Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

02 abril 2012

A inconsciente inversão de valores


A inversão de valores a que muitos de nós fomos e a que somos excessivamente expostos é gritante e perniciosamente enclausurante. Somos respeitados pela grandeza de nossas cambiáveis e desgastantes propriedades e não pela propriedade original de nossas idéias, consciência e visão de mundo. Somos respeitados pela artificial beleza dos móveis de nossa sala de estar e não pela natural beleza que move nosso bem-estar. Somos respeitados se aos outros recebemos com uma mesa farta, mesmo que nossa mente e coração permaneçam vazios e famintos, os quais tentamos saciar, como a grande maioria, de forma totalmente inconsciente, através da busca exterior, no prazer, no prestígio, na ânsia de poder que possibilita o consumo materialista e o alienante entretenimento. Damos a indevida atenção à decoração, enquanto negligenciamos a qualidade de vida e coração. 

Nesse aprendido modo inconsciente de existir, continuamos, como adultos crianças, a brincar de viver, construindo nossas casinhas, colecionando nossos carrinhos de ferro e plástico, colecionando bens tecnológicos conseguidos no jogo do mercado do Banco financeiro imobiliário e, raramente, quando nos sombra tempo, exaustos, ligeiramente brincamos de ser mamãe e papai, médico e enfermeira, amantes destituídos de real amor. 

Como adultos, adulterados e adulterantes mercadores, através do nosso consentimento servil, perpetuamos esses valores irreais que nos distanciam do Real, falsos valores esses que nos vem de berço, incrementados por um sistema de educação que nos instiga a ser funcionários servis de uma competitiva e desumana máquina alienante, à qual damos o nome de sociedade. Pela ação do medo, somos sócios anônimos dessa fábrica do não-Ser. 

Quando crianças, não somos instigados ao questionamento que potencializa as sementes da integridade humana. Ao contrário, pela ação do medo comparativo, somos instigados à imitação rentável e não à descoberta de nossa real vocação, imitação esta que, ao seu tempo, inevitavelmente nos joga no beco escuro e vazio de um estado de existir destituído de real sentido e capacidade de sentir, estado este que tentamos narcotizar através das mais variadas formas de compulsão, as quais tentamos com muito esforço mante-las desconhecidas daqueles que nos mantemos psicologicamente dependentes devido nossa ânsia por aceitação condicionada.

A grande inversão de valores é esta: incentivados por terceiros desconhecidos, em favor da busca de objetivos auto-centrados motivados pela necessidade de segurança psicológica, deixamos de celebrar a alegria de viver; abraçamos a momentânea superficialidade eufórica do ter, descartando assim, a natural e eterna alegria de Ser.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!