Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 dezembro 2011

Constatações

Por detrás das personas que aparentam sucesso e segurança, existe oculto, um espírito solitário e medroso. Enquanto são inconscientes disso, no mais fundo de seu ser, o homem-Deus, dorme.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

27 dezembro 2011

Constatações sobre o planeta dos macacos

A humanidade que se encontra em constante estado de conflito, vive em busca do gênio da lampada, cujo upgrade, forneça muito mais que três pedidos. O pior, é que  hoje em dia, o que não falta são idealistas falidos, portadores de "Guruzite Crônica" ou "Iluminose Sobérbica", se auto-intitulando o tal gênio da lampada. Em seus encontros, não passam de um complexado grupo de macacos discutindo o modo certo de como comer bananas, sem possuírem a mínima consciência de que ainda nem se quer se tornaram humanos.

Nelson Jonas R. de Oliveira

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 2


O constante desfoque de atenção é sem dúvida alguma um dos maiores mecanismos de auto-proteção do ego. A dispersão do agora na imaginária ponte passado/futuro é uma constante. Estamos viciados nesse dispersão, a qual se tornou um forte condicionamento que cria a ilusão de que somos o conteúdo de nosso movimento mental acelerado e desconexo.

O ego busca por notoriedade, reconhecimento, prestígio, ama o aplauso, o tapinha nas costas, anseia pelo estrelato ou, caso contrário, se esconde feito caramujo, como avestruz ou como criança assustada, embaixo da cama. Nunca consegue ser um dentre os demais, precisa estar no topo do Himalaia, ou escondido num canto escuro da planície. No entanto, em qualquer uma das posições em que se encontre, prestígio ou anonimato, é profundamente avesso a uma real intimidade pois teme que através desta, não consiga bancar o necessário para a sustentação de sua falsidade. Nunca consegue um modo de se relacionar de forma assertiva e amorosa; evita qualquer tipo  de contato que possa desmascarar seu script no jogo que todos jogam, quase sempre sem a menor consciência de que jogam. O ego está sempre excessivamente preocupado como a imagem que os outros possam fazer de si mas, não se preocupa com a imagem que faz dos outros; a formação de imagens é outro de de seus mecanismos de defesa. Esse processo contínuo de formação de imagens , mantém o ego sempre numa postura de negociável ajustamento, ajustamento esse que impede a presença de um estado de autenticidade e originalidade.  

O ego esquece facilmente os danos que causa aos outros, em contrapartida, além de não esquecer e perdoar os danos sofrido pelo atrito causado pelo choque de instintos com outros egos, tem a tendência de ampliá-los de forma irreal, sempre com requintes de dados e crueldade. Mantém para si réguas com medidas diferenciadas. 

Outro de seus mecanismos de defesa, está no fato de manter uma postura totalmente antagônica a simples idéia de que algo possa ser superior a si, a seu entendimento e a sua compreensão. Quando isso ocorre, opta ou pela hostilização, ou pela irrefletida e compulsória deificação. Para o ego, torna-se impossível a manifestação de uma relação harmônica com algo ou alguém que se mostre superior aos seus limites. 

O ego vive num constante estado de exigências, sejam elas referentes aos outros ou a si mesmo, exigências estas que são a fonte de intermináveis conflitos, ansiedades, frustrações, ressentimentos e retaliações. O ego quer ter sempre suas necessidades atendidas de pronto, por isso, defronta-se com a realidade do que é, com as mais variadas formas de birra que, em últimos estágios, pode levar à insanidade de atos homicidas e até mesmo suicidas. Através dele, encontra-se a essência de toda corrupção e de toda contraversão. 

Para a transcendência do estado ilusório de identificação com o ego, se faz necessário algo maior que o processo de análise, algo que podemos expressar aqui, como uma experiência direta, intransferível de nossa natureza real, experiência esta que não pode ser facultada, facilitada por terceiros e que também não opera nos limites da vontade e do desejo, os quais, são manifestações do próprio ego. Mas, fazendo uso do constante estado de dispersão inconsciente, o ego mantém sua linha de ação, impedindo assim, a manifestação de um estado de presença e paixão tão necessários para que algo de real sentido, valor e poder criativo se apresente. Nos limites do domínio do ego, de real, existe apenas a sua irrealidade. 

Há uma frase muito conhecida, cuja essência não se faz conhecida quando vivemos nos apertados limites do ego: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Em geral, apontamos esta frase para situações que concernem apenas para as situações resultantes do conflito entre egos. Proponho aqui, uma observação mais apurada do teor desta afirmação, uma vez que não pode haver liberdade em meio do que é limitado. Para tanto, deixo aqui a questão: a Verdade a que esta afirmação se refere, não seria a Verdade da existência de uma natureza livre do ego e a liberdade no que diz respeito a nossa identificação ilusória com a atual natureza egocentrada? Verdade e Liberdade não seria o resultado do  conhecimento da realidade de um modo de ser não egocentrado por meio de uma experiência direta e não transferível, a qual não pode ser nomeada por não estar nos limites do tempo e espaço? Diante destas questões, o ego pode usar como mecanismo de defesa, rotular que tudo isso não passa de loucura, que a existência de um estado de ser livre de qualquer manifestação do ego não passa de uma "grande viagem", algo irreal. Quem já não ouviu a voz do próprio ego, gritando no interior da mente, quando exposto a momentos de meditação, meditação essa que aponte para o que não está condicionado, convencionado, frases parecidas com: "Não ouse olhar para isso! Você vai acabar enlouquecendo, vai acabar surtando! É melhor ficar pianinho e largar isso já"...? 

Outra de suas falácias está em projetar e imputar suas próprias dificuldades e mazelas — muitas vezes inconscientes de si mesmo — aos outros egos ao seu redor. Isso é muito, mas muito comum. O ego nos mantém dormindo na idéia do que não somos, não permitindo que despertemos para a realidade daquilo que somos. Ele é profundamente barulhento e, por ser barulhento, é adepto do barulho, o qual espalha sem a miníma preocupação com o direito alheio ao silêncio. Para ele, quanto mais barulho, melhor, a não ser, quando ele — o ego — sente a necessidade de silêncio. Quando isso ocorre, o encontro entre um ego barulhento e um ego em busca de silêncio, um barulhento conflito se estabelece, uma vez que, ceder, é um verbo que não se encontra na cartilha do ego.

Finalizando, uma vida pauta, regida pela ilusória identificação com o ego, por maiores que sejam as conquistas no terreno material, por maiores que sejam as suas atividades, sempre terão como resultado o dissabor do vazio, do tédio, da insatisfação e da solidão. O ego é a estrada que aponta para a perdição do gênero humano.  

Nelson Jonas R. de Oliveira

22 dezembro 2011

Auto-conhecimento ou Ego-conhecimento? - Parte 1

Auto-realização
O ego vive projetando situações de sofrimento, caos, constrangimento, ou então, situações de vanglória e reconhecimento pessoal. Baseia-se sempre no conteúdo das experiências passadas contidas na memória. Essas projeções quando não percebidas de modo instantâneo, produzem ondas de ansiedade, medo, pulsões, todas com suas respectivas somatizações físicas, entre elas, algumas como a letargia, a falta de apetite, o desânimo, a insônia ou a fuga pelo sono. 

Quando o ego se agita através de qualquer influência externa, é quase que impossível a prática da meditação contemplativa daquilo que ocorre em nosso interior. Nesses momentos de profunda agitação interna, o ego clama por alívio imediato que, em via de regra, tem uma forte tendência de vir a se tornar uma forma a mais de dependência, na longa lista do ego.

