Num ritmo diferenciado dos demais dias, ele adentrou na padaria, vestindo uma engomada camisa social, uma vincada calça de linho e sapatos impecavelmente lustrados. Como de costume, me cumprimentou com aquele social "bom dia", o qual retribui, seguido da pergunta:
— Onde vai logo cedo com tamanha elegância? Fazer exames?
— Antes fosse; hoje tenho que prestar depoimento diante do juiz. Vamos em quatro: eu, um delegado e mais dois amigos, também policiais. Tenho que ir assim vestido por causa desse juiz, já conheço o figura. Com ele, preso tem que ir vestido com roupa de preso e, se você for de qualquer jeito, ele nem te deixa entrar na sala de audiência, não te escuta. O figura é casca grossa!
Uma vez dito isto, cumprimentou os demais colegas da padaria e se posicionou como sempre, diante da mesma, com seu olhar silenciosamente observador.
Enquanto me deliciava com mais um gole de café expresso, questionei com meus botões:
— Que raio de justiça é essa que, para sermos ouvidos, nos rouba o direito da liberdade de nosso cotidiano modo de ser?
Nelson Jonas - nj.ro@hotmail.com