Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

04 abril 2007

Bem-aventurados os que dormem!

Era uma senhora de idade avançada. Seus cabelos mesclavam os tons de branco, prata e castanho claro. Trajava uma blusa simples com estampas florais e uma surrada saia de algodão clara. Nos pés, as marcas do tempo: calcanhar com rachaduras embranquecidas e com destacadas veias sobre o peito do pé. Tinha a face bastante marcada com profundos sulcos devido a falta de dentes. Carregava a tira-colo duas grandes sacolas plásticas brancas, contendo as almofadas que fazia para garantir alguns trocados. Batia de porta-em-porta, além de abordar as pessoas na calçada. Aproximou-se de mim, no instante em que eu me deliciava com a dança de uma pequena borboleta amarelada, tom coincidente com as paredes do meu estabelecimento comercial. Sem ao menos abrir suas sacolas e mostrar as cores de sua arte, que pudessem despertar meu interesse, com seu olhar profundo me perguntou:

– O mocinho não gostaria de comprar uma das minhas almofadas?


– Hoje não senhora, mas, muito obrigado e boas vendas!


Ela me agradeceu alegremente e retomou seu caminho. Repentinamente deteve-se; olhou para trás, sorriu e novamente se dirigiu a mim:


– Que Jesus proteja o senhor e a sua lojinha! O senhor vai vender muito hoje, pois vou orar muito para o senhor em nome do Senhor Jesus Cristo!


Agradeci-lhe com um sorriso e um movimento afirmativo com a cabeça.


Virou-se na direção da padaria, retomou seu caminho, parando logo na frente para abordar um senhor que passeava pela calçada com seu pequeno cão.


A busca da segurança financeira está presente na maior parte das conversas cotidianas. Confunde-se o bem-estar emocional, com o bem-estar financeiro, como se nosso coração estivesse localizado em nossa carteira. As religiões, principalmente as de fundo cristão, promovem com grande alarde os seus feitos de grandes sucessos e viradas milagrosas na situação financeira de bem preparados e escolhidos membros. Seu condicionamento neurolingüístico cada vez mais alcança as pessoas confusas graças a ação da mídia televisiva. A neurolingüística somada ao poder da repetição das imagens funciona como uma espécie de “canto das sereias” que aprofunda ainda mais o sono daqueles que dormem.


A senhorinha já aí sumindo do meu campo de visão, ao final da avenida. Não havia conseguido seduzir a nenhum dos passantes, talvez, por nem sequer mostrar a sua arte. No entanto, seguia seu caminho embalada na sua infeliz felicidade...


Bem-aventurados aos que dormem, pois deles é a cama de palha mantida pelos “religiosos”.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!