A formatação para obedecer, para se conformar, para aceitar tudo sem a menor possibilidade de questionamento, impediu a capacidade do exercício de perguntas fundamentais e do livre raciocínio, isento de qualquer forma de influência. Em resultado disso, boa parte dos seres humanos acabou desenvolvendo uma "profunda alergia" à menor expressão de posicionamento autoritário. Nesse disfuncional modelo de educação — o qual nada tem da essência da educação — através da constante imposição do medo, adulterou-se o importantíssimo desenvolvimento emocional, o que acabou dando margem ao senso de "não pertencer" ao ambiente natural e a família de origem, o que hoje é reconhecido como "síndrome de estrangeiro". Esse senso de não pertencer, de não ser bem vindo, impediu a ambientação, o sentimento de estar 100% a vontade, livre do medo da recriminação, do castigo, da violência ou da exposição à vergonha tóxica. Em raras exceções, a sensação de insegurança não foi uma constante. Como resultado, deu-se o desenvolvimento de um olhar de desconfiança diante das pessoas psicologicamente significativas, o que sempre impediu a comunicação direta dos pensamentos e sentimentos. Por não sentir os pensamentos e sentimentos respeitados e honrados, desenvolveu-se a rebeldia e o desrespeito, os quais sempre foram expostos as autoritárias — e na maioria violentas — tentativas de abafamento e não a um convite para a escuta aberta, atenta e amorosa que aponta para o encontro, a compreensão e a comunhão. Ao invés de respeito e consideração, o que existia era o medo. O medo e a imposição foram a base da criação. O medo, além de impedir o desenvolvimento da sensibilidade aos sentimentos das pessoas e à natureza, transformou a maior parte dos que a ele foi excessivamente exposto, em seres frios, reativos, calculistas, profundamente egoístas, retraídos, esquivos, resistentes a qualquer tipo de sugestão e incapazes de vivenciar, de bom grado, períodos de solidão. Em resultado disso, não houve o desenvolvimento da capacidade de amar, de forma incondicionada, à tudo e à todos e, sem o desenvolvimento da capacidade de amar, perdeu-se também as demais qualidades do amor que são a humildade, delicadeza, consideração, paciência e cortesia. Em resultado disso, ao invés do livre comungar, instalou-se o ambicioso e inconsequente consumismo, o qual acabou por gerar uma incontável rede de compulsões, as quais além de impedir a atenção plena e o reto pensar, enclausurou a muitos num poderoso círculo vicioso, intercalado pelo imperioso impulso para retroalimentação do mesmo e o impotente impulso para conseguir detê-lo. Em função disso, muitos acabaram se tornando escravos mantenedores de instituições, religiões e pessoas que prometiam por felicidade e liberdade.
Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.
01 fevereiro 2012
A base do silencioso sofrimento
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Escolho meus amigos pela pupila
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde