Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 fevereiro 2012

Qual a resposta certa para o sofrimento humano?


A mente com seu constante fluxo de imagens — não solicitadas — impede a vivência plena do presente momento, do agora. O constante fluxo de pensamentos se intercalam entre momentos vividos, lembranças, projeções imaginativas e preocupações referentes aquilo que possam pensar ou dizer diante do nosso comportamento, diante do nosso modo de pensar, sentir e agir. No entanto, não é difícil a constatação de que, nesse movimento autocentrado, nada há de realidade. O estado de observação é um poderoso antídoto contra a instalação do processo do que chamo de identificação reativa. O pensamento, o ego, o eu, com seu mecânico e aceleradíssimo e auto-induzido movimento, insiste com imperiosas sugestões e influências de identificação que, uma vez ocorridas, tornam-se fonte de inesgotáveis conflitos pelos quais o ego, o processo de pensar, retroalimenta-se. Esse acelerado movimento auto-induzido é a ferramenta pela qual o ego, o eu, se defende do processo meditativo, o qual, segundo inúmeros "homens e mulheres que deram certo", pode levar a percepção direta, ou seja, não dependente de terceiros, de um estado de natureza totalmente destituída do ego com todo seu acervo de medos e ansiedades. No entanto, se faz necessário muita atenção para que não ocorra a perda do foco e desse modo, cair naquele estado de torpor mental, quase que hipnótico, proveniente do processo do movimento do pensamento, o qual sempre ocorre na ponte do tempo, passado-futuro. Quando no processo meditativo, a mente sempre tenta influenciar a identificação para alguma forma de atividade externa, qualquer uma que, uma vez identificada, impeça a continuidade do processo meditativo e, dessa forma, inviabilize a possibilidade da percepção de um estado livre dos movimentos da mente. O ego, que se mantém através do constante fluxo da atividade mental, não tolera a menor possibilidade de um "estado de entrega", um estado de apenas "ser". Ele nos impele à um constante estado de ação, de atividade centrada no externo. Ele insiste que não há nenhum tipo de lógica e muito menos praticidade neste tipo de "ativa inatividade" e, por isso, grita por uma "ativa atividade". O ego não acredita que possa ter algum dinamismo salutar no estado de passividade ativa. Ele insiste em ser o agente solucionador de toda forma de conflito e confusão — por ele mesmo causados — e, dessa forma, sustenta um ciclo vicioso de atividades reativas, as quais lhe garantem a sua manutenção e continuidade. A insanidade facilmente percebível é que, o "agente descontrolador", é o mesmo que tenta manter-se livre de qualquer forma de descontrole emocional. Diante disso, as perguntas que surgem são:

Qual a possibilidade de um estado de observação de todo movimento do ego, do eu, seja através do constante fluxo mental ou através dos constantes impulsos dos sentidos, emoções e sentimentos, livre de qualquer tipo de identificação reativa?

Qual a possibilidade de um estado de observação, um estado de atenção onde, através dele, o observador, o ego, o pensamento, possa ser dissolvido de imediato, sem a identificação com a ideia da necessidade de um movimento no tempo — como um processo evolutivo — para que tal dissolução possa assim ocorrer?

Fora a meditação, haveria algum tipo de ação capaz de eliminar de imediato, de uma só vez, nossa adoentada, atormentada e dependente personalidade psíquica?

Para o pensamento, para o ego, o eu, não faz sentido algum dedicar tempo e energia sobre essas questões. No entanto, em vista do crescente e gritante estado de sofrimento humano, causador de infinitas formas de somatização, pergunto:

Que descoberta seria mais importante para a raça humana do que  percepção direta das respostas certas para estas perguntas?

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!