Ontem, tarde da noite, enquanto Deca descansava no sofá, com nosso cachorro Krish deitado bem ao lado de seus chinelos, eu separava antigas fotos minhas para anexá-las num álbum on-line. Entre elas, deparei-me com várias cenas de momentos infantis, as quais me reportaram para uma viagem de pensamentos, sentimentos e questionamentos.
Em cada criança fotografada, uma expressão perdida para muitos: a inocência, a vontade de superar obstáculos, a espontaneidade, a alegria nas coisas simples da vida, a descontração, a leveza do ser, a naturalidade, a capacidade de, enquanto acordado, sonhar "coloridos sonhos"... O contato com a natureza, com a mãe terra... O estado de "maravilhamento", o desejo de lançar-se ao desconhecido, a diversão na simplicidade... O sorriso descontraído, a alegria de ser livre para alcançar as alturas... A liberdade das garras do tempo, a capacidade de viver com toda intensidade o presente momento, o aqui e o agora... Para a criança, não existe o ontem e nem o amanhã, só a intensidade do agora...
Havia também outras fotos de adultos, - nas quais me incluo -, que traziam consigo um pesado contraste diante das fotos dos infantes... O olhar perdido no tempo... O olhar da tristeza pela falta de direção... O olhar da busca de sentido para uma vida sem sentido devido a perda da capacidade de sentir... O período em que meu corpo se mostrava fragilizado pelo que hoje chamo de a minha "abençoada depressão iniciática"... Além de vários registros de longos períodos e viagens pelo país a fora em busca de respostas para o ser que sou.
Fiquei me questionando do por que ao longo dos anos, despercebidamente trocamos a alegria dos diálogos com nossos "Heróis imaginários", pelo monólogo estressado e aflito de nosso algoz mental? Por que trocamos a capacidade de cantar por todos os cantos, pela incapacitante mania de resmungar solitariamente por tudo e por todos pelas calçadas ou pelos espaços vazios da casa? Por que trocamos o arrebatamento e as cartinhas de amor, por casamentos de fachada e interesses egocêntricos, repletos de controle, ciúme e solidão a dois? Por que trocamos os carinhosos momentos de mãos dadas pelas calçadas, o hall's de cereja depois da pipoca do cinema, pela distancia da novela da televisão da sala e os maçantes comentários futebolísticos na televisão do quarto? Por que trocamos a alegria de se aventurar no desconhecido, de lançar vôos cada vez mais altos e respirar novos ares, pela tristeza e o mofo dessas pútridas zonas de conforto?
E revendo atentamente as fotos dos adultos, deparei-me com inúmeros sorrisos forçados e raríssimos dotados de espontaneidade... Apenas negativos revelados que não revelam o negativo"...