Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

20 outubro 2011

A Música da Vida


Bom dia a todos! É bom estar mais uma vez aqui compartilhando um pouco da experiências, experiências essas que vem se apresentando de momento a momento, nesse estado de atenção, nesse estado de presença a tudo que se apresenta, nesse estado de presença sem escolha ou retaliação daquilo que se apresenta.

Essa semana, no facebook de um conhecido, eu achei interessante uma imagem que ele colocou, uma imagem que tinha um piano de cauda e acompanhava uma frase que dizia assim: "O fato de você ter um piano em casa não faz de você um pianista. Do mesmo modo que você ir até à, frequentar uma igreja, um templo, não o torna um cristão". Isso ficou ai dentro de mim ecoando e hoje pela manhã, logo quando eu abri os olhos, me veio logo cedo isso, que do mesmo modo que a capacidade de repetir capítulos e versículos não faz de você um cristão, o fato de você pertencer a um sistema de crença organizada, isso não certifica que você saiba por experiencia direta o que é amor. Isso não certifica, esse mero repetir de versículos e capítulos, não certifica que você saiba o que é bondade sem escolha, não certifica que você saiba, que você seja consciente de um estado de ser, onde ocorre uma escuta de modo incondicional, livre de qualquer forma de condicionamento. O fato de você ter um piano em casa, de decorar alguma partituras compostas por terceiros, isso não certifica que a "Música da Vida" jorra em seu coração. Existe uma grande diferença entre ser músico e ser um compositor, ou meramente, mais um interprete. Interpretes são muitos, os compositores, são raros. 

São muitos os que falam de Deus, são muitos os que falam sobre a Graça, mas quantos, realmente, sabem por experiência direta o que é a Graça, o que é Deus?... Indo inda mais longe: Quantos sabem daquilo que chamo de "Amostra Grátis de Deus"?... Amostra grátis são aqueles momentos em que um estado de ser se apresenta, um estado de ser em que você é todo unidade, em que não há separação, em que há um estado de liberdade e felicidade que não pode ser traduzida através do limite das palavras. E quantos que conhecem, que são conscientes desse estado estabilizado no Deus que são? Não que vivam da experiência dessa amostra grátis de Deus, que é tão somente parte da memória? Não é um estado estabilizado, um estado comum no dia a dia. Eu sinto que boa parte ainda vive da ilusão do culto num Deus longínquo, onde Deus é só uma palavra. A maior parte vive dormindo na crença e não despertos na experiência direta do Deus que são.  

A idéia de que somos um pianista porque seguimos um estilo é que nos impede de ouvir a "Música da Vida". Por causa das idéias, dos estilos que trazemos conosco, nunca ouvimos o músico — seja o músico vizinho, ou o músico que trazemos em nós ainda em estado dormente. Nós adoramos defender partituras, disputar qual é a melhor partitura e é por causa delas que nós vivemos partindo, fragmentando relações autênticas, relações realmente nutritivas. Discutimos partituras de amor e bondade, mas não sabemos de forma direta o que é amor, o que é bondade. Por mais decoradas que sejam as nossas partituras, por mais decoradas que sejam, por mais decorados que sejam os capítulos e versículos, ainda nos mantemos rancorosos, ciumentos, gananciosos, ainda nos mantemos separatistas, preconceituosos, vingativos. Ainda somos escravos do s "você tem que", dos "você deve", dos "é assim e pronto". Por mais partituras que nós tenhamos decorado, não sabemos manifestar a "Música da Vida". Não sabemos da música que trazemos em nós. Nós nos mantemos que nem um aparelho de MP3, sempre repetindo, repetindo, repetindo, de forma mecânica, padronizada, as partituras provenientes da experiência direta de terceiros e, tudo isso, porque nós não sabemos escutar, porque nós não aprendemos a nos manter num estado de abertura, de prontidão, que leva a um estado de reflexão, de meditação direta. Nós não aprendemos a meditar. 

Nós somos muito rápidos em reagir de forma reativa, emotiva, a reagir de forma emocional. Temos um forte impulso em defender tudo, a nos defender de tudo que não se encontra dentro de nossa partitura, de tudo que não esteja de acordo com as velhas e amareladas partituras. E, o pior de tudo, é que nós pegamos qualquer coisa que nos seja desconhecida, como algo pessoal. Nós pegamos tudo que nos é falado como uma afronta pessoal. Nós não conseguimos ver aquilo que nos é falado e que não está dentro do nosso pacote do conhecido como um convite à meditação, como um convite a uma reflexão que aponta para algo novo. Tudo aquilo que não é tradicional, acaba sendo visto como desaforo. Qualquer fala que não está dentro do parâmetro do socialmente aceito, é tido como uma ofensa, é tido como uma afronta e é por isso que nós criamos infindáveis polêmicas, controvérsias, alimentamos controvérsias sem fim e essas controvérsias criam ainda mais imagens, ainda mais ressentimentos. E acabamos optando pela retaliação, pelo ostracismo, pela indiferença, pela difamação, pelo sarcasmo, pelo deboche, pelo isolamento emocional e físico... Ao invés de nos abrirmos a uma escuta atenta, nós fechamos nossa mente e, consequentemente, mantemos ainda mais fechados os nossos corações. É por causa dessa imatura opção que acabamos nos fechando para a "Melodia da Vida".

