Título Original: Moebius
Ano: 1996
Duração: 88 min.
País: Argentina
Direção: Gustavo Mosquera
Roteiro: Cristiani Pedro, Gabriel Lifschitz, Arturo Onatavia (História: Deutsch AJ)
Música: Mariano Nunes West
Foto: A. Penalba & F. Rivaro
Elenco: Guillermo Angelelli, Roberto Carnaghi, Levy Anabella, Petraglia Jorge
Produtor: Gustavo Mosquera
Gênero: Mistério / Sci-Fi
Sinopse: No futuro não muito distante, um misterioso acidente ocorre no metrô de Buenos Aires. Um comboio de 30 passageiros desaparece no circuito fechado do sistema de metrô. A investigação será iniciada para encontrar a causa dessa desmaterialização. Um jovem topógrafo lidera a investigação com base em alguns mapas perdidos e arquivos. Ele não consegue encontrar o velho engenheiro que concebeu a intrincada rede do metrô, até que aparece uma jovem que vai facilitar a obtenção das primeiras pistas. Tudo parece ser inútil, mas um evento aleatório que vai colocar sua vida em risco o coloca em uma pista impossível, e ele vai enfrentar a surpreendente revelação final.
Comentário: Este filme foi baseado no conto de A.J. Deutsch de 1950 “A Subway Named Mobius” e é o primeiro filme produzido pela Escola Superior de Cinema de Buenos Aires. Seu objetivo foi essencialmente pedagógico. Os jovens estudantes, mais do que procurando por uma experiência de trabalho, passam pela porta principal para chegar ao mágico e maravilhoso mundo da criação do cinema.
Sem um olhar profundo, corre-se o risco de se ver em Moebius apenas mais um filme de ficção num subterrâneo qualquer. Muito mais do que isso, Moebius apresenta em suas entrelinhas, fortíssimos arquétipos, representados pelo mergulho nas profundezas da alma humana, nos subterrâneos do Ser que nos faz ser, em busca da compreensão da vida, em busca da iluminação, da descoberta de novas realidades onde se torna claro a ilusão do tempo psicológico e da separatividade, bem como o estado de sonambulismo coletivo e seu modo superficial e apressado de viver. Moebius, insiste fortemente na importância da sensibilidade da escuta e do olhar, sem os quais, torna-se impossível o contato com o inusitado, o atemporal e inefável. Mostra a representação entre a experiência do absurdo, quase morte e da Graça, capaz de trazer graça para tudo aquilo que já não tem graça. Moebius apresenta de maneira simples, sem a necessidade de grandes produções, o processo da transformação de uma mente limitada pela sua forma analítica, cartesiana, numa mente que sente de maneira holística.
Nelson Jonas Ramos de Oliveira
Algumas falas do filme:
"O subterrâneo é sem dúvida, um símbolo dos tempos atuais. Um labirinto onde em silêncio cruzamos com nossos semelhantes, sem saber quem são nem para onde vão. Centenas de rotas, nas quais aproveitamos para estabelecer um balanço, rever uma situação e tentar abordar mais que um trem, uma mudança de vida... É um estranho jogo, no qual submergimos nos mesmos infintos tuneis, sem nos darmos conta de que em cada transferência estamos mudando definitivamente nosso destino. No subterrâneo achei a mais poderosa máquina de olhar, porém nunca cheguei a imaginar o que em pouco tempo iria me ocorrer..."
O que acontece é que nós vivemos uma palavra, onde ninguém escuta, meu querido Prad... Eles não entendem o que está acontecendo... Eles nunca acordarão antes de descobrir que estão adormecidos. O que há com você? Você está assustado, Prad?... Vertigem... Isso é normal. Ninguém pode enfrentar o infinito sem sentir vertigem. Ninguém pode experimentar isto sem sentir uma discordância profunda. Se estamos nos movendo à velocidade do pensamento, como pode alguém estar encantado pela vida?
...Por que eu deveria preferir não ficar aqui nas sombras se lá fora é um mar de surdez, que está nos levando a ser irremediavelmente ingratos? Não pode ser possível que tudo se perca. Que fique aqui em nossas almas.
A essência deste filme pode muito bem ser descrita nestas palavras de Krishnamurti:
"Para galgardes as alturas, precisais começar de baixo. Para irdes longe, deveis partir de perto. Para alcançardes o cume da montanha, deveis primeiramente atravessar as sombras do vale. E assim, ó amigos, porque eu peregrinei pelo vale, porque demorei no meio das sombras, porque sofri e amei, desejo dizer-vos, da plenitude do meu coração, que o caminho direto é o único caminho, e que a união simples é a melhor união. E quando houverdes compreendido esse caminho, quando houverdes realizado essa união, o tempo e todas as suas complicações deixarão de existir. Sereis então vosso próprio Senhor, vosso próprio Deus, vossa própria Luz. E, uma vez realizado isso, todas as outras coisas serão secundárias e, portanto, desnecessárias."
Krishnamurti - A Finalidade da Vida - 1928