Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

19 abril 2012

Homens em obra

Foto: Nelson Jonas - Local: Av. Paulista - Palco de fim de ano

Por volta das 8h30m, à caminho da padaria para o café matinal, num enorme terreno baldio que antes servia de estacionamento para alguns poucos carros dos moradores de um prédio da mesma rua, um enorme bate-estacas, com seu estrondoso barulho, fincava as enormes vigas de ferro para a estruturação da fundação de um novo edifício. Em frente ao terreno, da janela do andar superior da casa, um senhor de fisionomia oriental, com olhar perturbado, à tudo observava. 

Parece-me que todo progresso ocorre do mesmo modo: inicialmente, há um período de demolição, o qual produz enorme confusão; depois, dá-se um período de nivelamento, o qual é seguido do barulho proveniente da instalação dos novos fundamentos. Há períodos em que a obra parece nunca ter fim, no entanto, quando menos se espera, o colorido final se apresenta e, com ele, um novo espaço de vida e alegria. 

Com o homem, parece ser do mesmo modo... Inicialmente, enorme é a confusão gerada pela crise de valores e a sua consequente demolição de ilusões criadas ao longo dos anos pela excessivas exposição à conceitos, crenças, dogmas e pela incontável variedade de condicionamentos sociais. O período seguinte, traz uma espécie de assentamento, um período de nivelação, onde a confusão inicial, já não se faz presente; é como um momento de respiro, um platô, onde se reúne o material necessário, os ajudantes necessários, para dar início a imensa tarefa da construção psíquica, emocional e espiritual, capaz de revelar a obra-prima que o homem traz em si, em retardado estado embrionário. Em cada etapa, especializados "mestres de obras" se apresentam como respeitados guias no canteiro de obras do ser. A cada etapa vencida, em cada patamar de consciência alcançado, maior e mais bela a sua capacidade de visão, maior a ação do silêncio e a qualidade do ar, do sopro que lhe inspira.

Como numa obra, a estrutura externa, visível aos olhos, é a que leva menos tempo de construção. O mais difícil e trabalhoso está no movimento interno, no acabamento e na decoração. Neste período, quando se olha de fora, tudo parece estar estagnado, nada parece estar ocorrendo, chegando a dar a impressão de que a obra encontra-se largada, em estado de abandono. Esse é um período à que muitos chamam de deserto. Nesse período é que todos os suportes, todos os andaimes de sustentação — inicialmente tão necessários  — são deixados para trás. O trabalho agora, é muito mais delicado, muito mais minucioso, um trabalho que requer muito do nosso feminino, um trabalho onde, alma e coração, harmonicamente, se mostram profundamente essenciais. Apesar da intensidade do abrupto barulho inicial não mais se fazer presente, este, aqui também se apresenta, de forma mais amena, no entanto, quase que sequencial. Paciência e determinação são as principais ferramentas deste momento da obra, para que não ocorram futuramente, vazamentos, curto-circuitos e perda de energia que possam colocar em risco tanto o bem-estar pessoal, como coletivo.

No canteiro de obras do ser, não existe momento que seja mais relevante, todos cumprem seu determinado papel, sua determinada função, sem os quais, tornaria-se impossível a manifestação da obra-prima que somos, um dia planejada, na mente amorosa do Grande Arquiteto Criador.

Nelson Jonas
nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!