No deserto do real, um dos sentimentos mais constantes é o sentimento de solidão. Não raro, todo aquele que se aventura nessa jornada do herói, nessa trilha menos percorrida, se ressente de não poder contar com outras pessoas vivenciando por situações semelhantes, buscando o mesmo que elas também buscam, falando aquilo que chamo de "o idioma dos proscritos", ou "idioma dos outsiders", idioma este, sempre mal interpretado e quase sempre rotulado de forma negativa por pessoas que nem ao menos desconfiam o que seja a esclarecedora vivência desta trilha menos percorrida. De fato, esse é um tipo especialmente doloroso de solidão, no entanto, ouso dizer ser um dos mais fecundos momentos da jornada do herói. Neste momento, quando a solidão é por nós devidamente abraçada, nosso antigo estilo de vida, adoentado pela excessiva influência de tantas formas de dependências psicológicas — a necessidade de aceitação, de colinho, do ombro amigo, do tapinha nas costas, da validação parental/social — é derretido nas areias escaldantes do deserto do real. Quando se tem a coragem de seguir esse caminho até que se apresente seu fim, adquirimos um modo de vida onde, de fato, a integridade se faz presente e, juntamente com ela, aprendemos um novo idioma dotado de uma inteligência única: o idioma do silêncio.
Nelson Jonas