O artista Eduardo Marinho fala sobre sua opção de vida e discute sobre como vivemos complacentes com toda a mentira que existe na sociedade. Esse vídeo devia passar no ensino fundamental... Assistir 10 x 10 vezes!
O COMEÇO
Tudo começou na hora que cansei de pedir comida: eu queria escolher o que comer. Eu tinha que fazer alguma coisa; como eu viajava na estrada, comecei a catar dente de animal atropelado, comecei a fazer brinquinho, colar, pulseira... Essas coisas começaram a me dar uma noção de como é que eu estava doido. Eu quero experimentar o que é não ter nada. A maioria não tem nada e vive tranqüilo... Como é que eu olho em minha volta para a classe abastada e todo mundo é apavorado de ficar pobre, tudo tem medo de não ter privilégio... O que eu tinha era privilégio e de repente eu olhava em volta e via que as pessoas não tinham direitos. Hoje eu acho que privilégio come direitos e esses privilégios acumulados nessa minoriazinha que vive dentro de gaiolinhas de ouro... Condomínios – sempre fechados -... Eles são prisioneiros ali, eles têm medo de sair dali, eles são prisioneiros... Olham para as grades e vêem como segurança. Na verdade, a gente que está fora, vê que eles estão presos. Eu não posso aderir esses valores ridículos que eu vi em minha volta e que as pessoas vêem como os únicos valores possíveis, é mole?... Vivem angustiados prá cacete, quando conseguem o objetivo material já vem a insatisfação de novo, precisa de outro objetivo material e não se tocam que o objetivo na verdade – a necessidade na verdade - é abstrata: é integração, é a solidariedade, é a afetividade, só que isso a propaganda não divulga, porque não dá lucro. Pelo contrário, quando usam é para fazer uma propaganda bem piegas para induzir você ao consumo de qualquer maneira. Aliás, a publicidade é uma atividade criminosa: ela cria necessidades desnecessárias, necessidades artificiais que as pessoas não têm... As pessoas precisam comprar, precisam ter, precisam consumir... As necessidades materiais são muito pequenas, são muito básicas. Na verdade, as necessidades materiais são só cinco: ar, água, alimento, agasalho e abrigo. Tudo com “A”. São cinco “A”. Com essas cinco coisas você vive.
A CARREIRA
Eu não! Eu só tive uma carreira. Na verdade, eu vinha perdido da vida e, sabendo que eu tinha que arrumar uma profissão, que era o que meus pais esperavam... eu não via nenhuma que me atraísse. Aí eu comecei a pensar do jeito que eles pensavam:
“Pô, vou ficar velho, não tenho uma profissão... O que é que eu vou fazer? Pô, mas eu não gosto de nada! Tenho que arrumar uma profissão e não gosto de nada, o que é que eu faço?... Vou ser militar! Claro!... Sempre vivi no meio militar! Ser militar é mole! Fácil!
Aí fiz um concurso para a Preparatória de Cadetes e entrei!... Realmente, é muito fácil ser militar, desde que você abra mão da sua consciência...
Tudo começou na hora que cansei de pedir comida: eu queria escolher o que comer. Eu tinha que fazer alguma coisa; como eu viajava na estrada, comecei a catar dente de animal atropelado, comecei a fazer brinquinho, colar, pulseira... Essas coisas começaram a me dar uma noção de como é que eu estava doido. Eu quero experimentar o que é não ter nada. A maioria não tem nada e vive tranqüilo... Como é que eu olho em minha volta para a classe abastada e todo mundo é apavorado de ficar pobre, tudo tem medo de não ter privilégio... O que eu tinha era privilégio e de repente eu olhava em volta e via que as pessoas não tinham direitos. Hoje eu acho que privilégio come direitos e esses privilégios acumulados nessa minoriazinha que vive dentro de gaiolinhas de ouro... Condomínios – sempre fechados -... Eles são prisioneiros ali, eles têm medo de sair dali, eles são prisioneiros... Olham para as grades e vêem como segurança. Na verdade, a gente que está fora, vê que eles estão presos. Eu não posso aderir esses valores ridículos que eu vi em minha volta e que as pessoas vêem como os únicos valores possíveis, é mole?... Vivem angustiados prá cacete, quando conseguem o objetivo material já vem a insatisfação de novo, precisa de outro objetivo material e não se tocam que o objetivo na verdade – a necessidade na verdade - é abstrata: é integração, é a solidariedade, é a afetividade, só que isso a propaganda não divulga, porque não dá lucro. Pelo contrário, quando usam é para fazer uma propaganda bem piegas para induzir você ao consumo de qualquer maneira. Aliás, a publicidade é uma atividade criminosa: ela cria necessidades desnecessárias, necessidades artificiais que as pessoas não têm... As pessoas precisam comprar, precisam ter, precisam consumir... As necessidades materiais são muito pequenas, são muito básicas. Na verdade, as necessidades materiais são só cinco: ar, água, alimento, agasalho e abrigo. Tudo com “A”. São cinco “A”. Com essas cinco coisas você vive.