Nós dizemos querer ser um músico, mas não somos músicos, nós insistimos em querer ser um regente birrento de partituras envelhecidas. Tememos o novo porque o novo, porque no novo, não somos nada. Tememos o novo paradigma por que o novo paradigma ele nos torna um nada. O novo paradigma nos leva a um ponto zero, ele derruba nossas incertas certezas... Arrasa com nossas estagnantes zonas de conforto... Extermina com nossa respeitabilidade adquirida... Ele põe ao chão a imagem que fazemos de nós mesmos e a imagem que fazemos do mundo. É por isso que nós tememos tanto o novo: porque no novo nós somos um nada. Só que não temos a consciência que esse novo, o original, a existência do novo e do original, está nesse nada que em essência, é tudo! E assim nós não revelamos o músico, esse músico que há em nós, simplesmente, por não adquirirmos a capacidade, a disposição e o estado de prontidão para ouvir sem qualquer tipo de medição.

É o crente em nós que nos mantém descrentes diante do desconhecido. O regente em nós, nos mantém surdos diante da música desconhecida. Nosso birrento regente que trazemos em nós é que nos mantém totalmente fechados ao novo. Esse regente que é o nosso "ego espiritualizado", nosso "ego religioso", nosso "ego crente separatista", é esse ego que nos impede de saber, de forma direta, o que é amor, o que é bondade, o que é aceitação livre de escolha, que são tudo partituras integrantes da "Música da Vida". Nós vivemos uma ilusão de que o nosso modo de ser, esse birrento estado de ser, é digno de estar nas paradas de sucesso, quando de fato, o sucesso, o único sucesso que com isso conseguimos é de manter nossa vida parada, parada sem o real sucesso que é o conhecimento, que é a realização de nossa verdadeira natureza. Esse estado de ser nos mantém parados no sucesso da experiência de terceiros, nos mantém parados diante do Portal do novo, que é um portal que transpassa os limites do tempo.

Nós temos uma mente cheia de crença e um coração vazio de amor. O que nós chamamos de amor, a imagem que nós temos de amor, na verdade, é exigência descabida, é condicionamento, é condição, é imposição. Nós não sabemos ouvir de forma incondicionada. Estamos sempre medindo a tudo e esse modo de medir, essa medição constante, inconsciente, é que nos mantém estagnados, que nos mantém prisioneiros de uma vida que é só repetição, que é só rotina, que é tédio, que é insatisfação, que é uma vida de repetição de estudos de escrituras e partituras há muito partidas.

É interessante notar que nós falamos de Salmos, mas não somos calmos... Nós falamos de Cânticos, quando nos cantos escuros de nossa mente, não temos vida, não temos a música que se chama amor. Nós pregamos o não culto à imagem, a não idolatria de imagens, quando na verdade, nosso Deus é a imagem protegida de nós mesmos... Amamos a nossa imagem... Cultuamos a nossa imagem e aquele que não a cultua nós rotulamos como pecador, nós o rotulamos como inimigo, inimigo que coloca em risco a idolatria de nossa imagem e ainda damos a isso o nome de "Guerra Santa". Nós vemos inimigos por todos os lados, só não conseguimos ver o inimigo que se esconde atrás de nossos medos, atrás de nossos pensamentos, atrás de nossas incertas certezas e mesmo assim, nós ainda nos achamos músicos... Nos achamos regentes... E não percebemos como nosso modo de vida é partiturado, é fragmentado e, mesmo com um modo de vida partiturado, fragmentado, insistimos  em querer reger a vida dos outros e numa arrogância dizemos que podemos reger a "nossa vida", como se houvesse alguém que é dono, que é proprietário de "uma vida". Essa imagem que temos de nós faz com que acreditemos que "nós temos" uma vida, que somos senhores de algo... E vivemos cultuando "esse" que alimenta essa ilusão de "minha vida".

Se o nosso Deus tem um nome, seu nome é "John MacClaine", que é o nome que eu dou para o ego, porque ele "é duro de matar" e, mais duro de matar ainda, quando é um ego espiritualizado, quando é um ego religioso, quando é um ego cheio de crença, cheio de certeza. É por causa desse "John MacClane", desse ego que insiste em ser regente, que nós não sabemos por experiência direta o que é a "Música da Vida"... A música que conhecemos é a música do conflito, é a música da reclamação, é a música da crítica, é a música da fofoca, é a música das doenças, é a música da polêmica, é a música da controvérsia, é a música da inimizade, é a música da desconfiança, é a música do medo, é a música da ansiedade... Nós desconhecemos a arte que trazemos dentro de nós e, por desconhecer a arte que trazemos dentro de nós, somos repetição, somos cópia, somos imitação, somos regência mecanizada, uma regência que segue o coral do tradicional, que segue o coral da tradição. E é por isso que nós somos pesados, destituídos de brilho, sem leveza, acreditando ser "mais um" e não "UM", porque o nosso tom é o tom do desamor. Nosso tom é o tom da polêmica que é o tom da crença que a "Música da Vida", é essa crença  que a "Música da Vida" prensa e de nós permanece inconsciente.

De fato, muitos de nós, somos como um belo, somos como um belo e lustrado piano que não tem música em si mesmo. Muitos de nós somos apenas amareladas partituras partidas e assim somos devido a essa inconsciente identificação com essa ilusão de que somos o conteúdo limitado de nossa mente, de nossos pensamentos, de nossos sentimentos e de nossas emoções. Nós alimentamos a ilusão de que somos isso e por manter essa ilusão, essa crença, nos impedimos de sair da infância da crença para a maturidade do estado da experiência direta de nossa real natureza. Somos um piano sem música, com todas as notas adormecidas dentro de nosso coração. Fica ai o convite à uma reflexão.

Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Valeu!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!