O ego, sempre movido pelo medo, impede a discussão aberta dos sentimentos, da qualidade daquilo que ocorre em nosso interior. Ele cria o medo do abandono, o medo da rejeição, o medo da retaliação, sempre através das projeções mentais. Com isso, o ego se fecha numa espiral de desgastante sofrimento. 

O Ego cria o medo da incompreensão e projeta situações de ostracismo. O medo de ser exposto, sugere pela morte ao invés da auto-exposição. Finge buscar por ajuda, quando na realidade, o que quer é manutenção de suas vontades. Ele morre de medo de ser exposto, de ser ajuizado de forma negativa por outros egos, no entanto, ele julga a tudo e a todos com requintes de sutileza e crueldade. No entanto, é totalmente contrário a qualquer tipo de critica em sua direção, o que quase sempre se torna motivo de indignação, ressentimento, profundo rancor e sentimento de vingança.

O ego se sente o centro de tudo, a base de tudo, o responsável por tudo. Ele vive da mentira, das máscaras, das posturas, dos padrões comportamentais estabelecidos pelo ego social. Está sempre em busca de conveniências, privilégios, as quais impedem o livre comungar, o livre compartilhar; ao contrário, vive da exploração, do consumo inconsequente e do descarte leviano. Morre de medo do isolamento, mas não titubeia um segundo sequer para levar o outro a situações de isolamento. Vive de representações embasadas na hipocrisia do idealismo do ego social. 

Quando acometido por seus fortes ataques, nos vemos dominados, incapacitados de responder de forma contrária às suas insanas exigências, as quais, o ego sempre faz a si mesmo e também aos demais. Quando cedemos a essas insanas exigências feitas pelo ego, mais o alimentamos com o resultante conflito gerado pela raiva, o medo, a culpa e a vergonha. Ele vive em busca de inimigos externos, busca essa que serve de alimentação para sua continuidade, através da exposição do outro e não de si mesmo. Se alimenta também de negociatas e do fluxo constante de pensamentos desconexos. 

O ego é controle, posse, manipulação, desconfiança e retalhação. Ele impede  o desfrute do agora, do presente momento, em toda sua plenitude, através desse constante fluxo de pensamento desconexos que se apresentam na ponte do tempo psicológico passado/futuro. Sua movimentação rápida na linha do tempo psicológico é um de seus principais mecanismos de defesa contra o processo de observação, pelo qual, as automáticas e inconscientes respostas reativas, fonte de incontáveis novos conflitos que retroalimentam o ego, podem ser detidas. Nesse processo de retroalimentação, não se dá a possibilidade curativa da percepção daquilo que realmente somos quando identificados com o ego, seja pessoal ou coletivo. Com suas projeções alicerçadas nas lembranças do que viu, ouviu ou viveu, o ego gera identificações que nos paralisam sobre a ação do medo. O grande fato de inconsciência é que combatemos o medo e não a natureza real do medo: o ego. Isso faz com que fiquemos numa situação parecida com o constante movimento de secar o chão, ao invés de procurar pela fonte de escoamento da água e, pelo conhecimento dela, estancar seu vazamento. 

O ego tem profundo terror ao vazio e, por causa disso, nos empurra nas mais variadas formas de compulsão, sejam socialmente aceitas ou não. Busca sempre alivio em situações externas e possui um forte poder para a dispersão que impede o olhar interno. Ele é como um cachorro, em círculos, correndo atrás do próprio rabo. Nesse andar em círculos, desestabiliza todos os instintos naturais. Entre suas incontáveis manifestações, destacam-se a frieza, a covardia, o interesse, a ganância, a cobiça, a vingança, o preconceito, a desconfiança, o rancor e a maledicência. Quando somos tomados por ele, nos vemos numa reação em cadeia, as cegas. Ao final, quando temos lampejos de consciência, ele entra pela porta dos fundos nos jogando na culpa ou no brejo da autopiedade.  

Existem correntes espiritualistas que prometem pela libertação de toda forma de conflito causado pelo ego, através somente de um movimento de quietude que promete pelo conhecimento de uma natureza, que seria nossa real natureza destituída da ação do ego. Elas afirmam que, uma vez mantido contato com essa Natureza Real, toda identificação ilusória com o eu, cessa de imediato, sem a necessidade de um longo processo de análise. Em meu atual estado de "ego textualmente esclarecido", fico me questionando quanto a realidade e praticidade diante de tal postura, se a mesma não seria tão somente uma forma de escapismo do constante estado de tensão em que a grande maioria se encontra de forma semi-consciente. Segundo essas linhas espiritualistas, o simples contato com alguém, por algumas horas, que tenha conseguido a façanha do equilíbrio interno através da libertação da tensão, do medo, do ego, poderia nos proporcionar esse mesmo "estado de graça", livre da desgraça que é uma vida gerenciada pelos domínios do ego. O simples contato silencioso, levaria a uma libertação do ego, sem a necessidade do ego-conhecimento, partindo direto para o "auto-conhecimento", que seria o conhecimento da natureza real que somos sem a presença do ego. Seria isto realidade ou mero idealismo? Já não fizemos isso com padres, pastores, psicólogos e psiquiatras, todos prometendo pela libertação, pela salvação dessa desgraçada forma de viver identificado com o ego? O que conseguimos com isso? 

Voltando a questão do ego, este vive no tempo, vive no reino do imaginário, hora na recordação, hora na projeção, as quais se apresentam de forma totalmente livre de nossa vontade e controle e, devido ao nosso viciado estado de desatenção, quase sempre alimentamos esse movimento no tempo, essa irreal viagem mental. Parece-me ser um fato a nossa impotência diante o constante e acelerado movimento reativo do ego. Tudo para ele serve de impulso, de alimento para a ativação de seu pacote de memórias que, por sua vez, impulsionam a busca de um prazer imediato que aplaque o constante estado de vazio, insatisfação, descontentamento, solidão e falta de sentido. O problema é que essa constante busca por preenchimento ocasionado pelo ego, é um verdadeiro saco sem fundo, o qual não é capaz de nos brindar com um estado de real leveza, liberdade, felicidade e amorosidade. O ego corporifica-se, alimenta-se e aprisiona pelas formas, formas essas que tem gerado nos últimos tempos, de forma absurdamente acelerada uma monstruosa rede industrial a serviço do ego.

A grande dificuldade me parece ser o fato de que, devida a nossa excessiva exposição de anos e mais anos a essa ilusória identificação de nós mesmos como sendo esse ego, tendo em vista que estamos rodeados desde a mais tenra idade, de outros que também compactuam da mesma ilusão, nos tornamos viciados nessa identificação, a qual é sistematicamente influenciada e alimentada pela poderosa rede do ego coletivo. Em outras palavras, somos adulterados adultos adulterantes. Ouso dizer que, quando não agimos 100% pelo ego, agimos na limitada esfera da razão, da lógica e da moral, que por sua vez, sofrem influência do ego social local. Sei que isso que acabei de afirmar, soa estranho totalmente estranho ao ego, a lógica, a razão e a moral que desconhecem fora de seus limites, qualquer dimensão ilimitada. 

A meu ver, nenhum tipo de relacionamento pode ser verdadeiro quando o ego, nele se encontra instalado. É preciso observar com muitíssima atenção, atenção esta, sem escolha, de forma incondicionada, a esse constante e astuto movimento de desfoque que ocorre na ponte do tempo psicológico passado/futuro, o qual nos mantém prisioneiros nos dolorosos domínios do ego, o qual não tolera o silêncio e a inação. O ego clama por reação, por atitudes que tem por base o conhecido, o convencionado e, nessa linha de conveniência, encontra-se seu maior combustível, que é o medo com toda sua carga sintomática. No entanto, questiono: sem o silêncio, sem a observação em momentos de inação, sem o conhecimento do falso, como conseguir um estado livre do conflito resultante de nossas ações, escolhas, impulsionadas pela constante reação do ego? Sem o ruir dessa estrutura egóica, como algo novo pode se manifestar? Sem a morte para essa falsa estrutura psicológica causadora de conflitos, a qual pensamos ser, como viver num estado de ser livre de toda forma de ilusão?