A CARREIRA
Eu não! Eu só tive uma carreira. Na verdade, eu vinha perdido da vida e, sabendo que eu tinha que arrumar uma profissão, que era o que meus pais esperavam... eu não via nenhuma que me atraísse. Aí eu comecei a pensar do jeito que eles pensavam:
“Pô, vou ficar velho, não tenho uma profissão... O que é que eu vou fazer? Pô, mas eu não gosto de nada! Tenho que arrumar uma profissão e não gosto de nada, o que é que eu faço?... Vou ser militar! Claro!... Sempre vivi no meio militar! Ser militar é mole! Fácil!
Aí fiz um concurso para a Preparatória de Cadetes e entrei!... Realmente, é muito fácil ser militar, desde que você abra mão da sua consciência...
...Acordei e estava escuro. Olhei pelas janelas lá em cima, era um salão com duzentas e cincoenta camas, de silêncio, de madrugada, acordei de barriga pra cima e aí fui lembrando... de todo o acampamento... Da chegada... De como tocou o alarme... Parecia tudo em câmera lenta... De como eu peguei a arma... Como fui caminhando e metendo as balas (era mosquefal, na época)... Fui botando as balas... Como eu cheguei, como eu mirei, como eu tive um cara a mercê de matar ele... Aí eu falei:
“Nossa! O que é que está acontecendo comigo, cara?... Não posso ficar aqui não!... O que é que eu estou fazendo aqui? ”...
Aí eu fiquei analisando:
"Qual é o papel social do exército?"...
Aí que eu não queria mais mesmo! O que era garantido para mim era a morte...
"Eu não quero ter vergonha na minha vida!... Vou passar por aqui e vou sair! Eu não quero que a minha vida seja usada para a manutenção desse estado da sociedade!... Não concordo com isso! Não sei o que eu vou fazer, mas sei o que eu não vou fazer! Aqui dentro eu não fico!
Saí, do exército.
UM SENTIMENTO
Raiva! Raiva!... Eu andei sem nada pelo mundo. Pertenci a classe mais pobre, dos mais pobres... E ali eu vi tanta beleza, quanta solidariedade... Tão pouco o que as pessoas querem ali... Eu pedi, como eu falei, eu pedi muita comida, né, me alimentei muito, pedindo. Teve caso de eu pedir comida na casa de rico, por achar que ali estava sobrando, e o cara me dar comida e chamar a polícia...
“Nossa! O que é que está acontecendo comigo, cara?... Não posso ficar aqui não!... O que é que eu estou fazendo aqui? ”...
Aí eu fiquei analisando:
"Qual é o papel social do exército?"...
Aí que eu não queria mais mesmo! O que era garantido para mim era a morte...
"Eu não quero ter vergonha na minha vida!... Vou passar por aqui e vou sair! Eu não quero que a minha vida seja usada para a manutenção desse estado da sociedade!... Não concordo com isso! Não sei o que eu vou fazer, mas sei o que eu não vou fazer! Aqui dentro eu não fico!
Saí, do exército.
UM SENTIMENTO
Raiva! Raiva!... Eu andei sem nada pelo mundo. Pertenci a classe mais pobre, dos mais pobres... E ali eu vi tanta beleza, quanta solidariedade... Tão pouco o que as pessoas querem ali... Eu pedi, como eu falei, eu pedi muita comida, né, me alimentei muito, pedindo. Teve caso de eu pedir comida na casa de rico, por achar que ali estava sobrando, e o cara me dar comida e chamar a polícia...
