as pessoas com as quais eu possa me deparar com ecos questionadores? Será que tudo aquilo que vejo não passa de uma visão equivocada? Será irrealidade? Ou será real aquilo que vejo, assim como real, a falta de capacidade de visão destas pessoas com quem tento me relacionar?

Não é nada fácil quando bate essa necessidade interna de comunhão, essa imperiosa necessidade de conexão, de troca, de autêntica comunhão com outro ser humano, de uma autêntica relação — não essa relação que nunca avança além das trivialidades midiáticas do cotidiano; para mim, esse tipo de conversação, nada mais significa, não tem real poder de nutrição. Então, você sai de manhã em direção à padaria, fica ali degustando seu café, ouvindo as repetidas falas, os assuntos de sempre, as mesmas coisas, as mesmas piadas, as mesmas inflamadas discussões futebolísticas...  Não há como não surgir a questão: como é que esses homens, quase todos com mais de cinco décadas, conseguem ver sentido em compartilhar das mesmas histórias, dos mesmos assuntos, das mesmas coisas que, em si, não trazem nenhuma alteração qualitativa?... O que o gol de fulano ou ciclano, o título do time X ou Y, pode trazer de real qualificação existencial? Qual o poder que isso tem de mudar qualitativamente nossa deficitária realidade social?... Para estas pessoas, isto talvez possa ter algum sentido mas, para mim, não há mais como me identificar com isso; foi bom até os meus 18 ou 20 anos; nestes meus 48, não faz o menor sentido, não há como dedicar tempo para ficar vendo 22 garotos — na maioria, mal letrados — correndo atrás de um montante de borracha cheia de ar. Olho em volta e fico me questionando: onde estão esses outros que olham para tudo isso e também não veem o menor sentido e que fazem o questionamento, "será que não tem nada além de tudo isso?"

Para onde olho, só vejo o falso... Olho para a política organizada, só vejo o falso... Olho para os profissionais sistemas de crença organizada — que erroneamente a sociedade chama de religião — e só vejo o falso... No modismo, outra falsidade também... Você pode estar se perguntando: "então, o que é verdadeiro para você?"... O verdadeiro para mim é tudo aquilo que aponte para a revelação da Verdade... E cadê essa Verdade que não se manifesta de forma mais contundente? Então, vou vendo pedacinhos por pedacinhos e não encontro com quem compartilhar o que vejo, para ter um retorno se aquilo que vejo, pelo outro também é visto e, portanto, possa se mostrar com algum fundo de verdade, de realidade. Você quer encontrar por outras pessoas para ter a certeza de que não esteja vendo o mundo de forma equivocada, no entanto, onde estão essas pessoas para você poder trocar ideias sobre isso que está constatando? Como encontrar por retorno, por um feedback, com o qual se possa ampliar ainda mais a capacidade de visão? Como encontrar pessoas capazes de entender exatamente aquilo que você está tentando expressar, sem ofuscar aquilo que é dito através de antigas crenças, imagens, símbolos ou outro tipo de preconceito? Onde encontrar pessoas que já não se iludem mais com a busca de entretenimento, com a busca de distração, com a busca de mais e mais conhecimento, por pessoas capazes de fazer frente ao estado de não-ação, no qual a meditação se faz possível?...