(continua)

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

21 dezembro 2011

Diálogo sobre o ego


Alsibar: E ai? Bom dia!... Intervalo do trabalho. rsrsrs Tudo beleza?

Nelson: Beleza e você?

Alsibar: Novidades? Aqui tudo beleza!

Nelson: Estamos aqui na observação do ego.

Alsibar: rsrsrs

Nelson: este bicho é monstruoso!

Alsibar: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Nelson: Sem que a gente se perceba, estamos a alimentá-lo, isto é um fato corrente.

Alsibar: Vixe! Rapaz, disse tudo!

Nelson: Perebo que, por mais que pensemos estar despertos, quase sempre, estamos dormindo em seus movimentos.

Alsibar: Essa é a grande merda! Sim! Você está certíssimo.

Nelson: Percebi que ele faz uso da busca espiritual para, através dela, passar batido.

Alsibar: Hummmmmmmmm... Estou gostando! Continua!

Nelson: Começo a perceber nitidamente que um grande lance é a inação na observação... Ficar só, observando seus movimentos...

Alsibar:Hummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Nelson: Ficar observando seus impulsos, suas projeções, exatamente como são, sem tentar eliminar nada do que é observado, por mais doloroso que se apresente. Percebo nitidamente seu movimento na ponte do tempo — passado/futuro —; seus aceleradíssimos monólogos...

Alsibar: Realmente...

Nelson: Sua constante procura por inimigos externos.

Alsibar: Os “Nova éramos” estão corretos: “este é o ano do despertar!”

Nelson: Percebo que o ego quer sempre nos levar ao doentio estado de isolamento.

Alsibar: Boa essa!

Nelson: Ele busca frustrar qualquer intimidade autêntica, destituída de controle, e, de fato, não há como se conseguir isso, quando o ego está presente e, o mais assustador, é que percebo que todos, em maior ou menor grau, estão inseridos e identificados como sendo ele (o ego) e totalmente inconscientes desse fato.

Alsibar: Sim, 100% certo!

Nelson: Então, de fato, não há como existir o amor, somente, conveniências, interesses velados ou declarados, que se não são alimentados na relação pedem pela eliminação da mesma. Importante ressaltar que isso se apresenta em todas as áreas.

Alsibar: hummm? Sim...

Nelson: É nitido como o ego tem uma facilidade incrível de retaliação, ele usa e descarta e não comunga nunca, porque, o que há de comum numa relação de egos é o próprio ego e, onde o ego está, não há como haver comunhão, só conflito de interesses. Nestes dias, parei para ver como nunca antes a gravidade do que se apresenta em nós, como sendo nós... Da gravidade que é uma existência regida pelo ego

Alsibar: hummmmm... Um grande salto posso ver.

Nelson: Mesmo que um "ego polido" através da espiritualidade. Não existe 1/2 mulher grávida, seja de um mês ou de oito, é uma mulher grávida; não existe meio ego, ego é ego e, enquanto ego presente, não há como cessar o conflito, o vazio, o tédio, o descontentamento, as dualidades de sentimento, as compulsões, as obsessões (mesmo que seja a obsessão pela libertação do ego).

Alsibar: Isso!... Este é o problema! Muito bem descrito por você. Continua!...

Nelson: Percebo, Alsibar, que mesmo a lógica e a razão, são subprodutos do ego... Elas são diretamente influenciadas pelo pacote de memória.

Alsibar: Vamos com calma aqui!

Nelson: Você já deve ter percebido isso antes!

Alsibar: Deixa eu lhe perguntar: mas, toda a lógica e razão? Entende onde quero chegar?

Nelson: Veja, com certeza, você já não tomou decisões baseadas na razão e na lógica que, há seu tempo, se mostrou fonte de conflito, não é mesmo?

Alsibar: Sim... Porque você fez uma afirmação absoluta por isso questiono: toda lógica e razão?

Nelson: Alsibar, você já agiu pela razão, pela lógica, mas o resultado final se mostrou ilógico, isso já se mostrou bem comum, creio eu.

Alsibar: Sim... Mas, sempre? Entende?

Nelson: Digo que, no que diz respeito a eliminação do domínio do ego, a razão e a lógica são limitadas.

Alsibar: Hmmmmm... No que diz respeito ao domínio do EGO...

Nelson: Há que se manifestar algo que transpasse esse limite da lógica e da razão.

Alsibar: Essa conversa é muito profunda... E ampla....

Nelson: Talvez seja isso o que Krishnamurti queria dizer com o tal “Estado Criador”

Alsibar: Sim! Verdade! Sim!

Nelson: Aquilo que os cristão chamam de “Deus” e outros de “Nirvana”

Alsibar: Nesse sentido... É exatamente isso! Agora peguei o "ponto".

Nelson: Mesmo com toda lógica e razão (no que diz questão à eliminação do ego) me vejo em círculos.

Alsibar: Sim.... Simmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Nelson: As decisões tomadas na base da razão e da lógica, há seu tempo, se mostram ilógicas e maiores fontes de retroalimentação do ego.

Alsibar: Isso tendo como referência a eliminação do ego, vamos dizer assim, para ficar bem claro e didático. Sim!

Nelson: Na vida “técnica” e “prática”, não é o caso.

Alsibar: Isso! Certíssimo!

Nelson: A razão e a lógica tem seu lugar devido, mas, no que diz respeito à eliminação desse estado dominado pelo ego, não.

Alsibar: Nota 10! Verdade.

Nelson: A razão e a lógica sempre estarão a favor da manutenção do ego; acabam sendo seus maiores escudeiros!

Alsibar: Isso, isso, isso!

Nelson: Isso, para mim, está sendo um grande divisor de águas.

Alsibar: E é!

Nelson: A lógica e a razão nos torna como que “cachorros correndo atrás do próprio rabo”, sempre presos na repetição do padrão (em qualquer área).

Alsibar: That's right man!

Nelson: São elas — lógica e razão — que criam a Tradição, o convencionalismo. Percebo também, que nossa postura diante do ego, com a busca espiritual é como se estivéssemos sempre a podar os galhos da árvore, mas nunca vamos direto às suas raízes e nisso, ocorrem as recaídas emocionais, com suas somatizações comportamentais.

Alsibar: Muito boa sua percepção do que seja o EGO.

Nelson: Tem muito aqui para compartilhar.

Alsibar: Rsrsrs. Amigo, deveríamos conversar mais vezes e compartilhar essas conversas, diálogos. Acho que ajudaria as pessoas, rsrsrs

Nelson: Esta aqui vai para o blog se você permitir.

Alsibar: Pode ser.

Nelson: Ótimo!

Alsibar: Mas acho que poderíamos colocar algo melhor, mas, se você acha que está boa, fique a vontade.

Nelson: Conversas sérias e nutritivas são sempre bem-vindas!

Alsibar: Gostaria que conversássemos um dia pelo MSN, sobre esses assuntos e com mais tempo. Agora, tenho que sair.

Nelson: Hora que você quiser! Beleza, valeu pela atenção.

Alsibar: Na próxima semana, terei a semana toda livre, manhã, tarde e noite.

Nelson: Certo! Estamos por aqui é só chamar!

Alsibar: Vamos conversar num desses dias, sobre coisas que realmente importam
e que podem ser uteis, valeu pela conversa!

Nelson: Legal! Valeu!

