Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

18 abril 2012

A infância passa mas as marcas ficam


Enquanto, na padaria, saboreava meu café matinal, chamou-me a atenção, uma conversa de balcão, dessas em que o locutor faz questão que todos os presentes escutem aquilo que seu pomposo ego pensa ter de especial para dizer. O egocêntrico locutor, por volta de uns 45 anos de idade, cabelos com mechas grisalhas, corpo tomado pela obesidade mórbida, diante da pequena estante de jornais, perguntou para um dos balconistas:

— E aí, "Ceará"? Você apanhou muito do seu pai quando ainda era pequeno?

— Vixe! — de cabeça baixa, respondeu o jovem atendente, enquanto preparava o lanche de outro cliente. 

— E foi por apanhar muito que você virou homem, não foi?    

— Opa! — exclamou o rapaz com um orgulhoso sorriso.

— Pois eu apanhei pra cacete! Peguei o tempo da vara de marmelo... Só que apanhei com gosto! Pois nunca deixei de fazer o que sempre quis! 

— Eu tomava cada tapa no ouvido e pé na bunda, que ficava quase uma semana sem escutar e sentar direito. O "véio", era foda! — exclamou ele, lançando um olhar saudoso.

— Pois é! As coisas agora estão todas invertidas... Você viu no jornal? O cara foi indiciado e está quase perdendo a guarda da filha, porque o vizinho do lado, depois de filmá-lo batendo várias vezes, de chinelo, em sua filha, o denunciou... Quer saber? Se o filho "é meu", tenho direito de educá-lo do jeito "que eu quiser" e ninguém tem nada a ver com isso. Tenho o direito de educá-lo do jeito "que penso" ser melhor. Se funcionou comigo e com você, "tem que" funcionar com "meus" filhos. E tem mais: se alguém me denunciasse por bater num dos meus filhos, com certeza, passado algum tempo, mandaria matá-lo...

Diante de sua postura egocêntrica, o arrogante tom de sua fala e o embolorado teor de suas idéias, de fato, penso que a educação de "psicosurras" ministrada pelos seus pais, cumpriram um equivocado papel: o de lhe roubar a capacidade do exercício de uma inteligência amorosa, tornando-o um irracional e mecânico copista de uma arcaica e disfuncional educação que, da verdadeira Educação, não merece sequer o uso desta palavra. Se ele tivesse um pouquinho só da capacidade de ouvir a si mesmo, com certeza, uma chispa de inteligência, também o denunciaria e, quem sabe, este, em silêncio, permaneceria.

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!