SOBRE A ARTE
... Então eu acho que arte é função! Artista de decoração, para mim, é um artista falho, um artista fútil, vazio!... Fútil, então, mas o cara faz bem! Ele tem sensibilidade e não olha para o mundo em volta! Não se solidariza com o sofrimento da maioria; ele quer fazer parte da elite... É isso que é apregoado: queira fazer parte da elite... E os pobres têm os mesmos desejos dos ricos... Isso é um absurdo!... Uma ignorância!
DEMOCRACIA
...Aí já é uma apelação! As pessoas acreditam mesmo que isso aqui é uma democracia... Isso aqui é um democracídio... Na verdade é um democracídio, estão exterminando a população... A juventude está morrendo... Falta de opção? ... O Tráfego está aí!
Agora, no meu Blog, “Observar e Absorver”, tem um texto, que o título já diz o que ele diz:
“Que vencedor que nada!”... Não estou aqui para competir. Quem é que disse que a vida é uma competição? A mídia? (risos)... Pior, é ver as pessoas acreditando e competindo mesmo!... Aí compete marido com mulher, vizinho com vizinho, irmão com irmão, colega com colega... Todo mundo é inimigo!... O inimigo é o concentrador de renda!... É inimigo da sociedade, é inimigo da população... Mantém o Estado refém... Enquanto tiver essa estrutura partidária no país, não vai ter democracia. A estrutura política, jurídica, legislativa, não permite que exista uma real democracia e transformam a vítima num bandido!... Você é o elemento perigoso, talvez porque destoa do tecido social.
E OS RICOS?
...Rico é muito inseguro; o que é natural... É natural, né, porque depende de pobre prá tudo!... Não faz faxina, não faz comida, não concerta o pneu do carro, não costura sua própria roupa, né?... Rico é frágil, depende de segurança, depende de empregado, não cuida nem do jardim... É engraçado ver esses caras falarem que a sociedade tem oportunidade para todo mundo... Que pobre é pobre porque é incompetente... Porque não tem... Porra, é foda!... A competência dos pobres foi caçada no ensino, não é?
SEU PÚBLICO
Agora, meu público é mais, vamos dizer assim, o público que gosta mais é o pessoal dos movimentos sociais, pessoal reflexivo... Quem pensa, em geral, gosta!
SEUS PAIS GOSTAM?
Não. Não sabia. Depois eu tentei a faculdade... Eu queria me enquadrar para não magoar minha família; nada fazia sentido, mas eu não queria horrorizar eles... Eu era dócil. Quando fui fazer vestibular... Acabei fazendo prá direito... Acabei fazendo Belas Artes, quer dizer, eu nem queria fazer vestibular, mas, para a minha família, era inconcebível não ter curso superior; todo mundo na minha família tem curso superior, só eu que não. Então, como era inconcebível eu tinha que fazer vestibular; me deram a melhor escola, me deram a melhor isso, a melhor aquilo... Beleza! Vou fazer vestibular! ...
- Estou pensando em fazer prá belas Artes!...
- O queeee? Você tá maluco!... Belas Artes... Você é viado? Você é drogado? Isso é curso prá dondoca! ”
Como era o moção da família, falei:
- Tá bom, tá bom, tá bom... Eu vou olhar!...
Aí fui na faculdade e peguei todos os currículos de todos os cursos que tinha. Aí, no final, tinha dois cursos: Belas Artes e Direito. Aí eu virei prá a família e disse:
- Direito tá bom prá você?
- Ah! Direito tá!
Aí, pronto! Entrei prá fazer direito... Fiz vestibular, passei , entrei... Fiz aqui na PUC também, mas, eu não queria mais depender dos meus pais... Eu tava com uma diferença ideológica muito grande com eles, então, não queria mais depender deles. Então, fui para a Federal lá de Espírito Santo e, fiquei lá. Aí conheci o Marxismo... Achei o Marxismo ótimo, ótimo! Mas aí, conheci os marxistas... E achei os marxistas péssimos, péssimos...