Alsibar: Continue com suas percepções, estão apontando para o mesmo Himalaya que as minhas apontam. Fraterabraços e até a próxima!

Nelson: Um fraterabraço e um chute nas canelas! Até!

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Visite: http://alsibar.blogspot.com

20 dezembro 2011

Constatações

A felicidade e a liberdade genuína, se encontram enclausuradas no bosque escuro e fétido de nossas conveniências.


Nelson Jonas Ramos de Oliveira

16 dezembro 2011

Socorro, não estou sentindo nada!


NJ: Oi!

AZ: Oi, bom dia!

NJ: Bele?

AZ: Tudo e você?

NJ: Veja, estou bem, mas, o vazio e a falta de sentido judiam... Fui tomar café na padaria só para passar o tempo.

AZ: Ah! Sim, sem dúvida! Esse vazio está aqui, independente de ter ou não coisa para fazer.

NJ: Isso que pensei!

AZ: Estou cheia de coisas e ele está aqui, presente.

NJ: Fiquei me questionando se haveria diferença entre estar numa rotina atarefada ou numa rotina não atarefada... Qual sentido de ficar no trânsito parado logo cedo como vi agora?

AZ: É um estado de ser que depende de algo maior. Não depende de coisas mundanas.

NJ: Qual o sentido de ficar parado aqui, como estou, agora? Isso que sinto, mas, fico questionando se isso também não seria uma desculpa, um escapismo para justificar a falta de inteligência para perceber algo com real sentido para empregar as energias.

AZ: E como "perceber" por mim mesma?

NJ: Boa pergunta!

AZ: A inteligência não vem da mente!

NJ: Concordo! Mas, o fato é que já não aguento mais ficar procurando o que fazer.

AZ: Imagino! Deve ser muito ruim mesmo, só resta a fazer, coisas físicas.

NJ: As opções que se apresentaram na mente, não diferem muito do conhecido, que por sinal, em nada me tocam. Não estou falando isso depressivamente, mas, de modo inteligente.

AZ: Sim.

NJ: Não vejo lógica, o que se apresenta é puro entretenimento; acho profundamente fútil.

AZ: É, ontém a noite estava pensando nisso... Mais uma vez!

NJ: Pela manhã, na padaria, olhei para o suporte dos jornais, onde alguns homens folheavam as primeiras páginas... A mente pede para comprar o jornal, para ter o que fazer com o tempo... Mas qual o sentido de me anestesiar com as noticias do dia anterior?... E qual o sentido de me anestesiar com textos espiritualistas?

AZ: Que sentido tem acordar cedo, trabalhar feito camelo, chegar em casa quebrada, apenas para ter o sustento dessa existência? Vejo o tempo se esgotando igual uma ampulheta... O tempo está correndo e não espera não!

NJ: Ai, na volta para casa, a mente diz que devo procurar um emprego qualquer, apenas para me manter ocupado...

AZ: Ai é que você ia enlouquecer!... Do jeito que você é... Ter que conviver com os mais variados tipos humanos, que na maioria, de humano, não têm nada... Conviver com a vaidade das pessoas, com o EGO inflado a mil... Porque elas estão totalmente identificadas com as exigências do sistema. Para mim, o mais importante é estar nisso e não me corromper, estar sem ser, mas, é profundamente desgastante! Tem hora que tenho vontade de mandar os outros pra aquele lugar!...

NJ: Mas, o problema maior é que não sei o que realmente gostaria de estar fazendo... Ai fico aqui ouvindo um programa de rádio, alguns, sem dúvida, muito criativos, mas, cuja produção, só serve para alegrar um ego dormente, não me alimenta, é tudo "bacaninha", e todo mundo acha "demais", mas comigo, apenas, "bacaninha"... Seria o sentido de estar nesta vida, apenas conseguir um bom emprego remunerado, ou criar algo que possa "entreter", "distrair"? Entreter e distrair o outro de seu próprio sentimento silencioso e disfarçado da mesma falta de sentido?... Seria conseguir um emprego bem remunerado com o qual possa fugir da própria solidão, meu próprio sentimento de falta de sentido através do consumo e viagens?... Só para ser mais um tendo um monte de coisas para falar sobre as atividades externas que em nada alimentam o interno?... Sinceramente? Não sei! Não me faz sentido!

AZ: Isso nada me interessa, nada! Quero mais!

NJ: Quero algo mais, de algo que não sei dizer o que é! Só sei que o que está ai, não faz sentido e novamente lhe afirmo que falo isto sem o menor sinal de depressão, isso vem através de um raciocínio lógico!

AZ: Por isso que estou constantemente insatisfeita! Porque, o que tem ai, não me diz nada! Não quero nada disso, quero algo que me preencha, e justamente pra não precisar de nada disso que se encontram nessas distrações pra lá de vencidas!

NJ: Falo isso de forma muito conscientemente e responsável. Não vejo sentido em comprar uma carteirinha para frequentar o "coro dos contentes" e ainda ter que pagar por isso, uma mensalidade cara demais para meu espírito!

AZ: Exatamente! Não quero ser contente, quero ser feliz!

NJ: Sei que se comentasse isto com alguém que não se apercebeu de nada disso, porque nunca foi capaz de fazer perguntas fundamentais, lógico que seria logo rotulado, me seria dado um diagnóstico de doença, ou me receitaria algo, no mínimo, igualmente vazio e embotante.

AZ: Sabe o significado da palavra “Contente”?... Que está satisfeito com a sua sorte ou com alguma coisa específica alegre, prazenteiro. 2 ant Que causa alegria ou satisfação... Ah! Vendo aqui o significado de feliz, também não quero!... Feliz, adj (lat felice) 1 Favorecido pela boa sorte, pela fortuna. 2 Que tem um sentimento de bem-estar. 3 Ditoso. 4 Satisfeito. 5 Bem combinado. 6 Bem imaginado. 7 Bem executado. 8 Que teve bom êxito: Empresa feliz. sup abs sint: felicíssimo... Está vendo? Tudo está associado ao externo, ao material; que saco!

NJ: Pois é! Sinceramente? Não sei o que fazer! Tudo que se apresenta, sinto ser muito superficial... Os contatos são superficiais... As falas são superficiais! As mesmas conhecidas piadas sem sal e sem açúcar! Os mesmos assuntos desgastados! Tudo muito mecânico, rotineiro! Falas com um monte de longínquos acontecimentos externos e nada dos mais próximos sentimentos internos.

AZ: Sim! Não tenho vontade de abrir a boca perto das pessoas, não tenho o que dizer e, por vezes, isso me dá a sensação de emburrecimento!

NJ: Sei como é isso! Sem dúvida!

AZ: Sinto falta de algo maior mesmo.

NJ: Hoje, uma frase do Brian May, o guitarrista do Queen, me chamou muito a atenção...

AZ: Manda!

NJ: ...“Passei 20 anos de minha vida construindo o Queen e, agora, gasto anos de minha vida tentando me livrar dele...”

AZ: Entendo bem o que ele quis dizer com isso!

NJ: Para os sensíveis, isso dá muito no que pensar! Ela aprova nossa teoria de que seja lá qual for o tamanho da realização externa, o vazio, o tédio e a insatisfação estarão sempre lá!

AZ: Sem dúvida! Temos falado muito sobre isso! A pessoa consegue o sucesso externo, mas, não o interno e, quando passa o efeito do sucesso externo, vem o vazio dar as boas vindas!

NJ: Isso prova que sucesso e reconhecimento social não podem de forma alguma ser o sentido da busca de uma existência.

AZ: Não mesmo, isso é fato! Caso contrário, por que então, tantos famosos se matam ou terminam seus dias numa verdadeira bancarrota física e/ou moral?

