Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 julho 2012

O bem-aventurado estado de insatisfação e saturação com o que é

É comum, algumas poucas pessoas que se aproximam de nós, aqui chegarem nos relatando um profundo estado de insatisfação e de saturação total com tudo que se apresenta de conhecido. Segundo nossa vivência, isso é ótimo e ESSENCIAL, chamamos isso de "Ponto X", essa saturação, o fator determinante, o "Fator X" que abre um portal para nosso coração sutil. No início a coisa acontece mesmo pelo mental; é um "verbo", que leva um certo tempo para que o mesmo "vire carne e habite em nós", passando a fazer parte integrada de uma inteligência amorosa e criativa. A chave é a SATURAÇÃO, inclusive com tudo que colhemos na assim chamada "busca espiritual". Quando chegamos neste momento de saturação, nada daquilo que antes nos nutria, nos brinda com frescor ou nutrição. Há um sentimento de ausência, de falta de paz e, o que mais se apresenta é a solidão e o sentimento de não pertencer. Isso é o que convencionamos chamar de "Deserto do Real". Nesse período, é como se ninguém falasse a nossa língua, como bem diz o poeta, parece que ninguém está falando o que queremos escutar e ninguém está escutando o que queremos dizer. Mas, por mais doloroso que esse momento se apresente, o mesmo se faz profundamente essencial para o alcance de um estado de autonomia e autossuficiência psicológica. Os que se deparam com esse doloroso e fecundo período, são aqueles que, de forma arquetípica, já se encontram com mais de 40 anos no deserto do real. Já falamos aqui sobre isso, num áudio que se encontra em nosso blog, cujo título é: "40 anos no deserto — novas moradas de consciência". Se você é um daqueles que se identifica com isto que estamos falando, antes de mais nada, tenha em mente e coração o seguinte: nós lhe compreendemos, pois já vivemos isso e sabemos muito bem o quanto que esse momento é profundamente doloroso. No entanto, saiba você que, por detrás desse período doloroso é que se encontram as sementes de sua integridade emocional psíquica, bem como da descoberta de sua real vocação a qual aponta para um novo sentido e direção existencial, consciencial.
Caro confrade — poeta quase morto ressuscitado para o desfrute da realidade da vida — quando nos abrimos, quando nos prontificamos para uma escuta atenta dessa solidão, dessa insatisfação, para esse necessário processo de desilusão, nos permitimos o movimento interno de "desentulhar", movimento esse que nos prepara para a manifestação de um estado de ser cuja mente é "inocente", não condicionada, não maculada pelos limites do pensamento. Aqui já não há mais espaço para aquela doentia e tão incentivada busca pelo ajustamento ao que é tido como "normal"; isso já não faz o menor sentindo; só há espaço e energia para a entrega a algo que transcenda os limites do conhecido. É natural aqui que, muito daquilo que achávamos ser essencial, se mostrar como cinzas em nossas bocas: relacionamentos, profissões, instituições, tudo parece perder sentido; há uma imperiosa necessidade de algo mais, algo esse que, no mais intimo de nós, sabemos não se encontrar em nenhuma situação externa, nem mesmo, na antiga e tão alimentada idéia de consolo em alguma forma de um deus externo preconcebido segundo a nossa imagem e semelhança. É natural um forte impulso para abrir mão de várias situações externas, como se elas fossem a natureza exata de nossa angústia e insatisfação. No entanto, podemos afirmar que essa é mais uma das armadilhas de nossa mente condicionada. Não estamos querendo afirmar com isso que não existam situações que realmente se mostram prejudiciais e das quais talvez seja necessário nos distanciarmos. No entanto, podemos afirmar que, poucos são aqueles que conseguem perceber o que realmente precisa ser tocado; a mente, com sua sagacidade, disso que precisa ser tocado — que é ela mesma — nos mantém distanciados e inconscientes. Podemos alterar tudo em nossa volta, mas, se permanecemos presos na identificação mental, não há a menor possibilidade de conhecer o que vem a ser um estado de ser, cuja base está numa amorosa inteligência integrada, a qual é capaz de tornar nova todas as coisas, a qual é capaz de trazer um novo olhar em nossa vida de relação. Isso que torna nova todas as coisas é a essência de nossa natureza real, nossa natureza não condicionada, não contaminada pelo campo do pensamento, a qual nos brinda com a manifestação de nosso real local de ação neste espaço tempo, com uma mensagem "impessoal", da qual somos tão somente os mensageiros e não a mensagem, o que podemos também chamar de real vocação.
