Acordei as 4h03m da manhã, com a seguinte linha de pensamento: Como deve ser terrível, nos últimos momentos da existência ver passar o filme dos dias e perceber uma coleção de equívocos, de auto-enganos adquiridos pela aceitação e influência de valores falsos, perceber nunca ter vivido uma autêntica comunhão, um verdadeiro partilhar, uma verdadeira intimidade, seja consigo mesmo ou com outro ser humano. Como deve ser terrível se deparar com o fato de nunca ter vivido a beleza da compaixão e do genuíno amor, de nunca ter se visto livre do sentimento de separatividade, da ansiedade, do medo e do profundo e angustiante vazio da solidão. Como deve ser triste e agonizante, nos momentos que precedem o último suspiro, não ter a consciência tranquila, não ter travado o bom combate e conseguido superar a alienante influência propagandista de um mundo mercador de ilusões; chegar ao portal da morte, sem ter morrido para si mesmo, totalmente desconhecido de sua real natureza e, portanto, sem saber quem realmente é. Como deve ser dolorosamente angustiante agarrar-se à cama, implorando por mais tempo, por uma segunda chance, por perceber que, de verdade, a vida foi uma grande mentira. Como deve ser triste, neste sagrado momento, não se sentir pronto, calmo, sereno e em interior harmonia, pode exclamar:
— Pai, em tuas mãos, com desapego e alegria, entrego meu espírito, pois estou em casa!