- Tem perigo, não!... Deixem eles serem rebeldes...
São Rebeldes!... Eu nunca aceitei a peste de rebelde... Eu não me rebelei. Só que o que a sociedade me ofereceu não me satisfaz, então eu fui atrás... Não sabia do que...
Não. Não sabia. Depois eu tentei a faculdade... Eu queria me enquadrar para não magoar minha família; nada fazia sentido, mas eu não queria horrorizar eles... Eu era dócil. Quando fui fazer vestibular... Acabei fazendo prá direito... Acabei fazendo Belas Artes, quer dizer, eu nem queria fazer vestibular, mas, para a minha família, era inconcebível não ter curso superior; todo mundo na minha família tem curso superior, só eu que não. Então, como era inconcebível eu tinha que fazer vestibular; me deram a melhor escola, me deram a melhor isso, a melhor aquilo... Beleza! Vou fazer vestibular! ...
- Estou pensando em fazer prá belas Artes!...
- O queeee? Você tá maluco!... Belas Artes... Você é viado? Você é drogado? Isso é curso prá dondoca! ”
Como era o moção da família, falei:
- Tá bom, tá bom, tá bom... Eu vou olhar!...
Aí fui na faculdade e peguei todos os currículos de todos os cursos que tinha. Aí, no final, tinha dois cursos: Belas Artes e Direito. Aí eu virei prá a família e disse:
- Direito tá bom prá você?
- Ah! Direito tá!
Aí, pronto! Entrei prá fazer direito... Fiz vestibular, passei , entrei... Fiz aqui na PUC também, mas, eu não queria mais depender dos meus pais... Eu tava com uma diferença ideológica muito grande com eles, então, não queria mais depender deles. Então, fui para a Federal lá de Espírito Santo e, fiquei lá. Aí conheci o Marxismo... Achei o Marxismo ótimo, ótimo! Mas aí, conheci os marxistas... E achei os marxistas péssimos, péssimos...
- Tem perigo, não!... Deixem eles serem rebeldes...
São Rebeldes!... Eu nunca aceitei a peste de rebelde... Eu não me rebelei. Só que o que a sociedade me ofereceu não me satisfaz, então eu fui atrás... Não sabia do que...
SOBRE OS ARTISTAS
Eu nunca gostei muito dos artistas, sabe... São muito vaidosos, ego... Hoje eu chamo de artista, pavão. Hoje eu conheço artista engajado, mas é raridade, como é raridade gente reflexiva em qualquer meio... É uma gente que acredita em absurdos... Sabe, os valores, são absurdos, as crenças, são absurdas, os papos, são horrorosos, são fúteis, superficiais... A única vantagem é que eles tinham bebida que não dá ressaca, né: Whisky doze anos, conhaque de conhaque, champanhe de champanhe... Aí eu já chegava para entregar o quadro, os caras, geralmente era assim... Eu ia entregar o quadro, o cara, nesse dia, dava uma festa... Aí ele queria mostrar para os amigos o quadro e queria mostrar o artista para os amigos, e eu tinha que estar lá... Mas aí eu ia contra qualquer coisa que eu acreditasse... Não dava para fazer... É o tipo de benefício material que custa malefícios morais... Eu acho que tem benefício material que não vale o prejuízo moral e, viver junto dessa galera, é muito prejuízo moral, porque eu olho para a massa da humanidade e me sinto parte da humanidade e não de uma elite. Eu teria vergonha de ostentar riqueza, de ter privilégios... Porque é como eu disse, né, privilégio come direito... Por essa elitezinha, zinha... Ter tanto privilégio, falta direitos básicos prá a grande maioria. Isso é falta de solidariedade, isso é uma enorme grosseria... Estilo onda de refinados, na verdade são egocêntricos, são insensíveis, são não solidários, na verdade são egoístas ao extremo... A solidariedade para eles é grupal: é eu e o meu grupo, contra o resto... O resto somos nós. Eu prefiro fazer parte do resto!... Porque é como eu disse num trecho, sabe:
- A minha pobreza é a minha riqueza!
E, nessa sociedade competitiva, a minha derrota é a minha vitória.