Para mim, não faz mais sentido buscar por distração, por ocupações para "matar o tempo", arrumar atividades só para não ficar sem fazer nada; no entanto, me questiono: qual o sentido de ficar sem fazer nada o tempo todo? Como dizia o poeta, "Paz, sem voz não é paz, é medo!" Digo: Paz sem transbordamento social, uma paz que não se manifeste localmente, pensando globalmente, não é paz, é comodismo egocentrado!... Para mim, não dá! Não faz sentido! O problema é que sinto uma energia interna tão grande, a qual minha limitação de inteligência, até o presente momento, impede a visão de onde canalizá-la de forma que eu sinta que faça um real sentido, tanto para quem essa energia é dirigida, quanto para meu interior. Para mim não faz o menor sentido ir atrás de um curso profissionalizante qualquer, como uma forma de dar um sentido ao tempo. Percebe? Ai surge a pergunta: onde estão essas pessoas que sentem algo parecido, que sentem semelhante inquietação, que possuem semelhante tipo de necessidade de aprofundamento, em que as questões acontecem de forma automática, que se apresentam não por meio de um esforço cerebral, mas sim, das regiões mais profundas de seu ser? Questões essas em que você percebe que a grande maioria não possui o mínimo interesse por elas; além de não terem o mínimo interesse, elas não possuem se quer, o tempo necessário para se dedicarem na meditação sobre essas questões, de tão financeiramente comprometidas que estão, devido a irracional identificação com o bombardeio de mensagens publicitárias a que diariamente são submetidas e as quais tão facilmente, sucumbem sem o menor senso crítico, incentivadas pelo orgulho familiar.

Alguns conhecidos, afirmam com segurança, que não estão nem um pouco interessados no contato humano, que se pudessem, viveriam totalmente isolados, desfrutando do atual bem estar que encontraram — nunca antes sequer imaginado — mediante o processo de autoconhecimento. Confesso que esse tipo de comportamento, para mim, não faz o menor sentido. Sinto que a vida é relação, portanto, não vejo como me satisfazer no comodismo isolacionista de meu ambiente, afirmando que tudo é lindo, que tudo é amor, que tudo é "Love", que tudo é uma "brincadeira divina", enaltecendo o brilhante estado de mente atingido por alguns poucos homens e mulheres ou então, de forma contrária, ficar criticando o sistema, enquanto dele tenta extrair alguma coisa, sem dar nada de si, sem tentar nele interagir ativamente como uma ferramenta fomentadora de consciência. Quando bate esse tipo de sentimento, sai debaixo!... Não é fácil! Porque não é fácil, nem ao menos explicar para as pessoas o que vem a ser a qualidade desse tipo de sentimento, uma vez que elas, sequer um dia passaram por isso; suas angústias existenciais ficam somente no nível do material, do psicologicamente "correto", angústias essas vividas e por mim descartadas há muitos e muitos anos... Já corri e consegui isso que elas buscam; já sofri a desilusão, já senti o gosto de cinzas que ao consegui-lo, isso deixou em minha boca... Você busca por algo que, após consegui-lo, logo perde seu encanto... Logo, quando me deparo com alguém seduzido pelo canto da sereia, como posso eu que um dia também nisso acreditei, virar para o outro e forçá-lo o prematuro desencanto? Não tenho permissão para isso! O silêncio é a melhor linguagem; não há como dividir quando o outro só quer somar! Não há como dividir sua visão de mundo e, mesmo quando você tem oportunidades de dividi-la, raramente você se depara com um retorno coerente. 

