Da inverdade da paixão pelo desejo,
ao desejo da paixão pela Verdade.
"Bem aventurados os puros de coração,
porque eles verão a Deus...
...Quando o olho for único,
o corpo inteiro será luz"
A concepção num lar de inverdades encobertas dá início a um processo de corrupção, o qual leva ao embotamento mental e ao abafamento do instinto intuitivo e do criativo, os quais só podem ser recuperados por meio de um incondicionado "processo de escuta". Isso nos deixou bem claro, Willian James, considerado por muitos como o pai da Psicologia Transpessoal, num de seus textos, como se segue abaixo:
"A 'prática' pode mudar nosso horizonte teórico, e isso de maneira dupla: pode levar-nos a mundos novos e assegurar-nos novos poderes. O conhecimento que jamais alcançaríamos, se continuássemos a ser o que somos, será atingido em consequência de poderes mais altos e de uma vida superior, que podemos lograr moralmente."
Caro confrade desperto, ao entrar nesta sala e ao se decidir percorrer o conteúdo de nosso Blog, antes, pedimos para que se certifique muito bem, de que você esteja buscando unicamente, tão somente, pela Verdade; que esteja igualmente pronto para assumir as posturas que lhe serão exigidas mediante o conhecimento da mesma, tendo em vista que, toda verdade percebida e não assumida, produz em nós, assim como no mundo que nos cerca, ansiedades, doenças, conflitos e corrupção. Esta sala nos apresenta um conteúdo o qual nos possibilita aquilo que poderíamos chamar de uma espécie de "tratamento de choque intensivo", o qual é capaz de erradicar — desde que para isso estejamos prontos — toda forma de inverdade que possamos estar trazendo conosco. A capacidade psíquica que distingue os adultos dos adolescentes, se faz perceptível pela abertura à desilusão da pior verdade, do que à ilusão da melhor mentira. Portanto, aqui é preciso ter em mente que a Verdade não é democrática, não é negociável; como nos dizeres de Gandhi, "a verdade é dura e cortante como diamante, mas também é doce como a flor de pessegueiro".
Se queremos saborear a doçura da Verdade, é preciso que "estejamos prontos" para fazer frente ao conhecimento da irreal realidade que apresentamos à nós mesmos e ao mundo, isso por meio da ação de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, crenças, preconceitos, manias, tendências e inconfessáveis neuroses, bem como do espírito que move nossos diversos tipos de relacionamentos. Para que isso se mostre possível, se faz necessário ter-se caminhado por anos e décadas, naquilo que chamamos de o "deserto do real" — ter sentido na pele, as dores resultantes do tédio e da insatisfação com sua mesmice operante — e, por meio desse doloroso e entediante caminhar, se mostrar profundamente "sedento por plenitude", consciente que essa plenitude não pode ser adquirida por meio de valores finitos da horizontalidade, mas sim, dos valores da Verdade, estes encontrados em última análise, no mais profundo de nossa interioridade, de forma direta, visceral e intransferível. Portanto, aqui, humildade é o que possibilita esse "estado de prontificação", o qual traz consigo, tanto o poder de observação direta, sem escolhas, como o resultante silêncio meditativo, características do estado de ser que precede a ação direta da bem-aventurança da Verdade. Sem o preenchimento das indispensáveis condições espirituais, não há como saber por experiência direta, o significado "Daquela Coisa Inominável" que nos brinda com a verdadeira liberdade do espírito humano, bem como com Felicidade, Liberdade e o estado de Amor-compaixão. Portanto, para que possamos viver a ação direta da Graça da Verdade, se faz previamente necessário que já tenhamos superado o antigo estado de entorpecimento do espírito, com sua característica alergia reativa ao auto-conhecimento, esta caracterizada por um estado de surdez psíquica e emocional.
Sem esse trabalho de base, sem a prática de um minucioso e destemido inventário de nossos condicionamentos, qualquer movimento ou prática que aponte para um possível contato com a Verdade, não passará de um ilusório e narcísico escapismo místico estratosférico — o qual nos mantém temporariamente com a cabeça nas nuvens cor-de-rosa do torpor da ilusão espiritualista e com os pés atados pela grossa e intrincada rede de condicionamentos autocentrados na busca da aquisição materialista, na inconsequente satisfação dos instintos ou na estagnante procura por respeitabilidade social.
Sem a ação imprescindível de um minucioso inventário daquilo que temos por verdade, não há como se manifestar a consciência de todo processo como fomos "degenerados" e, sem essa conscientização, torna-se impossível a adoção das necessárias atitudes capazes de fazer frente ao "processo curativo" capaz de nos brindar com as qualidades genuínas e não corrompidas do gênero humano, nas quais se encontra uma capacidade da faculdade do uso mental e intuitivo, de forma tão criativa, nunca antes sequer imaginada. Esse "processo curativo" nos liberta da ilusão de preenchimento de nossa profunda ânsia interior, através de falíveis e passíveis criações do exterior, percepção essa muito bem relatada nas palavras de Willian Law:
"Embora DEUS esteja presente em toda parte, Ele só está presente para ti na parte mais profunda e central de tua alma. Os sentidos naturais não podem possuir a Deus nem unir-te a Ele; na verdade, tuas faculdades interiores de entendimento, vontade e memória só podem procurar alcançar a Deus, mas não podem ser o local de Sua habitação em ti. Existe, porém, em ti uma raiz ou profundeza da qual emanam todas essas faculdades, feito linhas que partem de um centro, ou feito galhos que parte do corpo da árvore. A essa profundeza dá-se o nome de centro, fundamento, fundo da alma. Tal profundeza é a unidade, a eternidade — eu diria quase a infinidade — de tua alma; pois é tão infinita que nada pode satisfazê-la, nem dar-lhe descanso senão a infinidade de Deus".
Outsider44