Caro confrade, esse período de solidão, esse período de insatisfação e descontentamento, o qual é profundamente essencial e evolutivo, funciona como uma espécie de portal que separa os adultos dos adolescentes espirituais. Em nossa adolescência espiritual é que nos permitimos ao ajustamento servil, o qual é motivado pelo medo do abandono e da solidão, pela necessidade de aceitação parental/social, a qual nos impele ao insano comportamento de autoboicote em nome de tentar atender essas inumeráveis e descabidas — quase sempre não atendidas exigências parentais/sociais. Esse período doloroso de desconstrução, aponta para uma nova maneira de ver a tudo, uma nova maneira de estar na vida de relação, nunca se quer imaginada. É natural, nesta faze de transcendência entre a adolescência e a maturidade do espírito humano, vivenciarmos um período de rebeldia — não inteligente — dotada de uma "visão ácida" e, não raro, "muito amarga", onde toda forma de relação se apresenta muito pesada, destituída de um estado de compaixão com o momento psíquico do "outro". Sem dúvida, aqui, é um momento de muita angústia e solidão que, apesar de se mostrar por vezes um tanto terrível, com o passar do tempo, se mostra profundamente fundamental... Funda novas bases para a faculdade do uso do mental de forma consciente e não, como outrora, de forma automaticamente inconsciente e reativa. Quando atravessamos este portal que nos direciona para o contato consciente com o ser que somos, em nossa real natureza, a qual nada tem em comum com essa persona, com essa imagem, com esse feixe de memórias que até então pensávamos ser, se manifesta em nós, tanto uma enorme e profunda compreensão de nós mesmos como do "outro" que pensávamos ser "outro". Portanto, caro confrade, essa capacidade de ficar com a solidão, sem anestesiá-la de nenhuma forma — mesmo com materiais espirituais livrescos ou institucionalizados — se faz PROFUNDAMENTE NEFCESSÁRIA —; é ela que nos prepara para a limpeza de nosso antigo vício de ser psicologicamente influenciados e que, sem a manifestação, de boa vontade à tal limpeza, não há como se instalar em nós um estado de genuína autonomia psíquica, a qual nos brinda com a capacidade de saber o que é a felicidade e a liberdade de estar consigo mesmo, seja em momentos de silêncio e de ócio criativo, seja em momentos de relação social ou de momentos de desfrute com a natureza que nos cerca e da qual, agora, somos parte responsavelmente integrantes. Quando atingimos este portal do ser que somos, um profundo movimento "criativo" começa a se instalar e, desse criativo, o despertar de nossos talentos adormecidos, tão essenciais para a ocorrência de nosso transbordamento vocacional que, em última análise, é o fundamento e o sentido de nossa encarnação neste espaço tempo.
Portanto, à você caro confrade que, por ventura, neste momento se depara com este fecundo período de descontentamento, de insatisfação, de angústia e solidão, o qual chamamos de "ponto de saturação", é com grande alegria que lhe incentivamos: ouse se abrir e abraçar com zelo este fecundo momento de gestação de um novo homem profundamente integrado com a essência de tudo que é. Saiba que, neste período, muito de nós vivenciamos na pele, dores corporais, as quais são bem naturais e que nada tem a ver com o que nossa mente condicionada tende a rotular como sendo somatizações emocionais. Aqui não tem nada de místico ou esotérico, no que lhe dizemos; se não bastasse a nossa própria vivência, saiba que acompanhamos muitas pessoas no mesmo processo, lemos muitas biografias que apontam para o mesmo. Aqui, trata-se de um descondicionamento, uma espécie de realinhamento corporal, um realinhamento de nossa energia vital, a qual vai trabalhando de forma sutil, a dissolução de nossos condicionamentos, sejam estes conscientes ou inconscientes. Se você quiser um exemplo, poderá recorrer a vivência do próprio Jiddu Krishnamurti, que teve essas dores por mais de 40 anos, relatando-as em alguns poucos livros. Não podemos afirmar isso, mas, nossa intuição nos diz que Krishnamurti procurava não falar muito sobre isso, ou mesmo sobre "Deus", para não acrescentar a possibilidade de mais condicionamentos aos seus ouvintes e leitores. No entanto, nunca ocultou isso daqueles que lhe estavam mais próximos. Na maioria dos casos, essa dor começa na região lombar, ciática, depois subindo para a região do pescoço, próximo as costas, bem na base do pescoço. Depois, num estado mais a frente, é comum senti-la próxima a região do omoplata e, mais adiante, não raro, no centro coronário. É comum a mente querer nos distrair com idéias de possíveis e sérios "problemas físicos". Quando essa dor começa a se manifestar nesse ponto coronário, a mesma vem acompanhada de uma espécie de "quentura", muito benfazeja, algo parecido como uma "chama", uma energia de sagrada presença. Krishnamurti, em seu diário escrito por volta de 1961, denominava essa energia de "a coisa" ou então, de "o processo". Esse é um momento em que, pelo constante processo de desidentificação com o antigo estado de mente, a dimensão de nosso "coração sutil" começa a se manifestar. Há uma percepção de que "algo" superior a nossa vontade nos prepara para o alcance de novos "estados de retomada consciencial". Nesses momentos, ficamos em silêncio, prestando atenção no "sopro" que nos habita e no qual somos; nessa percepção, "instala-se" uma "PRESENÇA" que transcende os limites do pensamento. Isso precisa ser uma vivência direta e não apenas mais uma idéia condicionante. Nossa vivência apresenta uma mescla entre fortes dores musculares e essas "invasões de quente presença", onde se dá também, uma "observação sem resistência" com relação a essas dores; por não ter espaço para qualquer forma de resistência, não ocorre a ampliação dessas dores; uma vez que há uma percepção real de que se trata de um necessário processo de "realinhamento energético", o que ocorre é uma total entrega a este fecundo processo consciencial.
Caro confrade, se, por acaso, você estiver vivenciando algo parecido ao que acima relatamos, sugerimos que você procure pelo livro de título, "DIÁRIO DE KRISHNAMURTI", o qual para nós, se mostrou profundamente revelador nesse momento. Portanto, se esse for o seu caso, se essa saturação e essa sensação de solidão estiverem fazendo parte de sua "estruturante desestruturação" das artimanhas do pensamento, a qual vive sempre criando conflitos, lhe sugerimos que você ouse dar as boas vindas à toda manifestação mental emocional, abraçando-a sem qualquer tipo de resistência ou justificação. Para nós, segundo nossa vivencia, de fato, esse é o um momento de parto de um novo estado de consciência; é como um estado fetal. Você pode abortar esse processo através da busca de entretenimento, de distração, ou então, pode dar a devida atenção ao sopro que anima a batida cardíaca desse SER que é você, e que agora se encontra saindo da identificação com os limites da dimensão mental para a infinitas possibilidades quânticas da dimensão sensitiva intuitiva, amorosamente criativa, a qual se manifesta na região sutil do coração, não no coração no sentido "carne, físico", mas num coração sutil de ENERGIA PURA.  De coração e mente aberta é que lhe afirmamos não haver nada de misticismo nisso, mas sim, algo realmente qualitativamente prático. Foi aqui que muitos de nós passamos a compreender — limpos de qualquer ranço de crença religiosa organizada — o porque de vários quadros antigos com a imagem de Jesus aparecendo com um coração pegando fogo, totalmente cercado de espinhos. Você consegue se lembrar de alguma imagem como esta? Aqueles espinhos, são arquétipos da solidão e da insatisfação das quais agora você se ressente; a insatisfação, o deserto... Nesses quadros, a imagem de Jesus sempre apontava para o coração? Você se recorda? Isso é um arquétipo do que agora você vivencia; sua coroa de espinhos criada pelos violentos ataques dos pensamentos mentais já cravou em sua mente; já fez sangrar o que precisava sangrar; agora é momento de renascimento, de ressurreição da consciência que você é, em seu devido lugar, outrora ocupado por uma imagem, por um ego. Caro confrade, você agora vive dores de parto, um parto delicado, que requer cuidados, zelo, silêncio, carinho, colo e, só você é que pode dá-lo. Isso é o que chamamos de momento de "prontificação", ou seja, estar pronto, mental, emocional e fisicamente para o "derrame dessa Inteligência Integrada", a qual se fez presente em vários homens e mulheres, entre eles, Krishnamurti. Isso é o que tentamos relatar em nosso 11º Passo: "Procuramos, através da percepção intensa do momento presente e do contato com a energia de nosso corpo interior sutil, abrir um canal conducente para um acesso consciente com o Não Manifesto, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade."... Percepção intensa do movimento presente, sem qualquer forma de resistência... Sem fugir, sem brigar, sem retalhar, sem comparar, sem justificar... Só observar, em silêncio e em entrega. Se isso ocorre, essa energia calorosa aumenta, consumindo condicionamentos, medos, angústias, ansiedades, isolamento, incapacidade de amar, instalando assim, uma profunda necessidade de entrar em contato com os outros, em querer "VÊ-LOS" pela primeira vez de forma incondicionada, com uma profunda capacidade amorosa de perceber e aceitar o momento psíquico daquele ainda plenamente identificado com a limitante e fragmentadora dimensão mental. Aqui, a vida de relação ganha uma nova dimensão, dimensão esta dotada de possibilidades de qualidade quânticas nunca antes sequer imaginadas. Portanto, PRONTIFICAÇÃO é a palavra; percepção do sopro que lhe habita, retomar seu ritmo no sopro que é você, percepção dessa energia vital bem ai no centro cardíaco, aceitação das dores corporais como parte de um processo de realinhamento energético e de descondicionamento celular.
Caro confrade, outra coisa que se fez muito importante e da qual já íamos esquecendo; sugerimos que você passe a observar seu condicionamento alimentar. Isso se mostrou também fundamental neste processo de retomada da consciência real que somos. Há uma lógica nisso; percebemos que era preciso nos manter o mais ociosamente possível, nos desgastar menos possível, nos dedicar à momentos de repouso observador, diminuir as atividades externas, nos recolhendo o máximo possível, algo como que um retiro sabático e, nesse retiro, tomar a consciência da necessidade de alimentos leves afim de NÃO TER QUE GASTAR MUITA ENERGIA ATRAVÉS DO PROCESO DE DIGESTÃO; passamos a ingerir muita água e nos alimentar com mais frutas e legumes; diminuímos muito a quantidade de carne — não a deixamos de comer — mas percebemos que a mesma demora e exige muito mais ENERGIA VITAL PARA SER PROCESSADA. Percebemos que as frutas e água nos deixavam mais "leves" e com o espaço entre os pensamentos bem mais fluído. Passamos a evitar ao máximo a gordura, não por questão de estética corporal, mas sim, pela consciência de que a mesma embotava as nossas células corporais, requisitando das mesmas, uma maior quantidade de energia vital. Caminhadas passaram a fazer parte do nosso dia e vimos que isso também fazia parte de um processo também feito por Krishnamurti. Um maior centramento e acúmulo de energia vital foi se instalando, uma clareza mental foi se instalando, um estado de presença consciente foi se instalando, uma nova fala foi se instalando, em outras palavras: CONSCIÊNCIA tornando-se consciente de si mesma.
Caro confrade, você está no lugar certo e no momento certo! Só é preciso abrir mão de qualquer forma de resistência, não pelo esforço, mas pela consciência... Não é o eu quem faz as obras, mas o pai — o princípio amoroso inteligente — no qual somos, quem faz a obra. Você nos parece estar num momento muito fecundo; parece ser um "defunto bom!", parece estar no ponto, pronto para morrer antes de morrer! Você parece estar farto para tudo isso que é ilusório e pronto para o conhecimento do REAL. Se é isso que você busca, tão somente o conhecimento da verdade que é você, estamos juntos para trocar figurinhas sem colar. Estamos juntos para trocar experiência quanto a este caminhar por esta terra sem caminho. Sugerimos que, quanto antes possível, busque pelo seu ritmo, pela observação do sopro no qual você é, sentando-se em silêncio contemplativo... Retomar o ritmo, oxigenar a mente e, o mais importante: DESENTULHAR!... Você já tem tudo o que precisa ai com você, nesse agora que é você, então, mãos no colo e coração na massa! Descanse no ser que é você! Pegue-se no colo e encontre ai, aquilo que busca! Você e o mundo merecem isso!
Um fraterabraço e que haja excelência no AGORA QUE É VOCÊ!
Outsider44

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!