As várias tonalidades de verde são cortadas ora aqui, ora acolá, por estreitos riscos vermelhos de terra batida, bem como pelas solitárias torres de alta tensão que com seu zunido levam energia para várias regiões. No imenso terreno ondulado pode-se ver cupinzais e, lá longe, o gado no pasto em repouso, feito pequeninos pontos brancos e pretos, confundem-se com as poucas rochas expostas da região. No serpentiforme asfalto da estrada, com cautela nosso ônibus ganha espaço, em boa parte do tempo coberto pelas folhagens das árvores, as quais trazem sombra sobre a brancura do papel, dificultando ainda mais a já difícil escrita. A atmosfera rural só não é completa devido aos vídeos estrangeiros dos anos 80, apresentados por duas TVs internas do ônibus. Já estamos com quase duas horas de viagem, deixando para traz as cidades de Jundiaí, Itatiba e Morungaba e os vídeos de língua estrangeira continuam a passar. Não se trata aqui de um nacionalismo barato. A questão é que não creio que 10% dos passageiros do coletivo tenham entendimento da língua inglesa. Fiquei me questionando se músicas brasileiras não tornariam a viagem muito mais típica e agradável. Ocorreu-me também, que talvez fosse interessante a apresentação de vídeos ressaltando as opções turísticas das cidades pertinentes ao itinerário em questão (se é que com tão bela paisagem seja necessário o uso de imagens numa viagem de duas ou três horas). Creio que seria muito mais interessante para todos os envolvidos, direta ou indiretamente: passageiros, cidades e a própria empresa de transporte. Isso também me fez meditar na facilidade com que o povo brasileiro se deixa massificar por uma cultura enlatada americana, que feito vírus contagiante, a cada dia que passa toma mais e mais o espaço de nossas mentes e corpos, afastando-nos cada vez mais do conhecimento de nossas raízes culturais. Olhando para a paisagem verde do campo, no peito um só sentimento: quanta falta meus olhos sentiam da beleza deste panorama.