NJ: Isso não tem nada a ver com a verdadeira "realização", ou seja a ação de tornar manifesto o que é REAL...

AZ: Sim! A pessoa que está nesse caminho do material, ela é um saco sem fundo... Está sempre precisando adquirir algo, senão ela depara com os próprios fantasmas, com o próprio vazio e, como não quer se deparar com isso, entra na ciranda de adquirir mais e mais coisas rapidamente descartáveis... Cada hora uma aquisição, cada hora uma mercadoria diferente.

NJ: Sem isso, elas não são nada! Sem isso, elas não tem do que falar! Elas acreditam que são os seus empregos e aquilo que elas conseguem através deles!... Não é nada fácil se manter no ócio, sem se anestesiar com algo que se torne um vício; isso é o que percebo; há sempre o impulso para fazer algo, nem que seja através de algo que coletivamente seja considerado como uma "ação espiritual". Muitos tentam dar sentido às suas vidas através de "se doarem" em atos de "caridade", o que na realidade, não passa de egoísmo disfarçado. Não se trata de um transbordamento de amor, mas sim, de fazer uso da precária situação do outro, para aplacar a própria situação insuportável. Quando se vê isso, e se percebe que em si mesmo não há esse transbordamento, como é possível se dedicar a tal idéia socialmente alimentada?... O pior é que são raros aqueles que tem a coragem de não ficar com esse bla-bla-bles social e assumir para si e para os demais que vivem da mesma situação. Estava vendo aqui, parece que nosso amigo Nabil se encontra na mesma atmosfera. Depois, se der, confere lá:

http://confrariadosdespertos.blogspot.com/2011/12/cest-la-vie-e-isso.html

AZ: Show esse texto do Nabil... Maravilhoso! Parece que ele estava na nossa conversa.

NJ: Pois é! Ele, como nós, é um boêmio, um outsider! Bem, preciso dar uma saída. Nos falamos mais tarde. Segura o vazio ai, e sem anestesiar! De fato, esta foi uma das raras conversas nutritivas! Obrigado por ela! Vou nessa! Beijos!

AZ: Beijos! Até!

15 dezembro 2011

Tomou Doril, a dor sumiu!


Dentro de muitos — talvez não seja seu caso — existe um poderoso ego que adora se agarrar em escapistas ideais de um vir-a-ser divinizado, escapistas ideais espiritualistas de que, com o mínimo esforço, uma Beleza sequer imaginável possa se manifestar em meio de seu real estado de dependência, confusão e contradição. Na realidade, o fato da presença desse ego não observado e portanto não compreendido é que impede que outro estado de ser, neste exato momento se apresente. Através da observação clara do seu atual estado de ser, pela observação destemida, minuciosa e rigorosamente sincera é que a verdade pode se manifestar, o Real pode surgir, e não através de práticas meramente escapistas que prometem por bem-estar, unidade interna, felicidade e liberdade instantânea. Muitos buscam a Felicidade, poucos buscam compreender as razões pelas quais se mantém num constante estado de infelicidade. Muitos adoram falar e falar sobre Felicidade, Verdade, Ser Real, mas, poucos são os que caem na real e que enxergam a verdade do porque de serem infelizes e, nessa infelicidade, continuarem como seguidores de gurus com seus ideais. São muitos aqueles que se apresentam com palavras que alegram os olhos e os ouvidos, palavras estas que substituem nosso antigo arquivo de aparências e imagens, por outro arquivo de imagens de um belo teor espiritualista, no entanto, continuam a alimentar a formação de imagens com suas aparências e promessas de felicidade e liberdade. É muito mais fácil imaginar que não importa o que está ocorrendo na sua vida do que compreender o que está ocorrendo em sua vida. Nada é mais poderosamente ilusório do que o escapismo através da idéia da busca da verdade absoluta que você é, afinal, é muito mais fácil e imaturo buscar pelo ilusório êxtase momentâneo sustentado na afirmação vinda de terceiros de que você seja uma corporificação da Suprema Felicidade, do que alimentar a paixão do autoconhecimento — momento a momento — que produz a maturidade necessária, através da qual, uma vida livre de conflitos se apresenta. Só na compreensão do causador de nossos conflitos que nos causam incontáveis sofrimentos é que a felicidade e a liberdade podem se apresentar de forma natural. 

Felicidade e liberdade não chegam à nós através de alguma forma de "Doril Mental", "Novalgina palavrória" ou "Diazepan Espiritualista". Isso requer paixão, isso requer observação sem escolha. Fora disso, o que se pode vivenciar, agora, é a continuidade de uma vivência na irrealidade, causadora de infinitos desejos e medos, os quais, quando não observados e compreendidos, por muitos são narcotizados com a idéia de uma feliz felicidade radiante e pura que se apresenta sem nenhuma razão ou motivo. 

Viva de ideais de vir-a-ser e seja feliz!... Busque a sua Real Natureza sem a observação e compreensão daquilo que acontece com você, através de suas reações e escolhas imaturas e o caos do mundo e as pessoas desaparecerão de forma milagrosa! — Esse é o teor da promessa feita por muitos que auto se intitulam como homens e mulheres realizados, iluminados. Isso é o que dizem atrás de suas pomposas palavras. De fato, o mundo não tem nenhum poder sobre você, o poder causador de problemas está na não compreensão do "você" que você não observa, na não aceitação do que é e na constante fuga pelo vir-a-ser divinizado, que em seu medo, continua sempre em busca de proteção e dependente condução. A busca da Felicidade sem a devida compreensão daquilo que se é, é o substrato e a base de uma vida repleta de contradição. 

- Reflexão após uma leitura de um texto Adváitico

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

12 dezembro 2011

Como transformar um louco solitário em um líder?

Como digo, os seguidores adoram citar frases prontas de terceiros para tentar justificar o injustificável: seus contagiosos comportamentos de rebanho... Olha essa ai:

"Estar perto do mestre é morte, teu ego deverá partir. O ego pensa, começa a pensar, "devo escapar antes que algo aconteça; antes que eu me perca, devo escapar." O ego continuamente te diz para fugir. O ego vai encontrar racionalizações; vai encontrar faltas em mim para ajudar você a escapar; vai convencer você de todas as maneiras que este homem é o homem errado. Amor é como uma morte, e não tem amor tão mortal como amar um mestre. OSHO

De fato, não existe amor tão mortal para a lucidez, do que amar um mestre com ego espiritualizado. Confira no vídeo abaixo...



Que cara de pau! Chega a parecer ridículo! Mas, observe atentamente... Parece ser muito fácil dançar como ele. Ai vem o primeiro seguidor... Ele exerce um papel fundamental: está demonstrando publicamente como segui-lo. Perceba que o seguidor está convidando novos amigos a participar. É preciso ter coragem para fazer isso. Ele se expôs ao ridículo. Ser o primeiro seguidor é uma forma de liderança subestimada... Ele acabou de transformar um louco solitário em um líder. Oh! O segundo é ponto de virada, é claro! É a prova de que o primeiro fez bem. Agora, já não há um louco solitário: há três pessoas formando uma comunidade... Ai vem mais dois... Mais três... Este movimento que surge está em público, todos conseguem ver os seguidores e, novos seguidores, geram mais seguidores, não o que começou o movimento. Temos aqui a hora do ápice, o que muitos chamariam de viral... Quanto mais pessoas são adicionadas, menor é o risco. Aqueles que estavam em dúvida antes, não tem mais razão para não participar... Senhoras e senhores, é assim que um movimento é feito!

