A LEI DE HERODES
Direção, produção e edição: Luis Estrada.
País: México.
Ano: 1999.
Duração: 120 min.
Elenco: Damian Alcazar (Juan Vargas), Pedro Armendáriz Jr. (López), Delia Casanova (Rosa), Juan Carlos Colombo (Mr. Ramirez), Alex Cox (Gringo), Miguel Angel Puentes (Pancho), Guillermo Gil ( pai), Ernesto Gómez Cruz (governador), Leticia Huijara (Gloria), Luis de Icaza (Alfredo García), Eduardo López Rojas (médico), Manuel Ojeda (garçom), Salvador Sanchez (Pek), Evangelina Sosa (perlita), Isela Vega (Doña Lupe).
Roteiro: Luis Estrada, Jaime Sampietro, Vicente Leñero e Fernando Leon de Aranoa, baseado em uma história de Luis Estrada Sampietro e Jaime.
Música: Santiago Ojeda.
Foto: Norman Christianson.
Diretor de Arte: Solares Salvador Parra e Ana.
Figurino: Fernández Mariestela.
uma comédia dirigida pelo conhecido cineasta mexicano Luis Estrada. Realizado em 1999, o longa é uma metáfora sarcástica e muito bem feita sobre o poder e a corrupção política no México durante o longo mandato do Partido Revolucionario Institucional (PRI).
Em 120 minutos, o filme se ambienta em 1949 - durante o mandato de Miguel Alemán Valdés - e relata a história dos habitantes da localidade mexicana de San Pedro de los Saguaros, um povoado rural habitado por nativos indígenas, que lincham e decapitam o prefeito local com um facão quando na tentativa deste fugir do povoado com o dinheiro público.
O período eleitoral se aproxima e o governador Sánchez (Ernesto Gómez Cruz), não disposto a ver arruinada sua posição por um escândalo político, ordena que Fidel López (Pedro Armendáriz Jr.) o secretário de governo, nomeie um novo prefeito para San Pedro. López decide que o mais indicado até que se realizem as próximas eleições é Juan Vargas (Damián Alcázar), um inofensivo funcionário da limpeza e antigo militante do PRI, que seguramente não será tão corrupto como seu antecessor.
Escolhido por ser pouco inteligente, o então supervisor de limpeza municipal chega à aldeia sem lei, tomada pela corrupção e pela impunidade, com a única intenção de fazer crescer esse pequeno povoado, sem maus pensamentos. Vários métodos são experimentados, mas ao ver que é abandonado por sua sorte, sem verbas nem condições para seguir adiante, e ver que a situação do município não resulta ser como imaginou e que os problemas se amontoam, decide renunciar. Neste momento, somente lhe entregam uma pistola e a Constituição, e dizem que lhe tocou a Lei de Herodes: “ou te calas ou te prejudicas”, e apenas o crime parece resultar.
Assim, toma a Constituição, a coloca em sua velha escrivaninha, ao lado do revólver, decidido a reformá-la, já que havia se dado conta de que ser prefeito era na verdade um negócio rentável, e encomenda a Carlos Pek (Salvador Sánchez), seu secretário pessoal, reformas para governar San Pedro de los Saguaros por mais 20 anos.
O outrora simples e honesto Juan transforma-se no mais abominável tirano, disposto a tudo para conseguir extorquir o dinheiro do povo e perpetuar-se no posto, já que havia descoberto os benefícios do poder e da corrupção. A estas alturas, Juan Vargas já tem acumulada uma inestimável fortuna cobrando impostos dos miseráveis habitantes.
La ley de Herodes, que, originalmente, levaria por título La ley y la pistola, foi rejeitada, a princípio, pelas autoridades cinematográficas, que não lhe ofereceram apoio econômico. Entretanto, uma vez concluída, foi programada ilegalmente em poucas salas, tratando de se evitar sua exibição massiva. A partir de então, a tentativa de veto terminou provocando a renúncia de Eduardo Amerena, o então diretor do Instituto Mexicano de Cinematografía (Imcine), e o conseguinte desprestígio das autoridades cinematográficas mexicanas.
O repentino escândalo gerou uma grande publicidade gratuita para o filme, que se tornou uma das produções mais bilheteiras do ínicio de 2000. Para alguns, sua projeção comercial cinco meses antes das eleições presidenciais de 2000 ajudou, de certa forma, na queda do PRI, o partido que há 70 anos estava no poder, por este ter sido duramente evidenciado no roteiro do filme.
La ley de Herodes – título que faz referência ao que deve ser feito mesmo que não você queira, mas te obrigam a fazê-lo, e deve aceitar pelo próprio bem – denuncia o funcionamento do sistema político mexicano, mas com claras referências a momentos posteriores. Nele se faz referência não somente contra o PRI, mas também contra sua oposição, o PAN e o PRD, assim como a Igreja, como parte de uma mesma classe dirigente. Porém, além da realidade local mexicana, o filme adquire um tom universal na crítica ao burocratismo, à corrupção e ao funcionamento das instituições do Estado a serviço de uns poucos privilegiados.
A pistola possibilita a Vargas intimidar a população. A Constituição lhe permite impor multas, criar novos impostos e obter recursos da população. A mesma Constituição é utilizada no filme para guardar o dinheiro arrecadado, símbolo do uso corrupto que se faz dela.
No ano de 2000, o filme recebeu nove prêmios Ariel de Cinema Mexicano, incluindo Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Ator; Prêmio de Cinema Latino-americano no Festival de Sundance; Prêmios Caracol, da Universidade de Havana, Melhor Edição e Prêmio do Memorial Martin Luther King no Festival do Novo Cinema Latino-americano de Havana; Melhor Fotografia no Festival de Cinema de Viña del Mar; Melhor Ator e Melhor Fotografia no Festival Internacional de Cinema de Valladolid, Espanha; e Melhor Filme no Festival Internacional de Cinema de Ajijic, México.