Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

19 dezembro 2007

Second Life

De que adianta discutir qual era a cor do cavalo branco de Napoleão? Basta o minimo de seriedade e disposição para consigo mesmo e se dedicar ao estudo da própria questão e pode-se ver que a resposta já se encontra na própria pergunta. Para responder questões como essas não existe o menor sentido em participar desses grupos ou comunidades on-line repletas de discussões intelectualóides. Minha experiência é a de que, estes tipos de grupos ou comunidades, para muitos, acaba servindo como um espaço a mais para alimentar a ilusão criada de uma "Second Life". Segundo a Winkipédia, o nome "second life" significa em inglês "segunda vida" que pode ser interpretado como uma "vida paralela", uma segunda vida além da vida "principal", "real". Boa parte dos participantes desses grupos de discussão, escrevem suas idéias – isso quando suas – protegidos pela capa do anonimato: usam de pseudônimos, dados ficticios, e-mails não pessoais e ainda ocultam seus rosto para que não sejam reconhecidos. Desse modo, fica fácil criar uma identidade totalmente distinta da realidade que vivem.

Nesta semana, dois membros participantes da comunidade que mantenho no Orkut - Cuidar do Ser -, expressaram em suas colunas de recados o seguinte diálogo:

- Às vezes não entendo, como o Nelson escreve textos maravilhosos e, num bate papo via Orkut, é uma pessoa que não tolera nada? É um paradoxo! ... Falar é fácil, difícil é fazer, por isso "copiamos" um monte de leituras, principalmente se não temos a tal "autenticidade". Onde fica o novo além do que foi lido? Nosso novo, não uma cópia do "guru"...

- Concordo com você, existe um contracenso você não acha? Por isso que escrevi aquilo!...

Logo após essa troca de mensagens, um dos membros decidiu deixar para tráz sua participação na comunidade, atitude essa que já havia tomado em outros grupos, dos quais eu também participava.

Realmente, o simpático cidadão estava coberto de razão: sou realmente intolerante e acho puro contracenso gastar meu tempo e energia em discussões acaloradas por detrás da impessoalidade de uma tela de computador. Não tenho a menor tolerância para esse tipo de questionamento que na maioria das vezes, não condiz com as reais necessidades psiquicas do questionador. Ficar chovendo no molhado ou então enxugando gelo, isso sim é puro contracenso. Já tenho bastante experiência com esses grupos de "discussão". São muitos os participantes, mas rarissimos os sinceramente sérios. Raros são os membros que fazem uso dessa ferramenta tecnológica para realmente aprenderem sobre si mesmos. Ao contrário, alguns fazem uso dessa ferramenta como forma para darem vazão à sua "Second Life", repletas de discussões vazias, disputas de conhecimentos arcaicos e disfuncionais, vitimados por uma espécie de "intelectualose" que quase sempre acabam terminando em agressões sutis e, por vezes, declarada. Aí, os membros mais depressivos, vitimas da autocomiseração, se retiram "temporariamente" do grupo, com frases enxarcadas de autopiedade. Nesse período, ficam observando o movimento da comunidade em silêncio. Digo temporariamente, porque, como não conseguem ficar com o vazio gerado pela ausência do grupo, em questões de dias ou semanas, retornam ao mesmo, quase sempre com frases adocicadas. Já vi isso acontecer, não só com eles, mas, também comigo, portanto, posso falar com conhecimento de causa.

O que penso ser um verdadeiro "contracenso", é acreditar que manter "discussões acaloradas" com adeptos da "second life" possa nos ajudar no desvelar de nossa autenticidade. Não vejo como chegar ao real de nós mesmos, quando já partimos de uma postura irreal. Cresci desse modo, dentro da comunidade familiar onde nasci. De certo, não será numa comunidade on-line, onde eu escolheria para dar continuidade a um modo de ser que durante anos e anos me manteve afastado de mim e de uma genuína relação com os demais seres humanos, nutrida pela capacidade de me expor retina diante de retina.

Então, reafirmo a clareza de visão do meu simpático amigo on-line: nessas questões – além de outras - sou realmente um ser humano intolerante. Só por hoje, escolho continuar sendo intolerante com esse tipo de disputas intelectuais, repletas de perguntas, que não tendem ao autoconhecimento mas sim a um lado tendencioso de criar embaraços, confusão e intriga. Não estou aqui para alimentar uma "second life", nem minha e nem de ninguém. Ainda sou um declarado entediado, um insatisfeito sem medo de dar o nome e a cara para bater, em busca das minhas próprias respostas que possam me revelar a minha própria autenticidade. Se por agora, ainda sou uma mescla de pensamentos de terceiros, não fugirei disso. Esse sou eu! Portanto, aos que me acharem intolerante, indico como porta de saída, a mesma porta pela qual entraram na comunidade. Com certeza, neste vasto mundo on-line, grupos dispostos a alimentar ainda mais a irrealidade humana é o que não falta.

E quanto ao amigo que alegou haver contrancenso entre o que escrevo e o que vivo, deixo a seguinte resposta, uma pérola deixada por Walt Whitman:

"Contradigo a mim mesmo por que sou vasto".

PS - Aos amigos escritores deixo uma pequena observação: cuidado! Em breve estaremos sendo acusados de plágio por fazermos uso da lingua pátria que depois de ouvirmos, "copiamos" de nossos antecedentes!


TIRE A MÁSCARA QUE ESCONDE O SEU ROSTO

Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida

Tira, a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser

Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer consciente inconsequente
Sem se preocupar em ser, adulto ou criança

O importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho, seja você, mesmo que seja

Tira, a mascara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser

Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer consciente inconsequente
Sem se preocupar em ser, adulto ou criança

O importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho, seja você, mesmo que seja

Meu cabelo não é igual
A sua roupa não é igual
Ao meu tamanho não é igual
Ao seu caráter não é igual
Não é igual, não é igual
Não é igual

I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care
I had enough of it but I don't care

Diga, quem você é me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida

E o importante é ser você, mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja, estranho
Seja você, mesmo que seja bizarro bizarro bizarro
Mesmo que seja estranho.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!