Vamos recapitular o que vimos... Ele estava em público e era muito fácil segui-lo, mas, o aspecto mais intrigante não foi esse. Sim! Tudo começou com o cara de pau sem camisa e ele vai levar todo crédito, mas, não veríamos toda esta multidão dançando alucinadamente sem o primeiro seguidor, porque, quem faz o movimento, não é o líder

08 dezembro 2011

A benção de uma depressão iniciática


No começo é só confusão, de imagens, de coisas que a gente colheu ai na vida, coisas que a gente viu, viveu e até meio que inventou, vendo. Velho, vai vindo uma vontade forte de ajeitar tudo isso que fica pesando ai dentro da cabeça... Ajeitar aqui, ali e nessas dai é que nasce uma história...
Personagem Herácles no filme "Os Doze Trabalhos"


Tememos aquilo que não conhecemos; nunca soubemos lidar com a morte, momento a momento. Nunca tivemos uma educação para a percepção da morte em vida. Desde a mais tenra idade, encheram nossas mentes com crenças, rituais, códigos de conduta, todos mantidos através de constantes ondas de medo. O medo e a exposição à vergonha tóxica sempre foram a base da nossa assim chamada "educação". No entanto, isso que chamaram de educação, nunca passou de um ridículo processo de formatação comportamental à uma domesticação servil, domesticação essa que para muitos, por pouco não matou de vez a manifestação da autenticidade e espontaneidade criativa. Fomos sistematicamente influenciados através da constante vigilância, pelo controle, pela comparação, pela constante rotulação negativa baseada  sempre, de forma inquestionada, numa arcaica e disfuncional escala de valores. Os mais velhos, sempre vistos como autoridades psicológicas, ditavam as regras, regras estas que quase sempre violavam, mas cuja violação sempre era abafada atrás de sete chaves no segredo de suas casas repletas de mentiras, segredos e negações. Por sua vez, estas autoridades nunca permitiram a discussão aberta dos problemas, muito menos o ambiente propício para o aprendizado de um questionamento inteligente. O não-democrático "É assim mesmo e pronto!" é o que quase sempre imperava, isso quando o mesmo não era seguido por abusos físicos e/ou verbais, tido por muitos como um excelente "corretivo". Toda manifestação de autônoma reflexão que contrariasse os valores convencionados, pré-estabelecidos, nunca era permitida, sempre era fortemente combatida e rotulada como "rebeldia". A grande maioria se calava, se conformava e se mantinha como mero "seguidor", enquanto pouquíssimos tinham a força necessária para se manter nessa postura de "rebeldia inteligente", visto que outros poucos optavam por uma rebeldia nada inteligente, através de transgressões visuais, materiais, adictícias que, com a excessiva exposição levaram ao embotamento da mente — em muitos casos a total desintegração física e a morte prematura.  Qualquer tipo de "viagem" fora dos perímetros do conhecido eram fortemente combatida e desencorajada. As cores da beleza de novos paradigmas de liberdade e felicidade não eram vistos com bons olhos

Fomos incentivados a nos manter longe do que nos era estranho, de quem nos era estranho, através de condicionamentos que, ao invés de desenvolver nossa percepção e inteligência, só petrificavam ainda mais a sistematização do medo que nos forçava ao conformismo estagnante. Eramos expostos a duplas mensagens conflitantes, apesar do alimentar constante de uma cultura forjada pelo medo, eramos ameaçados para nunca ter medo o que, em nossas mentes infantis, já se mostrava como um grande paradoxo. Quem nunca ouviu frases do tipo: "Se apanhar na rua, vai apanhar em casa!"?... Depois, na missa de domingo, "ame aos seus inimigos"... Como que ninguém enxergava tamanho contrassenso? Expressar pensamentos, sentimentos e emoções era algo permitido somente aos adultos — se bem que estes quando o faziam em público, o que diziam, não condizia com aquilo que apresentavam no interior de suas casas. Dessa forma, aprendemos a ver lucro na "sagacidade" e prejuízo na exposição da verdade. Aprendemos a criar e sustentar máscaras, mas, no entanto, eramos castigados quando nossas mascaras eram descobertas, ou, através de momentos de pureza, aos outros expúnhamos as máscaras dos nossos "adultos significativos". Qualquer sinal de pureza, espontaneidade, inteligência, autonomia de pensamento, sempre eram recebidos com olhares de desconfiança e repreensão. 

Ao perceber a constante repetição desse insano modo de formação limitante, muitos de nós, começamos a nos fechar em nós mesmos, muitas vezes com isso, ganhando de pessoas desprovidas de sensibilidade e inteligência, rótulos como "criança esquisita" ou "criança problemática". Pensar, falar ou agir de forma contrária ao estabelecido, era visto como problema ou contraversão. O menor sinal de necessidade de espaço, abertura e mudança era logo rechaçado com conjecturas e racionalizações sempre alicerçadas no medo de ter os arcaicos limites transpassados. Com isso, aprendemos a não confiar, seja em nós mesmos ou nos outros. Aprendemos a não falar de forma aberta e franca a respeito de nossos conflitos, nossas dúvidas, nossos medos, por medo de sermos expostos de alguma forma.  Fomos sistematicamente incentivados a fugir de questionamentos sérios que poderiam apontar para o embasamento de uma autêntica inteligência capaz de sanar crises há muito instaladas e por demais omitidas. Aprendemos a valorizar a decoreba da Tradição, dos sistemas, dos rituais, das convenções e a ver com olhos tortos, todo aquele que a tudo isso visse de forma diferenciada. 

No entanto, a triste realidade é que, o que chamavam de amor educação, nunca passou de controle e castração. Em meio a tudo isso, nossos adultos acalentavam em nós um modo imaturo de ser, ao mesmo tempo que rotulavam como "problema" um modo de ser silencioso e reflexivo, algo tido como um comportamento problemático.  Fomos incentivados a fugir da realidade, a fugir da tristeza, do tédio e da insatisfação e não para abraçá-los e, através deste abraço, maturar na aceitação e compreensão. Fomos incentivados a ver prejuízo na benção da desilusão e a classificar nossos ritos de passagem como uma doença, rotulando-os como depressão. Nossos equívocos eram tratados com castigos que ampliavam nosso medo, vergonha e desconfiança e não com um amoroso convite a reflexão conjunta. Fomos forçados a valorizar crenças, convenções e valores que, para nós, já naquela altura, não faziam o menor sentido. Fomos forçados a dar mais valor ao passado morto e as conjecturas do futuro do que a manifestação da vida no momento presente — o que foi e o vir-a-ser, no lugar daquilo que é. E assim nos tornamos superficiais, vazios, destituídos do genuíno amor que só pode se manifestar onde o medo não se faz presente. Não fomos incentivados, através de exemplos reais, a lidar de frente com os nossos medos, sofrimentos e conflitos e assim, não desenvolvemos a capacidade de ver a irrealidade dos mesmos e, consequentemente, desenvolvemos um modo reacionário diante de toda identificação com o falso. Passamos a ser cópias, a querer ser quem e o que não somos. Nos tornamos pessoas altamente influenciáveis diante de qualquer manifestação do pensamento condicionado arquitetado e sustentado por uma liderança cuja educação nos direciona em massa para a limitante e robótica domesticação servil. Em resultado, para os adultos devidamente formatados através da ferramenta chamada "negação", a continuidade do "silenciosamente seguir a disciplina", se tonou mais importante do que o "aberto desenvolvimento da inteligência criativa". 

Tudo isto, até que poucos de nós fossemos salvos através da benção de uma depressão iniciática, que ao nos jogar no solo frio de nossos lares, nos apontou trilhas em direção aos enormes muros que nos libertaram da densa floresta da arcaica tradição e que, ao transpassar de seus muros, nos deparamos com o remédio para uma nova forma de ser e estar no mundo.