Em vista disso tudo é que surgem as perguntas: Será que tenho que mudar o meu discurso? Será que o mesmo se faz muito arrogante?... Tenho alguns conhecidos que já chegaram a me rotular como um desses "rebeldes revolucionários", um deles até me rotulou de modo explicito, como um "comunista",  alguém que quer derrubar todo o sistema para conseguir um modo de vida fácil, bastante preguiçoso. Não foi necessário muito esforço para perceber que minha linha de raciocínio se apresentava como algo ameaçador diante de seu conquistado modo aburguesado de ser, ameaça essa que fez com que ele deixasse de me procurar para nossas conversas nutritivas. Ele, assim como outros tantos, defendiam seus excessos alegando que os outros não conseguiam o mesmo sucesso que ele, devido a falta de esforço e por puro comodismo. Nunca os vi questionando sequer uma vez, se os outros tinham tido ou não a mesma oportunidade que eles haviam tido, se haviam ou não nascido em semelhantes berços, com a abertura para a aquisição de uma cultura capaz de proporcionar um efetivo desenvolvimento psicológico; sempre o mesmo discurso escapista que impede um aprofundamento de questionamento que coloque em xeque o excesso de privilégios capitais em favor de uma enorme gama de direitos coletivos humanos há muito negligenciados. Não raro, desses que não avançaram para a percepção de que o  mundo é consciência, para a percepção do acúmulo de seus excessos materiais, ouço desculpas do tipo: "não há nada de errado nisso, uma vez que estamos no mundo da matéria". Claro que isso soa como algo profundamente natural para aqueles que ainda se encontram condicionados pela irrealidade da identificação com a matéria e com a consequente expressão sensitiva corporal. Para essas pessoas, ainda presas na ilusória identificação material, claro que um tipo de fala como a minha, logo incita o medo diante da equivocada ideia de ter que abrir mão quanto aos seus "bens patrimoniais" para a aquisição de alterados estados de consciência. O fato é que, com dinheiro ou sem dinheiro, com ou sem "bens patrimoniais", todos um dia teremos que deixar esta existência e, diante disso, a pergunta que fica é a seguinte: "No que realmente faz sentido correr atrás?"... Para essa pergunta, já recebi como resposta — claro que de alguém cujo modo de vida é bastante aburguesado —, "que ficar filosofando não coloca comida no prato". Diante de tal resposta, surgiu a seguinte questão: "E se todos dedicassem o mesmo tempo que dedicam à busca de transitórios bens patrimoniais, à busca de poder, reconhecimento e prestígio, dedicassem ao estudo da filosofia e dos incontáveis problemas existenciais humanos? Será que não teríamos um modo de vida mais qualitativo e igualitário? Será que a vida não se apresentaria mais fácil e, portanto, realmente prazerosa? Será que os direitos não seriam vistos antes dos privilégios? Será que, ao invés de ver o outro como um trampolim de acesso à irrefletida capacidade de consumir, não veríamos o outro como uma oportunidade de partilha e comunhão?" Fica ai a pergunta para reflexão.


Silenciosamente eu fico observando o acelerado desespero da grande maioria das pessoas; e os que vivem essa aceleração, devem estar vivendo-a porque não devem estar fazendo questionamentos com profundidade, porque se todos começassem a questionar de fato, de certo isso que se apresenta ai, entraria em colapso, pois todos tomariam consciência de que não faz o menor sentido. Não faz sentido nenhum! No entanto, como não há tempo e espaço para o questionamento sério, a coisa fica como está, ou melhor, complica-se cada vez com mais intensidade. Ninguém quer pensar juntos, ninguém quer olhar pra tudo isso com propriedade... As pessoas não estão tendo tempo para desfrutarem a vida; elas ficam umas tantas horas "enlatadas" no transporte público e depois ficam o dia inteiro dentro de um escritório, onde muitos, desconhecem as cores dos olhos de seu patrão. Mal sobra tempo para as demais necessidades. E se permitem isso sonhando com a futura aposentaria... Então, dá para aceitar que isso é normal?... Será que é normal ver à todos como concorrentes e dar um jeito de arrancar deles alguma coisa para conseguir um privilégio a mais?...  Eu não consigo ter no meu coração, que essa busca do "mais", que essa busca incessante pelo "mais, mais e mais" seja o sentido da existência; não consigo ver isso como normal. Não consigo ver inteligência nesse modo operante de vida onde, para conseguir ter "mais, mais e mais" eu preciso fazer com que você e o outro tenham "menos, menos e menos".

