Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

07 outubro 2011

Sobre o Bem-Aventurado estado de Prontidão

Ajustamento
Logo quando acordei, veio-me a lembrança uma passagem que ocorreu numa tarde em que fui ao centro da cidade de São Paulo, na região do centro velho, Anhangabaú, para uma saída fotográfica. Enquanto caminhava, atento a um possível registro interessante, deparei-me com uma grande quantidade de policiais, todos dispersos, próximos à uma pequena base comunitária. Um pouco antes deles, uma grande quantidade de sem-tetos, alguns deles compartilhando de alguns goles de pinga barata, acompanhados pelos olhares longínquos de alguns cães. Fiquei ali esperando pelo momento exato, pelo "clique do dia". Confesso que naquela tarde, nada de especial ocorreu naquele exato lugar e momento. O "clique do dia", proveniente daquela situação, ficou "encubado" durante todo este tempo, sendo "revelado" somente hoje pela manhã. 

Lembro-me que, num determinado momento, um oficial, com o corpo bastante obeso, deu um toque de "sentido" e, imediatamente, todos os policiais, deixaram de lado suas conversas, suas trivialidades e se dirigiram "na mesma direção", se posicionando diante da base, entrando em "formação", buscando pelo "alinhamento", pelo devido "ajustamento", pelo estado de "prontidão". Eles ficaram ali, em posição de "sentido", de total silêncio, em prontidão, num estado de escuta atenta a mensagem de um "superior", mensagem esta que lhes indicaria o sentido de seu dia. Depois de recebida a "mensagem do superior", todos partiram em direção de seu trabalho. 
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É no sentido de prontidão que ouvimos uma mensagem superior ao nosso conhecimento e que nos direciona em nosso sentido comum, no sentido da estabilização da "ordem" interior, que se traduz de maneira natural, com propriedade e autoridade em nosso exterior. Bem-aventurado é o momento em que "ouvimos" o chamado, um chamado que nos coloca num estado de prontidão sem esforço, um estado de prontidão que nos retira da trivialidade da normalidade sem sentido. O estado de prontidão é um estado que nos leva a um "não-fazer", a um "não-correr", a um "não-buscar". 

Quando nos abrimos para esse estado de prontidão, o ajustamento acontece de forma espontânea, não o ajustamento da contração forçada, formatada, limitante, mas o ajustamento do sentido de "justiça", de permanência do que é justo, do que é real, do que é verdadeiro em nossa real natureza. 

Interessante notar que, onde há esse estado de prontidão, o foco do olhar se mantem na mesma direção, não há espaço para a escolha, portanto, não há espaço para a dualidade. Toda escolha, toda dualidade é fruto da mente, do intelecto. Onde há o estado de prontidão, não há espaço para a escolha, não há espaço para os movimentos contraditórios da mente, tudo segue num só sentido. No espaço de prontidão, só há espaço para a Consciência que leva a um estado de profunda compreensão direta, compreensão esta que não sofre a ação do espaço-tempo. Neste estado de prontidão sem escolha, um sentido maior se manifesta e, nesse sentido, a direção se apresenta. O estado de prontidão é o primeiro e também o último passo. 

Neste estado de prontidão sem escolha, não há espaço para a manifestação de qualquer espécie de  conflito, portanto, não há ocorrência de perda de energia vital, perda esta que se dá quando da identificação com os conteúdos contraditórios de uma mente condicionada, prisioneira do processo de escolha. Onde há escolha, há o limite do tempo, uma vez que algo está pre-determinado no sentido psicológico. Nesse "pre-determinar", não pode haver espaço para a escuta atenta, portanto, não pode haver espaço para a abertura ao "não manifesto". O estado de prontidão é o estado de Consciência sem escolha. Nesta Consciência, não existe oposição, não existe luta, não existe conflito, não existe defesas, não existe dualidade, não existe esforço. No estado de prontidão, só a testemunha permanece.

No estado de Prontidão, o espaço é preenchido pela "inocência" e, na inocência é que se encerram as sementes da realização do Ser, da realização da real natureza humana. Nesta inocência, a dualidade dos opostos, geradora de conflitos, desaparece. Nesta prontidão, nesta bem-aventurada inocência, instala-se um estado de silêncio incausado, — não causado pela ação da escolha, da vontade, do desejo — e, nesse estado de silêncio incausado, uma Voz, até então não manifesta, no mais fundo de nosso interior, se manifesta. Quando está Voz se faz manifesta, — esta Voz que coloca outra voz em nossa voz — toda escolha desaparece, toda busca desaparece, toda prece desaparece, toda oposição, toda resistência desaparece, toda idéia de livre-arbítrio desaparece. E, a partir daqui, tudo que esta Voz manifesta, torna-se a Lei, o Sentido, a Direção, a Ação que não é reação. 
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Na ação desta Voz, dá-se a percepção direta da realidade da mente: a mente, o intelecto é a somatória de tudo que recebemos em nosso estressante contato com a sociedade, com a cultura, com a tradição, que é repetição ajustada do passado, do velho, do sem frescor. A obstinada defesa desse mesmo conteúdo, que é o único conteúdo conhecido pela mente, é que por anos mantém oculto o conhecimento, a revelação dessa Voz amorosa e libertadora, dessa Voz que é o centro vital, fonte de toda vitalidade abundante. Por e décadas, muitos de nós trazemos em nossa mente, um enorme arquivo de vozes de terceiros, vozes que se traduzem numa intimação ao ajustamento servil, que nos direcionam a um estado de total alienação quanto a nossa real natureza. 

O estado de Prontidão, é o portal da boa-aventurança capaz de colocar "ordem" em tudo que se manifesta, é a resposta para o caos interior e, a chave para este portal, não é uma chave comum, é muito mais que uma chave, é uma tetra-chave, formada pela boa-vontade, pela paciência, pela escuta atenta e pela total entrega. Quando, através deste estado de prontidão, este portal se apresenta no Aberto, adentramos num novo estado de Consciência, que é Pura Consciência, onde, maravilhas de bem-estar, pacientemente nos aguardam. 
Heróis
Aqui, novamente lanço um amoroso desafio em sua direção: Ouse, permita-se! Desfrute desta mesma alegria de Ser... Você deve isso a si mesmo e também ao mundo. 

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!