Um fraterabraço e um beijo no seu coração,

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

(inspirado no filme "A Vila")

07 dezembro 2011

As sementes de uma rebeldia inteligente


D
esde a mais tenra idade, ele se mostrava avesso a qualquer tipo de amoldamento. Somente nos seus primeiros quatro anos de escola, sentado nas primeiras carteiras, não apresentou problemas com suas notas. As únicas reclamações ouvidas por sua mãe nas reuniões de pais e mestres, — as quais deveriam ter seu nome alterado para “Reunião de mães e débeis” — visto que a maioria dos homens sempre dão uma desculpa para delas estarem ausentes, é que o garotinho de pernas tortas, botas ortopédicas, com seu cabelinho preso ao lado por um pouco de brilhantina, falava demais. No quarto ano é que passaria a se sentar nas últimas carteiras da sala, junto a outras crianças, que pelos professores destituídos de inteligência amorosa, eram chamadas de "problemáticas". Ao lado delas, ele começaria a colecionar além de uma série de notas vermelhas numa amassada carteirinha escolar, uma série de atos de violência física e psicológica por parte de alunos mais velhos que ali cursavam o ginasial. E foi assim que anos mais tarde conseguiria a façanha de repetir o primeiro ano ginasial por três vezes, sendo que a última repetição não se deu por causa de suas notas, as quais agora, em azul, se mostravam excelentes, mas sim, devido o grande número de faltas. O fato mais curiosamente doloroso nisso tudo: nenhum dos chamados "mestres" foi capaz de interpretar os tais "problemas" como um saudável pedido de ajuda contra um sistema educacional orientado para a compulsão ao ajustamento, a padronização e a especialização, assim como para a violência física e emocional de um lar profundamente disfuncional. 


O jovem nunca quis saber de seguir cronogramas e horários, por causa disso, quase nunca sabia qual seria sua próxima aula. Ficava em pé na beira da porta da sala de aula para ver a qual cabeça dura de jaleco branco teria que dedicar 50 minutos de seu cérebro e coração. Quando via que o grau de chatice do assim erroneamente chamado “mestre” era muito intenso, escapava rapidamente pelas escadarias de cerâmica vermelha, cercada de verdes paredes riscadas, para se juntar ao fundo do colégio, atrás das úmidas paredes do teatro, a um pequeno grupo de músicos apreciadores de garrafas de vinho barato, que entravam pela porta da frente da escola, escondidas sob o suado sovaco de algum deles, com ajuda de um sujo avental branco. Junto à eles cantava canções e recitava suas primeiras poesias, as quais eram por ele assinadas com o pseudônimo de "Petty Poeta" (em sinal de rebeldia as chatas aulas de francês). Intercalava música, poesia, beijos, rápidas apalpadas em pequenos seios e pelos pubianos em desenvolvimento, e também seus esportes preferidos: vôlei e futebol. 


Olhava seus professores, a grande maioria com a inteligência mediana do velho e ranzinza Dr. Smith, sempre perdidos no espaço vocacional, destituídos de verdadeira sabedoria e psicologia, perpetuando um planejado e arcáico calendário escolar, cujo ofuscado brilho e cheiro de mofo, em absolutamente nada atraiam seu ser. Deparava-se com disaborosas matérias que o forçavam (não só ele como aos demais alunos) a uma ridícula decoreba tendo em vista a futura conquista de uma nota média, com promessas de um futuro brilhante, com o qual agradariam pais, professores e diretores escolares (os quais através da conquista do ano letivo por um determinado número de alunos, conseguiriam o coeficiente necessário para garantir do Estado uma significativa verba para o ano seguinte). 


Nunca houve por parte de seus professores uma real preocupação por aquilo que naquela época, o jovem já desconfiava ser o sentido de uma Verdadeira Educação. Naquela escola não se ousava falar sobre emoções e sentimentos. Não se falava de observar a Grande Mestra Natureza. Não se ensinava a leitura da voz do coração. Não se ensinava poesia, nem as maravilhas dos contos e lendas. Nunca falaram que corrupção é muito mais do que aceitar dinheiro por debaixo da mesa, mas sim, aceitar ser conivente com aquilo que vai contra a própria consciência e coração. Suas salas eram como um velho teatro destituído da verdadeira alma que o movimenta: a paixão. Ali só se falava de tabelas periódicas, nomes de reis, rainhas, rios, capitais, gametas, esporângios, siglas constitucionais, decorados 2x2= 4 elavado a 5ª potência decorativa do certo, errado. Ali, não havia a possibilidade de se assinalar outra alternativa correta... Tudo isso vindo da raiz quadrada das mentes de professores notoriamente entediados. Ali faltava paixão, faltava poesia e, portanto, essência, Vida. Em conseqüência, dali saiam bem letrados ajustados alunos, condecorados com diploma, medalha e cartas de motoristas, pagas pelos seus papais. Estes, completamente destituídos das vogais que fazem o coração vibrar e sentir e que nos brindam com a capacidade de nos dirigirmos de forma assertiva pelas sinuosas estradas da Vida. Dali saiam jovens com almas embrutecidas, com aptos currículos em consonância a insensibilidade de um sistema altamente corruptível. Uma verdadeira fábrica de "adolescentes adultos crianças", totalmente destituídos de som próprio, articulando decorados ruídos de terceiros, que para orgulho de seus pais, saiam dali com seus canudos embaixo do braço, onde dentro dele, folhas de papel com estampilhas douradas a serem emoldurada e penduradas nas paredes igualmente tortas de uma futura sala qualquer, onde a qualidade do ar em seus cérebros, seria tão natural quanto a de um aparelho de ar condicionado. Ou então, numa segunda opção, cujo número era bem menor, jovens como ele, que por não permitirem o embrutecimento de suas almas, eram por todos tidos como desonrados rebeldes iletrados, a serem ainda mais castigados, numa vã tentativa de amoldamento, pelos adultos seguidores de um velado lema: "Há que se endurecer, mesmo que estes percam a inteligência da ternura". O jovem se ressentia pelo arcaico  tipo de sistema de educação, o qual era destituído de um “método” capaz de fazer com que todos os envolvidos, professores e alunos, se tornassem seres humanos amadurecidos, capazes de pensar nos problemas por si mesmos, livres do medo que faz com que, quando adultos, se agarrem na pseuda-segurança de emprestadas certezas, estas sempre em acordo com alguma estupidez tradicional, que remete a todos à estagnação da verdadeira liberdade do espírito humano. Um sistema que condena aos seus alunos a serem verdadeiros "caçadores de profissão, ou melhor de uma limitante especialidade desde que seja lucrativa, ao invés de uma vocação que faça com que os mesmos, por causa de seu encantamento, fiquem tão maravilhados ao ponto de com bom grado, perderem horas e mais horas de seu precioso sono. Que os incentive, se preciso for, a passar fome ou quem sabe, até morrer, mas nunca se dedicar a uma atividade comercial estúpida que os fará infelizes para o resto de suas vidas. Ele se ressentia do tipo de educação que forçava a todos ao ajustamento e não ao salutar questionamento social, ajustamento esse que faz com que, ao passar dos anos, todos tenham o adormecimento da capacidade de se sensibilizar.

Diante dessa triste realidade, ele corajosamente escolheria, ao invés de sair pelas ruas com camisetas estampadas com frases do tipo "Chê vive", (como assim faziam alguns poucos destituídos de uma rebeldia inteligente), de forma anônima e silenciosa iniciar sua própria rebelião para quem sabe um dia pudesse gritar ao mundo em forma de poesia, com a mesma energia dos heróis capitães e piratas feirantes:
"Che:
Sabes o que é Vida?
então, rebela-te!"

