Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

31 maio 2012

Uma carta para alguém que quero bem


Perceba a enorme rede de condicionamentos que prendem algumas pessoas e a maneira pela qual querem nos "infectar" com tais condicionamentos, os quais tendem a impedir a livre expressão do ser que somos e que ainda se encontra — momentaneamente — sufocado pelas máscaras e fantasias que por décadas insistimos em usar. Sei que é preciso coragem para buscar por pessoas cuja mente esteja bem à nossa frente e que, portanto, com seu modo se ser e estar no mundo, nos desafiem a extração do nosso melhor, que nos deem trabalho de raciocinar sobre uma linguagem que sai dessa trivialidade, dessa banalidade de assuntos que ouvimos todos os dias e que de forma imatura, à eles nos conformamos, permitindo assim, compactuar da estagnação do desenvolvimento de um estado de ser que pode nos brindar com o portal de uma inteligência criativa nunca antes imaginada. Para tanto, isso requer coragem; coragem de assumir a mediocridade da normalidade que está profundamente enraizada dentro de nós, assim como à nossa volta; coragem de não mais compactuar com isso, pois compactuar com isso, se traduz numa falta de respeito e amor, tanto com nós mesmos, como para com àqueles com quem pensamos de fato nos relacionar. Não é fácil a dor da constatação de que, de fato, não nos relacionamos. Se olharmos bem, veremos como é ridícula a forma com que aceitamos viver, nos relacionar, a forma sempre imitativa pela qual nos expressamos. Isso faz sentido para você? Nossos assuntos, na realidade, "não são nossos"; são quase sempre assuntos de uma passado morto, assuntos relativos à alguém que não se faz presente, assuntos de jornal, de televisão e da banalidade e mediocridade de pseudo-artistas de talk-show. Isso soa como verdade para você? Se assim é, então, lhe pergunto: por que diabos, nos conformamos em participar disso? Por que não exigimos o melhor de nós e daqueles que, em nossa inconsciência, acreditamos amar? Por que insistimos em participar desse clubinho de mente limitada, desse coro dos contentes, tão distantes de seus próprios entes? Quer saber o que descobri?... Porque temos profundo medo da solidão!... Isso faz sentido para você?... 

Temos medo de ficar com nossa solidão, com nosso tédio, com nossa intrínseca insatisfação que pede, que clama por plenitude e, como não encontramos plenitude em nossos contatos — o que de fato, nunca encontraremos — tentamos preencher nosso vazio com um monte de coisas vazias... Comida, comida e mais comida, relacionamentos disfuncionais, sexo tão intenso e gratificante como uma porta-giratória, gastos desnecessários com uma tecnologia aceleradamente descartável, com a mania de guardar coisas desnecessárias e, novamente... Comida, comida e mais comida... Churrasco de fim de semana sem a mínima intimidade, regados com bebidas e tvs de plasma com uma programação pra lá de imbecil. Na melhor das hipóteses, com a leitura de alguns livrinhos de frases prontas, que não forçam nosso raciocínio, que não falam muito diferente do que já está sendo dito em nossas redes sociais com sua filosofia falsebookniana, que não aplacam as torturantes falas de nossas questões internas. Isso faz sentido para você? 

Por que isso? Por que aceitamos em trabalhar com qualquer coisa? Por que? Por que fazemos isso conosco? Por que repetimos o mesmo modelo de nossos pais e avós? Por que não olhamos com propriedade para a vida deles e questionamos seriamente se eles foram ou são felizes com o modelo que passaram de herança para nós? Quando olho para essa herança, me deparo com um enorme presente de grego, um enorme cavalo de Tróia social. Não é difícil perceber isso, basta observamos seus sofrimentos silenciosos, afinal, por mais que tentem disfarçar com suas coleções de "tudo bem!", seus corpos os delatam de maneira gritante. Você não percebe isso?

Sei que não é fácil se abrir para o desconhecido que somos nós. Quando fazemos isso, quando ousamos por isso, quando finalmente defendemos esse nosso direito, descobrimos muitas facetas que por vezes, momentaneamente, se mostram sem o menor sentido; não se preocupe, pois é assim mesmo! É natural que a mente, nesse momento, contrataque com uma indevida carga de culpa, remoroso ou autopiedade, ao ponto de causar uma dor tão grande que nos impulsione ao fechamento dos olhos ou então, para a narcotização daquilo que estamos vendo. Se você estiver "vendo com clareza", é claro que vai descobrir coisas nem um pouquinho agradáveis... É natural a mente produzir culpa, medo e vergonha, afinal, ela foi condicionada, desde seus primeiros anos, à esse modo de reação; é óbvio que vai aflorar à consciência, muitas de nossas escolhas equivocadas que, na realidade, nem sequer podemos chamar de escolhas, afinal, como diz a música, "entramos de gaiato no navio", nesse navio social, com um enorme rombo em seu calado, em sua base que se apresenta abaixo da colorida superfície. Não há por que se culpar por isso, afinal, não havia material, não havia base, não havia fundamento lógico, não havia inteligência e, portanto, apenas, reagimos, na maioria das vezes, de forma totalmente equivocada e irracional, à falta de presença e psicologia diante de nossa natural necessidade emocional. 

Mas, lhe garanto: aqui, se não negligenciamos a escuta atenta de nossos pensamentos e sentimentos, "fatalmente" nos deparamos com uma grande oportunidade de transcendência, uma grande oportunidade para o facultar do "despertar da inteligência", para a abertura dos olhos que veem, por detrás desses cansados olhos que pensam ver. 

Não se preocupe se os outros não compreendam o seu momento; isso é muito natural. Também não se preocupe em perder tempo para tentar explicar aquilo que você sente, afinal, se por vezes não é fácil explicar nem para nós mesmos aquilo que sentimos, que dirá explicar para o outro que, além de quase sempre não saber escutar, carrega consigo, uma enorme imagem à nosso respeito? Aqui, acabei descobrindo, à duras penas, que a melhor linguagem, o melhor idioma, é: silêncio!

Descobri que o mais importante nisso tudo, é não negar esse nosso lado sombra... É preciso trazê-lo à luz da razão, à luz do discernimento; percebe? Tenho certeza que você já ouviu isso antes: onde há sombra, quanto maior, maior a luz! 

Amiga, a dor é como uma plataforma exploradora do "petróleo existencial" nesse imenso mar de inconsciência... Sua sonda tem que ir fundo, bem fundo, tem que ser poderosamente cortante... Se for bem orientada, ao deparar-se com um leito fértil expresso por uma mente aberta, tudo subirá com muita energia, com muita força, trazendo ao ar que respiramos, um horrível cheiro e muita sujeira; no entanto, se bem laborado seu conteúdo, este se mostra inquestionavelmente valioso. Portanto, com a certeza vivida na própria pele, por várias e várias vezes perfurada ao longo destes anos de busca é que lhe lanço a validação de seus sentimentos através deste fraterno incentivo:

Aqui é não negar! É se permitir o sentir, afinal, é pelo sentir que o Ser, em ti, silenciosamente, se apresenta! 

Um fraterabraço e um chute nas canelas!

Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!