Se for para me conformar em ter que viver dessa forma e, após os meus 50 anos, com o corpo bastante obseso, matar meu tempo numa padaria, enquanto bebo cerveja, inflamadamente discutindo futebol ou superficialmente discutindo ações políticas ou programas de talk-show, eu prefiro que a vida me leve hoje; que a vida me leve embora agora mesmo se for para eu me conformar em comentar novelas, sintomas de doenças físicas ou problemas referentes aos convênios médicos que nenhuma conveniência apresenta. Eu de fato quero ter a resposta direta de qual é o sentido de uma existência, de onde faz sentido colocar toda a energia vital que temos e que, ao ali colocá-la, algo de bom em nós se manifeste. Não algo que seja somente para poder colecionar bens transitórios; não creio que o sentido de uma existência seja dedicar tempo e energia vital em busca do que não seja essencial. Em vista disso é que me pergunto: onde estão esses outros que pensam e sentem de forma semelhante? Não é possível que só eu esteja sentindo isso! Se existe uma enorme massa que vê sentido nisso tudo que está ai, nessa normalidade operante, onde está a massa, por menor que seja, que olha para tudo isso e que não vê o menor sentido de colocar sua energia vital e dedicar tempo na busca dessas coisas transitórias? Que querem "algo mais", que querem algo com "mais conteúdo", que querem algo pelo qual realmente valha a pena debruçar horas e horas sobre esse algo? Onde está essa massa que busca pela revelação da consciência, por um modo de vida alicerçado numa comungante inteligência amorosa? Que percebem a degeneração, a decadência desenfreada que se apresenta diante do atual e corruptivo modo de vida socialmente aceitável? Que percebem a insustentabilidade desse modo de vida e que sentem a necessidade de fazer algo de maneira assertiva para a manifestação coletiva dessa consciência? Onde estão esses que sentem a necessidade de uma autêntica comunicação, ao mesmo tempo que sofrem com a dificuldade de entendimento diante de seu modo de se comunicar? Em quais arquibancadas da vida podemos nos confraternar semanalmente, sem que para isso, tenhamos que pagar por ingressos com valores abusivos, ou ser debandados de forma violenta pela ação de uma polícia à serviço dos interesses de megacorporações disfarçadas pelo Estado? Onde estão aqueles que anseiam por uma manifestação interna, por uma amplitude de consciência capaz de causar um transbordamento ético na sua atuação externa? Onde estão os homens e mulheres que não se envergonham de soltar a voz e expressar abertamente seu profundo descontentamento diante do padrão comportamental socialmente aceito como normal? Onde estão aqueles que pelo uso da escrita ou através de outra manifestação artística ousam expor sua independente visão de mundo, conspirando assim pelo despertar da inteligência coletiva? Onde estão aqueles que sentem tudo isso para que eu possa me sentar com eles e assim não me sentir tão sozinho?... Porque eu não vejo muita inteligência em ter que me relacionar com o outro através de uma máquina, através de e-mails, através de frases rápidas em redes sociais, como o Facebook por exemplo; não vejo inteligência nisso! Só por hoje, sinto falta de pessoas com quem possa trocar sobre a realidade que estou vendo, para me certificar de que essa visão não está sendo uma visão equivocada. Sei que isso é uma dependência psicológica minha e que a mesma precisa ser superada; no entanto, nunca podemos superar aquilo que aos outros e a nós mesmos, insistimos em não denunciar.

Então é assim: não tenho ainda uma resposta interna, não cheguei ainda à um estado interno capaz de silenciar todos esses questionamentos; não tenho isso! Também não tenho mais condições de me inserir em tudo isso que já vi ser falso; como posso dedicar meu coração, minha energia vital em favor disso que vejo como falso, que não agrega valor nenhum ao outro ser humano, que não pode dar em nada,  a não ser no facultar de ilusões que geram exploração e corrupção? Como posso fechar meus olhos e calar minha voz se trago comigo esse impulso de compartilhar com o outro? Como posso fechar meus olhos e me conformar em viver uma vidinha só voltada para meu umbigo?... Seria muito mais fácil não ter consciência de tudo isso mas, mesmo que assim pudesse ser, não ter a capacidade de visão, de modo algum optaria por isso. Em vista disso, finalizo com uma última pergunta: onde estão as outras moscas para cuspir nessa mal cheirosa e desnutrida sopa?

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!