Quanto mais em silêncio, em meu dia a dia, escuto as pessoas ao meu redor, mais confirmo a triste percepção de que fomos educados para rir de nossa própria ignorância e para celebrarmos em nossos curtos finais de semana, em nossas celas bem decoradas, nosso cultuado estado de servidão escravagista, a qual impede a percepção da triste e estagnante realidade em que estamos inseridos. Fomos educados para não pensar, para não observar, para não questionar, para em nada meditar, para não demonstrar nosso descontentamento; ao contrário, fomos educados para as mais variadas manifestações de crença no inconsciente ajustamento servil, onde uma delas é traduzida na possibilidade do desfrute da vida, num futuro distante, o qual chamamos de "aposentadoria"; não poderia ser mais adequado o nome desta crença ilusória, uma vez que, devido o desgaste de nossos letárgicos corpos e o embotamento de nossas mentes, a pouca energia que nos resta é usada para circular em nossos lustrados e solitários aposentos, distraindo o incerto tempo que nos resta com o frenético aperto das teclas da nossa coleção de controles remotos ou com as curtas e superficiais falas colecionadas através de nossos contatos nas digitais redes sociais ou pelas fofocas mundiais estampadas em coloridos jornais.
Não fomos educados para buscar pelo viver correto, ao contrário, fomos educados para acreditar que o viver correto é o mesmo que sobreviver. Estranhamente aceitamos abdicar da meditação em nossos aposentos, quanto a nossa real vocação, quanto ao nosso real lugar neste mundo, para, no caso dos homens, dedicar 35 anos de carteira assinada num enfadonho local de trabalho qualquer, ou esperar pela idade de 65 anos para, em meio de lamurioso desânimo, dividir nosso tempo entre os nossos aposentos e os frios e abarrotados aposentos de um hospital qualquer. Tudo isso é devidamente disfarçado, ao longo dos anos, pelo marketing ilusório referente ao nosso ilusório poder de consumo, o qual, na imperceptível realidade, para podermos consumir, nos consumimos. E assim, como sonâmbulos agentes mantenedores deste vampiresco sistema, vamos colecionando descartáveis e corrosivas propriedades, sem a menor preocupação de, em si mesmos, buscar pelo desenvolvimento de atemporais propriedades. Fomos educados para trocar o certo pelo incerto, o Real pelo irreal, o atemporal pelo temporal. Fomos educados para empurrar a vida com o suor de nossos corpos e não para a possibilidade de alegremente desfrutá-la com a totalidade de nosso ser.
Fomos educados para colecionar inconfessáveis conflitos, para disfarçar asfixiantes mentiras e para ocultar, tanto dos outros como de nós mesmos, nossos tormentosos segredos emocionais, gerados pela recusa da escuta de nossos intrinsícos sentimentos. Fomos educados para a especulação, para aparentar conhecer um pouco de tudo o que, em última análise, para os poucos sensíveis, acaba se mostrando como um supérfluo muito de nada. Fomos educados para ansiar pelo mesmo modo de vida da burguesia e realeza, com seus dias de príncipe e de princesa e nunca para a meditação direcionada para responsabilidade social visando a melhoria da grande e explorada massa de esquecidos necessitados. Com o estímulo de nossos conformados e bem ajustados familiares, de forma totalmente irresponsável, aceitamos a responsabilidade de compactuar e, o pior de tudo, de perpetuar para os nossos entes mais próximos, o corruptível vírus do modelo social consumista, que diariamente à todos suga, encaminhando-os para um falido sistema de saúde onde, quase sempre, o reflexo da constante e silenciosa ausência de bem-estar, por despreparados médicos residentes, rapidamente é diagnosticado com o rótulo de "virose". E assim, num doloroso processo de deterioração, a grande maioria atravessa de forma inconsciente a escola da existência, para nos últimos dias letivos, perceberem-se reprovados por serem totalmente analfabetos de si mesmos.
Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com