Anos mais tarde, já na faze adulta, escreveria em seu livro a seguinte constatação:
Foram tantos anos inconscientes em Exatas
Que precisei de um profundo mergulho em Biomédicas
Para tomar consciência do pouco que em mim ainda restava de 
Humanas.


Nelson Jonas Ramos de Oliveira

06 dezembro 2011

Não seja uma mula sem cabeça: vá para você!

Certo dia numa reunião de G.A.


Boa noite a todos! Meu nome é Shiri Xixi Ji sou um ex-guru em recuperação. Só por hoje não alimentei minha insanidade de me achar Deus. Só por hoje não me identifiquei com a idéia de ser a manifestação do estado de presença na forma. Só por hoje estou ciente de que o primeiro passo é a admissão da minha derrota perante minha mania de guru. Hoje tenho a consciência de que sofro de uma doença progressiva, incurável e de determinação fatal e, que se eu continuar orgulhoso e soberbo, poderei ficar completamente insano ou até mesmo, atentar contra minha própria vida.

Ao analisar tudo o que perdi, as pessoas que magoei, as justificativas e as racionalizações que dei a mim mesmo e os absurdos que racionalizei em meus antigos Satsangs, vi que, se não tomasse alguma decisão em relação a minha insanidade, ela tomaria uma decisão em relação a mim, como de fato aconteceu com muitos amigos que de mim se afastaram. Todos ou quase todos que eu dizia querer bem estão profundamente magoados com minhas atitudes e manipulações veladas. 

Só por hoje eu me rendo ao fato de que cheguei a um estado de desespero, em que não consigo mais ficar sem meus satsangs e ao mesmo tempo não consigo seguir vivendo sem essas pessoas de quem me encontro dependente.

Queria dizer aos queridos companheiros, que sei que o fundo do poço é diferente para cada guru mas, saiba você que, o fato de não ter perdido "ainda" o seu emprego respeitável, a sua esposa, o amor de seus filhos, seus amigos, ou não ter sido preso por estelionato espiritual, não significa que você tenha qualidade de vida ou que pode se controlar. Aceitação social, não significa recuperação da mania de guru. Tudo na nossa vida se relaciona com os satsangs e ainda assim insistimos em negar os fatos. O fato é que não somos impotentes apenas perante nossa mania de guru, mas também nos tornamos impotentes, perante nossos disfarçados defeitos de caráter: nossa soberba, avareza, luxúria, inveja, ira, gula (compulsão), preguiça, manipulação emocional, negação, justificativas, autopiedade, codependências e nossas racionalizações que se tornaram para nós como o ar que respiramos e que, de forma inconsequente, chamamos  e justificamos como sendo uma ação da Graça.

Hojse sei, por experiência direta, que a doença da adicção satsanguista é composta por três partes distintas, porém unidas entre si:

Física – uma vez facilitada a primeira palavra e gerado o primeiro seguidor, a compulsão se desencadeia e não paramos mais de satsanguear.

Mental – é a obsessão de gravar vídeos diários e postá-los nas redes sociais on-line. Só conseguimos pensar em dar satsangs, em atrair seguidores, em gravar áudios e vídeos, não importando se, para conseguir isso, tivermos que nos apropriar do que convencionamos chamar de "amorosas contribuições voluntárias" proveniente da ingenuidade e boa vontade de ansiosos buscadores da verdade. O que vale é conseguir, dando como desculpa, que tudo é ação da graça.

Espiritual – é o total egocentrismo: passamos por cima de amigos, responsabilidades, afastamos esposa, família, amigos, enfim qualquer um que tente impedir a progressão de nosso incontrolável desejo de facilitar satsangs e com eles narcotizar nossa triste realidade de uma vida isenta de verdadeiras e nutritivas relações.

Estimados Companheiros: apesar do meu rostinho com arzinho espiritual e da minha fala mansa e suave, desenvolvi tanto meus defeitos de caráter que me tornei uma pessoa super egocêntrica. Sei que se não trabalhar meus defeitos de caráter, voltarei a usar as pessoas para exercitar minha droga de escolha, com a qual entorpeço a triste realidade que é a minha existência falida. Só por hoje tenho a consciência de que render-me não significa ser covarde, pelo contrário é preciso muita coragem, humildade e mente aberta para aceitar que minhas melhores idéias e atitudes quase me mataram e que não passaram de auto-engano. Ao me render, a liberdade e a felicidade de poder honestamente reavaliar meus conceitos me proporciona a sensação de que pela primeira vez na vida sou livre de verdade. Foi quando cheguei a esse ponto, que comecei a enxergar quem realmente eu era, quem realmente são meus amigos e que talvez meus familiares só queiram me ajudar, foi só ai que descobri que minha real natureza, nada tem a ver com a idéia que alimentava para mim mesmo e para os outros, tão imaturos como eu.

Felizmente, cheguei até aqui. E hoje posso dizer: isso sim é uma ação da Graça! E agora? Como viverei daqui para frente? Vivendo um dia de cada vez me abstendo do primeiro Satsang. Sei que não resolverei todos os problemas que causei com minha mania de guru em um só dia. Para levantar uma nova casa é preciso demolir a antiga; para nascer uma nova maneira de viver, é preciso que a antiga morra, juntamente com a idéia de ser guru. Não posso mais me enganar, preciso mudar meus hábitos, deixar de freqüentar certos lugares de encontro, me desligar de muitas pessoas, buscar por um emprego sério, sob pena de não o fazer, voltar a usar minha droga de escolha, e com isso, iludir pessoas com meus antigos satsangs. É por isso que me encontro aqui com vocês, para com a vossa ajuda eu consiga deter aquilo que sozinho eu não consigo.

Este é um programa de total abstinência não só das horas de satsang, mas também de qualquer vídeo embrumador. Por isso, haja o que houver, só por hoje evitarei  o primeiro satsang. A primeira palavra é que desencadeia a compulsão. Sei que seu eu não mudar minha antiga maneira de ser, de pensar e de agir, não terei sucesso em minha recuperação. É preciso que antigas idéias desapareçam para que novas possam florescer. Em copo cheio não cabe mais água, é preciso esvaziá-lo primeiro.

Queridos companheiros, isso é o que eu tinha para compartilhar. Agradeço a todos por terem me ouvido e desejo a vocês infinitas horas de real felicidade, liberdade e sobriedade emocional.

Boas 24 horas!
Shiri Xixi Ji, um ex-guru adicto de satsang em recuperação!

04 dezembro 2011

Sobre as frutas falsas

É interessante e ao mesmo tempo cômico, ver gurus da nova era em seus bem encontrados encontros de desencontrados, sempre com suas frases chupadas dos livros e das falas alheias, como se fossem suas palavras, suas vivências, como se soubessem do que se trata, naquele repetitivo e comum auto-engano intelectual, fazendo os outros ouvirem o que não é de vivência real. São ótimos em dar "receitinhas" de como ser espontâneo e natural, de como compartilhar, aquele de bla, bla, bla de sempre. Mas, será que em em seu dia a dia, com aqueles que lhe são mais próximos — se é que sabem o que é ser realmente próximo de alguém — o que proferem em suas pausadas palavras, tem coerência e verdade com seu modo de agir? Será que sabem o que significa uma vida de real companheirismo e comprometimento? Sei não!... Quase sempre, por fora bela viola, por dentro, pão bolorento... Para saber a real, só olhando bem de perto, para ver se a fruta é falsa, só olhando bem de perto por alguns dias. Sem olhar bem de perto, qualquer um se engana com seu polido brilho de duas horas.

Me disseram um dia: "Quer conhecer um amigo? Veja como ele trata o garçom!"

Pois bem! Quer conhecer um guru? Converse com sua família. 
Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!